Olhar para a Igualdade: 25 de setembro de 2019

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Da ONU: Durante a 74ª sessão da Assembleia Geral da ONU, o Núcleo (Core Group) LGBTI da ONU promoveu um painel sobre o discurso de ódio contra as pessoas LGBTIQ nas mídias sociais e na mídia convencional. No que ativistas afirmam ser o primeiro discurso na ONU feito por um líder mundial gay assumido sobre direitos LGBTIQ, o primeiro ministro de Luxemburgo, Xavier Bettel, observou que “todos temos responsabilidade” por acabar com o discurso de ódio:

“Isso começa a partir... dos políticos, mas também se estende a uma noite em família, um jantar com amigos, com a família. Se eles usam o discurso de ódio, você nunca pode aceitar.”

O especialista independente sobre proteção contra violência e discriminação motivadas por orientação sexual e identidade de gênero, Victor Madrigal-Borloz, divulgou seu mais recente relatório, que tem enfoque na inclusão sociocultural e econômica. O relatório identifica algumas formas como pessoas LGBT e seus filhos são tratados injustamente, discriminados, abusados e excluídos de outras formas de participação na educação, no emprego, na religião, na política, na moradia e na atenção à saúde. O relatório também destaca a interseccionalidade— o que significa que considera como as diferentes características de experiências de vida de uma pessoa, incluindo as que não são relacionadas à idade, sexo, saúde física, raça e status de cidadania, fazem com que as pessoas sofram discriminação, de diferentes maneiras. O relatório faz uma série de recomendações para ajudar a orientar os estados a superarem esses desafios. O documento será apresentado à Assembleia Geral, em outubro.

Em carta aos organizadores comunitários, Gunilla Carlsson, diretora executiva interina do UNAIDS, confirmou o apoio do UNAIDS à conferência HIV2020: Community Reclaiming the Global Response (Comunidade Reconquistando a Resposta Global, na tradução livre para o português), a ser realizada na Cidade do México entre 5 a 7 de julho. O UNAIDS também é parceiro da 23ª Conferência Internacional de AIDS (AIDS 2020), que será realizada em San Francisco, de 6 a 10 de julho. O evento no México está sendo organizado por uma aliança de redes de populações-chave, que está preocupada que as restrições a viagens aos EUA impeçam a participação de muitas pessoas na AIDS2020. São impactadas, em especial, as pessoas de países majoritariamente muçulmanos, profissionais do sexopessoas que usam drogas, e pessoas que já foram encarceradas.

O Grupo de Trabalho do Conselho de Direitos Humanos sobre discriminação contra mulheres e meninas está elaborando um relatório temático sobre ‘os direitos humanos das mulheres no dinâmico mundo do trabalho’ a ser apresentado à 44ª sessão do Conselho. Nos Estados Unidos, 50 das principais organizações de defesa de questões LGBTQ divulgaram seu relatório conjunto à ONU sobre obstáculos enfrentados no trabalho pelas pessoas devido à sua sexualidade, identidade de gênero e expressão de gênero.  Também pede que a ONU reconheça que o governo dos EUA está “cada vez mais hostil aos direitos das pessoas LGBTQ”.

Para celebrar o Dia da Visibilidade Bissexual (23 de setembro), confira o vídeo da campanha Livres e Iguais da ONU "Bisexuality: Busting the Myths"(“Bissexualidade: rompendo os mitos!”, na tradução livre para o português).

Mais sobre a ONU

 

HIV, saúde e bem-estar: O UNAIDS e Associação Internacional de Prestadores de Serviços para a AIDS (IAPAC, na sigla em inglês) promoveram, conjuntamente, uma conferência em Londres sobre “Fast-Track Cities (cidades com respostas aceleradas), com delegados de mais de 300 municípios que estão priorizando as respostas ao HIV. Entre os muitos tópicos discutidos estavam as “festas chemsex”—nas quais as pessoas usam drogas para diminuir as inibições antes de fazer sexo. Especialistas em saúde as chamaram de um “fenômeno crescente” nas cidades europeias e alguns afirmam que isso está impulsionando novamente a epidemia do HIV, segundo reportagem da Reuters.

