"Nós achamos que já passou da hora das leis ultrapassadas e injustas da era colonial contra a homossexualidade serem apagadas da nossa legislação, assim como nossos antepassados aboliram as leis que mantiveram a escravidão nesta ilha nos primeiros 210 anos de sua existência.
Não foram apresentadas até agora evidências com fatos ou estatísticas que demonstrem que a descriminalização leva a qualquer enfraquecimento da fibra moral nacional ou, ainda, à alteração demográfica. Pelo contrário, há amplos registros de retrocessos ocorridos entre povos que vivem sob um clima de autoritarismo e apartheid.”
Da ONU: O UNAIDS lançou a nova Atualização Global sobre Aids de 2019 com o título “Comunidades no Centro”. O relatório observa que os óbitos relacionados à aids diminuíram em 33% desde 2010 apesar de variações no progresso entre as regiões. As populações-chave e seus parceiros representaram 54% de todas as novas infecções. O relatório também reconhece que o estigma e a discriminação permanecem elevados. Contudo, anos de campanhas e litigância estratégica realizadas por grupos LGBTI—apoiados por organizações de direitos humanos e especialistas em direito e saúde pública—derrubaram leis que criminalizam relações sexuais entre pessoas do mesmo sexo em pelo menos nove países da África Subsaariana, seis países da Ásia e do Pacífico, e vários países na América Latina e no Caribe nos últimos anos. Gunilla Carlsson, Diretora Executiva Interina do UNAIDS, salientou:
"Acabar com a aids será possível se focarmos em pessoas e não em doenças, se criarmos estratégias para as pessoas e locais que estão sendo deixados para trás, e se adotarmos uma abordagem baseada em direitos humanos para alcançarmos as pessoas mais afetadas pelo HIV.”
Na 41ª Sessão do Conselho de Direitos Humanos, 27 estados membros votaram pela renovação do mandato do Especialista Independente sobre Proteção contra Violência e Discriminação por Orientação Sexual e Identidade de Gênero. Embora 12 estados membros tenham votado contra a continuação do trabalho (e outros 7 se abstiveram), ativistas dizem que o resultado reafirma o compromisso de combater a violência e a discriminação contra as pessoas LGBTQ. Sessenta e dois grupos de direitos humanosdivulgaram um release conjunto para a imprensa comemorando a votação e elogiando os ativistas pelos esforços em prol da manutenção do mandato do Especialista Independente. Observaram que um recorde de 1.312 grupos não governamentais do mundo inteiro apoiaram a campanha.
O Alto Comissário Adjunto para Proteção da Agência da ONU para Refugiados, Volker Türk, e o Especialista Independente sobre questões de OSIG (Orientação sexual e identidade de gênero), Victor Madrigal-Borloz, divulgaram um release conjunto para a imprensa pedindo que os Estados Membros garantam que as pessoas LGBTI tenham acesso ao asilo e à condição de refugiadas. Embora 37 estados de fato considerem “justificado o medo de perseguição” devido à orientação sexual, identidade de gênero, expressão de gênero ou características sexuais de uma pessoa, os especialistas observaram que a maioria dos Estados não concede asilo para esses indivíduos. O documento descreve alguns dos desafios específicos que os refugiados LGBTI enfrentam e pediram a criação de espaços seguros e serviços criados a partir de consulta as pessoas LGBTI:
“É hora de se reconhecer as necessidades específicas das pessoas LGBTI em busca de asilo e refugiadas e proporcionar-lhes a proteção que precisam.”
HIV, saúde e bem-estar: Na Austrália, dados mostra que o número de novos casos diagnosticados de HIV abaixou novamente. Os casos diagnósticos entre gays e bissexuais masculinos reduziram em 30% nos últimos cinco anos. O New York Times analisou a resposta abrangente que a Austrália organizou para conter a epidemia do HIV e observou que o sucesso atual se atribui à rápida adoção da PrEP a preços acessíveis em todo o país. No entanto, os especialistas alertam que as taxas de HIV entre os povos indígenas e gays e bissexuais masculinos nascidos no exterior não diminuíram e que mais precisa ser feito para alcançar estes grupos.
