Olhar para a Igualdade: 15 de agosto de 2019

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Prezados(as) amigos(as) e colegas,

Da ONU: O Secretário-Geral da ONU, António Guterres, nomeou Winnie Byanyima como a nova diretora executiva do UNAIDS. Byanyima iniciou sua atuação com comunidades carentes quando era membro do parlamento em Uganda. Depois atuou como diretora de Gênero e Desenvolvimento no PNUD, e como diretora executiva da Oxfam International, desde 2013. Ao aceitar o cargo, Byanyima elogiou os "ativistas brilhantes e empolgados" com quem trabalhava na Oxfam. Ela revelou que a decisão de ingressar no UNAIDS foi parcialmente pessoal, uma vez que perdeu seu irmão e "muitos colegas, amigos e parentes" para a AIDS.

Em comemoração ao Dia Internacional da Juventude, o especialista independente para questões de Orientação Sexual e Identidade de Gênero, Victor Madrigal-Borloz, e a relatora especial sobre o direito a um padrão adequado de vida e de moradia, Leilani Farha, divulgaram um posicionamento conjunto expressando “preocupação profunda” pela com a juventude LGBT e não binária ao redor do mundo, que acabam ficando sem-teto devido à intolerância religiosa e cultural. Eles apontam que a falta de moradia reduz as oportunidades em todos os aspectos da vida, resultando em menos educação, saúde física e mental precária, e poucas opções econômicas.

A ONU Mulheres, a UN-Globe e a organização OutRight International promoveram em conjunto o encontro ‘Diversidade de Gênero além do Binarismo’, em Nova York. O evento, também apoiado pelas missões da Argentina e da Holanda junto à ONU, reuniu estados membros, sociedade civil e líderes da ONU para discutir igualdade de gênero com a inclusão específica de pessoas trans e não binárias. Escrevendo para a OutRight, Artie Bergren refletiu sobre esta inclusão “histórica” e explicou por que ter um assento na mesa é tão importante. A palestrante Geena Rocero, da organização Gender Proud, observou:

“A representação digna, sensata e precisa das pessoas trans e diversas de gênero salva vidas.”

 O PNUD realizou uma oficina pelo avanço dos direitos humanos e a inclusão social das minorias sexuais e de gênero, na África Subsaariana, no contexto do alcance dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). A oficina identificou seis caminhos que, individual e coletivamente, podem impulsionar o progresso : influenciar as normas sociais, incidir na legislação, aumentar os serviços públicos inclusivos, fortalecer os processos democráticos, avançar no conhecimento e aprimorar a interseccionalidade entre os movimentos sociais. Embora haja muitos desafios, os/as participantes da oficina enfatizaram que a visão do futuro pode ser “impulsionada pelos valores africanos de dignidade, justiça, aceitação da diversidade e respeito pela privacidade, apoiado pelo conceito do Ubuntu—o vínculo universal de uma humanidade compartilhada”.

Em resposta ao último tiroteio em massa nos EUA, Rupert Colville, porta-voz do Escritório do Alto Comissariado para os Direitos Humanos, alertou que os crimes de ódio parecem estar em ascensão com um aumento de ataques motivados por racismo, xenofobia, intolerância, discriminação e supremacia branca. Alertou que a linguagem utilizada por autoridades pode “estigmatizar e desumanizar minorias, migrantes, refugiados, mulheres, [pessoas] LGBT entre outros”, e deixar as comunidades “vulneráveis a represálias e ataques”.

O UNAIDS, a UNICEF e a OMS publicaram um novo relatório sobre perspectivas para acabar com a AIDS na região do Oriente Médio e do Norte da África. O relatório indica que as novas infecções por HIV estão concentradas entre gays e outros homens que fazem sexo com homens, pessoas que injetam drogas, profissionais do sexo, e os parceiros sexuais destes grupos. A dimensão completa é desconhecida porque a criminalização, o estigma e os tabus sociais têm contribuído para a natureza limitada dos dados. Entre as recomendações do relatório, observa-se que o sigilo é uma "prioridade crítica" e que pede "intervenções altamente adaptadas" aos indivíduos vulneráveis.