Enquanto isso, a Buzzfeed News, em conjunto com o Channel de TV, no Reino Unido, publicou uma matéria aprofundada sobre o abuso da droga “G” (também conhecida como GHB ou GBL), que muitas vezes é utilizada junto com o crystal meth e outras drogas para aprimorar as experiências sexuais. A matéria contou com mais de 140 entrevistas e uma pesquisa com mais de 2.700 homens gays e bissexuais que usaram a droga, propositadamente ou não. Mais de 62% dos respondentes tiveram problemas graves, incluindo dependência química, internação, violência sexual e estupro, enquanto usavam a G. Refletindo sobre a pesquisa, o editor da Buzzfeed no Reino Unido, Patrick Strudwick, observou que:

“O quadro que surgiu foi de uma escuridão quase incomensurável. O volume de pessoas sendo vitimizadas está além da capacidade de contenção da polícia e da profissão médica.”

Novos artigos na The Lancet HIV e também na Current Opinion in HIV and AIDS sugerem que programas para intensificar a testagem e o tratamento do HIV na África Subsaariana não tiveram o êxito esperado, porque não alcançaram as populações-chave. Ao considerar grandes ensaios biomédicos sobre HIV em Uganda, Quênia, Zâmbia, África do Sul e eSwatini (Suazilândia), os autores apontam que os programas não alcançaram adequadamente os jovens, trabalhadores migrantes, profissionais do sexo, gays e outros homens que fazem sexo com homens, e outras populações-chave.

Um novo estudo mostrou que alguns gays e homens bissexuais no Reino Unido gostam de receber informações sobre HIV e saúde sexual pelas mídias sociais e pelos aplicativos de relacionamento. Contudo, muitos continuam não se sentindo à vontade para compartilhar ou comentar as informações, por medo de serem estigmatizados. Os pesquisadores sugerem que as mensagens devem ser adaptadas especificamente para as mídias sociais para incentivar o engajamento, segundo publicado na BMC Public Health.

Um novo artigo publicado na Therapeutic Advances in Endocrinology and Metabolism fornece informações atualizadas sobre algumas questões de saúde, importantes para mulheres trans que usam terapia hormonal para afirmar o gênero, incluindo os impactos sobre o HIV, o câncer de mama e a saúde mental.

Em Taiwan, China, um novo estudo publicado na International Journal of Environmental Research and Public Health mostrou que o nível de pensamentos suicidas aumentou significativamente entre pessoas não heterossexuais, durante os referendos sobre o casamento entre pessoas do mesmo sexo realizados em 2018. Os resultados reiteram os de uma pesquisa publicada no início deste ano sobre a Enquete Postal de 2017 sobre a Lei do Casamento na Austrália.  A pesquisa mostrou que, durante o período da enquete, as pessoas LGBTI frequentemente foram alvo de mensagens negativas e vivenciaram um grau elevado de sofrimento psicológico.

Williams Institute publicou um relatório alarmante sobre adultos transgênero nos EUA e suicídio. Entre 27.715 respondentes da pesquisa, 81,7% já pensaram seriamente em se suicidar em algum momento da vida. Entre respondentes que vivenciaram apenas quatro situações de transfobia, discriminação ou violência no último ano, 97,7% pensaram em se suicidar e mais da metade (51,2%) tentaram se suicidar. O relatório também identificou alguns fatores associados a menor risco de suicídio, incluindo ter uma família que apoia, querer e receber, subsequentemente, terapia hormonal ou atenção cirúrgica, e morar em um estado com legislação antidiscriminatória que protege especificamente a identidade de gênero. 

Mais sobre HIV, saúde e bem-estar

 

Do mundo da política: presidência finlandesa do Conselho da União Europeia realizou uma conferência de alto nível sobre como avançar com os direitos LGBTI dentro da União Europeia. Representantes da Finlândia, Holanda, Alemanha, Malta, Portugal, Eslovênia, Polônia, Romênia, Áustria e Macedônia do Norte discutiram os atuais desafios enfrentados pelas pessoas e as medidas que devem ser tomadas para alcançar maior igualdade. Evelyne Paradis, diretora executiva da ILGA-Europa, observou:

“Os direitos e a liberdade da comunidade LGBTI não são separados dos direitos e da liberdade de todas as pessoas que moram na Europa, e a perda desses direitos é um indicador da erosão de todos os direitos humanos fundamentais. É por isso, mais do que nunca, que precisamos que a Comissão Europeia adote uma estratégia LGBTI para toda a União Europeia.”

