Olhar para a Igualdade: 14 de novembro de 2018

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"Me senti impotente, me senti sem esperança, e fiz algumas perguntas muito difíceis a mim mesma: estou fazendo tudo que posso como defensora? O trabalho que venho fazendo de fato tem um impacto e será que vale a pena?"

Maureen Luba, Assessora Regional de Advocacy para a África da AVAC, em discurso na Conferência de Pesquisas para Prevenir o HIV de 2018


Da ONU: A OMS promoveu a Conferência Mundial sobre Atenção Primária à Saúde na qual os países endossaram por unanimidade uma nova declaração enfatizando o papel crítico da Atenção Primária à Saúde (APS).  A Declaração de Astana tem enfoque em quatro áreas chaves para a melhoria da APS mundialmente. Em apoio à declaração, o UNAIDS publicou um novo relatório técnico sobre as relações entre a resposta à AIDS e a Atenção Primária, que ressalta como o acesso das pessoas marginalizadas, estigmatizadas e criminalizadas à APS é desproporcionalmente pior. O relatório sugere que os movimentos globais de saúde, como o da AIDS e da APS, devem “unir esforços” para enfrentar a origem das causas e questões estruturais das doenças de todas as pessoas.

O Banco Mundial divulgou um novo relatório baseado nas experiências de mais de 2,2 mil pessoas LGBTI da Albânia, da Bósnia-Herzegovina, da Croácia, do Kosovo, da Macedônia, de Montenegro e da Eslovênia. O relatório “Vida nas Margens: resultados de pesquisas sobre as experiências das pessoas LGBTI no sudeste europeu” retrata um “quadro angustiante” dos efeitos que a violência, a discriminação e a intolerância têm nos indivíduos no trabalho, em casa e na educação. O relatório fornece evidências de que os formuladores de políticas, entre outros, podem tomar medidas para promover a inclusão e o apoio.

O PNUD e a rede trans Asia Pacific Transgender lançaram um novo estudo sobre discriminação no local de trabalho motivada por identidade de gênero. O estudo foi realizado com pessoas trans na Malásia, em Singapura, na Tailândia e no Vietnã. O relatório evidencia a discriminação em práticas de contratação para empregos. Esta discriminação impacta diretamente a situação socioeconômica e a participação política e cívica das pessoas.

O especialista independente da ONU sobre violência e discriminação baseadas em orientação sexual e identidade de gênero, Victor Madrigal-Borloz, deu entrevista para o Washington Blade para discutir sobre suas preocupações em relação a reação contra os/as defensores/as dos direitos humanos e os desafios enfrentados hoje pelas comunidades LGBTI no mundo inteiro. 

Mais sobre a ONU

HIV, saúde e bem-estar: A Conferência de Pesquisa para Prevenção do HIV (HIV Research for Prevention - HIVR4P 2018) terminou na Espanha. Iniciada com um protesto, a conferência deu insight sobre alguns dos desafios para o acesso à PrEP, bem como a necessidade de mais pesquisas sobre interações medicamentosas que afetam mulheres cisgênero e homens e mulheres transgênero. O grupo mundial de advocacy AVAC fez uma cobertura aprofundada do evento e registrou as principais constatações: que o trabalho com HIV deve ser “Ousado” e incluir ativistas; deve ser inclusivo de gênero, nacionalidade e identidade sexual; deve ter comunicação “honesta”, mesmo sobre riscos; deve ser criativo e abraçar a inovação; e deve buscar clareza para que todos os interessados e pesquisadores das diferentes disciplinas possam entender o trabalho um do outro. 

Escrevendo para o Projeto de Saúde dos Homens Gays (Gay Men's Health Project - GMFA), o ativista Philip Samba explorou o problema do HIV entre homens negros em diversos lugares no mundo. Explicou os desafios enfrentados pelos negros, especialmente os negros britânicos, na busca pelo acesso à PrEP.

No Quênia, Jeanne Baron conversou com o capelão Joel Obdondi que utiliza programas de entrevista em emissoras de rádio para envolver a comunidade e educá-la sobre HIV, PrEP e preservativos. Obdondi tem 18 programas por mês em Inglês, Suaíli e Luo, com ouvintes em todo o Quênia. Ele publicou um guia para ajudar outras pessoas a utilizarem a rádio na prevenção do HIV.

