Olhar para a Igualdade: 26 de outubro de 2018

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O mundo não pode deixar-se silenciar por alguns parlamentares que são impulsionados por ódio, tortura, discriminação e perseguição contra pessoas LGBTI inocentes.

~ Edwin Sesange, African Equality Foundation


Da ONU: O PNUD, a Comissão Internacional de Juristas (ICJ), e a Rede de Pessoas Trans da Ásia-Pacífico (Asia Pacific Transgender Network - APTN) promoveram um encontro com autoridades governamentais, grupos de pessoas trans, e outras organizações parceiras de direitos humanos e da sociedade civil para discutir como avançar com leis e programas de reconhecimento legal da identidade de gênero em todo o Sul da Ásia.  Entre os desafios discutidos, Sanji Monageng, o Comissário da ICJ, observou que é preciso ter “autoridades judiciais progressistas, destemidos e visionários” que “entendam e valorizem o próprio conceito de não discriminação”.

UNAIDS e a República Centro-Africana lançaram uma nova iniciativa para reduzir as novas infecções por HIV nas forças armadas, reduzir a violência sexual e o abuso sexual cometida por forças de segurança e de defesa, e para aumentar a adesão ao tratamento do HIV.  Atuando com diversos ministérios do governo, haverá ênfase na capacitação das pessoas para reduzir a violência baseada em gênero, melhorar os mecanismos de denúncia da violência sexual, e na criação de programas de apoio social e psicossocial para integrantes das forças armadas e das forças de segurança, assim como seus familiares. 

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HIV, saúde e bem-estar: O estado de Nova Gales do Sul na Austrália registrou a menor taxa de novas infecções por HIV desde 1985. Pesquisadores acreditam que o sucesso esteja ligado à implementação significativa da PrEP na população. A revista The Lancet HIV publicou os resultados do estudo EPIC-NSW que acompanhou 3700 homens com 18 anos de idade ou mais, atendidos em 21 serviços de saúde em todo o estado. Após a implementação da PrEP, os pesquisadores observaram que o diagnóstico do HIV no estado de Nova Gales do Sul diminuiu em 25% quando comparado ao período de 12 meses antes da implementação. Em comparação aos esforços de implementação da PrEP em outros países, os pesquisadores acreditam que a iniciativa em questão foi muito mais bem sucedido porque foi implementada muito mais rapidamente e com maior cobertura—mais de 9700 pessoas foram cadastradas até o final do estudo.

Mesmo diante de sucessos como este, há quem questione o impacto da PrEP sobre outras ISTs. A PrEP somente proporciona proteção contra o HIV, deixando aqueles que fazem sexo sem preservativos em risco de contrair outras infecções. Embora as taxas de clamídia, gonorreia e sífilis tenham aumentado em muitas partes do mundo, estudos iniciais não conseguiam associar a PrEP a mudanças significativas de comportamento sexual. No entanto, os estudos mais recentes vêm sugerindo uma ligação com um aumento discreto nas ISTs. Não obstante, especialistas advertem contra atitudes que estigmatizem a PrEP. Como observou Jean-Michel Molina, do Hôpital Saint-Louis em Paris: “As ISTs não devem servir de desculpa para negar o acesso à PrEP ou para resistir ao uso da PrEP. Isto não faria sentido algum.”

No Reino Unido, um surto de casos de sífilis levou as autoridades de saúde pública na região sudeste da Inglaterra a lançarem uma nova campanha direcionada a homens com mais idade em relacionamentos heterossexuais de longa data que começaram recentemente a ter contato sexual com outros homens.

A APCOM publicou um novo relatório documentando 16 métodos diferentes de comunicação sobre HIV e sobre a promoção de mudanças de comportamento entre jovens gays, bissexuais e outros homens que fazem sexo com homens no Sudeste da Ásia. O relatório se baseou em lições aprendidas através da campanha “testXXX” da APCOM  que utiliza mídias e tecnologias e “aproveita o poder da comunicação de ponta e da criatividade” para impactar na utilização de serviços de HIV.