Na Indonésia, a Câmara dos Representantes está finalizando emendas ao Código Penal do país. Muitos ativistas têm expressado preocupação que vários dos novos artigos vão inibir significativamente os direitos humanos. As muitas disposições controversas incluem a criminalização de críticas ao presidente, da blasfêmia religiosa, da coabitação de homens e mulheres que não são casadossexo fora do casamento , da promoção da contracepção, e a criminalização de “atos obscenos” (utilizados para criminalizar a homossexualidade). A Reuters noticiou que o Código Penal se aplicará tanto aos cidadãos indonésios quanto aos estrangeiros. Vinte e dois grupos locais, regionais e internacionais divulgaram uma nota conjunta condenando a lei, e milhares de pessoas protestaram. O presidente Joko Widodo pediu para o parlamento postergar a aprovação da lei, enquanto ela é revisada.

O Congresso da Guatemala pretende votar a terceira e última leitura da “Lei 5272” pela “proteção da vida e da família”. A lei aumenta as penas para o aborto, proíbe a educação em sexualidade nas escolas, censura a discussão de relacionamentos não heterossexuais, e proíbe o casamento entre pessoas do mesmo sexo—segundo reportagens da Sputnik News e da AFP. Muitas pessoas protestaram em frente ao Congresso e milhares assinaram um abaixo-assinado, chamando a lei de inconstitucional  e uma violação dos direitos humanos.

O Nepal comemorou o Samvidhan Diwas (Dia da Constituição) em reconhecimento dos quatro anos da constituição do país. A constituição foi elogiada como um avanço progressivo e incluiu uma disposição impedindo a discriminação por orientação sexual. Há mais de 10 anos, a Suprema Corte do Nepal determinou que as pessoas LGBTI devem ter direitos iguais, incluindo o direito de casar, e mandou o governo aprovar leis para proteger esses direitos. Apesar disso, no ano passado o Código Civil definiu o casamento como sendo apenas entre um homem e uma mulher. E nesta semana, novamente, o parlamento se recusou a aprovar uma Lei de Cidadania que trataria da identidade de gênero da pessoa.

Na Tunísia, onde as atividades sexuais entre pessoas do mesmo sexo continuam sendo criminalizadas, os direitos LGBT ganharam destaque  quando o primeiro gay assumido a se candidatar nas eleições, Mounir Baatour, anunciou que seria candidato a presidente. Apesar de atrair cobertura da mídia internacional, alguns ativistas LGBTIQ+ locais não concordaram com sua candidatura e não ficaram decepcionados quando o Tribunal Eleitoral o rejeitou. O primeiro turno das eleições na Tunísia reduziu as candidaturas a presidente ao magnata dos meios de comunicação, Nabil Karoui, que está preso, e ao professor de direito e conservador social Kais Saied.

Nos EUA, o primeiro grande fórum presidencial sobre direitos LGBTQ desde 2007 foi realizado no estado de Iowa e incluiu quase todos os principais candidatos nomeados pelo partido dos Democratas. Entre os tópicos discutidos: acabar com a epidemia do HIV, PrEP disponível a preços acessíveis, acabar com a terapia de conversão, pessoas trans nas forças armadas, e o assassinato de mulheres trans—19 mulheres sabidamente trans, incluindo 18 mulheres trans negras, foram mortas nos EUA apenas em 2019. 

Mais sobre o Mundo da política


A política e o casamento: 
A Irlanda do Norte vai começar a realizar casamentos entre pessoas no mesmo sexo no Dia de São Valentim (Dia dos Namorados – 14/02), no ano que vem. O Irish News noticiou que os casais do mesmo sexo poderão pedir a habilitação do casamento já em janeiro. A Câmara Baixa do Reino Unido votou, em julho deste ano, pela extensão dos direitos de casamento igualitário e aborto à Irlanda do Norte, se o governo desta região não votasse as emendas legislativas até outubro. O governo local da Irlanda do Norte desmoronou em 2017, impedindo que qualquer uma das duas questões pudesse ser resolvida.