O UNAIDS, a Fundação LGBT, a Universidade de Aix-Marseille e a Universidade de Minnesota prorrogaram o prazo de realização de uma pesquisa sobre a felicidade e a qualidade de vida das pessoas LGBTI ao redor do mundo. A pesquisa está disponível em 17 idiomas e leva apenas 12 minutos para ser respondida. Faça sua voz ser ouvida!

Mais sobre a ONU

 

HIV, saúde e bem-estar: A 10ª Conferência da Sociedade Internacional de AIDS sobre Ciência do HIV (IAS 2019) foi realizada no México com milhares de participantes do mundo inteiro. Durante a conferência, a OMS pediu melhor integração entre os programas de PrEP e de infecções sexualmente transmissíveis (ISTs),  especialmente nos países de renda baixa e média. 

A OMS também anunciou atualização das recomendações para uso da PrEP. Agora preconiza a dosagem “baseada em eventos” para gays e outros homens que fazem sexo com homens. Com o nome “2+1+1 ED-PrEP”, a PrEP baseada em eventos, definida pela OMS, recomenda tomar dois comprimidos entre duas e 24 horas antes de fazer sexo, um terceiro comprimido 24 horas após os dois primeiros, e um quarto comprimido 48 horas depois. A OMS não mudou suas recomendações para outras populações, incluindo mulheres, mulheres trans, ou homens que fazem sexo com mulheres—afirmando que faltam dados suficientes para mostrar que a PrEP baseada em eventos será segura e eficaz para estes grupos.

Também na IAS 2019 foi anunciado um novo ensaio clínico de fase III para uma vacina de prevenção ao HIV. O estudo, chamado Mosaico, vai testar a vacina com pessoas trans e gays e outros homens cisgêneros que fazem sexo com homens em múltiplos centros do estudo nos EUA, Brasil, Peru, Argentina, México, Espanha, Itália e Polônia.

Médicos falaram criticamente para a Medscape sobre a prática recorrente de recrutar homens brancos cisgêneros para os ensaios clínicos com medicamentos para HIV. Por exemplo, no estudo IPERGAY 2015 de PrEP sob demanda, a demografia foi de 0% de mulheres, 8,5% de homens não brancos e 0% de pessoas transexuais. A Dra. Linda-Gail Bekker, da Universidade da Cidade do Cabo, observou que "temos produtos que não foram testados em todos os tipos de pessoas, mas serão utilizados em todos os tipos de pessoas". As empresas farmacêuticas vêm tentando aumentar a diversidade dos participantes nos ensaios, contudo os críticos afirmam que não chega nem perto do nível necessário.

Os kits de autoteste para HIV vêm sendo promovidos como uma forma de alcançar gays e outros homens que fazem sexo com homens, pessoas trans e outros grupos que enfrentam estigma quando buscam serviços de atenção à saúde. Um estudo apresentado na IAS 2019 avaliou a distribuição de kits de autoteste no Quênia. Utilizando “clientes ocultos”, os pesquisadores encontraram muitos desafios relativos aos fornecedores de kits de testagem do setor privado, incluindo desabastecimento de estoques, kits de baixa qualidade, e informações inconsistentes dos fornecedores sobre como realizar o teste, interpretar os resultados, e o que fazer em caso de resultado positivo.

Outro estudo alertou que os autotestes de HIV vêm sendo utilizados por pessoas que já foram diagnosticadas com HIV. Pesquisadores afirmam que algumas dessas pessoas podem duvidar do resultado do primeiro teste, acreditar que foram “curadas”, ou podem interpretar incorretamente a mensagem “indetectável = intransmissível”, acreditando que isso significa que elas não têm mais o HIV. Os pesquisadores alertam que, muitas vezes, os testes realizados por pessoas vivendo com HIV em tratamento antirretroviral, frequentemente, dão resultado falso negativo e podem levar a pessoa a acreditar que foi curada.

