Olhar para a Igualdade: 16 de julho de 2018

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"Quando se trata da promoção e proteção dos direitos das pessoas LGBT mundialmente, acredito que nenhuma batalha importa mais neste momento do que a de exigir a independência do judiciário e o estado de direito."

~ Emily Thornberry, Deputada do Parlamento do Reino Unido


Da ONU: O UNAIDS Brasil apoiou o lançamento da segunda edição do “Manual de Comunicação LGBTI+” a fim de proporcionar a profissionais, estudantes e professores da área de comunicação as ferramentas para discutir adequadamente sobre sexualidade, orientação sexual, identidade de gênero e discriminação. O manual foi criado pela Aliança Nacional LGBTI e pela rede GayLatino com a participação de vários grupos LGBTI+. Como a diretora do UNAIDS Brasil, Georgiana Braga-Orillard, descreveu no prefácio:

“Este é um excelente exemplo da aplicação prática do famoso termo “nada sobre nós, sem nós”: uma ferramenta construída por e para pessoas diretamente tocadas pelo uso de termos e conceitos capazes de contribuir para a transformação social e para a consolidação de uma sociedade onde haja zero discriminação e onde todas as pessoas sejam respeitadas e tratadas com dignidade.˜

Após participar da 4ª Conferência Regional Pan-Africana da ILGA, o  Especialista Independente da ONU, Victor Madrigal-Borloz, se reuniu com Monica Tabengwa. Discutiram sobre a importância do consenso internacional sobre os direitos das pessoas LGBTIQ+, o papel do diálogo interconfessional dentro do movimento, e a união das pessoas em prol do fim da violência e da discriminação. Como disse para os participantes da Conferência:

“Não precisamos ir mais rápido na direção que estamos seguindo. Precisamos mudar a direção que estamos seguindo.” 

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HIV, Saúde e Bem-estar: Um estudo de caso nas Filipinas explorou o que está impedindo gays, bissexuais masculinos, e outros homens que fazem sexo com homens de acessar os serviços de testagem e tratamento do HIV. O estudo focou na região metropolitana de Manila, onde a procura pelo teste do HIV tem variado aproximadamente entre 1% e 41% entre os municípios.

Um estudo na África do Sul revelou que jovens gays e bissexuais masculinos preferem fazer o autoteste do HIV com kits a ir a um serviço de saúde porque sentem que os kits são mais convenientes, oferecem mais privacidade e promovem o “autoempoderamento”. Os pesquisadores também observaram que 97% dos participantes distribuíam voluntariamente kits de autoteste para parceiros sexuais, amigos e familiares.

Um estudo conduzido nos EUA e publicado na revista JAMA concluiu que os serviços de saúde estão perdendo oportunidades para oferecer o teste de HIV a gays, bissexuais masculinos e outros homens que fazem sexo com homens. Com base em entrevistas com mais de 9 mil homens, o estudo mostrou que muitos indivíduos que tiveram resultado positivo pela primeira vez haviam consultado em outros serviços de saúde no último ano, sem que lhes fosse oferecido o teste de HIV.

Enquanto isso, um estudo publicado no Open Forum Infectious Diseases envolvendo mais de 400 indivíduos na Califórnia revelou que quase 25% dos participantes do estudo não fizeram o teste de HIV antes de iniciar a PrEP e que um terço dos participantes não fez testes de monitoramento após iniciar a PrEP. As atuais diretrizes recomendam a triagem para HIV antes de iniciar a PrEP, com triagem de  monitoramento a cada três a quatro meses junto com exames de saúde sexual. Estes dados são muito preocupantes porque estudos anteriores têm mostrado que o uso da PrEP pode dificultar a obtenção de resultados confiáveis ao fazer o teste de HIV.

O American Journal of Preventive Medicine publicou os resultados de um estudo com 900 jovens adultos gays e bissexuais em Nova York, Chicago e Atlanta. O estudo demonstrou que aqueles que assistiam e interagiam com uma novela chamada “Keep It Up!” (Continue assim, em português. Em inglês também pode ser feito um trocadilho entre up e ereto) tinham incidência 40% menor de doenças sexualmente transmissíveis que o grupo de controle. O programa “Keep It Up!” incorpora a prevenção do HIV e práticas de sexo mais seguro nos enredos dramáticos que ocorrem em cenários da vida real.

