Olhar para a Igualdade: 12 de junho de 2019

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“Uma sociedade democrática é uma que abraça a tolerância, a diversidade e as mentes abertas."
~ Juiz Michael Leburu, ao derrubar as leis que criminalizam a homossexualidade no Botsuana


Da ONU: O especialista independente da ONU sobre proteção contra violência e discriminação por orientação sexual e identidade de gênero, Victor Madrigal-Borloz, divulgou três relatórios novos em preparação para a 41ª sessão do Conselho de Direitos Humanos, no qual apresentará os relatórios finais das visitas que fez recentemente à Geórgia e Moçambique.  

Madrigal-Borloz também apresentará seu relatório sobre a coleta de dados no contexto das questões LGBT. Entre as conclusões, ele afirma as informações sobre pessoas LGBT e não binárias são “na melhor das hipóteses, incompletas e fragmentadas; em algumas áreas são inexistentes”. Madrigal-Borloz pede que o Conselho reconheça a “gravidade desta constatação” e adverte que sem os dados os países não conseguirão alcançar as principais metas para o desenvolvimento, como os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável: 

“Significa que na maioria dos contextos os formuladores de políticas estão tomando decisões às cegas, sobrando apenas ideias preconcebidas e preconceitos pessoais, ou preconceitos das pessoas ao seu redor.” 

O diretor-geral da Organização Internacional do Trabalho (OIT), Guy Ryder, anunciou que os estados membros, grupos patronais e representantes de trabalhadores estão envolvidos em negociações que estão sendo realizadas em preparação para as Convenções da OIT para criar um tratado mundial que visa proteger os trabalhadores contra violência e assédio. Embora muitas das pessoas envolvidas quisessem ver uma melhoria nas proteções para trabalhadores LGBTI, Ryder reconheceu que ainda continua o debate sobre o quão explicitamente estas serão incluídas no tratado. 

O UNAIDS destacou algumas das organizações que o programa apoia e que trabalham com os direitos LGBTI nos países. Do Malawi, Lawrence Phiri Chipili, diretor executivo do grupo chamado Lesbian, Intersex, Transgender, and other Extensions (LITE), descreveu como, com o apoio do UNAIDS, grupos LGBTI locais vêm seguindo uma abordagem baseada em evidências ao fazerem advocacy. Em especial, realizaram análises de necessidades quanto aos desafios múltiplos enfrentados pelas pessoas LGBTI e utilizaram os resultados para incidir sobre políticas. E na Índia, o UNAIDS promoveu um encontro de stakeholders locais para discutir o progresso rumo à igualdade de direitos. Os participantes do encontro estabeleceram uma força tarefa para fornecer orientações estratégicas  ao UNAIDS sobre questões LGBTI emergentes.  

O escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos lançou um novo Programa de Bolsas com enfoque nos direitos humanos das pessoas LGBTI. Ao reconhecer que muitas vezes as pessoas trans têm menos oportunidades que as demais, a ACNUDH está buscando candidatos/as trans com experiência de trabalho em questões de identidade de gênero, expressão de gênero e direitos humanos. 

A Relatora Especial da ONU sobre o tráfico e exploração sexual de crianças, Maud de Boer-Buquicchio, divulgou um edital aberto para contribuições por todas as pessoas que são a favor ou contra a prática da gestação de substituição. Como explicou Heather Barr, da Human Rights Watch, a reprodução assistida pode levantar questões legais e éticas complexas. Também pode proporcionar esperança às pessoas LGBTQ e às pessoas vivenciando a infertilidade. As pessoas e organizações LGBTQ são convidadas a contribuir com suas opiniões na discussão

Em entrevista para o jornal Guardian, a Vice-Alta-Comissária da ONU para os Direitos Humanos, Kate Gilmore, assumiu uma postura forte sobre a saúde reprodutiva e a necessidade do direito ao aborto. Gilmore chamou de “profundamente angustiante” e uma “crise direcionada às mulheres, a intenção dos EUA de proibir o aborto e de retirar os direitos de saúde sexual e reprodutiva de importantes documentos internacionais ”: 

“Não temos dado o mesmo destaque que temos feito para outras formas de ódio extremista, mas não há dúvida que isso se trata de violência baseada em gênero contra as mulheres.”  

