“Há apenas uma raça no mundo, a raça humana. E se há apenas uma raça, a raça humana, todos os humanos têm direito aos mesmos direitos. É uma coisa fundamental, simples, fácil de aceitar quando se é um ser humano pensante, mas é claro que a sensatez não é tão comum assim.”
Margarette May Macaulay, Presidente da Comissão Interamericana de Direitos Humanos
Da ONU: Para marcar o Dia dos Direitos Humanos (10 de dezembro) o UNAIDS, o PNUD, a ONU Mulheres e a Rede Global de Pessoas Vivendo com HIV lançaram a Parceria Global de Ação para Eliminar Todas as Formas de Estigma e Discriminação Relacionados ao HIV. A parceria visa acelerar a implementação dos compromissos feitos pelos Estados Membros, pelas agências da ONU, pelos financiadores internacionais e pelas ONGs para acabar com o estigma e a discriminação relacionados ao HIV. Ela promete construir a partir desses compromissos, fortalecer parcerias e coletar e disseminar dados para subsidiar programas e mudanças de políticas.
A Campanha Livres e Iguais da ONU celebrou os 70 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos com um novo curta digital para comemorar a primeira emenda:
“Todas as pessoas nascem livres e iguais em dignidade e direitos.”
No mundo inteiro as pessoas homenagearam os 30 anos do Dia Mundial Contra a AIDS em 1º de dezembro. O tema deste ano foi “Conheça seu estado sorológico para o HIV”. O Secretário Geral, António Guterres, observou que “ainda há tempo” para enfrentar o HIV através da intensificação da testagem, da melhoria do acesso ao tratamento, do aumento dos recursos e da eliminação do estigma.
O Diretor Executivo do UNAIDS, Michel Sidibé, refletiu sobre os últimos 30 anos de ativismo e incentivou as pessoas a “Viverem a vida positivamente e conhecerem sua sorologia para o HIV”. O UNAIDS lançou um novo relatório “Conhecimento é poder”que examina a situação atual dos serviços de testagem para HIV, das inovações na tecnologia de testagem e dos esforços para superar as barreiras à testagem. O relatório enfatiza como esta e o conhecimento da sorologia podem empoderar as pessoas para fazerem as escolhas necessárias para ter uma vida longa e saudável—seja iniciando o tratamento para suprimir uma infecção recém-diagnosticada ou tomando medidas concretas para prevenir a exposição futura ao HIV.
A OMS divulgou uma nova análise da inclusão das populações-chave nas estratégias nacionais de HIV de 47 países na Região Africana da OMS. O relatório conclui que embora a maioria das estratégias inclua intervenções para algumas das populações-chave, há lacunas significativas, especialmente no caso das pessoas trans, das que usam drogas injetáveis e das privadas de liberdade.
O PNUD formou uma parceria com o Centro Internacional de Pesquisas sobre Mulheres (ICRW) e com a Coalizão para Saúde Sexual Masculina Ásia-Pacífico (APCOM) para estudar as ligações entre violência, saúde mental e risco de infecção pelo HIV entre as mulheres trans e entre homens gays, bissexuais e outros homens que fazem sexo com homens no Sul da Ásia. O estudo, apresentado no relatório “Conheça a Violência”, apresenta recomendações baseadas em evidências sobre políticas e programas para formuladores de políticas, profissionais da saúde, para o sistema educacional, gerentes de locais de trabalho, gestores de saúde pública e pesquisadores.
HIV, saúde e bem-estar: Um novo artigo publicado na revista AIDS and Behavior compartilhou uma análise qualitativa do ensaio PROUD realizado em 2015. Àquela época, o ensaio havia mostrado que a PrEP reduzia em 86% a infecção pelo HIV entre homens no Reino Unido. O novo artigo utiliza entrevistas em profundidade para explorar as percepções, experiências e utilização da PrEP entre os participantes do ensaio.
Dois novos estudos publicados nas revistas Journal of Acquired Immune Deficiency Syndromes e Culture, Health and Sexuality ajudaram a esclarecer a utilização da PrEP entre mulheres trans no Brasil. Os estudos indicam que embora as mulheres trans desejem utilizar a PrEP depois de receberem informações educativas a seu respeito, a transfobia encontrada no contexto dos serviços de saúde restringe significativamente sua capacidade de obtê-la.