Na Austrália, o Conselho de AIDS (ACON) da Nova Gales do Sul está testando  programas educativos realizados em chinês mandarim para enfrentar a tendência progressiva de novas infecções por HIV entre homens asiáticos morando no país.

Uma nova meta-análise sugere que os preservativos são muito mais eficazes do que se considerava antes na prevenção do HIV entre parceiros masculinos. Uma nova revisão sistemática de pesquisas realizadas em 12 países africanos avaliou as percepções das pessoas sobre métodos de prevenção do HIV a fim de entender melhor porque determinados métodos são utilizados ou rejeitados. Um tema comum identificado foi que as pessoas associavam o preservativo à infidelidade. Os autores concluíram que para que haja mais utilização de novas intervenções, como a PrEP, elas precisam ser adaptadas cuidadosamente ao contexto comunitário:

“Intervenções emergentes, cujos significados simbólicos estão sendo reconstruídos, podem ser colocadas de forma única para infundir sua ‘marca’ com associações compatíveis ao amor, compromisso, responsabilidade e prazer sexual, em vez daquelas associadas a doença, perigo e desconfiança.”

Em um novo relatório sobre a Indonésia, a Human Rights Watch afirma que as autoridades estão “impulsionando” e epidemia do HIV  através de retórica anti-LGBT, intolerância generalizada e batidas policiais que contribuem para uma “crise de saúde pública”. O relatório observa que desde 2007 as taxas de HIV entre homens que fazem sexo com homens aumentaram de 5% para 25%. Em especial, o relatório documenta batidas policiais que fecharam serviços comunitários relacionados ao HIV e utilizaram preservativos como prova de atividades ilegais. 

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Do mundo da política: O Departamento de Igualdades do Reino Unido anunciou um “plano de ação” LGBT com 75 itens e uma série de compromissos que incluem a melhoria da resposta policial aos crimes de ódio, educação inclusiva e apoio para estudantes e professores, e serviços aprimorados para o reconhecimento legal do gênero. O plano inclui a nomeação de um assessor nacional em saúde LGBT e uma promessa de proibir a assim chamada “terapia de conversão”. O plano de ação é a resposta do governo à “Pesquisa Nacional LGBT” realizada no ano passado. Embora reconhecida como uma iniciativa positiva, muitos ativistas criticaram o plano por repetir promessas antigas, omitir questões essenciais e não ter orçamento suficiente.

Na Costa Rica, o presidente Carlos Alvarado assinou um Decreto que requer que todos os órgãos estatais melhorem o processo de reconhecimento legal do gênero das pessoas trans, incluindo retificação do passaporte, da carteira de motorista, de diplomas acadêmicos e extratos bancários. 

O parlamento de Portugal aprovou uma lei permitindo que as pessoas maiores de 18 anos possam retificar o gênero e o nome na documentação legal sem a necessidade de intervenção médica. A lei contém algumas proteções para bebês intersexo, contudo a Organization Intersex International Europe (OII) argumentou que as proteções não são claras. Agora a lei precisa ser apreciada pelo presidente Marcelo Rebelo de Sousa que vetou uma versão anterior da mesma.

Nos EUA foram propostas normas nos estados de Ohio e Delaware para exigir que escolas, professores e médicos notifiquem os pais se o/a filho/a for transgênero ou estiver questionando a própria identidade de gênero. Muitas pessoas criticaram a proposta, advertindo que a política é demasiada ampla e poderia ter um  impacto negativo na saúde e na segurança das crianças e dos adolescentes

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A política e o casamento: No Japão, o município de Osaka anunciou que vai emitir documentação oficial de reconhecimento da união estável entre pessoas do mesmo sexo. É o oitavo município do país a oferecer o registro desde que a cidade de Shibuya começou a reconhecer as uniões estáveis em 2015. A documentação permite que os casais possam compartilhar bens residenciais e se visitar no hospital; contudo, não garante qualquer direito e somente se aplica no município onde foi criada.