Na Namíbia, a Planned Parenthood Association (NAPPA) e a Out Right Namibia foram assunto de uma matéria do UNAIDS sobre seus centros de atendimento que prestam cuidados de saúde sexual e reprodutiva e à questões ligadas ao HIV para profissionais do sexo, gays e outros homens que fazem sexo com homens. O centro é conhecido por seu pessoal amigável e incentivador que é sensibilizado para as necessidades das populações-chave.
Os alertas continuaram sobre o aumento da sífilis e da gonorréia em todo o mundo. O Centro Europeu de Prevenção e Controle de Doenças (ECDC) informou que os casos de sífilis aumentaram em 70% desde 2010. O ECDC notou que o problema variava nos 30 países europeus. Entre as mais altas, as taxas mais que dobraram na Grã-Bretanha, Alemanha, Irlanda, Islândia e Malta. O Instituto de Ciência e Pesquisa Ambiental da Nova Zelândia (ESR) observou um pico "significativo" nas infecções ao longo de 12 meses, especialmente entre homens gays e outros homens que fazem sexo com homens. E nos EUA em release para a imprensa, a Divisão de Vigilância Sanitária das Forças Armadas alertou sobre um “aumento dramático” de casos de clamídia, gonorréia e sífilis entre os/as militares de ambos os sexos.
Não há consenso entre os especialistas sobre por que as taxas de infecção aumentaram. Os especialistas do Centro Europeu de Prevenção e Controle de Doenças chegaram a uma conclusão em comum - sugerem que, visto que muitas pessoas têm menos medo de contrair o HIV, estão tendo práticas sexuais mais arriscadas, usando menos preservativos e aumentando o número de parceiros sexuais. Alguns profissionais das Forças Armadas EUA chegaram a conclusões semelhantes, acrescentando que os aplicativos de relacionamento também incentivam o sexo desprotegido. No entanto, Jason Myers, da New Zealand AIDS Foundation disse que é “demasiado simplista afirmar que os gays são muito despreocupados” em suas atitudes em relação ao sexo seguro. Para ele, o sistema de saúde não apoia adequadamente a comunidade LGBT e há um número insuficiente de profissionais treinados para prestar cuidados adequados de saúde sexual.
A BMJ publicou uma nova atualização clínica sobre o diagnóstico e tratamento da sífilis. A Sexually Transmitted Infections publicou um novo estudo sugerindo melhores métodos para a testagem para clamídia e gonorreia entre mulheres trans na Tailândia. E um estudo publicado na revista Sexually Transmitted Diseases relacionou que gays e outros homens que fazem sexo com homens nas províncias de Guangdong, na China, têm maior probabilidade de testar-se para clamídia e gonorreia se estiverem engajados na comunidade gay.
Dois estudos recentes publicados na Sexually Transmitted Infections analisaram aplicativos de relacionamento e ocorrência de ISTs entre gays e outros homens que fazem sexo com homens. Na Irlanda, um estudo da Pesquisa com HSH pela Internet na Irlanda descobriu que o uso de aplicativos para encontrar novos parceiros sexuais estava associado ao diagnóstico auto-relatado de ISTs. Em Shenzhen, na China, um estudo com 3613 homens mostrou que aqueles que usavam aplicativos de relacionamento tinham prevalência menor de HIV do que gays que não usam aplicativos. Os pesquisadores observaram que o uso de aplicativos na China tem sido associado à construção de comunidades. Eles também sugeriram que esses homens podem estar mais conscientes sobre os comportamentos de redução de risco devido à educação recebida através de aplicativos.
Um novo artigo “Inteligência artificial e big data: riscos e benefícios para a resposta ao HIV/aids” examinou como as tecnologias e ferramentas digitais podem ser um desafio para os direitos humanos. O artigo utilizou estudos de casos para avaliar exemplos de novas tecnologias no contexto da resposta ao HIV/aids. Entre as recomendações, incentiva stakeholders a se engajarem ativamente no diálogo com os desenvolvedores de novas tecnologias para garantir que os direitos das populações-chave sejam considerados à medida que se desenvolverem políticas e medidas regulatórias.