O South China Morning Post noticiou que muitos casais do mesmo sexo que estão tentando se beneficiar da lei que lhes permite ter a tutela legal um do outro estão enfrentando desafios significativos. Recentemente, a lei foi manchete por conceder a casais do mesmo sexo alguns direitos jurídicos limitados—como a capacidade de tomar decisões médicas pelo/a parceiro/a. 

Na República Tcheca, centenas de pessoas fizeram uma manifestação na principal praça de Praga, em apoio ao casamento igualitário. Dois projetos de lei vêm sendo debatidos ao longo do último ano—um permitiria o casamento entre pessoas do mesmo sexo, enquanto o outro redefiniria o casamento como sendo apenas entre um homem e uma mulher. A iniciativa “Nós Somos Justos” (Jsme fér) organizou o evento, que incluiu celebridades e legisladores, para incentivar o governo a ir adiante com a votação.

Mais sobre a Política e o casamento

 

Que os tribunais decidam: Nas Ilhas Maurício, quatro integrantes da ONG de jovens Young Queer Alliance entraram com ação na Suprema Corte para revogar a Seção 250 do Código Penal de 1838, que é utilizada para criminalizar relações sexuais entre pessoas do mesmo sexo.

No Cazaquistão, a Suprema Corte dirimiu um caso notável envolvendo um vídeo de incentivo à homofobia que viralizou na internet. O caso envolveu um homem que postou no Facebook um vídeo que filmou, sem permissão, um casal de lésbicas se beijando. O vídeo viralizou, com muitas pessoas pedindo violência contra as mulheres. Elas foram reconhecidas e agredidas verbalmente em público. A decisão de um tribunal de instância inferior determinou que o homem agia como “defensor da moral da população” ao disseminar o vídeo. Contudo, a Suprema Corte considerou isto uma “violação substancial e grave do direito [das mulheres] ao autorretrato” e determinou que a divulgação do vídeo violou o direito constitucional à privacidade, à honra e à dignidade. Björn Van Roozendaal, da ILGA-Europa, comentou:

“Este foi um precedente judicial e louvamos, sinceramente, a persistência, a paciência e a coragem do casal que reivindicou seus direitos.” 

Enquanto isso, também no Cazaquistão, um tribunal de apelação manteve uma decisão impedindo o grupo Feminita de se registrar como ONG. O Feminita apoia mulheres marginalizadas, incluindo mulheres lésbicas, bissexuais e trans, profissionais do sexo e mulheres com deficiência. A decisão defendida considerou que as finalidades do grupo não “contribuem para o fortalecimento dos valores morais e espirituais existentes … [ou] pelo prestígio e papel da família na sociedade”—conforme noticiado pela Human Rights Watch.

No Japão, o Tribunal Distrital de Sapporo determinou que um hospital errou ao negar emprego a um homem vivendo com HIV. O juiz determinou que o homem recebesse pagamento de danos no valor de cerca de USD $15,6 mil e observou que não precisava informar que tem HIV, porque “o risco da infecção (para outras pessoas) é mínimo, ao ponto de poder ser desconsiderado”.

Nos EUA, esforços municipais para diminuir a discriminação contra LGBT continuam sendo contestados nos tribunais. No estado do Arizona, a Suprema Corte estadual derrubou a portaria municipal antidiscriminatória da cidade de Phoenix e determinou que uma gráfica que produz materiais para casamentos pode se recusar a confeccionar itens para casamentos entre pessoas do mesmo sexo. Em 2018, a Suprema Corte dos EUA determinou que a Comissão de Direitos Civis do Colorado  foi hostil à religião, ao multar um confeiteiro que se recusou a fazer um bolo de casamento para um casal gay.