O Projeto FHI360 HIV Linkages publicou novas ferramentas para apoiar o enfrentamento da violência e da epidemia do HIV entre as populações-chave. Com o apoio do PEPFAR, da USAID e de grupos internacionais que representam pessoas que usam drogas, profissionais do sexo, mulheres trans, gays e outros homens que fazem sexo com homens, o projeto desenvolveu um guia de programação e três manuais de capacitação para apoiar programas de prevenção e resposta à violência. As publicações fortalecem os conhecimentos e habilidades das comunidades para que estas atividades fiquem mais bem integradas aos serviços de prevenção, atenção e tratamento do HIV.

A Coletiva de Pesquisas em Saúde da África Meridional e Oriental publicou uma série de relatórios sobre violência, saúde mental e acesso à atenção à saúde relacionada a orientação sexual e identidade de gênero. Os relatórios se baseiam em pesquisas e colaborações com ONGs no Zimbábue, Botsuana, Zâmbia, África do Sul, Lesoto, Etiópia, Quênia, eSwatini (Swazilândia) e Maláui. Em todos os nove países, os pesquisadores encontraram altos níveis de assédio, violência sexual e física, depressão e ideação suicida. Estes achados ficam mais acentuados entre pessoas trans e não binárias. Os pesquisadores observam que em toda a região as pessoas LGBT+ sofrem violações graves de seus direitos, o que leva à precarização da saúde e à vulnerabilidade ao HIV. Entre suas conclusões, afirmam que:

“Está claro que serviços de saúde mental afirmativos e desprovidos de juízos de valor para pessoas de minorias sexuais e de gênero são no mínimo tão importantes que os serviços relacionados ao HIV.”

Mais sobre HIV, saúde e bem-estar

 

Do mundo da política: Na Índia, o Lok Sabha, a câmara baixa do parlamento, aprovou uma nova versão do Projeto de Lei das pessoas transgênero (proteção de direitos) de 2019. A nova versão retirou uma definição confusa do significado de transgênero e um dispositivo que criminalizaria a mendicância—uma atividade da qual algumas pessoas da comunidade dependem. Muitas pessoas são contrárias à primeira versão do projeto de lei porque não prevê apoio para a comunidade na política, no trabalho ou na educação. O projeto precisa ser aprovado pela câmara alta antes de entrar em vigor.

No Uruguai, menos de 10% dos eleitores foram às urnas sobre a revogação de uma lei sobre direitos das pessoas trans. Teria sido necessária a participação de pelo menos 25% para iniciar um referendo nacional sobre a questão. A lei, que foi adotada em 2018, confere direitos a adolescentes trans e requer que 1% dos funcionários na maioria das agências governamentais sejam pessoas trans.

Nas Filipinas, um grupo de legisladores renovou o pedido para a aprovação do Projeto de Lei de Igualdade de Orientação Sexual, Identidade de Gênero e Expressão de Gênero. Seus esforços ocorreram um dia após uma mulher trans na Cidade de Quezon ter sido presa depois de tentar usar o banheiro de um shopping—em seguida, a acusação foi retirada. A prefeita da Cidade de Quezon, Joy Belmonte, disse que a prisão infringiu um decreto municipal instituído para proteger as pessoas LGBTQ+ contra a discriminação. Ao pedir uma nova lei nacional, a senadora Risa Hontiveros observou:

"Está na hora de não mais deixarmos que qualquer pessoa da comunidade LGBTQI seja algemada, esbofeteada ou humilhada por causa de seu gênero. Está na hora de dizer que estaremos junto àqueles que falam suas verdades."