A Global HIV Vaccine Enterprise (iniciativa global sobre vacinas para HIV) anunciou uma nova estratégia abrangente com cinco anos de duração para acelerar o desenvolvimento de uma vacina eficaz para prevenir o HIV. A estratégia foca em pesquisa e desenvolvimento, no compartilhamento de informações entre pesquisadores, na preparação de caminhos e na flexibilização de normas para que uma eventual vacina chegue ao público o mais rapidamente possível.  

A Heartland Alliance International (HAI) divulgou novas recomendações para políticas públicas com estratégias para a integração de serviços em gênero, saúde mental e direitos humanos com programas de HIV para mulheres, profissionais do sexo, gays e outros homens que fazem sexo com homens, homens e mulheres trans e pessoas que usam drogas injetáveis. As recomendações se baseiam em um programa de nove anos de duração que a HAI realizou na Nigéria integrando serviços para estas populações-chave. 

No Reino Unido, um novo relatório da Stonewall mostrou que as pessoas LGBT enfrentam "níveis assustadoramente altos de hostilidade e tratamento injusto" quando buscam serviços de saúde. Mais da metade dos entrevistados vivenciaram depressão e 60% sofreram de ansiedade. Entre as pessoas trans que responderam, 46% tiveram pensamentos suicidas e 12% já tentaram suicídio. Infelizmente, muitos têm medo de buscar serviços de saúde, e aqueles que buscam sofreram discriminação e/ou tiveram sua orientação sexual/identidade de gênero revelada sem seu consentimento. Também outros 25% afirmam que falta entendimento das necessidades específicas das pessoas LGBT aos profissionais de saúde.

Em Malta, o ministro da saúde, Chris Fearne, anunciou a inauguração de um novo ambulatório de gênero para prestar serviços multidisciplinares às pessoas trans “e garantir avaliação e apoio competentes e especializados durante toda a afirmação da transição de gênero e depois”.

Um novo artigo publicado no The Journal Of Sexual Medicine que examina o número de pessoas jovens no Reino Unido encaminhadas ao Serviço de Desenvolvimento da Identidade de Gênero enfrentou reação nas redes sociais. Pais e outras pessoas ficaram preocupados com o apelo dos autores para a criação de um cadastro internacional de crianças que buscaram os serviços de ambulatórios de identidade de gênero. Os autores sugerem que um cadastro melhoraria os conhecimentos sobre a disforia de gênero. Contudo, ativistas temem que uma lista desta natureza possa ser perigosa para as pessoas incluídas nela. Embora o Serviço Nacional de Saúde, que participou do estudo, tenha garantido que eventuais dados seriam mantidos em sigilo, os pais permanecem desconfiados das intenções dos autores do estudo.

Mais sobre HIV, saúde e bem-estar

Do mundo da política: Na Tanzânia, o Comissário Regional de Dar es Salaam, Paul Makonda, chocou o mundo inteiro quando fez um chamado público por medidas repressivas contra as pessoas LGBT, pedindo que “todos os cidadãos” denunciassem pessoas suspeitas de serem LGBT, e prometendo prisões em massa. Makonda afirmou que centenas de pessoas já foram denunciadas. Em um incidente possivelmente não relacionado, 10 homens suspeitos de serem gays foram presos em Zanzibar. Muitas organizações reagiram condenando a repressão. A Alta Comissária da ONU para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, divulgou uma nota e observou que as pessoas LGBT e pessoas aliadas vêm sendo cada vez mais alvos. Ela disse:

“Isto poderá se transformar em uma caça às bruxas e poderá ser interpretado como uma licença para perpetrar violência, intimidação, assédio e discriminação contra quem se identifica como LGBT.”

Após o posicionamento de Bachelet, o  Ministério das Relações Exteriores da Tanzânia divulgou uma nota se distanciando das ações de Makonda. Contudo, muitas pessoas no país permanecem com medo . A União Europeia retirou seu enviado e anunciou que realizará uma revisão abrangente de suas relações com a Tanzânia. O Globe and Mail noticiou que o Banco Mundial suspendeu suas missões ao país até que seja "assegurada a segurança" de todos seus funcionários.