Enquanto isso, na Cidade de Nova York, a Câmara Municipal revogou a proibição da terapia de conversão, após um grupo jurídico conservador impetrar uma ação contrária na justiça federal. O porta-voz da Câmara, Corey Johnson, explicou que temiam que, caso a ação fosse julgada, a Suprema Corte decidiria contra a proibição e prejudicaria o progresso alcançado até agora, no país inteiro. Dezoito estados, o D.C. e mais de 50 municípios proíbem a terapia de conversão com menores de idade nos EUA. Recentemente, a OutRight Action International divulgou um relatório inédito sobre práticas de terapia de conversão no mundo, que concluiu que:

“Em consonância com toda a literatura científica publicada até o momento, nossos dados sugerem que, independente de normas e contextos religiosos, culturais ou tradicionais, essas práticas nocivas nunca funcionam, em vez disso, muitas vezes causam traumas profundos e duradouros que afetam todos os aspectos da vida, durante décadas”. 

Apesar desses retrocessos nos EUA, a ACLU anunciou um desfecho positivo para a saúde das pessoas trans. O Tribunal Distrital de Apelações na Califórnia determinou que negar a atenção à saúde porque uma pessoa é transgênero viola a lei estadual de direitos civis. Agora, a ação do requerente Evan Minton pode proceder contra a Dignity Health e seus hospitais, por terem cancelado sua histerectomia após descobrir que é transgênero. A Dignity Health argumenta que suas unidades têm o direito de se recusar a atender, com base em princípios religiosos católicos. 

Mais sobre os Tribunais

 

Sobre religião: Na Eslováquia, Dariusz Kalan entrevistou pessoas LGBT que querem conciliar a sexualidade com a fé católica, apesar da retórica cada vez mais conservadora no país. O padre Martin Kovac, da Velha Igreja Católica, no oeste da Eslováquia, apoia os paroquianos LGBT:

“A luta contra [as pessoas] LGBT se tornou a principal agenda da maioria das igrejas cristãs na Eslováquia. Queremos mostrar que o cristianismo pode ter outra cara. [A hostilidade à homossexualidade] não é um tema do Evangelho, e sim um elemento da politização do cristianismo e da criação de inimigos imaginários.”

Aaron Koller, professor catedrático do Departamento de Estudos Judaicos do seminário judaico ortodoxo e rabínico da Universidade Yeshiva, de Nova York, publicou um ensaio argumentando que o judaísmo tradicional deveria acolher os direitos LGBT. Estudantes na universidade também protestaram a favor da aceitação das pessoas LGBTQ. Entre as reivindicações, os estudantes pediram o fim da retórica homofóbica na sala de aula, a autonomia para organizar eventos com a temática LGBTQ e o registro de uma aliança gay/hétero no campus.

No Reino Unido, um novo relatório sobre pessoas LGBT da África em busca de asilo descobriu que muitas delas enfrentaram desafios de autoridades governamentais que não acreditavam que poderiam ser LGBT e cristãs simultaneamente. O relatório notou que ingressar em uma igreja inclusiva de pessoas LGBT no Reino Unido ajudava muito os africanos LGBT em busca de asilo, que muitas vezes vêm de um contexto religioso.

Center for American Progress divulgou uma lista de nove lideranças religiosas LGBTQ “extraordinárias” dos EUA, que estão “trabalhando para alcançar a verdadeira liberdade e igualdade de todas as pessoas”. A lista inclui pessoas da fé cristã, islâmica, judaica e budista.

Arcus Foundation destacou os esforços de ativistas LGBTQ no Quênia e na África do Sul voltados para a construção de conexões com líderes religiosos. Brian Pellot, diretor da Taboom Media, que organiza treinamentos para a mídia e lideranças religiosas sobre questões LGBTQ, observou:

“Fazer a mudança do ódio para a tolerância e depois para a aceitação pode levar décadas, mas já estamos vendo algumas mudanças positivas no nosso continente, e estamos trabalhando para que haja mais.”

Mais sobre Religião

 

Medo e ódio: Fórum Brasileiro de Segurança Pública divulgou novos dados mostrando um aumento alarmante de discriminação racial, violência sexual, feminicídio e violência contra pessoas LGBT em 2018, segundo reportagem do Guardian. Samira Bueno, diretora executiva do Fórum, citou o discurso inflamado do presidente Jair Bolsonaro como fator que contribuiu para o aumento da violência:

“As pessoas se tornaram mais preconceituosas porque temos líderes políticos que articulam isso.”