Um novo estudo publicado na revista Journal of Emerging Infectious Diseases mostrou que o uso de substâncias não estava associado à diminuição na adesão à PrEP entre homens gays e outros homens que fazem sexo com homens. Os pesquisadores sugerem que o uso de substâncias não deveria servir de motivo para negar a PrEP.
A revista AIDS and Behavior publicou um estudo que mostrou uma correlação entre hábitos inadequados de sono e comportamentos sexuais de risco entre homens gays e homens bissexuais na França. Os participantes do estudo com sono precário também tinham mais probabilidade de relatar o uso de substâncias antes e durante a relação sexual.
O Programa de AIDS/DST de Bangladesh anunciou que a prevalência de HIV aumentou significativamente entre mulheres profissionais do sexo, homens gays e outros homens que fazem sexo com homens, e pessoas usam drogas injetáveis no decorrer dos últimos sete anos. O diretor do Programa, Dr. Shamiul Islam, disse que o aumento se deve sobretudo aos usuários de drogas injetáveis e pediu programas aprimorados para prevenir o compartilhamento de agulhas.
Pesquisadores apresentaram uma análise inicial de um estudo com homens gays, outros homens que fazem sexo com homens, e mulheres trans no Quênia, no Maláui e na África do Sul. Descobriram que a incidência do HIV entre os participantes do estudo foi “assustadoramente alta” e pediram intervenções adaptadas especificamente para a comunidade. O estudo visa avaliar a viabilidade do recrutamento e da retenção destes indivíduos em pesquisas sobre a prevenção do HIV.
Na Romênia, o pesquisador Rémy Bonny conversou com ativistas sobre as taxas crescentes de infecção pelo HIV, sobretudo entre homens gays e outros homens que fazem sexo com homens. Os ativistas também alertaram que os medicamentos para HIV se esgotam rotineiramente nos hospitais.
Na Malásia, o grupo Queer Lapis alertou que recebe rotineiramente relatos de pacientes LGBT que são discriminados quando buscam serviços de saúde. Os relatos corroboram os achados de uma pesquisa com mais de 400 médicos malaios que mostrou que muitos médicos tinham preconceito contra pacientes transgênero.
Em apoio à Parceira Global de Ação para Eliminar Todas as Formas de Estigma e Discriminação Relacionados ao HIV, a revista Reproductive Health Matters (RHM) publicará uma edição temática sobre estigma e discriminação nos serviços de atenção à saúde sexual. Foi aberto um chamado por artigos de pesquisa, perspectivas, análise de políticas, resenhas de livros e comentários que investiguem e reflitam sobre o tópico e a melhor forma de “enfrentar, romper e resolver” esta situação. O prazo para apresentação de trabalhos é março de 2019.
Mais sobre HIV, saúde e bem-estar
Do mundo da política: Vários Estados membros da União Europeia (UE) divulgaram uma nota pedindo que a UE adote uma estratégia coerente para garantir a proteção plena dos direitos LGBTI. O documento foi assinado por Malta, República Tcheca, Itália, França, Eslovênia, Alemanha, Bélgica, Luxemburgo, Holanda, Espanha, Portugal, Grécia, Reino Unido, Irlanda, Finlândia, Suécia, Dinamarca, Estônia e Chipre.
O presidente do Chile, Sebastian Piñera, sancionou a Lei da Identidade de Gênero permitindo que pessoas trans com mais de 14 anos de idade possam retificar o nome e o gênero em documentos oficiais. O projeto de lei tramitou por quase cinco anos e a lei sancionada entrará em vigor em 2019.
A Ministra dinamarquesa de Cooperação para o Desenvolvimento, Ulla Tornaes, anunciou que o governo suspenderá 65 milhões de coroas dinamarquesas (USD $9,88 milhões) de ajuda ao Tanzânia devido a “acontecimentos negativos” e “pronunciamentos homofóbicos inaceitáveis”. Tornaes sugeriu que parte do recurso poderia ser repassada a ONGs em vez de ser repassada ao governo. Após suspender suas missões à Tanzânia por causa de ameaças à comunidade LGBT, o Banco Mundial também anunciou que suspendeu um empréstimo de $300 milhões destinado ao Ministério da Educação. Citou preocupação sobre a política do país que expulsa estudantes grávidas das escolas. Enquanto isso, o presidente Magufuli postou uma nota dizendo que prefere auxílio financeiro da China porque "não é condicionado a qualquer coisa”.