Dezesseis membros da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE) recorreram ao “Mecanismo de Moscou” para estabelecer uma missão de especialistas para investigar denúncias de abusos de Direitos Humanos na Chechênia contra pessoas que se identificam como LGBT, defensores/as dos direitos humanos, a mídia, a sociedade civil e outras. As delegações da Bélgica, do Canadá, da Dinamarca, da Estônia, da Finlândia, da França, da Alemanha, da Islândia, da Irlanda, da Letônia, da Lituânia, da Holanda, da Noruega, da Suécia, do Reino Unido e dos EUA já haviam solicitado que a delegação russa desse explicações sobre as denúncias de abusos—incluindo perseguições, prisões arbitrárias, tortura, desaparecimentos e execuções—mas a Rússia “não forneceu uma resposta sólida às nossas perguntas”.

Na França, foram intensificados os esforços para inibir meses de violência contra pessoas LGBT. Após manifestações em Paris e apelos da prefeita por mudanças, o Ministro do Interior, a Ministra da Justiça e a Secretária de Igualdade se reuniram com integrantes das organizações SOS Homophobie,  l'Inter-LGBT, FLAG!, entre outras, para discutir ações para combater o ódio. Enquanto isso, o político e ativista Jean-Luc Romero lançou um abaixo-assinado pedindo para o primeiro ministro designar as LGBTQI-fobias como a “Grande Causa Nacional” de 2019.

O parlamentar ucraniano Oleksandr Vilkul apresentou um projeto de lei sobre “a proteção da moral pública e dos valores tradicionais”. O projeto retiraria os termos “orientação sexual”, “identidade de gênero”, e “avaliação jurídica baseada em gênero” da legislação, tacharia eventos voltados para a igualdade e para o Orgulho como “comportamentos desviantes”, e criminalizaria os relacionamentos entre pessoas do mesmo sexo. A Open Democracy informa que o projeto também apoia iniciativas de bem-estar social incluindo apoio financeiro para a gravidez, licença maternidade, refeições gratuitas nas escolas, e mais. A Open Democracy observa que embora o projeto possa não ser aprovado, está sendo apresentado no momento que o país se prepara para a próxima eleição presidencial e poderá polarizar o país.

No Brasil o político da direita extrema e ex-militar Jair Bolsonaro foi eleito presidente. Durante sua campanha, ele expressou abertamente opiniões anti-LGBT e foi amplamente noticiado que afirmou: “Sim, sou homofóbico – e tenho muito orgulho disso.” Apesar de muitas pessoas da comunidade LGBTI dizerem que a retórica levou a um aumento de violência e ameaças durante as eleições, ativistas afirmam que vão continuar lutando pelos direitos. A Aliança Nacional LGBTI informou que vai manter uma plataforma criada durante as eleições para receber denúncias de violência. O presidente da Aliança, Toni Reis, prometeu

“Na medida do possível, vamos tentar dialogar com este governo.”

Nos EUA, os últimos votos das eleições intermediárias ainda estão sendo contados. Pelo menos 244 candidatos/s abertamente LGBTIQ concorreram e um recorde de 160foram eleitos, no que o New York Times chamou de "Onda Arco-Íris". Há muitos feitos “inéditos” para celebrar, incluindo a primeira mulher muçulmana e a primeira mulher indígena eleitas para o Congresso, e o primeiro gay eleito governador.

No México, os recém-empossados parlamentares na Câmara dos Deputados aprovaram uma lei concedendo benefícios de segurança social a casais do mesmo sexo. A senadora Martha Lucia Micher Camarena disse que o projeto de lei foi o primeiro de muitos previstos para apoiar os direitos LGBT+. 