Nos EUA, o Departamento do Trabalho propôs uma nova regra para permitir que empreiteiros federais possam “tomar decisões, sobre seus funcionários, que estejam em consonância com seus princípios e convicções religiosos, sinceramente defendidos, sem temer sanções do governo federal”, segundo reportagem da Bloomberg News, entre outras. Ativistas alertaram que a regra poderia impactartrabalhadores LGBTQ, gestantes solteiras e trabalhadores não cristãos. A Suprema Corte vai ouvir argumentos em outubro para decidir se os funcionários LGBTQ são protegidos pela Lei dos Direitos Civis.

Departamento de Estatística do Quênia vai incluir o termo “intersexo” dentro da seção sobre gênero no censo demográfico nacional. A BBC noticiou que o Quênia é o primeiro país africano a incluir esta categoria. O governo criou uma força-tarefa sobre pessoas intersexo em 2017. As recomendações, feitas em abril deste ano, incluíram o fim de cirurgias “corretivas” desnecessárias e a introdução de um terceiro marcador de gênero. O ativista James Karanja comentou:

“É importante entender que, a não ser que as pessoas parem de ter filhos, sempre haverá crianças nascidas intersexo, e aquelas crianças, assim como as demais crianças, têm direitos.”

Na França, o governo apresentou um projeto de lei sobre bioética que permitirá que as mulheres lésbicas e solteiras possam se submeter à reprodução medicamente assistida no país. Atualmente, a medida é limitada aos casais heterossexuais. O projeto de lei não revogaria a proibição da maternidade de substituição–quando uma mulher fica grávida e dá à luz um filho para outra pessoa. Grupos conservadores estão fazendo oposição à medida.

O Japão elegeu o primeiro gay assumido para a câmara alta do parlamento. Taiga Ishikawa teve como plataforma de sua candidatura a legalização do casamento igualitário. Kanako Otsuji foi a primeira lésbica a ser eleita para a câmara baixa, em 2017.

Mais sobre o Mundo da política

 

A política e o casamento: Federação de Associações de Advogados do Japão divulgou uma nota pedindo para o governo revisar a legislação e conferir aos casais do mesmo sexo o direito de se casar. Informou que mais de 450 pessoas fizeram denúncias à Federação alegando violação dos direitos porque não podem se casar.

Em Hong Kong, será permitido aos casais do mesmo sexo que se casaram no exterior fazerem a declaração conjunta do imposto de renda. A medida é resultado da decisão do Tribunal de Apelações de Última Instância, que pôs fim a uma batalha judicial que durou quatro anos. O tribunal determinou que o governo tem que conceder benefícios de cônjuge a um funcionário público que casou com o esposo britânico na Nova Zelândia.  Enquanto isso, a Comissão de Oportunidades Iguais publicou um relatório, “O Reconhecimento e Tratamento de Relacionamentos conforme a Legislação de Hong Kong”, que examinou 1.700 disposições de 537 leis e descobriu que há quase 100 formas de tratamento diferentes para os casais LGBT. Os casais do mesmo sexo não podem se casar em Hong Kong.

Na China, o Tabelionato Guoxin de Beijing reconheceu a “tutela mútua” entre um casal do mesmo sexo. Os Contratos de Tutela proporcionam às pessoas alguns dos mesmos benefícios concedidos às pessoas casadas, segundo reportagem da SixthTone. Tabelionatos em Xangai, Hubei, Nanjing e outras cidades já concederam contratos de tutela a casais do mesmo sexo.

Na Bulgária, um tribunal de apelação concedeu a um casal de lésbicas expatriadas o direito ao reconhecimento de seu casamento no país. Embora tenham se casado na França antes de se mudarem para a Bulgária, as autoridades não aceitaram o casamento e recusaram a residência de uma das esposas no país. Em 2018, o Tribunal Europeu de Justiça determinou que todos os países da União Europeia (UE) devem reconhecer o casamento entre pessoas do mesmo sexo em casos de imigração em que pelo menos um dos parceiros é cidadão da UE. 