Após cinco anos de elaboração de uma proposta legislativa, em breve o Ministério da Justiça da Tailândia deverá concluir o projeto de lei de Registro de Vida e Parceria para proporcionar direitos matrimoniais básicos a casais do mesmo sexo, incluindo direitos de propriedade, tratamento médico e adoção de filhos.

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Que os tribunais decidam: A Vara da Família do Equador decidiu que é ilegal a proibição no país do casamento entre pessoas do mesmo sexo e que dois casais de lésbicas devem receber ˜imediatamente˜ permissão  para se casar. Os juízes citaram a opinião consultiva da Corte Interamericana de Direitos Humanos do início deste ano que determina que os governos devem reconhecer “todos os direitos  derivados do vínculo familiar entre pessoas do mesmo sexo”.

O Tribunal de Última Instância de Hong Kong determinou que as autoridades de imigração devem emitir o visto de reunião familiar para a esposa de uma mulher que trabalha em Hong Kong. A Chefe do Executivo de Hong Kong, Carrie Lam Cheng Yuet-ngor, disse que a decisão não significa  que o casamento entre pessoas do mesmo sexo será legalizado. No mês passado, no julgamento de outro caso, um tribunal de justiça decidiu que o governo não é obrigado a conceder benefícios matrimoniais a casais do mesmo sexo que se casaram no exterior iguais aos concedidos aos casais heterossexuais. Este último tribunal afirmou que o governo tinha um “objetivo legítimo” em proteger o casamento tradicional.

Um tribunal na Bulgária derrubou a proibição do Ministério do Interior relativa à migração que impedia que casais do mesmo sexo morassem no país. A ação foi interposta por uma mulher australiana e sua esposa francesa que foram proibidas de morar no país depois que se casaram na França. A decisão tem o respaldo do Tribunal de Justiça da União Europeia que determinou no mês passado que os países da União Europeia devem conceder aos/às esposos/as do mesmo sexo o mesmo direito de viver e trabalhar que os/as esposos/as heterossexuais.

A decisão da Suprema Corte das Ilhas Bermudas quanto à proteção do casamento entre pessoas do mesmo sexo está sendo ameaçada novamente, já que o Ministro dos Assuntos Internos, Walton Brown, anunciou que o governo recorreu da decisão. No mês passado a Suprema Corte determinou que é inconstitucional a Lei da Parceria Doméstica que proíbe o casamento entre pessoas do mesmo sexo.

Um juiz de um tribunal superior de Trindade e Tobago pediu maiores proteções para os casais do mesmo sexo, especialmente em relação a questões de propriedade e herança.

A Suprema Corte da Índia começou a ouvir sustentações contra a Seção 377, a lei que criminaliza atos sexuais consentidos entre adultos do mesmo gênero. O advogado geral do governo, Tushar Mehta, informou aos juízes que o governo “deixaria para a sabedoria da corte a decisão de descriminalizar ou não a homossexualidade”. A ação em tela envolve petições de muitas pessoas da comunidade LGBT, incluindo personagens e celebridades famosas. O ativista e jornalista Vikram Doctor observou que:

"As pessoas que estão apresentando petições neste momento não têm uma trajetória de ativismo e estão se pondo em risco— muitas delas moram em cidades pequenas, e têm histórias realmente comoventes da luta contra a pobreza, tentativas de suicídio e famílias que tentaram forçá-las a se casar com parceiros/as heterossexuais."

Em uma decisão inédita, a Suprema Corte da Suécia determinou que uma pessoa vivendo com HIV que está “aderida ao tratamento do HIV” não viola a lei quando tem relações sexuais desprotegidas. Até então era considerado crime se uma pessoa vivendo com HIV não revelasse sua sorologia antes da relação sexual. Contudo, citando diversos estudos, a corte observou que uma carga viral indetectável mantida pelo “tratamento rigoroso” representa um risco “mínimo” de transmissão e que não chega ao limiar da “exposição ao perigo”.