Um novo estudo publicado no International Journal of Environmental Research and Public Health mostrou que, na China, os gays com entre 25 e 29 anos têm oito vezes mais chances de se sentirem criticados, rejeitados e solitários que os demais jovens. O estudo descobriu que aqueles que eram assumidos em sua orientação sexual e tinham parceiros, apresentaram menor risco de ter esses sentimentos negativos do que os demais. Os pesquisadores sugeriram que o governo deveria fomentar um ambiente social aberto e inclusivo com centros de aconselhamento sobre saúde mental para gays.
Pela primeira vez nos EUA, o American College of Physicians (Conselho Federal de Medicina) publicou um conjunto de diretrizes para médicos generalistas, médicos de atenção primária e da família a respeito da atenção à saúde das pessoas trans. Diretrizes anteriores foram dirigidas a endocrinologistas, mas os autores observaram que a maior barreira para o atendimento de pessoas trans é a falta de profissionais capacitados que possam atender de forma adequada e culturalmente competente.
Mais sobre HIV, saúde e bem-estar
Do mundo da política: Nos EUA, o Secretário de Estado, Mike Pompeo, anunciou a criação da “Comissão dos Direitos Inalienáveis”. A NBC informou que este grupo irá rever “o papel dos direitos humanos” na política externa dos EUA. Escrevendo para o Wall Street Journal, Pompeo argumentou que a comissão é necessária porque "a defesa dos direitos humanos perdeu o rumo e tornou-se mais uma indústria do que uma bússola moral". A Comissão será presidida pela ex-embaixadora dos Estados Unidos no Vaticano, Mary Ann Glendon - uma opositora veemente do aborto e do casamento igualitário, conforme noticiado pela NBC e por outros meios de comunicação. O The New Yorker informou que vários membros da Comissão também são estudiosos religiosos conservadores.
Muitos ativistas LGBT e ativistas da saúde sexual e dos direitos reprodutivos dizem que estão alarmados com as notícias. Mark Bromley, presidente do Conselho para a Igualdade Global, chamou a iniciativa “uma tentativa profundamente intelectual de algumas pessoas muito espertas para redirecionar o movimento moderno pelos direitos humanos”. Kenneth Roth, diretor executivo da Human Rights Watch, disse que embora haja "razão para temer" que a Comissão seja uma "tentativa unilateral de reescrever o direito internacional":
“Os direitos humanos não existem nos olhos de quem vê.”
Enquanto isso, também nos EUA, a Câmara dos Representantes aprovou o projeto de Lei de Autorização da Defesa Nacional (NDAA) com uma emenda para permitir que qualquer pessoa que atenda aos padrões ocupacionais neutros de gênero possa servir nas forças armadas independentemente de raça, cor, origem nacional, religião ou sexo, incluindo identidade de gênero ou orientação sexual - conforme noticiado por The Hill. Antes que possa se tornar lei, um meio-termo precisa ser encontrado entre o projeto da Câmara e uma versão aprovada pelo Senado no mês passado (que não inclui essas proteções contra discriminação).
O governo da Austrália divulgou alguns detalhes do "Projeto de Lei sobre Discriminação Religiosa". Muitos ativistas temem que o projeto de lei seja usado para reduzir a proteção para pessoas LGBTQI + e restringir os direitos de saúde sexual e reprodutivos. Consultas estão sendo realizadas com igrejas e ativistas estão pedindo que grupos LGBTQI+ encaminhem para o Procurador Geral seus pontos de vista.
Após a legalização do casamento igualitário na Austrália em 2017, os conservadores religiosos pressionaram o governo para realizar uma “revisão da liberdade religiosa”para examinar as isenções à liberdade religiosa na legislação, no trabalho, na educação entre outros. Os resultados da revisão foram publicadas em in 2018 com recomendações para criação de uma nova lei para regulamentar as proteções religiosas - o conteúdo do projeto de lei vem sendo debatido há um ano. Os estados australianos têm suas próprias leis contra a discriminação, que protegem as pessoas LGBTQI, no entanto, os ativistas advertem que há um “alto risco” das leis locais serem anuladas por uma nova lei federal.