Mais sobre a ONU 

HIV, saúde e bem-estar: A OMS publicou um novo estudo sobre a prevalência mundial das infecções sexualmente transmissíveis entre pessoas na faixa dos 15 aos 49 anos de idade, incluindo clamídia, gonorreia, tricomoníase e sífilis. Com estimativa de um total mundial de 376,4 milhões de novas infecções por ano, os autores afirmaram que seus achados demonstram um “ônus mundial incrivelmente alto”. A Dra. Teodora Wi observou que a discussão aberta e franca é essencial para combater as ISTs:  

“Não podemos varrê-las para debaixo do tapete e fazer de conta que não existem.” 

A revista Self examinou em profundidade o aumento nos casos de sífilis—por que você deve se preocupar, como se transmite, os sintomas, e o que você pode fazer para preveni-la. 

A Junta de Promoção da Saúde de Singapura financiou o primeiro estudo empírico de avaliação do tamanho de grupos populacionais “ocultados” sob risco de contrair o HIV, incluindo gays e outros homens que fazem sexo com homens, profissionais do sexo e seus clientes, e usuários de drogas injetáveis. 

Do Malawi, Aniz Mitha, diretor executivo da organização Community Health Rights Advocacy (CHeRA) conversou com o UNAIDS sobre o direcionamento de programas de prevenção de HIV a homens profissionais do sexo.  

Na Bulgária, a entidade filantrópica de jovens LGBT+, Single Step, trabalhou com o aplicativo de relacionamento Grindr para enviar gratuitamente kits de autoteste para HIV para usuários locais do aplicativo. O teste veio acompanhado de informações sobre HIV e do número de uma linha direta 24 horas operada pela Single Step para apoiar as pessoas fazendo o teste. O sucesso do programa resultou em outro projeto parecido que está sendo testado na República Tcheca. 

A campanha “This Free Life” (Esta vida livre”) da Food and Drug Administration dos EUA anunciou um leque de novos eventos em celebração do Orgulho. Observando que pessoas LGBT nos EUA têm uma probabilidade duas vezes maior de tabagismo que as demais, a campanha digital premiada é direcionada a jovens adultos LGBT com “mensagens autênticas e plausíveis” dos seus pares com incentivos para viverem livros do fumo.  

Mais sobre HIV, Saúde e bem-estar 

Do mundo da política: A Assembleia Nacional do Butão votou a favor do Projeto de Lei de Emenda ao Código Penal (2019). Entre as alterações ao código, as duas seções que criminalizam as relações sexuais entre pessoas do mesmo sexo foram retiradas. Agora o projeto vai para a Câmara Alta para revisão e depois para o rei. Se a lei for sancionada, será descriminalizada a homossexualidade no país.  

O Canadá realizou uma sessão solene para anunciar os achados do Inquérito Nacional sobre Mulheres e Meninas Indígenas Desaparecidas e Assassinadas. Também foi divulgado o relatório final do inquérito—mais de mil páginas sobre os “índices assustadores” da violência contra mulheres indígenas, meninas e 2SLGBTQQIA (LGBT, Dois Espíritos, queerquestioning, intersexo e assexual). Mais de 2.380 pessoas participaram do inquérito por meio de audiências comunitárias, audiências com instituições e especialistas, sessões fechadas, e gravações filmadas online. O inquérito não conseguiu determinar o número exato de pessoas desaparecidas e assassinadas

União Europeia realizou eleições nas quais eleitores das 28 nações membros escolheram 751 pessoas para integrar o Parlamento Europeu.  Nas semanas que antecederam as eleições, ativistas afirmaram que os direitos LGBT foram utilizados para dividir o eleitorado e aumentar a participação. Na Polônia, por exemplo, houve políticos que fizeram “campanhas amargas”—assim descritas pela Reuters—contra os direitos LGBT e a educação em sexualidade. A retórica acalorada levou algumas Câmaras Municipais na Polônia a aprovar moções declarando que seus municípios são “Livres de LGBT”—segundo reportagem do New York Times.  

Apesar das preocupações dos ativistas, o Guardian noticiou que o aumento nos votos para os partidos de extrema direita e populistas foi apenas moderado. Contudo, conforme resumido pelo Atlantic, “a verdadeira notícia é que os populistas de direita continuam crescendo” e com “presença permanente no palco político”. No entanto, o populismo não significa uma perda automática dos direitos das pessoas LGBT+, como observou Evelyne Paradis, diretora executiva da ILGA-Europa

“A onda de populismo... mesmo quando não direcionada especificamente à comunidade LGBTI, contribui para alimentar um clima social tóxico e divisivo.”  