Na África do Sul, um homem que faz sexo com homens descreveu como lutou para superar o medo de testar para HIV. Fazia cinco anos que o homem suspeitava estar infectado, mas só chegou a fazer o teste quando os sintomas se manifestaram alguns meses atrás.

Um novo artigo publicado na revista Lancet HIV explora as questões éticas e de direitos humanos que devem ser consideradas quando forem utilizadas novas tecnologias que envolvem identificação biométrica, tais como impressões digitais para colher dados sobre o HIV. Os autores examinam como populações-chave—gays e outros homens que fazem sexo com homens, pessoas trans, profissionais do sexo, detentos e pessoas que injetam drogas— que também têm maior probabilidade de serem estigmatizadas ou criminalizadas, poderiam ser impactadas negativamente pela vigilância biométrica.

Na Libéria, a Liberia Anti-AIDS Media Network (Rede de Mídia contra Aids) lançou uma nova campanha para reduzir o estigma social e a discriminação contra pessoas vivendo com HIV, minorias sexuais e pessoas trans. A Libéria criminaliza as relações sexuais consentidas entre pessoas do mesmo sexo com até um ano de prisão. A nova campanha pretende melhorar as intervenções de saúde pública e capacitará 20 jornalistas e integrantes de organizações da sociedade civil para promoverem os direitos sexuais  reprodutivos.

Na abertura da conferência Pesquisa para a Prevenção do HIV (HIVR4P) realizada na Espanha, ativistas e profissionais de saúde pública fizeram uma manifestação exigindo apoio e financiamento para métodos de prevenção do HIV de curta duração controlados pelo usuário. Jim Pickett, presidente da International Rectal MicrobicidesAdvocates (IRMA), leu uma nota pedindo que a NIAID e a USAID utilizem o próximo edital de oportunidades de financiamento para apoiar mais métodos de prevenção:

"Eles têm uma oportunidade para esclarecer que respeitam o que mulheres, gays e outros homens que fazem sexo com homens, pesquisadores e outros atores interessados vêm exigindo: escolhas que não sejam todas de longa duração ou sistêmicas. Estamos aqui para garantir que a pesquisa atenda as pessoas com os produtos que elas querem, e não simplesmente o que aqueles no poder querem desenvolver."

Em reconhecimento do Dia da Consciência Intersexo (26 de outubro) a IGLYO, a OII Europe e a European Parents’ Association (EPA), lançaram a ferramenta "Apoiando seu filho/sua filha intersexo", voltada para famílias e que fornece orientações e recursos, incluindo informações sobre questões de saúde médica. A ferramenta está disponível em seis idiomas.

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Do mundo da política: A Assembleia da União Interparlamentar (IPU) votou pela proibição de qualquer discussão sobre os direitos de LGBT nas suas Assembleias futuras. A IPU é uma instituição de 178 parlamentos nacionais voltada para negociações políticas multilaterais. Em assembleias anteriores, seu Comitê de Democracia e Direitos Humanos decidiu que seria realizado um debate sobre o papel dos parlamentares em acabar com a discriminação motivada por orientação sexual e identidade de gênero, e na proteção dos direitos humanos das pessoas LGBTI. Oposição ferrenha  ao tópico levou ao adiamento do debate e agora a última votação vai impedir que seja realizado. Muitos manifestaram objeção à votação, incluindo Edwin Sesange, diretor da African Equality Foundation:

“O mundo não pode deixar-se silenciar por alguns parlamentares que são impulsionados por ódio, tortura, discriminação e perseguição contra pessoas LGBTI inocentes.”

Assembleia Parlamentar do Conselho da Europa (PACE) aprovou uma resolução afirmando que a vida privada e a vida familiar são direitos fundamentais. Assim, pede para os Estados alinharem sua legislação com o Tribunal Europeu dos Direitos Humanos a fim de proteger os casais do mesmo sexo e as famílias arco-íris. Isto inclui o reconhecimento das uniões, acesso a serviços de saúde, direitos de propriedade, adoção, reconhecimento do gênero, e mais.