Mais sobre os Tribunais

 

Sobre a religião: Nas Filipinas, a Igreja dos Ministérios da Liberdade em Cristo estava presente no Festival do Orgulho da cidade de Marikina que bateu o recorde com 25 mil participantes. O grupo carregou faixas pedindo desculpas pela forma como os cristãos têm tratado a comunidade LGBT e o pastor Val Paminiano falou com emoção:

 “Queremos que as pessoas da comunidade LGBT saibam que Deus as ama. Pedimos perdão por ter machucado vocês—e até por termos utilizado da Bíblia para machucar vocês.” 

Pela primeira vez na Austrália, uma igreja resolveu permitir que seus sacerdotes realizem o casamento de casais do mesmo sexo, caso queiram. A igreja UnitingChurch of Australia passou três anos avaliando a questão. Entre seus achados, concluíram que a ciência respalda a ideia de que as pessoas LGBT “nascem assim" e que portanto:

"Este conhecimento respalda a visão de que a atração sexual por pessoas do mesmo gênero pode ser entendida como parte da boa e diversa criação de Deus, em vez de algo antinatural." 

A Igreja Mórmon doou $25 mil para a Affirmation, um grupo internacional LGBTQ Mórmon, para apoiar o treinamento na prevenção do suicídio nos idiomas inglês, espanhol e português. Nos EUA vêm acontecendo uma tendência preocupante de suicídio entre jovens Mórmons LGBT.

A organização Human Rights Campaign lançou a edição mais recente de sua  série de guias espirituais para pessoas LGBTQ. A 6ª edição do “Coming Home” (Voltando para Casa) aborda as igrejas evangélicas, mórmons, judaicas, muçulmanas, católicas e tópicos sobre fé em geral, e foi criada através de colaboração com estudiosos cristãos e religiosos.

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Ventos de mudança: Uma coalizão de lideranças LGBTI e pessoas aliadas das Ilhas do Pacífico lançou um abaixo-assinado pedindo que o Fórum das Ilhas do Pacífico assegure a sua missão de “apoiar a plena inclusão, equidade e igualdade de todas as pessoas do Pacífico”. Para que isto aconteça, pedem a completa descriminalização dos/das cidadãos/ãs LGBTI, políticas antidiscriminatórias para o local de trabalho, apoio para as pessoas LGBTI no alcance dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, bem como a inclusão da comunidade em posições de liderança.

Pela primeira vez, o Ministério da Justiça da Angola concedeu reconhecimento jurídico a um grupo de direitos LGBT, autorizando o registro da organização “Iris Angola” que já existe há cinco anos.

A emissora Al Jazeera promoveu uma conversa com líderes LGBT da Europa, da Ásia e dos EUA sobre o futuro de políticos LGBT assumidos publicamente.  Com comentários de telespectadores do mundo inteiro, o grupo discutiu a vida pública e a importância de ter representação capaz de focar tópicos relevantes para a comunidade.

Na Malásia, as pessoas utilizaram o Twitter para manifestar sua indignação porque Numan Afifi Saadan, um gay que trabalhava no Ministério da Juventude e dos Esportes, foi obrigado a pedir demissão. Saadan enfrentava bullying cibernético e discriminação devido ao seu trabalho com a comunidade LGBTQ, e afirmou que isto tornou impossível a realização de sua função no Ministério. 

Escrevendo para o jornal New York Times, o fundador das ONGs Gay Men’s Health Crisis e Act Up, Larry Kramer, questionou por que são relativamente poucos os líderes, ativistas e políticos gays lutando francamente pela saúde e liberdade da comunidade LGBT:

“Sempre teremos inimigos. É por isso que somos tão invisíveis enquanto força de luta potente? Por que um número tão grande de nós ainda tem medo de ser visto ou ouvido?”