O Ministério das Telecomunicações do Líbano proibiu o aplicativo de relacionamento Grindr. O Líbano criminaliza as relações sexuais entre pessoas do mesmo sexo, embora a lei venha sendo aplicada de forma inconsistente. O diretor do grupo local de direitos humanos Smex, Mohamad Najem, comentou: 

"Entendemos que se trata de uma restrição da liberdade de expressão e de associação... Um Estado que se diz democrático não faz isso.” 

Na Índia, o ministro Thawar Chand Gehlot anunciou que o Ministério de Justiça e Empoderamento Social vai reapresentar o Projeto de Lei das Pessoas Transgênero (Proteção de Direitos). Embora o projeto de lei tenha sido aprovado pelo Lok Sabha (câmara baixa do parlamento) em dezembro, caducou antes de ser analisado pela câmara alta. Agora terá que se reavaliado pelas duas câmaras. Há muita oposição ao projeto de lei que, segundo ativistas, compromete as necessidades das pessoas trans e intersexo e não prevê ações para melhorar o acesso das pessoas trans à educação, ao emprego e à saúde. 

No Chile, algumas organizações enviaram uma carta aberta ao presidente Sebastián Piñera pedindo que o governo desempenhe um papel mais ativo para proteger a vida e a saúde mental de jovens trans. Os grupos afirmaram que foi o bullying que levou o adolescente trans de 16 anos, Matías Guevara, a se suicidar e que o suicídio poderia ter sido evitado se tivessem políticas melhores em funcionamento. A Ministra da Educação, Marcela Cubillos, se reuniu com organizações trans e com a mãe de Guevara para discutir a melhoria das políticas de educação inclusiva.  

O Departamento de Estado dos EUA divulgou um aviso informando da criação de uma nova “Comissão de Direitos Inalienáveis” que fornecerá “orientações e recomendações sobre questões internacionais de direitos humanos”. O aviso também informa que o discurso dos direitos humanos “se afastou dos princípios fundadores da nossa nação sobre a lei natural e os direitos naturais”. Embora tenham sido acrescentados alguns detalhes, alguns ativistas estão preocupados que os termos “lei natural e direitos naturais” transmitam sinais codificados com a intenção de retroceder com os direitos LGBT. Ex-funcionários do alto escalão do governo dos EUA falaram com o Politico sobre o anúncio e expressaram perplexidade quanto ao propósito da nova comissão e como será cabível ao lado do Escritório de Democracia, Direitos Humanos e Assuntos Trabalhistas.  

Também nos EUA, a NBC noticiou que o Departamento de Estado não permite mais que as Embaixadas dos EUA hasteiem a bandeira do arco-íris nos mastros oficiais. O The Washington Post noticiou que a mudança na política “impulsionou uma espécie de revolta” entre alguns diplomatas que vêm encontrando outras formas de hastear a bandeira. No entanto, outros embaixadores gays falaram para o Post que preferem não discutir questões LGBT publicamente pelo risco de chamar a atenção. 

Mais sobre o Mundo da política 

Que os tribunais decidam: Em decisão unânime, o Superior Tribunal do Botsuana descriminalizou a homossexualidade ao retirar as Seções 164 e 167 do Código Penal. A ação foi movida em março por Letsweletse Motshidiemang, um estudante universitário de 21 anos de idade. Ao anunciar a decisão, o ministro Michael Leburu disse: 

“Não é da conta da lei regular o comportamento privado consentido de dois adultos.”  

Tanto o UNAIDS quanto a Alta Comissária da ONU para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, elogiaram a decisão. O Especialista Independente da ONU, Victor Madrigal-Borloz, disse que estava "profundamente animado" e afirmou que a criminalização "é uma das principais causas das violações graves e arraigadas dos direitos humanos motivadas por orientação sexual e identidade de gênero". 

O Superior Tribunal de Hong Kong revogou ou revisou sete delitos que criminalizavam as relações sexuais consentidas entre pessoas do mesmo sexo. Embora Hong Kong tenha descriminalizado a homossexualidade em 1991, estas leis da era colonial permaneceram. Os advogados contrários às leis afirmaram que estas foram utilizadas para condenar gays ainda em 2018—segundo reportagem do South China Morning Post.  

Em maio, o Tribunal Arbitral do Esporte (CAS) decidiu que a Associação Internacional de Federações de Atletismo (IAAF) pode exigir que a campeã olímpica Caster Semenya tome medicamento para abaixar seu nível natural de testosterona. Semenya recorreu da decisão e o Tribunal Federal da Suíça anunciou deverá ser dada permissão para ela concorrer sem ser obrigada a tomar medicamento até que seja dada a decisão sobre o recurso. Em resposta, a IAAF declarou que permitir que a Semenya concorra temporariamente sem tomar medicamento criaria “confusão séria”.   