Na Austrália, um relatório sobre a Revisão da Liberdade Religiosa, encomendada por parlamentares, foi vazado ao público. Embora o relatório peça a proteção das pessoas intersexo, também diz que deve se permitir que as escolas possam discriminar estudantes, profissionais e prestadores de serviços com base em sua orientação sexual, identidade de gênero ou na natureza de seus relacionamentos, quando estas questões contradizem a religião da escola ou sua política disponível publicamente. Muitos criticaram o relatório, levando o Primeiro Ministro Morrison a anunciar que “o mais brevemente possível” seria apresentada uma emenda para proteger os estudantes contra a expulsão devido à sua sexualidade. Enquanto isso, o Senado está dividido sobre se deveria existir ou não proteção para professores e outros profissionais de educação LGBT. Mais de 50 organizações publicaram uma nota conjunta pedindo que o governo atualize leis ultrapassadas para proteger não somente estudantes gays e lésbicas, como também crianças e adolescentes trans e de gênero diverso e todos os profissionais LGBTQ.

O Congresso do Uruguai aprovou a Lei Abrangente para Pessoas Trans. A lei permite que as pessoas possam autodeclarar o gênero, proporciona apoio para as pessoas trans na educação e garante acesso ao sistema nacional de saúde. A lei também proporcionará reparação às pessoas trans vítimas da ditadura no Uruguai na forma de uma pensão mensal para aquelas nascidas antes de 1975.

Nos EUA, o jornal New York Times noticiou que o Departamento de Saúde e Serviços Humanos está circulando um memorando argumentado que as agências governamentais precisam de uma definição explícita de gênero conforme determinada “a partir de uma base biológica que seja clara, fundamentada na ciência, objetiva e administrável”. Segundo o jornal, o memorando define o “sexo” como masculino ou feminino, imutável, e determinado pelos órgãos genitais ao nascer.  Esta definição poderia impedir que leis de proteção contra a “discriminação por sexo” incluam a proibição da discriminação por identidade de gênero ou orientação sexual.

O jornal The Washington Post relatou que quando foi perguntado sobre o memorando, o presidente Trump disse que “muitos conceitos diferentes” estão sendo considerados “muito seriamente”. No entanto, garantiu: “Estou protegendo todo mundo”. Alguns dias depois o Departamento de Justiça apresentou uma sustentação à Suprema Corte afirmando que o comércio pode discriminar os funcionários com base em sua identidade de gênero sem ferir a legislação federal.

O Reino Unido concluiu o período de consulta pública sobre a reforma da Lei do Reconhecimento do Gênero, de 2004. A lei estabelece o processo para a retificação do gênero; contudo o governo pretende aprimorar o processo porque uma pesquisa LGBT nacional mostrou que atualmente é demasiado intrometido, caro e burocrático. Embora a reforma não vá ter qualquer impacto sobre a Lei da Igualdade, de 2010, que permite que as pessoas trans utilizem instalações que correspondem à sua identidade de gênero, a consulta provocou um debate na mídia e no parlamento sobre os direitos das pessoas trans. Em especial, a briga “venenosa” e “tóxica” tem focado na sugestão de que de alguma forma as mulheres trans possam comprometer os direitos e a segurança das demais mulheres. A conversa se tornou tão extrema que o Escritório da Igualdade do governo publicou um informe atualizado para combater “especulações equivocadas” sobre a reforma.

Em Uganda, Simon Lokodo, o Ministro de Estado da Ética e Integridade, prometeu barrar os esforços de captação de fundos por parte de ativistas que estão levantando dinheiro para abrir um centro comunitário para pessoas LGBT. Lokodo acusou os ativistas de cometer um crime por estar “popularizando” atividades LGBT.

O Ministro para Assuntos Religiosos da Indonésia, Lukman Hakim Saifuddin, foi manchete mais uma vez, agora com um novo vídeo reafirmando que o “Ministério de Assuntos Religiosos rejeita os LGBT” mesmo acrescentando que as pessoas devem ser tratadas com empatia para que “mudem seus hábitos desviantes”. 

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A política e o casamento: O governo da Bósnia e Herzegovina anunciou que vai avançar de alguma forma com a legalização das uniões entre pessoas do mesmo sexo. Um grupo de trabalho vai analisar quais dispositivos legais precisam ser alterados ou criados para que os casais do mesmo sexo tenham igualdade de direitos conforme determina a Convenção Europeia dos Direitos Humanos.