Mais sobre o Mundo da política

A política e o casamento: Em Taiwan a população irá às urnas em 24 de novembro para votar em um referendo com cinco perguntas diferentes relativas à educação em sexualidade e ao casamento igualitário ou à união civil. Antes da votação, a Lei dos Referendos exige a realização de debates públicos na televisão sobre cada pergunta. Contudo, muitas pessoas estavam preocupadas com denúncias de que os debates teriam sido “manipulados” a favor de grupos anti-LGBTQ. Grupos locais de monitoramento informam que há percepções errôneas generalizadas sobre os referendos que são capazes de impedir o progresso. Enquanto isso, mais de 130 mil pessoas participaram da marcha do Orgulho de Taipei pedindo que o governo cumpra a promessa contida na decisão do Yuan Judiciário de 2017 a favor do casamento igualitário. O Gay Star News entrevistou a política Yu Mei-Nu sobre a situação do casamento hoje.

Na Tailândia, o Departamento de Proteção dos Direitos e das Liberdades (DPDL)anunciou que haverá audiências públicas sobre a legislação relativa à união civil entre pessoas do mesmo sexo. Até o final do mês, o DPDL apresentará as revisões feitas pelo conselho de ministros ao “Projeto de Lei de Parceria Vitalícia”. O conselho propôs alterações que incluíram a possibilidade de “parcerias” registradas entre pessoas do mesmo sexo, conferindo aos casais a maioria dos direitos que os casais heterossexuais têm, além da inclusão de herança e benefícios de bem-estar social. Se o projeto for aprovado conforme pretende o DPDL, a Tailândia vencerá Taiwan no sentido de ser o primeiro país asiático a reconhecer nacionalmente os casais do mesmo sexo. 

O parlamento da República Tcheca adiou o debate sobre a legalização do casamento igualitário. Desde 2006, a República reconhece as parcerias registradas que conferem aos casais direitos de herança e atenção à saúde. Contudo, um grupo pluripartidário de parlamentares quer estender todos os direitos de casamento e adoção aos casais do mesmo sexo. 

Nas Bermudas o caminho ao casamento igualitário tem sido turbulento há quase dois anos. Embora a Suprema Corte tenha decidido a favor do casamento entre pessoas do mesmo sexo em 2017, o governo aprovou rapidamente a Lei da Parceria Doméstica que revogou o casamento entre pessoas do mesmo sexo, substituindo-o com a parceria doméstica. Em fevereiro foram movidas ações na justiça e em junho a Suprema Corte declarou que a proibição do casamento era inválida porque a constituição garante “liberdade de consciência”. Em julho o governo recorreu e as audiências na Corte de Apelação começaram este mês. O governo argumenta que a constituição não protege o casamento dentro da liberdade de consciência e que as  “políticas sociais” devem ser decididas pelo parlamento e não pelo judiciário.

Mais sobre a Política e o casamento

Que os tribunais decidam: O Tribunal de Justiça do Caribe julgou inconstitucional a lei da Guiana que criminaliza qualquer pessoa que vista a roupa do sexo oposto com “propósito indecente" em público. A ação foi movida por quatro mulheres trans que foram presas por vestir roupa feminina. 

Em agosto, o adolescente russo Maxim Neverov foi condenado por violar a lei contra propaganda gay e multado em 50 mil rublos. Neverov recorreu da sentença e, com um veredicto que surpreendeu, o Tribunal de Biysk decidiu que não existiam evidências suficientes para condená-lo e cancelou a multa. Embora Neverov tenha sido o primeiro menor condenado pela lei, a jovem jornalista, Lena Kilmova, que já é maior de idade, já foi multada diversas vezes por administrar o site “Deti-404” (“Crianças não encontradas”), uma comunidade virtual para jovens LGBT. 

Na África do Sul, a presidiária trans Jade September entrou com ação na Divisão do Cabo Ocidental do Supremo Tribunal da África do Sul contra o Ministro da Justiça e Serviços Correcionais por se recusar a deixá-la expressar a identidade de gêneroenquanto fica presa, traumatizando-a e prejudicando-lhe subsequentemente a saúde mental. September não quer ser transferida para um presídio feminino, só quer que a deixem viver com dignidade. Sanja Bornman, da Lawyers for Human Rights(advogados pelos direitos humanos) explicou que o Estado deve acomodá-la onde ela está:

“Não há presídios separados para pessoas transgênero ou sem conformidade de gênero. Com efeito, no que diz respeito à legislação e às políticas penitenciárias, as pessoas transgênero simplesmente não existem. Isto é inaceitável.” 