Banco de Dados Compartilhado da Sociedade Civil Caribenha sobre Incidentes divulgou dados de 2013 a 2018 que mostram que a Jamaica teve o maior número  registrado de violações de direitos humanos, quando comparado a outros países da região. Ataques violentos foram denunciados com mais frequência por pessoas LGBT, profissionais do sexo, e outras mulheres. O banco de dados foi estabelecido em 2016 por organizações da sociedade civil que trabalham com pessoas LGBT, profissionais do sexo e pessoas vivendo com HIV, como a primeira plataforma de monitoramento dos direitos humanos da região. 

No Reino Unido, a BBC mostrou que as denúncias de crimes de ódio relacionados à homofobia e transfobia mais que dobraram nos últimos cinco anos no país. No entanto, no mesmo período, o número de condenações por crimes de ódio diminui significativamente. A BBC apresentou pedidos de liberdade de informação a 46 forças policiais em todo o país, para sua investigação. O Ministério do Interior (Home Office) anunciou que vai recrutar 20 mil policiais adicionais para “garantir que possa dar conta dos casos informados pela polícia”. A parlamentar da Câmara Alta, Baronesa Williams, afirmou:

"As vítimas não deveriam ter que enfrentar esse abuso tóxico, e faremos tudo que pudermos para apoiá-las.”

Na Polônia, as questões LGBT ficaram em destaque o ano todo, por incentivo da retórica negativa extrema vinda de autoridades, incluindo o Arcebispo de Cracóvia  e o líder do partido político de situação, Jaroslaw Kaczynski. As marchas pró e contra os direitos LGBT expuseram divisões acirradas  em todo o país. Assista ao vídeo de uma reportagem  da France24, que faz um resumo. Uma mulher afirmou:

“Todos aqueles que atacam as pessoas LGBT juram que estão lutando contra uma ideologia, e não contra pessoas. Mas a ideologia não existe. Somente nós existimos.”

Mais sobre Medo e Ódio


Ventos de mudança: No seu último no cargo, a procuradora-geral do Brasil, Raquel Dodge, anunciou que estava denunciando dois oficiais de tribunais, dois policiais e um advogado por fraudar as investigações do assassinato em 2018  da vereadora bissexual e ativista pelos direitos humanos Marielle Franco. A investigação será assumida por autoridades federais, caso o Superior Tribunal de Justiça aceite o pedido de Dodge.

A Agência da ONU para Refugiados selecionou Bianka Rodríguez para receber o Prêmio Nansen para Refugiados do ACNUR, por seu trabalho em prol das comunidades LGBTI de El Salvador. Rodríguez se tornou diretora executiva da Comcavis Trans, uma ONG que trabalha para trazer visibilidade e dignidade à comunidade trans, após a fundadora da Comcavis ser obrigada a fugir do país. Como mulher trans que também já enfrentou violência, Rodríguez disse que a decisão de assumir o cargo foi “agonizante”: 

“Eu queria largar tudo, mas eu sei que aquelas que nos buscam precisam desesperadamente de nossa ajuda.”

Em Washington, capital dos Estados Unidos, profissionais do sexo e ativistas pelos direitos trans são apoiando profissionais do sexo trans por meio da organização de manifestações, captação de fundos coletivos e fornecimento de moradia e serviços emergenciais para a comunidade. Novas leis nacionais que proíbem profissionais do sexo de postar anúncios online—uma prática que possibilitava que as pessoas selecionassem melhor os clientes e criassem redes de segurança—tornaram o trabalho significativamente mais perigoso, segundo pessoas da comunidade. Washington está considerando ema legislação para descriminalizar o trabalho sexual, contudo, ativistas dizem que a persistência dos assassinatos de mulheres trans negras  mostra que a atuação dos políticos está morosa demais.

Em matéria para a Nikkei Asian Review, Emily Fishbein entrevistou tomboys” (meninas masculinizadas) em Mianmar—identificadas como femininas ao nascerem, as tomboys se vestem com roupas masculinas, usam pronomes masculinos, e algumas se identificam como homens trans ou lésbicas. Embora o governo não permita a mudança de gênero e embora as relações sexuais entre pessoas do mesmo sexo sejam criminalizadas, um grupo de tomboys fundou a Rainbow Six, para aumentar a sensibilização sobre os desafios que enfrentam.