A Assembleia Nacional de Cuba vem debatendo uma nova versão da constituição que será votada em fevereiro de 2019. Uma das alterações mais controversas é o Artigo 68 que definirá o casamento como a união de duas pessoas independente do gênero. Várias igrejas já criticaram o Artigo 68 e vinte e uma denominações evangélicas estão fazendo um abaixo-assinado contra o mesmo.

Em maio deste ano, o Yuan Judiciário do Taiwan determinou que a proibição do casamento entre pessoas do mesmo sexo é inconstitucional e deu o prazo de dois anos para o governo sancionar nova legislação respaldando o casamento igualitário. Contudo, até o momento o governo não apresentou leis apropriadas e o presidente Tsai Ing-wen não se compromete com o assunto. Agora a Comissão Eleitoral Central do Taiwan aprovou cinco referendos sobre o casamento igualitário e a educação em sexualidade a serem votados no final de novembro. Três das perguntas vêm de grupos conservadores contrários ao casamento igualitário, enquanto duas das perguntas vêm de grupos pró-igualdade.

Mais sobre Política e casamento

 

Que os tribunais decidam: A Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) anunciou que vai analisar a legislação jamaicana que criminaliza a atividade sexual entre pessoas do mesmo sexo com prisão que pode até ser perpétua. Os requerentes, Gareth Henry e Simone Edwards, um gay e uma lésbica, apresentaram o caso à CIDH há seis anos, após fugirem do país. Henry obteve asilo no Canadá e Edwards conseguiu asilo na Holanda.

Na China, o 1º Tribunal Intermediário do Povo determinou que a proibição pelo governo de conteúdos LGBTI virtuais estava respaldada pela lei, segundo o jornal Gay Star News. Em janeiro, o tribunal aceitou uma ação civil interposta por Fan Chunlin contra a proibição de conteúdos que “apresentem relações ou comportamentos sexuais anormais” como o incesto, as relações homossexuais, o assédio sexual e a violência sexual. Fan disse que vai recorrer da decisão:

"Mesmo se eu perder no final, quero transmitir para as pessoas LGBT a mensagem de que podemos agir para melhorar nossa situação. Eu quero dar-lhes esperança."

A Suprema Corte do Reino Unido decidiu que uma confeitaria em Belfast não discriminou um cliente gay quando se recusou a confeccionar um bolo com a mensagem “Apoie o Casamento Gay”. A corte citou a liberdade de expressão, garantida pela convenção europeia dos direitos humanos, como sendo o direito de não expressar uma opinião. Em aditamento ao voto, a Corte citou a decisão da Suprema Corte dos EUA sobre o caso da confeitaria Masterpiece Cakeshop a observou que, embora ambas a cortes tenham decidido a favor dos confeiteiros, “os fatos não são os mesmos”. O confeiteiro dos EUA se recusou a confeccionar qualquer bolo de casamento para um casal gay devido à sua oposição ao casamento igualitário, enquanto os confeiteiros de Belfast se recusaram a escrever a mensagem no bolo.

Nos EUA, o advogado-chefe da organização Freedom for All Americans (liberdade para todos os americanos), Jon Davidson, fez uma análise das próximas ações a serem julgadas pela Suprema Corte que terão impacto para as pessoas LGBT, incluindo questões de discriminação sexual, pessoas trans nas forças armadas, adoção e apadrinhamento, recusa pelo comércio de atender clientes, e casos envolvendo estudantes trans nas escolas. O recém-confirmado ministro Brett Kavanaugh não tem histórico de decisões sobre questões LGBTQ. Apesar de um histórico de decisões conservadoras sobre muitas questões, Davidson sugere que o ministro presidente, John Roberts, poderia ser convencido a apoiar decisões sobre LGBTQ.

Mais sobre os Tribunais

 

Sobre a religião: O instituto global de opinião pública, YouGov, realizou uma pesquisa com mais de 9600 católicos do Brasil, do México, da Colômbia, das Filipinas, dos EUA, da França, da Espanha e da Itália. Os resultados mostraram que a maioria acha que a Igreja deveria “reconsiderar” a maneira como aborda questões LGBT a fim de apoiar a saúde mental e o bem-estar de crianças.