A Corte de Apelações do Reino Unido vai julgar uma ação contra a recusa do governo em emitir passaportes com gênero neutro. Desde 2015, muitos órgãos do governo do Reino Unido, incluindo o parlamento e a agência que emite as carteiras de habilitação de motoristas, permitem a utilização do título neutro de gênero "Mx" (Sx.) na documentação.

Em 2014, um tribunal no Quênia decidiu no “caso isolado” de uma criança intersexo com cinco anos de idade que deve ser emitida a certidão de nascimento da mesma  apesar da equipe do hospital ter colocado um ponto de interrogação no quesito gênero no registro de nascimento.  Em 2017, representantes do Quênia, de Uganda, da África do Sul e de outros países se reuniram para elaborar um modelo de anteprojeto de lei sobre os direitos das pessoas intersexo na África.  A força-tarefa criada pelo procurador geral para explorar questões enfrentadas pelas pessoas intersexo no Quênia concluiu sua pesquisa no mês passado e deve apresentar recomendações em breve.

Bangladesh reconheceu os/as hijras como sendo um terceiro gênero em 2013 e este ano acrescentou esta terceira categoria de gênero nos formulários de votação. Em janeiro Taiwan anunciou que considerou o acréscimo da opção de um terceiro gênero em documentos de identificação e o Escritório de Assuntos Consulares confirmou que não haveria “qualquer dificuldade técnica” em acrescentar a opção nos passaportes. 

Este segundo semestre trouxe mudanças nos documentos de identificação (IDs) com relação ao terceiro gênero em vários países da Europa—a Alemanhã elaborou uma nova lei sobre certidões de nascimento contendo o terceiro gênero, o judiciário da Áustria determinou que as pessoas intersexo precisam de IDs não binárias, a e Holanda emitiu o primeiro passaporte de gênero neutro do país. A Irlanda concluiu uma revisão da Lei de Reconhecimento do Gênero de 2015 na qual recomendou a criação de um terceiro marcador de gênero quando necessário e a eliminação de todos os marcadores de gênero em documentos quando não há necessidade de indicar o gênero.

Embora a Austrália tenha disponibilizado passaportes com X para indicar neutro de gênero desde 2013, há quem espera ir mais longe e eliminar completamente o marcador de gênero. O primeiro ministro foi criticado por chamar a solicitação de "besteira".

Mais sobre os Tribunais

Medo e ódio: Segundo denúncias, a polícia da Indonésia está novamente com  pessoas suspeitas de serem LGBT na mira para prisão e “reabilitação”. Em um dos casos, a polícia na Sumatra Ocidental utilizou posts no Facebook para localizar e prender dez mulheres suspeitas de serem lésbicas. No mês passado na Java Ocidental a polícia prendeu dois homens suspeitos de administrar uma página no Facebook para pessoas LGBT. A polícia na provincial de Lampung foi filmada prendendo e jogando água com uma mangueira em três mulheres trans em um logradouro público. Naila Rizki da LBH Masyarakat (Instituto de Assistência Jurídica) condenou o comportamento :

“A intenção [dos policiais] era torturar e humilhar as pessoas. Assim, o objetivo [dos policiais] não é fazer cumprir a lei, e sim fazer valer sua própria versão da moralidade.”

Anistia Internacional e a Human Rights Watch pediram que o governo acabe com a campanha de violência. Enquanto isso, várias autoridades regionais anunciaram que pretendem revisar as leis locais para restringir ainda mais os direitos LGBT. O grupo local de advocacyGAYa Nusantara, afirmou que a violência e a retórica anti-LGBT são comuns no período eleitoral. O especialista em legislação da Indonésia, Feri Amsar, disse que funcionários públicos têm competência para sancionar leis locais, mas que isso não pode servir de desculpa para discriminar grupos minoritários. 