Nos EUA, várias ações têm sido impetradas contra o Departamento de Saúde e Serviços Humanos (HHS) para barrar a nova “Regra de Consciência” que permite que pessoas físicas e entidades de atenção à saúde possam optar por não prestar assistência a pacientes quando tal assistência viole as convicções do/da prestador/a—segundo reportagem da ReutersBloomberg, e outras fontes.  Genevieve Scott, advogada sênior do Centro pelos Direitos Reprodutivos observou que a regra é “propositalmente confusa e inviável para implementação pelos serviços de saúde”:  

“Para evitar a violação em potencial da regra e a consequente perda do seu financiamento, muitos estabelecimentos podem ter que acabar com serviços que poderiam gerar a objeção dos funcionários, incluindo serviços de saúde reprodutiva, como o aborto e a contracepção e serviços para pessoas LGBT.” 

Mais sobre os Tribunais 

A política e o casamento: Na Alemanha, casais de lésbicas estão lutando pelo direito de ser reconhecidas como mães conjuntas. Ainda que a lei permita o casamento entre pessoas do mesmo sexo, é muito difícil constituir uma família—sobretudo para duas mulheres. Os homens casados são automaticamente reconhecidos como pais de filhos segundo uma lei sobre paternidade, contudo, a Reuters noticiou que as mulheres são obrigadas a se candidatarem à adoção. Ambos os sexos afirmam que atitudes conservadoras perpetuam a discriminação contra as famílias arco-íris. O parlamento deverá analisar a questão no código civil ainda este ano. 

Na Polônia, o Tribunal Provincial da Cracóvia decidiu que pode constar na certidão de nascimento a ser registrada no Registro Civil da Polônia que uma criança tem duas mães. As mães, um casal de lésbicas, realizaram o processo de fertilização in vitro no Reino Unido e receberam uma certidão daquele país onde a lei permite pais/mães do mesmo sexo. Quando as mães foram registrar a certidão de nascimento na Polônia (uma das mães é polonesa), as autoridades se recusaram a registrar as duas mães. A Polônia não permite o casamento entre pessoas do mesmo sexo ou a adoção por casais do mesmo sexo, no entanto o tribunal decidiu que deve ser concedida à criança uma certidão de nascimento polonesa que espelhe a certidão britânica—segundo reportagem da TVN24

Depois de reportagens na mídia nos EUA sobre a luta de alguns casais LGBTQ pela cidadania estadunidense dos filhos, muitos parlamentares do Congresso Nacional assinaram cartas pedindo que o Secretário de Estado Mike Pompeo pare de discriminar as famílias LGBTQ—conforme noticiado pelo Daily Beast. Recentemente o Departamento de Estado começou a interpretar a lei do direito à cidadania por nascimento de modo a considerar que crianças nascidas no exterior por meio de tecnologias de reprodução assistida “não são fruto do casamento”, ainda que os/as pais/mães sejam cidadãos/ãs dos EUA casados/as no civil. Os pais afirmam que os casais LGBTQ legalmente casados estão sendo alvo de tratamento injusto.  

Corte Constitucional do Equador anunciou que não estava preparada para tomar uma decisão sobre o casamento igualitário. Parte da decisão depende da aceitação pela Corte da Opinião Consultiva de 2017 da Corte Interamericana de Direitos Humanos de que os estados membros devem reconhecer o casamento igualitário. 

No Japão, o Partido Democrático Constitucional e o Partido Comunista do Japão apresentaram um projeto de lei para estabelecer o casamento igualitário por meio da adoção de linguagem neutra de gênero. Analistas preveem que o Partido Democrático Liberal, que é da situação, vá impedir a tramitação do projeto no Diet (parlamento). 

Mais sobre Política e casamento

Sobre a religião: Para celebrar o Eid al-Fitr e o fim do Ramadã, o grupo do Reino Unido Lesbians and Gays Support the Migrants (Lésbicas e Gays Apoiam os Migrantes, em português) realizou um evento de arrecadação de fundos para apoiar o grupo LGBTQIA+ islâmico Imaan. 