Em texto para o Guardian, ativista Owl Fisher discutiu como o movimento feminista da Islândia tem sido um impulsionador significativo da melhoria dos direitos das pessoas trans. Enquanto muitas integrantes de movimentos feministas em outros lugares têm sugerido que os direitos trans sejam contrários ao feminismo, as ativistas islandesas apoiaram totalmente a lei progressista sobre reconhecimento de gênero aprovada recentemente.  Como descreve Fisher:

“A ideia de um “papel correto de gênero” na lei antiga foi altamente controversa dentro de organizações de direitos trans e também de direitos das mulheres. Codificar juridicamente papéis de gênero em uma sociedade moderna parecia extremamente desconexo do rumo tomado pela sociedade. Apagar esse conceito foi uma das grandes conquistas da nova lei.”

Mais sobre Ventos de Mudança


Esportes e cultura: Nos EUA, a celebridade Jonathan Van Ness assumiu que tem HIV. Van Ness, que se identifica como não binário e utiliza o pronome ele, se tornou uma personalidade internacional por meio do ressurgimento do show de TV Queer Eye. Em seu novo livro de memórias, ele fala francamente sobre suas experiências com dependência química, trabalho sexual e ter sobrevivido ao abuso sexual.

No Reino Unido, o astro do rúgbi e gay assumido Gareth Thomas revelou que está vivendo com HIV em um vídeo emocionante, dias antes de concluir um triatlo Ironman. Thomas disse que se abriu porque um repórter contou para seus pais, e chantagistas ameaçaram tornar público seu diagnóstico. A BBC lançou, simultaneamente, um documentário chamado “Gareth Thomas: o HIV e Eu”. Militantes afirmam ter visto um “aumento acentuado” no número de pessoas buscando informações sobre HIV desde a revelação de Thomas.

No Japão, começou em Tóquio a Copa do Mundo de Rúgbi. Concomitantemente, o Pride House Tokyo Consortium disponibilizou um local temporário para disseminar informações e servir como espaço seguro para torcedores e atletas LGBT. Composto por indivíduos, corporações e organizações sem fins lucrativos, o Consórcio planeja hospedar outro local durante os Jogos Olímpicos e Paralímpicos de 2020, em Tóquio.

Em Chengdu, China, membros do “Coral Trans” esperam que, com suas apresentações, consigam sensibilizar sobre questões trans. Um estudo recente realizado pelo Centro LGBT de Beijing mostrou que quase 1 em cada 5 adolescentes trans é submetido à terapia de conversão na China. Assista sua entrevista com a AFP.

A banda de rock Mashrou’ Leila se manifestou sobre ter sido cortada do Festival Internacional de Byblos, no Líbano, recentemente, apesar de tocar em shows lotados no mundo inteiro. A banda, cujas músicas às vezes refletem sobre sectarismo, igualdade de gênero e homofobia, enfrentou ameaças de morte e ameaças de disparos de tiros contra a plateia. Não é a primeira vez que a banda enfrenta violência e censura. Já foi impedida de tocar na Jordânia e em 2017, no Egito, fãs foram presos por hastear a bandeira do arco-íris durante um concerto. Afirmando que teve “o coração partido”, o vocalista e gay assumido Hamed Sinno refletiu:

"É um absurdo ver tanto ódio. Foi realmente devastador receber aquela enxurrada constante de ameaças de morte."

Embora não pudesse se apresentar, o famoso violoncelista Yo-Yo Ma fechou o festival com sua canção “Tayf”. Assista à homenagem emocionante.

Em Ruanda, o cantor gospel Albert Nabonibo se assumiu como gay em entrevista em um canal cristão no YouTube. Nabonibo enfrentou a reação negativa do público, perdeu o emprego e foi isolado pelos amigos. Contudo, o ministro das Relações Exteriores, Olivier Nduhungirehe, postou uma mensagem de apoio:

"Todos os ruandeses nascem e permanecem iguais em direitos e liberdades. A discriminação de qualquer natureza e sua disseminação [...] são proibidas e punidas pela lei. (Art. 16 da Constituição). Por favor, continue cantando e louvando ao Senhor, Albert Nabonibo! Esta nação te protegerá.”

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