Human Rights Watch (HRW) lançou “Que a posteridade julgue: violência e discriminação contra as pessoas LGBT no Malawi”, um relatório que explora a falta de clareza acerca de leis que criminalizam as relações entre pessoas do mesmo sexo. Embora o Código Penal proíba "delitos antinaturais" e "práticas indecentes entre homens”, em determinada época o Ministério da Justiça suspendeu as prisões no caso de atos homossexuais consentidos. Em 2016, um tribunal superior determinou que as prisões poderiam continuar até que a Corte Constitucional avaliasse a questão. Por meio de entrevistas diretamente com pessoas LGBT e ativistas locais, a HRW constatou que esta confusão “parecia ter incentivado certos indivíduos a atacarem as pessoas LGBT com impunidade, enquanto os profissionais de saúde as discriminam com frequência com base na orientação sexual”.

Na Armênia, a 11ª edição anual do Fórum Cristão LGBT da Europa Oriental e da Ásia Central foi cancelada pelos organizadores após uma série de ameaças de morte, vandalismo e violência. Em anos anteriores a conferência foi realizada na Ucrânia, na Rússia, na Estônia, na Moldávia e na Romênia. A Armênia foi selecionada em agosto para ser a sede do evento em 2018, com o tema “Tende ânimo, eu venci o mundo”(João 16:33). Contudo, nos últimos meses uma discussão acalorada contra o evento se transformou em violência. A diretora executiva da ILGA-Europa, Evelyne Paradis, condenou a violência e pediu uma “resposta rápida”

“Ataques desta natureza não podem ser descartados ou ignorados.”

No Botsuana, o grupo ativista LGBTI LEGABIBO condenou o espancamento brutal em público de uma mulher trans enquanto as pessoas ao redor davam risada e faziam comentários depreciativos. Um vídeo do ataque que ocorreu em frente a uma boate foi amplamente compartilhado nas mídias sociais. O grupo LEGABIBO afirmou que a violência foi um exemplo da “percepção errônea” de que violar um indivíduo equivale à “defesa de normas sociais”:

“Queremos enfatizar que humilhar um ser humano, seja em público ou em privado, não é BOTHO, não é de DEUS, não é CULTURAL e sem dúvida é ILEGAL!”

Em preparação para o Dia da Memória Trans (20 de novembro), a ONG Transgender Europe publicou os dados mais recentes do projeto de Monitoramento do Assassinato de Pessoas Trans. Entre outubro de 2017 e setembro de 2018, foi registrado um total de 369 relatos de assassinatos de pessoas trans e pessoas sem conformidade de gênero—a maioria ocorreu no Brasil (167), no México (71), nos Estados Unidos (28) e na Colômbia (21). São 44 mortes a mais comparado com o ano anterior. 

Mais sobre Medo e ódio

 

Ambiente escolar: Nos EUA, escolas públicas em Washington D.C. anunciaram que famílias e estudantes poderão se identificar como sendo de gênero não binário nos formulários de matrícula no ano que vem. O Departamento de Educação do Estado de Oregon introduziu uma terceira opção de gênero em setembro. Permite que estudantes de gênero não binário e de gênero fluido possam marcar "X" em todos os formulários escolares. Tanto o D.C. como o Oregon têm a opção gênero "X" nas carteiras de habilitação de motoristas.

Na Austrália, tanto o primeiro ministro Scott Morrison quanto o líder da oposição, Bill Shorten, se comprometeram a rejeitar as recomendações da Revisão da Liberdade Religiosa que permitiriam que as escolas confessionais discriminassem os/as estudantes LGBT. Em resposta, os diretores de 34 escolas anglicanas divulgaram uma carta aberta ao parlamento. A carta afirma que as escolas confessionais deveriam ser isentas das leis sobre discriminação porque “algumas escolas requerem evidências de uma fé ativa que esteja em consonância com a filosofia e o ethos da escola”. O ministro da educação, Dan Tehan, afirmou que a carta faz parte de uma “discussão muito importante” sobre direitos concorrentes. No entanto, muitos ex-estudantes e estudantes atuais ficaram revoltados e chocados com a solicitação. Mais de 2.500 assinaram uma carta pedindo para as escolas inverterem sua posição. 

Desde então vários diretores recuaram  em relação à carta e o arcebispo anglicano Glenn Davies se juntou a eles e pediu desculpas pelo “dano não intencional”. Peter Berkley do Barker College observou: “Alguns dos nossos estudantes acharam que queríamos de fato expulsá-los por serem gays. Não previmos isso e lamentamos.” Como apontou a Maddy, uma estudante queer de Abbotsleigh:

“Não importa se nunca colocarem em prática. É uma questão dos adolescentes queer na escola saberem que poderia ser colocado em prática, e assim nunca se assumirem e nunca se sentirem seguros de suas identidades.” 