Também no Reino Unido, o grupo Rainbow Films lançou um curta metragem documentando o conflito entre o ativista queer muçulmano Ferhan Khan e alguns membros da comunidade muçulmana que protestavam em frente a uma escola primária. Durante meses manifestantes vêm fazendo protestos em frente à escola Anderton Park Primary School em Birmingham sobre a educação inclusiva de pessoas LGBT+. Uma liminar concedida pelo Tribunal Superior proibindo a continuação dos protestos entrou em vigor quando a escola foi obrigada a encerrar o trimestre antes do prazo. Mesmo assim, os protestos continuam.  

A Igreja Anglicana na Província das Antilhas elegeu o Reverendo Dr. Howard Gregory como arcebispo, o primeiro bispo diocesano nascido na Jamaica a ocupar a posição. Escrevendo para o 76 Crimes, Maurice Tomlinson analisou o histórico do apoio de Gregory à descriminalização da homossexualidade

O departamento dentro do Vaticano responsável por supervisionar a educação Católica lançou um novo documento com 30 páginas intitulado "Ele os criou macho e fêmea” para combater uma “crise educacional, especialmente no campo da afetividade e da sexualidade”. 

Apesar das percepções de alguns de que a Igreja estivesse tendo mais aceitação das pessoas LGBT, o documento denuncia o que chama de “teoria de gênero”, identidade sexual, e a união entre pessoas do mesmo sexo—segundo reportagens do New York Times, da Reuters, e outros meios de comunicação. O documento alega que a “identidade sexual e a família” são “muitas vezes baseadas em nada mais que um conceito confuso de liberdade dentro do domínio dos sentimentos e vontades, ou desejos momentâneos provocados por impulsos emocionais e pela vontade do indivíduo, ao contrário de qualquer coisa baseada nas verdades da existência". (O documento na íntegra pode ser acessado aqui em inglês.) 

Francis DeBernardo, diretor executivo do New Ways Ministry, chamou o documento de “ferramenta nociva” e “deturpação grosseira da vida das pessoas LGBT que perpetua e incentiva o ódio, a intolerância e a violência contra elas”.  

Enquanto isso, o New Ways Ministry atualizou “Journeys”, sua série de reflexões sobre as escrituras para pessoas LGBTQ e aliadas com recursos para a festa de Pentecostes. O encarte fornece escrituras com perguntas para reflexão, oração e uma meditação em vídeo que talvez reverbere entre os que vão celebrar o Orgulho LGBTQ: 

“Pentecostes é o dia quando o Espírito de Deus, animado, extravagante e exuberante, explode nas ruas com ventos violentos e um fogo ardente que baixa e repousa em todas as pessoas, independente de raça, cor, etnia, origem nacional, religião, deficiência, sexo, expressão de gênero, identidade de gênero ou orientação sexual.”  

Mais sobre a Religião 

Medo e ódio: A Federação Sueca pelos Direitos de Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transgêneros (RFSL) anunciou que cancelou sua participação no festival político Almedalen, com 8 dias de duração, por medo do grupo neonazista chamado Movimento de Resistência Nórdica (NMR). A porta-voz da RFSL, Sandra Ehne, disse que havia sido concedido um espaço para o NMR próximo da base da RFSL no festival e que os membros da RFSL se sentiam ameaçados por causa de experiências anteriores com o grupo.  

No Brasil, Scott Salmon examinou a tensão entre a comunidade LGBTQ e grupos conservadores que continuam a propagar abertamente a hostilidade e discriminação contra as minorias sexuais. 

No Reino Unido, dois casais de lésbicas foram atacados um após o outro. Cinco adolescentes foram presos pelo ataque violento contra um dos casais ocorrido dentro de um ônibus. Os dois incidentes chamaram a atenção ao aumento dos crimes de ódio registrados pela polícia britânica

A polícia israelense fez uma batida com cães em um clube gay em Tel Aviv e revistou pertences pessoais em busca de itens ilegais. O vereador de Tel Aviv e líder LGBT, Etai Pinkas-Arad, criticou a polícia pela “decisão categoricamente errada” de realizar a batida na semana antes da maior parada do Orgulho do país. 

Mais sobre Medo e ódio

Ventos de mudança: Na China, o Beijing Gender lançou um novo relatório sobre o direito das pessoas trans à educação. O relatório inclui recomendações específicas para todos os atores envolvidos, incluindo o ministério da educação e as autoridades responsáveis pelas escolas. Visto que o governo está revisando a Lei de Proteção dos Menores, os autores recomendam que esta análise seja utilizada para incorporar explicitamente na lei o direito das pessoas trans menores de idade à educação.  