No Peru, o Tribunal Superior de Lima determinou que deve ser permitido o registro de casamento no Registro Nacional de Identificação e Estado Civil (Reniec) de um casal peruano que se casou nos EUA. Entre os argumentos contra o casamento, o Reniec diz que o reconhecimento de um casamento formalizado em país estrangeiro seria discriminatório contra os cidadãos sem condições de viajar para o exterior. Decidindo a favor do casal, o tribunal citou a decisão de 2017 da Corte Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) de que os estados membros devem reconhecer o matrimônio igualitário. Esta é a terceira decisão peruana a favor de casais do mesmo sexo que se casaram no exterior. 

Em Montenegro, o parlamento não aprovou uma lei que teria legalizado o casamento entre pessoas do mesmo sexo. A ONG local, Queer Montenegro, agradeceu aos que apoiaram a lei e também comentou: 

“Nosso muito obrigado a todos que estavam contra esta lei. Sua resistência nos fortalece, seu ódio nunca nos fraquejará, nos atrapalhará ou nos impedirá.” 

Mais sobre a Política e o casamento

 

Que os tribunais decidam: No Caribe, foram impetradas várias ações contestando leis que criminalizam as relações sexuais entre pessoas do mesmo sexo. O Barbados Today noticiou que a Comissão Interamericana de Direitos Humanos deu um prazo de três meses para Barbados responder a ações contestando as leis que penalizam as pessoas com até prisão perpétua. O líder evangélico local e ex-senador, pastor David Durant, anunciou que a comunidade religiosa se opõe a qualquer mudança e que a igreja planejava “formar uma frente unida” contrária. 

Em São Vicente e Granadinas, foi impetrada uma ação em nome de dois homens que alegam ter sido exilados devido à sua sexualidade. Em entrevista à mídia, o primeiro ministro, Ralph Gonsalves, disse que todas as pessoas deveriam ter a oportunidade de ser ouvidas por um tribunal.

As leis também estão sendo contestadas em Dominica por um homem não identificado que alega que, em função dessas leis, enfrentou assédio e foi agredido física e sexualmente. As organizações Minority Rights Dominica (MiRiDom) e Canadian HIV/AIDS Legal Network entraram com a ação em seu nome. Daryl Phillip, fundador da MiRiDom, disse que a contestação é importante para toda a sociedade, mesmo se não reconhece o fato:

“Em algum momento, sua família, seus amigos, seus irmãos, suas irmãs, seus conhecidos, serão afetados por aquela lei”.

Nos EUA, pelo menos 50 homens jovens, gays e bissexuais estão processando o médico do campus da University of Southern California Dennis Kelly por tê-los abusado sexualmente durante exames médicos. A universidade também está citada na ação por não ter respondido às denúncias ao longo dos anos. É a segunda ação contra a universidade devido ao assédio sexual por profissionais de saúde do campus—o ginecologista George Tyndall foi acusado de agressão e assédio sexual por mais de 700 mulheres.

Na África do Sul, a juíza Violet Phatshoane condenou um homem que confessou ter estuprado lésbicas para “corrigi-las”. Chamando o homem “bastante repulsivo e imperdoável”, a juíza observou:

“As pessoas da comunidade gay e lésbica... têm o direito de ser quem são e de se expressarem da maneira que quiser, sem medo de serem excluídas e violadas.”

O Conselho de Estado da Turquia determinou que o Hospital Universitário de Istambul (Cerrahpaşa) não pode se recusar a realizar histerectomias voluntárias solicitadas por homens trans. Na Turquia, os homens trans não podem mudar o nome e o gênero legalmente sem ter sido esterilizados. Escrevendo para o Kaos GL, Emirhan Deniz Çelebi explicou a história do caso e as ações de advocacy envolvidas na contestação do sistema.