Utilizando dados de 2012, um novo estudo nos EUA descobriu que lésbicas, gays e bissexuais tinham 20 vezes mais probabilidade de estar envolvidos no movimento pelos direitos LGB que os heterossexuais. Além disso, as pessoas LGB tinham entre 2 e 4 vezes mais probabilidade de estar envolvidas em outras causas, como o movimento pelo meio ambiente, o movimento pela paz e o movimento Ocupe Wall Street.

Na Irlanda, o ativista Tonie Walsh descreveu a luta pela descriminalização da homossexualidade, e o ativista Dean O’Reilly, de 19 anos, descreveu os desafios que enfrenta enquanto “vive no futuro pelo qual lutaram as pessoas LGBTQ+ [dos anos 1980]”.

A deputada do Parlamento do Reino Unido e ex-advogada, Emily Thornberry, discutiu o papel que juízes e sistemas judiciários têm tido na proteção da comunidade LGBT mundo afora: 

“[Q]uando a comunidade LGBT não pode contar com os tribunais para sua proteção, os governos repressores logo estarão os perseguindo.”

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Medo e ódio: Na Colômbia, as organizações Colombia Diversa e Caribe Afirmativo publicaram “La discriminación: una guerra que no termina” (Discriminação: uma guerra que não termina), um novo relatório sobre homicídios, violência policial, e outras ameaças enfrentadas pelas pessoas LGBT no país em 2017. Entre os achados, o relatório mostra que os assassinatos de pessoas LGBT aumentaram em comparação ao ano de 2016 e que pelo menos 37% foram documentados como sendo crimes de ódio. Já a jornalista Eve Hartley explorou as organizações filantrópicas cuidando de milhares de pessoas LGBTQ deslocadas no país e vitimizadas  pelo conflito armado na Colômbia. Como descreveu Wilson Castañeda Castro, do Caribe Afirmativo:

“[O] conflito banalizou a violência, de modo que a violência contra a comunidade LGBTQ se perdeu na magnitude das outras violências existentes.”

Em Aceh, na Indonésia, dois homens acusados de formar um casal gay foram presos por uma quadrilha e entregues à polícia no início deste ano. Em 13 de julho o casal foi açoitado publicamente junto com mais outras 15 pessoas punidas por crimes que incluíam o ato de beber ou vender álcool. Cerca de mil pessoas tiraram fotos e gritaram para "bater mais forte". Em abril, as autoridades prometeram que os açoitamentos somente seriam realizados dentro das penitenciárias e que a fotografia não seria permitida.

A revista The Economist examinou como alguns partidos nacionalistas e anti-imigração na Finlândia, França, Bélgica, Holanda, Alemanha e Suécia desistiram das “piores” de suas opiniões anti-LGBT para "se projetarem como os verdadeiros guardiões da tolerância". Embora os partidos argumentem que os muçulmanos são a verdadeira ameaça à segurança das pessoas LGBT, muitas membros da comunidade LGBT estão desconfiados de suas cantadas.

Escrevendo na Itália, o ativista e imigrante gay, Paolo Ayoubi, refletiu sobre sua experiência ao discursar no festival do Orgulho de Bolonha no qual enfrentou gritos anti-imigração. Ayoubi pediu para a comunidade rechaçar o racismo:

"Apesar dos tempos perturbadores e sombrios, e apesar dos devoradores de almas que estão vindo à tona, somos e permanecemos sendo uma horta sólida, calorosa e acolhedora para as flores de todas as cores e todos os sabores. Existimos e resistimos!

Na Ucrânia, Boris Zolotchenko, um líder do festival do Orgulho realizado na cidade de Kryvyi Rih, apanhou de um grupo de pessoas ao sair de uma reunião de organização do festival. Ele falou para os repórteres que se manteve fiel ao slogan do evento “Eu me recuso a ter medo”. E, embora a marcha do Orgulho de Kievm sucesso graças à ajuda da polícia que prendeu manifestantes anti-LGBT, a sede de uma organização LGBT em Kharkiv foi vandalizada e atacada com granadas de fumaça