Na Costa Rica, o Ministro da Educação, Edgar Mora, se demitiu após protestos de grupos evangélicos e integrantes do partido da oposição alinhado aos Cristãos Pentecostais. Mora havia apoiado ideias “progressistas”, como o Protocolo de Enfrentamento ao Bullying contra a População LGTBI, que inclui banheiros unissex.
Na Malásia, o Ministério da Saúde (KKM) nomeou a ativista transgênero e rainha da beleza Rania Zara Medina para representar a comunidade trans no Mecanismo de Coordenação de País do Fundo Global. A reação negativa foi rápida, fazendo com que o Ministro da Saúde, Datuk Seri Dr. Dzulkefly Ahmad, divulgasse uma declaração assegurando ao público que a nomeação de pessoas trans, gays, profissionais do sexo, usuários de drogas e pessoas vivendo com HIV como representantes da comunidade para questões de saúde “não significa que o governo ou o ministério reconheça sua cultura ou estilo de vida”. No entanto, Dr. Dzulkefly, observou que o objetivo “deve ser o de fazer com que tais esforços de saúde sejam inclusivos e acessíveis àqueles que precisam”, conforme noticiado pelo Malay Mail.
No Camboja, líderes governamentais, autoridades locais e membros da comunidade LGBTIQ participaram de um “Diálogo sobre leis e políticas públicas para proteger as pessoas LGBTIQ no Camboja”, que discutiu propostas sobre casamento igualitário, adoção, identidade de gênero e discriminação. Keo Remy, do Comitê de Direitos Humanos do Camboja, disse aos participantes que o primeiro-ministro Hun Sen pediu para ele divulgar uma mensagem informando que “o governo é contra toda forma de discriminação direcionadas a pessoas LGBTIQ”. Enfatizou ainda que as pessoas LGBTIQ precisam “criar uma plataforma” para se expressar para o público em geral.
O primeiro-ministro de Singapura, Lee Hsien Loong, falou no Smart Nation Summit - um evento que reuniu líderes empresariais e governamentais para discutir a economia digital. Durante uma sessão de perguntas e respostas, o Primeiro Ministro assegurou a plateia que “qualquer que seja sua orientação sexual, você é bem-vindo para vir trabalhar”, apesar da Seção 377A do código penal que criminaliza a homossexualidade.
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A política e o casamento: O Equador publicou o acórdão da Corte Constitucionalsobre o casamento igualitário. Em junho, a Corte havia decidido a favor do casamento entre pessoas do mesmo sexo, no entanto grupos religiosos tentaram impedir tais casamentos, entrando com uma série de recursos e pedidos de esclarecimento. A Corte negou todos os esforços para adiar a decisão, classificando-a como “final e inapelável”. Agora os casais podem solicitar o casamento nos cartórios de Registro Civil, conforme noticiado pela Voice of America e outros meios de comunicação.
No Reino Unido, o parlamento britânico votou por estender o direito ao casamento igualitário e de acesso ao aborto à Irlanda do Norte se o parlamento local não se reconstituir até outubro. O governo local da Irlanda do Norte entrou em colapso em 2017, impedindo que qualquer um destes assuntos fosse encaminhado. A Inglaterra e o País de Gales aprovaram o casamento igualitário em 2013, a Escócia em 2014, e a população da República da Irlanda votou a favor do casamento entre pessoas do mesmo sexo em 2015.
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Que os tribunais decidam: O Procurador Geral do Botsuana, Abraham Keetshabe, anunciou que o governo tentará reverter a decisão unânime do Supremo Tribunal de que ser gay não é crime. Em junho, o Supremo Tribunal derrubou as seções 164 e 167 do Código Penal, quando o juiz Michael Leburu acrescentou :
“A dignidade humana é prejudicada quando os grupos minoritários são marginalizados… A orientação sexual não é uma afirmação de moda. É um atributo importante da personalidade da pessoa.”
Contudo, Keetshabe diz que “leu com atenção” a decisão e acredita que o Tribunal “errou ao chegar a essa conclusão”.