O Tribunal Federal Suíço reverteu uma decisão provisória que teria permitido que a atleta olímpica Caster Semenya pudesse participar nos jogos do Campeonato Mundial de Atletismo, em setembro. Semenya está recorrendo de uma decisão do Tribunal Arbitral do Esporte de que corredoras femininas com níveis naturalmente altos de testosterona têm que tomar medicamentos para reduzir o nível de testosterona para poder concorrer em corridas com distâncias entre 400m e uma milha.

Mais sobre os Tribunais

 

Medo e ódio: Rede Regional de Informações sobre Violência contra Pessoas LGBTI na América Latina e no Caribe  divulgou um novo relatório que revelou que quatro pessoas LGBT+ são assassinadas diariamente na região. Segundo o relatório, quase 90% dos homicídios nos últimos cinco anos ocorreram no México, na Colômbia e em Honduras.  Em Barranquilla, Colômbia, o ativista Ariel López foi assassinado em casa–é o oitavo ativista LGBT a ser morto desde o início de 2018. Já no Equador, mais uma mulher trans foi morta—é a oitava mulher trans sabidamente assassinada no país este ano.

Escrevendo para a OZY, Josefina Salomon descreveu os perigos específicos enfrentados pelas mulheres trans em El Salvador, Guatemala e Honduras. A busca de asilo é cada vez mais difícil para as mulheres trans, que muitas vezes têm que aguentar abuso em centros de detenção masculinos durante meses antes de serem deportadas—pesquisa da Universidade de Syracuse revelou que 70% dos pedidos de asilo estão sendo rejeitados nos EUA.

A ativista LGBTQ russa Yelena Grigorieva foi assassinada depois que seu nome e dados apareceram em um site na internet  que incentiva a tortura de pessoas LGBTQ. O site, que vem elencando ativistas e jornalistas como “alvos” há mais de um ano, segundo o Washington Post, foi bloqueado pelas autoridades. A polícia prendeu um suspeito, porém a AP noticiou que as acusações não foram divulgadas.

Um sobrevivente da “eliminação” de pessoas suspeitas de serem gays, lésbicas e bissexuais na Chechênia, Amin Dzhabrailov, descreveu suas experiências com detalhes para o escritor Arvin Joaquin. Investigações de peritos concluíram que as autoridades da Chechênia cometeram tortura, prisões ilegais, execuções extrajudiciais e outras violações contra pessoas LGBT, defensores dos direitos humanos, advogados, organizações da sociedade civil e a mídia independente. No entanto, as autoridades russas afirmam que as acusações são “tendenciosas e infundadas”.

Na Indonésia, o porta-voz da Polícia Nacional, Asep Adi Saputra, falou para a mídia que ser LGBT é uma “doença” e uma “emergência” que tem que ser impedida. Foi publicada no Twitter oficial do Centro de Informações Militares da Indonésia uma história em quadrinhos que explica o significado da sigla LGBT e em seguida afirma que as pessoas LGBT transmitem o HIV, segundo reportagem do Jakarta Post.

Na Polônia, as tensões se mantiveram altas após o Partido Lei e Justiça ter começado a argumentar contra os direitos LGBT e contra a educação em sexualidade como uma bandeira de campanha. Os participantes do primeiro evento do Orgulho na cidade de Bialystok se defrontaram com uma “multidão” raivosa e violenta muito mais numerosa que os apoiadores do Orgulho, segundo reportagem do New York Times. O evento foi interrompido pela polícia com gás lacrimogêneo e muitos ficaram feridos. Em todo o país, as pessoas se manifestaram em apoio aos feridos. Nas mídias sociais, o hashtag #jestemLGBT (#eusouLGBT) viralizou, com dezenas de milhares de respostas. Enquanto isso, várias centenas de pessoas protestaram contra o arcebispo de Cracóvia, que recentemente incentivou a retórica anti-LGBT com suas afirmações de que o país estava sendo atacado por uma “praga arco-íris”. Pawel Rabiej, o vice-prefeito assumidamente gay de Varsóvia, disse que o governo “traiu” as pessoas LGBT:

“Varsóvia é para todo mundo, assim como deveria ser o resto da Polônia. A solidariedade vencerá a época do desprezo.” 