No Vaticano, a Igreja Católica está realizando o Sínodo de 2018, um encontro de um mês com várias centenas de bispos e jovens católicos cuidadosamente selecionados, tendo como foco "Jovens, a Fé, e Discernimento Vocacional".  Muitos previam que um dos principais temas seria sexualidade e gênero na juventude e, segundo alguns participantes, os tópicos de sexualidade e católicos LGBT foram abordados brevemente nos 14 grupos de trabalho. Contudo, os relatórios finais apresentam apenas generalizações vagas sobre a questão.

Escrevendo para o New Ways Ministry, Francis DeBernardo chamou a atenção para os comentários feitos pelo arcebispo Charles Chaput que argumentou que “‘LGBTQ’ e termos parecidos não deveriam ser utilizados nos documentos da Igreja” porque “não existe um católico LGBTQ ou um transgênero católico ou um heterossexual católico”. DeBernardo explorou por que esta noção é “perigosa”. Vários líderes e teólogos católicos utilizaram o Twitter para defender a utilização do termo LGBT e termos parecidos na Igreja. 

Mais sobre a Religião

 

Medo e ódio:  No Brasil, a Aliança Nacional LGBTI+ documentou uma escalação da violência e do discurso de ódio nas semanas anteriores à eleição presidencial brasileira de 7 de outubro. O candidato da extrema direita, Jair Bolsonaro, que tem causado reações com seus discursos públicos extremados incluindo opiniões misóginas, racistas e anti-LGBT, recebeu 46% dos votos. Bolsonaro e o candidato Fernando Haddad concorrerão nas eleições do segundo turno em 28 de outubro. Percebendo uma associação entre o aumento da violência e a retórica de Bolsonaro, a Aliança lançou uma nova Plataforma Nacional para denúncias de violência contra as pessoas LGBTI+ antes da segunda votação.

Na França, Guillaume Mélanie, presidente de Urgence Homophobie, uma organização que trabalha com refugiados da Chechênia, foi atacado quando saía de um restaurante com amigos. Mélanie é uma de várias pessoas LGBT que sofreram agressões violentas em Paris nas últimas semanas. Embora as autoridades tenham expressado preocupação com os ataques repetidos, Mélanie chamou-lhes a atenção pela inércia que cria um ambiente de impunidade: 

“Não podemos tolerar ser arrebentados aos poucos todos os dias e só ter tuítes em resposta por parte do governo.”

A prefeita de Paris, Anne Hidalgo, reagiu e chamou uma reunião da polícia e outros órgãos de segurança pública para estabelecer um sistema para responder rapidamente e também prevenir a violência homofóbica. Cerca de 3 mil pessoas fizeram uma manifestação na Place de la République em Paris em protesto contra a violência homofóbica e transfóbica. Na manifestação muitas pessoas, incluindo o presidente da SOS Homophobie, Joel Deumier, desafiaram as autoridades:

“Qualquer ausência de condenação pelo poder público é uma cumplicidade com estes atos homofóbicos.”

No Reino Unido, o Novo Relatório Anual sobre Crimes de Ódio mostrou que o registro de crimes contra pessoas LGBT aumentou em 28% em comparação com o ano anterior. A ONG Stonewall afirmou que este dado subestima as violações enfrentadas por pessoas LGBT, visto que as pesquisas da ONG mostram que quatro em cada cinco incidentes não são denunciados. Durante a Semana de Conscientização sobre Crimes de Ódio, a polícia visitou locais de frequência LGBT+ para incentivar as vítimas a registrarem as ocorrências. O Ministério do Interior (Home Office) também lançou uma versão revisada do Plano de Ação contra Crimes de Ódio em resposta a preocupações específicas sobre raça, religião, orientação sexual, identidade transgênero e deficiência.