Sobre a Religião: A Terceira Assembleia da Rede Global de Católicos Arco-Íris (GNRC) foi realizada em Chicago, Illinois, com representantes do mundo inteiro. Os participantes reunidos discutiram os problemas que afetam suas regiões, como criminalização, identidade de gênero, sexualidade, cuidado pastoral, casamento igualitário, refugiados, entre outros. Em matéria para La Croix (A Cruz), Peter Maher observou que o documento recente “Ele os Criou Masculinos e Femininos” foi um “pano de fundo profundamente doloroso” durante toda a conferência, refletindo a incapacidade da Igreja de “reconhecer a realidade da experiência e da história LGBTIQ”.
A rede Global também compartilhou os depoimentos de nove cristãos LGBTI de Uganda, Nigéria, Zimbábue, Índia, Tanzânia, Quênia, Brasil e Rússia.
A Associação Alemã de Professores de Ensino Religioso Católico (Bundesverband der katholischen Religionslehrer), representando mais de 70 mil educadores, publicou uma carta aberta convidando a Igreja a reconsiderar seus ensinamentos sobre moralidade sexual e homossexualidade. Sugerem que a Igreja esteja afastando os jovens por considerar que ela resiste a mudanças ou “simplesmente não dá para acreditar nela”. Em entrevista para La Croix no início deste ano, o cardeal Reinhard Marx de Munique reiterou necessidade de “enfrentar” a questão da sexualidade. Refletindo sobre as pessoas que deixam a Igreja, ele disse:
“Precisamos nos convencer mais uma vez de que a Igreja é uma força para o progresso, uma resposta para hoje e para amanhã ... Para nós cristãos, qualquer homem ou mulher, seja qual for sua cor, religião ou orientação sexual, é feito na imagem de Deus.”
Nos EUA, centenas de pessoas protestaram do lado de fora da Arquidiocese de Indianápolis para contestar políticas que forçaram escolas de afiliação católica a demitirem funcionários gays ou arriscarem perder sua designação “católica”. O Indy Star informou que as escolas católicas de Indianápolis demitiram pelo menos cinco pessoas devido a questões LGBT no ano passado.
Da Zâmbia, o reverendo Kapya Kaoma publicou um artigo de opinião no Lusaka Times, no qual se opunha à recusa do governo em permitir que o artista sul-africano, assumidamente gay, Somizi Buyani Mhlongo se apresentasse no país. O ministro da Orientação Nacional e Assuntos Religiosos, reverendo Godfridah Sumaili, disse que o governo não poderia tolerar o convite a “personagens questionáveis que possam comprometer a moral do país”. Em seu artigo, o Rev. Kaoma questionou por que este artista é proibido quando "políticos corruptos" são permitidos. Argumentou que o país é um “estado laico regido por uma Constituição laica”:
“Já é hora de aceitarmos que os políticos vêm usando o mito da “nação cristã” e da homossexualidade para nos desviar a atenção do combate à corrupção e da falta do cumprimento da lei.”
Medo e ódio: Na Guiana, o Ministério da Proteção Social condenou o ataque violentocontra Joel Simpson, líder da Sociedade Contra a Discriminação por Orientação Sexual (SASOD). Em um release para a imprensa, o Ministério disse que o ataque foi "totalmente injustificado" e uma "ameaça velada para silenciar vozes comunitárias críticas".
Em Belize, o Enviado Especial para Mulheres e Crianças divulgou uma nota condenando a violência contra as pessoas LGBT e questionando o abuso de autoridade pela polícia após um vídeo que mostrou uma briga a bordo de um táxi aquático. No vídeo, um policial é visto segurando um gay (que era um policial de folga) pelo pescoço até ficar inconsciente enquanto outras pessoas gritam insultos homofóbicos. O ativista Caleb Orosco comentou:
"O comportamento do departamento de polícia mostrou sua vontade de ampliar a violência em nome da moralidade individual, em vez de mostrar o valor do respeito pelo estado de direito."
A Anistia Internacional divulgou um novo relatório examinando a violência sofrida por soldados gays and trans na Coreia do Sul. Embora os atos sexuais entre pessoas do mesmo sexo sejam legais no país, são um crime nas forças armadas. Soldados descreveram estar sujeitos a intimidação extrema, violência física, humilhação e estupro devido à sua sexualidade ou identidade de gênero real ou percebida. Em 2017, o governo disse à ONU que iria rever as leis que afetam os soldados gays depois que dezenas de homens, supostamente gays, foram presos durante uma operação repressiva.