 Na França, várias organizações LGBT publicaram uma carta aberta pedindo para o presidente Emmanuel Macron e o primeiro ministro Édouard Philippe  enfrentarem proativamente o aumento da violência homofóbica que continua ocorrendo no país. Embora os grupos tenham se reunido com autoridades em 2018, afirmam que a resposta não foi suficiente.

No Camboja, a Rainbow Community Kampuchea (RoCK) divulgou um novo relatório que revelou que mais de 80% das pessoas lésbicas, bissexuais e trans entrevistadas eram vítimas de violência emocional ou física por parte de familiares.

Mais sobre Medo e ódio

 

Ventos de mudança: Instituto Nacional de Administração do Desenvolvimento da Tailândia (Nida) divulgou resultados de uma nova pesquisa de opinião pública que mostrou que a aceitação das pessoas trans aumentou em comparação com 2015. Mais de 90% dos entrevistados aceitariam ter uma amiga ou colega trans (comparado com 88% em 2015); mais de 86% aceitariam ter uma pessoa trans na família (comparado com 79%); e mais de 54% acreditam que deve ser permitido às pessoas trans mudarem o nome (comparado com 34%). Já o Bangkok Post explorou desafios enfrentados por pessoas trans tailandesas e por quê outras pessoas hesitam em apoiar o direito de mudar o nome e o gênero legalmente.

Na Geórgia, o VOA entrevistou o ativista LGBT Giorgi Tabagari, o padre ortodoxo Levan Kutivadze e o ex-presidente do parlamento Nino Burjanadze sobre a “guerra de culturas” em torno dos direitos LGBT.

Na Romênia, o escritor Marcel Gascón Barberá considerou como as pessoas LGBT estão se tornado mais visíveis aos poucos, apesar do governo deixar de agir em relação a uma variedade de questões, incluindo os relacionamentos entre pessoas do mesmo sexo, o reconhecimento da identidade de gênero e atenção à saúde das pessoas trans.

No Brasil, a jornalista Marcela Rodrigues entrevistou mulheres trans sobre a violência e o assédio que vivenciam todos os dias de suas vidas.  Robeyonce Lima, a primeira mulher trans a se formar como advogada no estado de Pernambuco, explicou que as mulheres trans rejeitam a ideologia anti-LGBTQ do governo todos os dias que ocupam inabalavelmente espaços públicos:

“Só o fato de você estar presente naquele espaço—você está sendo político.”

Nos Camarões, uma nova rede foi formada para reunir os esforços de vários grupos menores de apoio às pessoas trans. O Réseau Indépendant TransAfricain (Rede TransAfricana Independente) colaborará para capacitar as pessoas para serem lideranças na comunidade e para fazer advocacy em prol das necessidades das pessoas trans da região.

Mais sobre Ventos de mudança

 

Ambiente escolar: No Reino Unido, continuaram a ocorrer protestos a respeito de um currículo que pretende incluir aulas sobre relacionamentos e educação em sexualidade que sejam inclusivas de pessoas LGBT+ e apropriadas para a faixa etária. Os protestos começaram em janeiro, na escola Parkfield Community School, em Birmingham, contra o programa de igualdade “Ninguém deixado para fora”, e logo se alastraram para outras escolas. As manifestações se tornaram tão acaloradas que algumas autoridades optaram por encerrar o trimestre antes do previsto para proteger os estudantes. O The Independent noticiou que crimes de ódio envolvendo pessoas com menos de 17 anos de idade no entorno de escolas e colégios impactados pelos protestos aumentaram em 52% em comparação com o ano anterior. Enquanto isso, como os protestos continuam ocorrendo no novo trimestre, a BBC noticiou que a polícia receia que a situação esteja “sendo explorada por grupos extremistas”.