Em Paris, faixas de pedestre que foram pintadas com as cores do arco-íris para celebrar o Orgulho foram repetidamente vandalizadas com palavras homofóbicas. A prefeita Anne Hidalgo anunciou que o crime “não permanecerá impune” e mandou uma mensagem pelo Twitter:

“Paris est une ville refuge qui fait sienne les valeurs républicaines de liberté, d’égalité et de fraternité. Pour qu’elles s’inscrivent à jamais en ses murs, les passages piétons arc-en-ciel créés pour la #MarcheFesFiertés seront permanents! #ParisEstFière”

Paris é uma cidade de refúgio que abraça os valores republicanos da liberdade, igualdade e fraternidade. Para que estes valores permaneçam registrados para sempre, as faixas de pedestre do arco-íris criadas para o Orgulho LGBT serão permanentes!" #ParisTemOrgulho”

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Em marcha: Na Turquia, em torno de mil pessoas compareceram para celebrar o Orgulho em Istambul, apesar da proibição de última hora por parte das autoridadesque obrigou o cancelamento do evento oficial. Testemunhas afirmaram que após deixar os organizadores lerem um posicionamento, a polícia correu atrás dos participantes  com cachorros, atirou balas de borracha, e utilizou gás lacrimogêneo para dispersar a multidão.

Na Coreia do Sul, 210 mil pessoas assinaram um abaixo-assinado no site do presidente Moon Jae-in pedindo o cancelamento do Festival de Cultura Queer de Seul que o abaixo-assinado chamou de evento "abominável", "repleto de atividades ilegais". Apesar do protesto, os organizadores afirmaram que o evento bateu o recorde com 120 mil participantes e mais de 100 estandes.

Na Suazilândia, várias centenas de pessoas compareceram para celebrar o primeiro evento do Orgulho do país apesar de ameaças. Embora a SWAGAA, a maior organização de direitos humanos do país, tenha criticado publicamente o evento, foi um sucesso “com uma parada belíssima e colorida que literalmente explodia de alegria”. Como descreveu Matt Beard, da organização All Out:

“Fomos veementes, orgulhosos e agimos com dignidade. Ninguém chegou para nos xingar com ódio, insultos (ou pior), como se temia. Pelo contrário, foi um momento de empoderamento comunitário e pessoal.” 

No Reino Unido, a Pride in London teve que fazer uma nota pedindo desculpas  porque um grupo de feministas radicais ficou na frente e obstrui a parada com 30 mil participantes enquanto uma estimativa de um milhão de pessoas assistia  da calçada. Muitos ficaram indignados que os organizadores do evento do Orgulho não retiraram o grupo que carregava banners transfóbicos e também distribuía folhetos transfóbicos. Além do pedido de desculpas, a copresidente da Pride, Alison Camps, deu entrevista para o PinkNews sobre a necessidade das lésbicas cisgêneras apoiarem a comunidade trans e sobre a importância de manter o sectarismo fora do Orgulho.  

Também no Reino Unido, a companhia aérea Virgin Atlantic anunciou que não disponibilizaria mais assentos nos seus voos para o governo para fins de deportação de pessoas consideradas imigrantes ilegais. Foi revelado recentemente que pelo menos 63 pessoas foram deportadas incorretamente apesar de serem elegíveis para a concessão da cidadania britânica. O grupo Lesbians and Gays Support the Migrants(Lésbicas e Gays Apoiam os Migrantes), que vem pressionando por mudanças, prometeu que vai focar outras companhias aéreas do Reino Unido que ainda continuam com a prática. 

Escrevendo no New York Times, o jornalista Jose Del Real investigou  o trauma enfrentado por migrantes LGBT desesperados da América Central à busca de asilo nos EUA. Conforme relata, as mulheres trans em especial são alvo de traficantes de drogas, falsos agentes do serviço de imigração e outros migrantes. 