Em Mianmar, a Universidade Imperial de Mianmar anunciou que suspendeu três funcionários enquanto investiga o suicídio de um bibliotecário gay que sofreu bullyingno trabalho. A universidade afirmou que tem uma política de tolerância zero em relação à discriminação no local de trabalho.
Depois que um adolescente sul-africano se suicidou durante uma viagem a Israel, jovens líderes israelenses fizeram um apelo para que jovens LGBT+ procurem ajuda. Na Índia, Avinashu Patel, de 20 anos, se suicidou depois de relatar suas dificuldades em um post nas mídias sociais. Na Espanha, foi lançado o novo documentário 'Mellamo Violeta' (Meu nome é Violeta) que conta a história de duas crianças trans - uma teve o apoio da família apesar dos desafios, a outra se suicidou depois de muitos anos de bullying.
Nos EUA, o Trevor Project, um grupo de intervenção em crises, divulgou os resultados de sua primeira Pesquisa Nacional sobre a Saúde Mental de Jovens LGBTQ com dados de 35 mil jovens LGBTQ na faixa entre 13 e 24 anos de idade. Entre seus achados consta que 71% destes jovens sofreram discriminação, 39% pensaram seriamente em suicídio no último ano e 29% dos jovens trans e não-binários tentaram se suicidar no último ano. Descobriram ainda que os jovens que tinham pelo menos um adulto que os aceitasse apresentaram 40% menos probabilidade de relatar uma tentativa de suicídio no ano anterior.
Ventos de mudança: Na França, a Fundação Jasmin Roy Sophie Desmarais e a Ifopdivulgaram os resultados da segunda pesquisa de atitudes em relação às pessoas LGBT. O mais alentador é que descobriram que a aceitação aumentou em todo o país, entre todos os grupos etários. No entanto, se notou que “clichês” homofóbicos e transfóbicos permanecem. E, embora tenha havido progresso em conscientizar as pessoas sobre a violência que as pessoas LGBT vivenciam, 41% das pessoas admitem que ainda usam linguagem homofóbica. Apenas 29% disseram que pediriam a um amigo que parasse de usar insultos homofóbicos.
Nos EUA, a GLAAD e a The Harris Poll divulgaram o quinto Índice Anual sobre Aceleração da Aceitação que mede as atitudes em relação às pessoas LGBT no país. O relatório mostra que o apoio de pessoas não-LGBTQ à igualdade de direitos cresceu ligeiramente chegando a 80%. No entanto, observaram uma queda “alarmante” entre jovens na faixa de 18 a 34 anos de idade que se sentiriam à vontade com pessoas LGBTQ. Falando ao USA Today, John Gerzema, presidente da The Harris Poll, observou que a retórica divisionista pode influenciar mentes “impressionáveis” sobre o que seja aceitável:
“Nossa cultura tóxica está tomando conta dos jovens. Isso instila medo, alienação, mas também permissibilidade”.
Enquanto isso, no Reino Unido, a aceitação de pessoas LGBT também parece ter ficado estacionada. O Centro Nacional de Pesquisas Sociais divulgou o mais recente Inquérito Britânico Anual sobre Atitudes Sociais - uma pesquisa aprofundada com uma amostra aleatória de cerca de 3 mil pessoas sobre uma ampla variedade de tópicos. Pela primeira vez desde 1987, o número de pessoas que aceitam relacionamentos entre pessoas do mesmo sexo caiu. A aceitação de pessoas trans permaneceu dividida, com apenas 34% das pessoas afirmando que o preconceito contra as pessoas trans é errado "na maioria das vezes" ou "às vezes". Os pesquisadores observaram que os dados sugerem que o “processo de liberalização está desacelerando”. Advertem que, embora as normas sociais sobre relações sexuais e gênero continuem a se transformar:
“Também temos uma minoria significativa que pensa diferentemente sobre essas questões, e aquela minoria pode se tornar cada vez mais focada em garantir que opiniões e discursos socialmente conservadores sejam refletidos na discussão pública sobre gênero e relacionamentos”.