New Zealand Herald noticiou que, pela  primeira vez, uma das mais antigas escolas exclusivamente para meninos permitiu que um estudante que não se identifica com sendo do gênero masculino permanecesse matriculado na escola. O Christ's College, uma escola anglicana não mista em Christchurch, trabalhou com o grupo local Qtopia sobre a melhor forma de apoiar um estudante que se identifica como sendo de gênero diverso e como apoiar estudantes em transição e não binários no futuro.

Mais escolas ao redor do mundo estão explorando como as políticas sobre uniformes têm impacto no gênero. Duas escolas nos EUA foram manchete por causa de suas políticas sobre o uniforme escolar feminino. Em uma escola na Carolina do Norte, as estudantes femininas conquistaram o direito de usar calças após uma campanha de um ano de duração contra a política que obrigava o uso de saias. E uma escola na Califórnia proibiu que as estudantes usassem saias porque, segundo afirmaram as autoridades, um número demasiado de meninas estava usando saias “imodestas”. Embora que alguns pais e estudantes tenham protestado, a proibição permanece em vigor.

Escolas em Nova Taipé, Taiwan, no Condado de Wicklow, Irlanda, e na Cidade do México, México, passaram a permitir que meninos usem saias e meninas usem calças. Já o governo do País de Gales, no Reino Unido, lançou um novo conjunto de diretrizes que impedem as escolas de designar a vestimenta exigida dos estudantes como sendo itens para “meninos” ou para “meninas”. A ministra da educação, Kirsty Williams, comentou: 

"Não deveríamos estar impondo ideias desatualizadas sobre quais roupas sejam apropriadas para o gênero deles, sobretudo se isso os obriga a usar algo que os deixa se sentindo desconfortáveis."

Mais sobre Ambiente escolar  

 

Esportes e cultura: O zoológico de Berlim, na Alemanha, anunciou que mais um casal de pinguins gays adotou um ovo abandonado por uma pinguim fêmea. Skipper e Ping passam a fazer parte de um grupo de casais de pinguins do mesmo sexo que vêm adotando ovos negligenciados em AucklandMuniqueSan Francisco e Sydney. (Não obstante, o zelador de um zoológico na Irlanda comentou que muitas vezes os casais de fêmeas buscam pinguins machos e depois criam o filhote com a parceira.)

No Reino Unido, o portal de notícias Gay Star News anunciou que depois de oito anos vai deixar de publicar notícias e matérias internacionais, sobre saúde, política, cultura e outros tópicos. Os fundadores Tris Reid-Smith e Scott Nunn disseram que falta financiamento e culparam os receios quanto ao Brexit, e afirmaram que cada vez mais as marcas que “desejam ‘fazer’ um trabalho LGBTI o fazem de maneira simbólica”.

Na China, um dos criadores da revista “PontoGay” (点杂志) discutiu os desafios para a criação e manutenção de um espaço para as vozes LGBT. Agora, a revista publica uma variedade de tópicos sobre questões LGBT, porque:

“Consciência não é igual a apoio, mas é um primeiro passo.” 

Na Libéria, surgiu a Journal Rage, uma nova revista online que se dedica a contar matérias LGBT locais nas próprias palavras dos/das entrevistados/as.

A revista russa de cultura queer O-zine e o The Calvert Journal colaboraram com 18 jovens artistas queer para mostrar suas experiências atuais na Rússia. Embora os participantes tivessem objetivos diferentes para o futuro, todos compartilharam a ideia de que a mudança precisa começar a partir deles. Como descreveram Masha e Masha, criadores conjuntos da empresa Mash Hoz que produz velas, doces e sabonetes explícitos para promover a positividade corporal: 

 “Queremos que a comunidade seja visível e assumida, e creio que o melhor que podemos fazer é tentar ser assumidos e visíveis — nos engajarmos no ativismo o máximo possível.” 

Mais sobre Esportes e cultura

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