O primeiro ministro adjunto da Escócia, John Swinney, anunciou que foram aprovadas todas as recomendações feitas pelo Grupo de Trabalho sobre Educação Inclusiva de LGBTI. Afirmou que o país será “o primeiro do mundo a ter educação inclusiva de LGBTI embutida no currículo”. As escolas vão oferecer informações apropriadas para a idade sobre uma variedade de temas, incluindo terminologias e identidades, o combate ao preconceito e a promoção da história LGBTI. 

Departamento da Educação do Reino Unido encerrou sua consulta sobre a proposta de alterações ao currículo em relação à educação em sexualidade–a primeira grande reforma das diretrizes em 18 anos. Contudo, muitas pessoas opinaram que as alterações são “fastidiosas”, conservadoras demais, é que falta a inclusão apropriada das pessoas LGBT. 

Ministério da Educação da Polônia proibiu a participação das escolas na “Sexta-feira Arco-Íris”, um evento contra discriminação planejado por mais de 200 escolas.  Após alguns estudantes terem postado imagens mostrando que estavam desafiando a proibição, o ministério tweetou que vai investigar as escolas. Enquanto isso, o presidente da Polônia, Andrzej Duda, informou a agência local de notícias Nasz Dziennik que a “propaganda homossexual” e a “ideologia de gênero” deveriam ser proibidas nas escolas. Duda afirmou que consideraria uma proibição “bem redigida”. O ex-presidente do Tribunal Constitucional, Jerzy Stępień, chamou as afirmações de “constrangedoras” e disse que não existe tal propaganda:

“Falar sobre algo, educar, não é propaganda.”

Mais sobre Ambiente escolar

Esportes e cultura: A organização Athlete Ally lançou o “Campeões da Inclusão”, um currículo online gratuito e abrangente para ajudar técnicos, diretores de atletismo e chefes de equipe em todos os níveis escolares a aprenderem sobre sexualidade, gênero e obstáculos enfrentados por atletas LGBTQ. 

Durante o Jogo 5 da Série Mundial realizada em Los Angeles, integrantes da Coalizão TransLatina estenderam uma bandeira gigante do movimento trans nas arquibancadas com a mensagem “As pessoas trans merecem viver”. O grupo afirma que se inspirou na matéria do New York Times que afirmou que o governo pretende desmantelar as proteções para as pessoas trans. 

Na Coreia do Sul, o apresentador de TV de 91 anos de idade, Song Hae, famoso por seu programa popular “Concurso Nacional de Canto”, falou sobre abraçar a comunidade LGBT:

“No passado, as pessoas mais velhas teriam ficado chateadas, mas agora estão aplaudindo. Há muito o que aprender … sobre o mundo dos jovens.” 

O filme biográfico Bohemian Rhapsody ultrapassou as expectativas de público com seu retrato exultante do desejo de Freddie Mercury e dos demais integrantes da banda Queen de criar arte e rock and roll. O filme provocou reações mistas dos fãs LGBTQ que sentem que o filme “dá um jeito de hétero” a Mercury e difama o personagem central egay assumido, o assistente de Mercury, Paul Prenter.

O autor David Ebershoff explorou as normas de gênero em evolução no balé contemporâneo e uma “nova geração de dançarinos que estão derrubando as delimitações entre o queer e o masculino no balé ao desafiarem as ideias preconcebidas, tanto do balé quanto da cultura, sobre masculinidade”. Ebershoff argumenta ainda que ao exporem seu eu queer autêntico, os dançarinos estão conectando uma nova geração ao balé clássico.

No México, Jude Webber entrevistou vários/as muxe (ou muxhe)—um termo da cultura indígena Zapoteca que descreve uma pessoa designada como masculina ao nascer, mas que se identifica como sendo fora do binarismo de gênero. Confira o curta metragem Muxes do diretor Shaul Schwarz.


Mais sobre Esportes e cultura

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