Refletindo sobre uma matéria publicada recentemente no Guardian que mostrou que os crimes de ódio homofóbicos e transfóbicos mais do que dobraram no país, a jornalista britânica Christobel Hastings questionou a ideia de que uma pequena minoria pode ser culpada pela "erosão da tolerância". Em vez disso, ela sugere que o “clima político cada vez mais divisionista impactou na tendência positiva”:
"O resultado da retórica divisionista vinda de regimes políticos conservadores cria um padrão já conhecido: as tensões sociais fervem, os níveis cotidianos de racismo e homofobia aumentam, e então as comunidades minoritárias sofrem".
Em Marcha: O Japan Times noticiou que, pela primeira vez, o governo aceitou uma pessoa refugiada com base em sua orientação sexual. Na Suécia, o Tribunal de Migração rejeitou o pedido de asilo de um jovem gay iraniano por causa da "falta de provas" de sua sexualidade, apesar do apoio dado ao jovem pela Federação Sueca para os Direitos LGBT.
No Reino Unido, um tribunal superior determinou que o governo deve se encarregar do retorno ao Reino Unido de uma lésbica ugandense que foi deportada há seis anos. O governo rejeitou seu pedido de asilo porque não havia provas suficientes sobre sua sexualidade; no entanto, o tribunal considerou que seu caso foi tratado inadequadamente e que foi “processualmente injusto”.
Em todo o mundo, as comunidades continuam a celebrar e protestar com paradas e outros eventos do Orgulho. Estima-se que 5 milhões de pessoas compareceram ao “WorldPride” na Cidade de Nova York, coincidindo com o 50º aniversário da rebelião de Stonewall. Estimou-se que houve mais de um milhão de pessoas na Parada em Colônia, na Alemanha.
De Madri, na Espanha, o jornal El País informou que o Orgulho foi “uma das paradas mais politicamente engajadas”, pois as pessoas marcharam com o lema "nenhum passo atrás" para protestar contra a ascensão do grupo Vox, de extrema direita. Na Geórgia, apesar das ameaças de violência e semanas de atraso, os participantes em Tbilisi puderam finalmente realizar sua primeira Marcha do Orgulho. Enquanto isso, na Turquia, os apoiadores se manifestaram apesar de uma proibição oficial das celebrações. A polícia dispersou as multidões com gás lacrimogêneo.
Confira o curta metragem When Pride Came to Town (Quando o Orgulho chegou na cidade) que registra a primeira parada do Orgulho da cidade rural de Volda, na Noruega. A co-diretora Julia Dahr argumentou:
“Teria sido fácil contar a história do conflito evidente entre os organizadores do Orgulho rural e os manifestantes religiosos anti-Orgulho. Mas foi crucial para nós contar a história mais complexa e mostrar, por exemplo, que muitos cristãos na cidade apoiaram o Orgulho rural e participaram da parada”.
Esportes e Cultura: O Zoológico de Londres comemorou o Orgulho com uma parada do tamanho de um pinguim. Os funcionários do zoológico montaram uma pequena faixa no cercado dos pinguins que dizia: "Alguns pinguins são gays. Superem isso" (parafraseando uma campanha da Stonewall UK). Sabe-se que os pinguins, assim como muitos outros animais, têm parceiros sexuais do mesmo sexo—e que alguns criam filhotes adotados. Na Alemanha, o Zoológico de Munique participou através de visitas com a temática do Orgulho, observando que:
"Ao contrário da maioria dos humanos, a preferência sexual de nossos amigos de quatro patas ou penas é muitas vezes bastante fluida".
O escritor nigeriano Richard Akuson refletiu sobre como as mídias sociais “se tornaram um espaço onde minha própria família e amigos se transformaram em censores, distorcendo minha vida, depreciando fato de eu ser gay, mesmo estando a milhares de quilômetros de distância”.
Na Índia, o aplicativo Blued lançou uma nova campanha #BluedAgainstCyberBully que chama a atenção para a violência que os indianos gays enfrentam presencial e virtualmente. Confira o vídeo que destaca opiniões locais.