O jornalista Carl Schreck investigou o progresso com a responsabilização da Chechênia pela caça perpetrada contra homens suspeitos de serem gays no ano passado. A organização LGBT-Network afirma que 130 pessoas de minorias sexuais foram evacuadas da Chechênia. E Maksim Lapunov, a única vítima a denunciar publicamente o acontecido, registrou uma queixa circunstanciada formal. No entanto, os investigadores se recusaram a abrir um inquérito criminal. 

O escritor canadense Quinn Lazenby explorou como as políticas atuais abraçaram o “homonacionalismo” — um termo cunhado pelo teórico queer Jasbir Puar em 2007 para descrever “como a aceitação e a tolerância para com gays e lésbicas se tornaram um barômetro na avaliação do direito e da capacidade de soberania nacional”. Por sua vez, o ativista e pesquisador sul-africano, James Lotter, sugere que uma descrição melhor do atual estado de medo e ódio seria “homopopulismo”. 

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Em Marcha: O Comissário para os Direitos Humanos do Conselho da Europa divulgou um posicionamento abrangente identificando os desafios enfrentados pelas pessoas LGBTI quando buscam asilo. Entre as recomendações para avançar com esta questão, o posicionamento pede que os estados membros alterem a legislação para incluir especificamente orientação sexual e identidade de gênero como motivos de asilo. Também pede que utilizem integralmente os recursos já disponíveis para proporcionar orientações práticas e capacitação a todos os envolvidos no processo.

Na África do Sul, o Ministro do Interior, Malusi Gigaba, se reuniu com ativistas pelos direitos LGBTI em relação às experiências enfrentadas por pessoas LGBTI em busca de asilo. Decidiu-se que os responsáveis por acolher e decidir sobre refugiados passarão por uma capacitação de sensibilização para ajudar a acabar com a discriminação. Além disso, o Ministro prometeu que todos os casos pendentes de busca de asilo por pessoas LGBTI seriam analisados nas próximas oito semanas.  

Na Noruega, cerca de 300 pessoas foram para a rua para participar do que foi apenas o segundo evento do Orgulho de Barents, realizado em uma cidade pequena perto da fronteira entre a Rússia e a Noruega. Diferente da maioria dos eventos do Orgulho mundo afora, muitos dos participantes do Orgulho de Barents usam adesivos “Não tire fotografias” porque viajaram da Rússia e têm medo de ficarem no “holofote”, significando ser identificado em seu país de origem. O jornalista Richard Bakker conversou com os participantes, incluindo aqueles que foram asilados na Noruega, sobre o porquê da presença no evento apesar dos receios. 

Na cidade polonesa de Lublin, cerca de 1,5 mil pessoas participaram da primeira parada do Orgulho já realizada lá. A parada quase chegou a ser cancelada porque o governador regional desaprovou a “perversão”; contudo, o Tribunal de Apelações da Polônia derrubou a proibição e a parada foi realizada no dia seguinte. Segundo relatos, a polícia precisou utilizar gás lacrimogêneo e canhões de água para proteger os participantes contra quase 200 manifestantes contrários que se tornaram violentos.

Mais sobre Em marcha 

 

Ambiente escolar: No Canadá, Abby Yaeger escreveu sobre as consequências de deixar tópicos LGBT fora da educação em sexualidade e como a educação abrangente em sexualidade prepara todas as pessoas jovens para se manterem seguras e saudáveis. Após debates intensos, em setembro a província de Ontário retirou políticas voltadas para o aprimoramento da educação abrangente em sexualidade e reintroduziu um currículo que exclui orientação sexual e identidade de gênero. O governo está realizando uma consulta pública até dezembro para incentivar os pais a continuarem dando contribuições quanto ao formato de muitas áreas da educação, inclusive a educação sobre saúde sexual.

Na Índia, Edwin Thomas da Population Foundation of India (PFI) discutiu sobre como a educação abrangente em sexualidade impacta na violência baseada em gênero, na saúde mental, no consentimento, no abuso infantil, na positividade corporal e na parentalidade precoce.