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Ambiente escolar: No Japão, a universidade Ochanomizu em Tóquio, que só tem estudantes femininas, anunciou que a partir de 2020 aceitará estudantes trans cuja identidade de gênero é feminina. A universidade pública criou um grupo de trabalho em outubro do ano passado para avaliar a mudança enquanto “oportunidade para atualizar nosso campus como um lugar para realmente se pensar a igualdade de gênero no contexto da sexualidade diversa”. Mais quatro universidades femininas, três em Tóquio e uma em Nara, também estão discutindo se vão aceitar estudantes trans.

Nos EUA, líderes em faculdades e universidades historicamente frequentadas por negros se uniram com a Human Rights Campaign e com pais de filhos LGBT para discutir o aprimoramento da inclusão de pessoas LGBT nas suas instituições, prevenção do HIV, e o apoio a famílias.

Também nos EUA, a Universidade Estadual de San Diego recebeu uma doação de um milhão de dólares do ex-estudante Robert DeKoven para apoiar o centro do Orgulho e o programa de Estudos LGBT da instituição.

Escrevendo sobre Uganda, a professora Billie de Haas argumentou que as primeiras diretrizes do país sobre educação em sexualidade ficaram muito aquém das necessidades da juventude de Uganda com sua abordagem focada somente na abstinência, ênfase em papéis tradicionais de gênero, e rejeição de relacionamentos entre pessoas do mesmo sexo.

No Canadá, o recém-eleito governo de Ontário anunciou que as escolas da província não utilizarão mais um currículo atualizado para a educação em sexualidade implementado pelo governo anterior. O currículo rejeitado, criado por meio de consultas com educadores e mais de 4 mil pais de estudantes, causou controvérsia por sua cobertura apropriada para a idade de tópicos como consentimento, assédio, mídias sociais, relacionamentos entre pessoas do mesmo sexo e identidade de gênero. 

Mais sobre Ambiente escolar 


Esportes e cultura: Um grupo composto principalmente por jovens gays e lésbicas se reuniu para assistir à Copa do Mundo na “Casa da Diversidade” criada especialmente para a Copa pela rede Fare, uma organização internacional trabalhando para a inclusão social de pessoas marginalizadas no futebol. Também na Rússia, um grupo de seis pessoas representando a Espanha, a Holanda, o Brasil, o México e a Argentina fizeram um protesto pacífico vestindo camisas de futebol que, quando colocadas uma ao lado da outra, formaram a bandeira do arco-íris. Os ativistas, que corriam risco de serem presos ao visitarem locais históricos na Rússia, descreveram o medo e a euforia que sentiram ao apoiarem a comunidade LGBT.

O Departamento de Serviços de Lazer e Cultura de Hong Kong provocou indignação quando recolheu pelo menos 10 livros infantis  tratando de pais do mesmo sexo e outros temas LGBT das prateleiras das bibliotecas. 

O cineasta sueco Staffan Hildebrand lançou um Kickstarter para financiar Passing the Torch (passagem da tocha)um documentário sobre o ativismo em que foi filmado ao longo de três décadas e em 50 países.

A exposição do Museu Britânico "Desejo, Amor, Identidade: Explorando Histórias LGBTQ", que compreende obras de arte feitas há até 11 mil anos, passará a ser uma exposição itinerante no Reino Unido a partir de outubro. O porta-voz do Museu, Stuart Frost, refletiu:

"Esperamos que seja um catalisador que promova novas pesquisas sobre o acervo do Museu e que estimule outras exposições e programações LGBTQ.”

Em Nova York, a dançarina Katy Pyle discutiu sobre a criação das aulas Ballezdestinadas a oferecer aos dançarinos um “espaço queer radicalmente inclusivo”. Refletindo sobre o início de sua carreira como dançarina, Pyle falou:

"Para falar a verdade, o que me impulsionou foram as aulas de balé tradicional — a música, os espelhos, e todas as expectativas me deixaram me sentindo completamente fora de mim em termos do meu corpo, [tanto] que eu não conseguia fazer os movimentos. Pensei, OK, para mim, eu preciso redefinir o que é balé." 

Por último, confira o vídeo da música “Free Me” (me liberte) do artista sul-africano Peter Ngqips que foi indicado para ser premiado na edição de 2018 do Festival de Filmes de Nova Jérsei.

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