A organização Planet Ally, de Hong Kong, compartilhou um vídeo dinâmico recapitulando seu evento emblemático no Fórum de Famílias Arco-Íris do Pacífico Asiático. Participantes de 26 países compartilharam suas experiências em uma “tentativa proposital de desconstruir percepções dominantes quanto às famílias arco-íris”. 

Com pessoas africanas em destaque, a Accountability International lançou uma nova campanha midiática online chamada “WHOSMYTRIBE (quem é minha tribo). A campanha visa demonstrar que as comunidades sexualmente diversas e não binárias são uma parte normal e natural da sociedade africana. A campanha incentiva o público a perceber que as pessoas LGBTQ podem fazer parte de muitas "tribos" comunitárias, inclusive tribos de liderança, educação, cura, artes, intelectualidade e ativismo.  

Na Índia, quando um restaurante não deixou Indrajeet Ghorpade e seu namorado entrarem para um encontro, Ghorpade reagiu. Colheu mais de 10 mil assinaturas pedindo que o guia internacional gastronômico e aplicativo Zomato responsabilizassem os restaurantes por discriminação contra pessoas LGBTQ. Como resultado, o Zomato e outros aplicativos introduziram formas especiais de indicar locais e empreendimentos comerciais seguros para LGBTQ.  

Mais sobre Ventos de mudança

Comércio e tecnologia: Em muitas partes do mundo, junho é considerado o “Mês do Orgulho”, com algumas das maiores paradas e eventos do ano atraindo centenas de milhares de pessoas para as celebrações. Diversas empresas se atentaram para isso—desde sanduíches até cervejaenxaguante bucal e maconha, tênis e qualquer tipo de roupa—as marcas estão ganhando dinheiro com o arco-íris e palavras de amor. O “dólar cor-de-rosa”—ou o consumo por pessoas LGBTQ já foi estimado em $5 trilhões mundialmente.  A comunidade se benficia dessa atenção?  

Há quem diga que não e aponte para a hipocrisia da celebração do Orgulho quando as ações corporativas desconsideram ou até prejudicam a comunidade. A Victoria’s Secret enfrentou reação negativa ao seu marketing do Orgulho quando usuários do Twitter relembraram sua política de exclusão de modelos trans e de tamanho extra grande. O ativista Carlos Maza criticou o YouTube por lucrar com vídeos contendo bullying e discurso de ódio  ao mesmo tempo em que afirmava apoiar criadores de conteúdos LGBT. Mesmo quando as empresas fazem doações, há quem questione a comercialização  dos símbolos da comunidade. 

Já outras empresas tomaram ações políticas pró-LGBTQ—por exemplo, tiveram empresas que apoiaram a ação na justiça de um casal de lésbicas em busca de seus direitos em Hong Kong; em Singapura patrocinadores locais assinaram o Compromisso pelo Comércio Inclusivo em apoio ao Pink Dot após a proibição de empreendimentos comerciais estrangeiros; e nos EUA mais de 200 corporações se uniram em uma coalizão em apoio à Lei da Igualdade LGBTQ.  

Em matéria para o Quartz, Ephrat Livni examinou a tendência de empresas fazerem petições para serem “amicus curiae”—que fazem sustentação em ações judiciais enquanto partes interessadas externas—tanto para demonstrar apoio como para influenciar a percepção do público. Escrevendo para o Guardian, Owen Jones examinou desta política conhecida como “woke-washing” e as implicações éticas da publicidade.  

Mais sobre Comércio e tecnologia

Esportes e cultura: No Japão, a atriz Yumi Ishikawa entregou um abaixo-assinado com 18.856 assinaturas ao Ministério do Trabalho pedindo a proibição de normas de vestimenta que exigem que as mulheres usem salto alto no trabalho. Ishikawa é líder do movimento #KuToo, uma frase que mistura as palavras japonesas para sapatos (kutsu) e dor (kutsuu), e inspirada em #MeToo. 

Escrevendo para o Xtra, Erica Lenti apresentou uma nova série "Ainda Lutando" que vai explorar os 50 anos do ativismo LGBTQ2 no Canadá

Em sua reflexão premiada, Connor Gates escreveu sobre a convivência com a avó depois que ela foi diagnosticada com Alzheimer. Um dos maiores desafios dele—ter que discutir sobre a própria sexualidade toda vez que ela esqueceu

“É difícil se assumir para a família, repetidamente. Embora este momento, devido à sua repetição infinita, tenha perdido a gravidade, a experiência permanece sendo tanto desafiadora quanto interminavelmente imutável” 

Mais sobre Esportes e cultura

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