Nos EUA em abril deste ano, o Departamento de Saúde e Serviços Humanos anunciou cortes em programas de educação em sexualidade e uma mudança voltada para o apoio a programas baseados em abstinência em vez de educação abrangente em sexualidade. Estudo recente realizado pelo Center for American Progress mostrou que apenas 24 estados exigem educação em sexualidade nas escolas públicas. O Centro observou que em muitos estados falta clareza sobre o que deveria ser incluído em um currículo de saúde sexual. E embora o movimento #MeToo (Eu Também) e questões de violência sexual estejam nas manchetes, apenas oito estados têm currículos que discutem questões de consentimento.

O tópico é ainda mais complexo para jovens LGBTQ que com frequência demasiada são excluídos dos assuntos abordados pela educação em sexualidade. Embora alguns estados estejam tentando promover melhorias, assim como no Canadá os pais estão divididos entre aqueles que apoiam as atualizações e aqueles que acham que são inapropriados ou até “perversos”.

Um novo estudo da Universidade Brigham Young acompanhou 468 adolescentes e seus pais durante quatro anos para avaliar a eficácia dos pais terem “aquela conversa sobre sexo”. Embora os pais sejam considerados fontes importantes de educação em sexualidade, os pesquisadores observaram que houve mais eficácia quando os pais conversaram rotineiramente sobre sexualidade com seus filhos.

Mais sobre o Ambiente escolar  

 

Comércio e tecnologia: Na Indonésia, dois homens foram presos e acusados de criar e transmitir conteúdos pornográficos sob alegação de administrar o grupo “GayBandung Indonesia” no Facebook”  com mais de 4 mil membros. Os homens poderão ser condenados a até seis anos de prisão.

Uma nova investigação abrangente realizada pelo jornal israelense Haaretz examinou a “indústria de espionagem cibernética” do país. Os repórteres Hagar Shezaf e Jonathan Jacobson descobriram que ferramentas digitais desenvolvidas em Herzliya Pituah—o polo da indústria de alta tecnologia de Tel Aviv—são utilizadas mundo afora para espionar os civis. Depoimentos de informantes de 15 países mostram que a tecnologia tem sido utilizada para localizar e deter ativistas dos direitos humanos, perseguir integrantes da comunidade LGBT, e silenciar os que são críticos dos governos.

A repórter do Daily Beast, Samantha Allen, explorou a onda recente de problemas que as principais mídias sociais, incluindo YouTube, Tumblr, Instagram e Facebook, têm tido com usuários LGBTQ. Em muitos dos casos os algoritmos destinados a operar as plataformas censuraram conteúdos LGBTQ. Já em outras plataformas, os algoritmos fizeram com que conteúdos  positivos sobre questões LGBTQ fossem vinculados a publicidade para terapia de conversão e outras formas ofensivas de publicidade anti-LGBT. 

Mais sobre Comércio e tecnologia

 

Esportes e cultura: Nos EUA, a Escola de Saúde Pública John Hopkins Bloomberg promoveu um evento para homenagear o 30º aniversário do protesto “Tome o Controle da FDA”—o momento quando ativistas invadiram a sede da Agência de Vigilância de Alimentos e Medicamentos dos EUA (US Food and Drug Administration - FDA) para exigir acesso a novas terapias para o tratamento da AIDS e para declarar que todos têm o direito à saúde.

A nova telenovela Butterfly produzida pela emissora ITV na Inglaterra está provocando reações por retratar positivamente uma jovem menina trans e a família dela enquanto lutam para realizar seu desejo de viver abertamente como menina. Os dramaturgos receberam orientação da Mermaids, uma ONG do Reino Unido para a juventude de gênero diverso, e conversaram com muitas crianças trans e suas famílias que compartilharam com o elenco e com a equipe as discriminações que têm enfrentado. 

As cinzas de Matthew Shepard, um estudante gay de 21 anos que foi assassinado brutalmente nos EUA em 1998, serão enterradas na cripta da Catedral Nacional em Washington ao lado de outros americanos notáveis, incluindo Helen Keller e Woodrow Wilson. O assassinato de Shepard teve cobertura intensa da mídia e levou à aprovação de leis para proteger os americanos LGBTQ. Em 2009 foi sancionada a Lei Matthew Shepard e James Byrd Júnior de Prevenção aos Crimes de Ódio. Assista ao Culto em Memória ao vivo via YouTube.

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