Os EUA, o México e o Canadá negociaram um acordo comercial atualizado chamado USMCA que poderia substituir o NAFTA (Acordo de Livre Comércio da América do Norte) se for aprovado pelo Congresso. O site Politico noticiou que a versão preliminar do acordo continha exigências para a proteção de trabalhadores contra discriminação por sexo, incluindo orientação sexual e identidade de gênero. Em carta aberta, quarenta conservadores dos EUA criticaram a redação, chamando-a de “inapropriada e uma ofensa à nossa soberania que teria que se submeter sem necessidade a políticas sociais”. Embora as primeiras notícias tenham confirmado a manutenção da cláusula sobre discriminação quando o documento foi assinado pelos três líderes, o The Canada Press noticiou que a redação foi “abrandada” e que foi acrescentado uma nota de rodapé afirmando que as políticas federais de contratação dos EUA “são suficientes para cumprir as obrigações”.
Ainda que o primeiro ministro da Austrália, Scott Morrison, e o líder da oposição, Bill Shorten, tenham prometido proteção para estudantes LGBTI , o parlamento permanece dividido. Foram apresentados projetos de leis concorrentes com redações diferentes permitindo que as escolas confessionais pudessem discriminar os/as estudantes LGBTI. O primeiro ministro Morrison tentou colocar em votação o projeto de lei do governo, mas o Partido dos Trabalhadores argumentou que o projeto estava com “muitas falhas” e poderia até piorar a situação. O debate continuará no ano que vem.
Em Ontário, no Canadá, o partido Conservador Progressivo (PC) aprovou uma resolução para debater a exclusão da “teoria da identidade de gênero” dos currículos escolares, descrevendo-a como uma “ideologia liberal não científica altamente controversa”. Apesar da resolução, o presidente do partido e também governador de Ontário falou para repórteres “Eu não vou levar isso adiante”.
O Reino Unido anunciou que vai lançar uma consulta em 2019 para investigar o tratamento, os direitos e as experiências das pessoas intersexo. A principal preocupação é a realização de cirurgias desnecessárias em bebês. Especialistas médicos de toda a Europa divulgaram recentemente um posicionamento de consenso na revista Nature Reviews Endocrinology pedindo a postergação de cirurgias medicamente desnecessárias em crianças intersexo até que tenham idade suficiente para poder consentir.
O New York Times e outros jornais noticiaram uma proposta do governo dos EUA de redefinir o gênero como sendo apenas masculino ou feminino e sendo “imutável”. Mais de 2,6 mil cientistas, incluindo ganhadores do Prêmio Nobel, biólogos e geneticistas, divulgaram uma carta aberta pedindo que o governo desista da proposta. Os cientistas alertaram que a proposta "apagaria" as pessoas transgênero e intersexo e poderia sujeitar as pessoas intersexo a “ainda mais cirurgias medicamente desnecessárias e arriscadas ao nascerem”. A revista The Journal of Health Affairs publicou um artigo afirmando que se o Departamento de Saúde e Serviços Humanos mudar a definição legal do gênero, haveria consequências sérias para a saúde física e mental de 1,4 milhões de pessoas trans e pessoas de gênero diverso no país.
Mais sobre o Mundo da política
A política e o casamento: Em Taiwan, a população votou uma série de referendos, incluindo cinco relativos ao casamento igualitário e à educação em sexualidade. A maioria votou contra os referendos contendo redação favorável ao casamento igualitário e também contra o pedido da educação acolhedora para população LGBTQ. O Secretário Geral do Yuan Judiciário (a Corte Constitucional da Taiwan) esclareceu que os resultados dos referendos não podem substituir a decisão do Yuan de 2017 de que a proibição do casamento entre pessoas do mesmo sexo é inconstitucional. Em vez de fazer uma emenda ao Código Civil, os legisladores anunciaram que vão considerar a criação de uma lei especial para atender às necessidades dos casais do mesmo sexo.
Em Hong Kong, o Conselho Legislativo votou contra a concessão de “direitos iguais” a casais do mesmo sexo. Ativistas esperavam que a decisão da Corte de setembro deste ano que reconhecia as parcerias de casais estrangeiros do mesmo sexo quando da emissão de vistos pudesse melhorar os direitos dos casais locais de Hong Kong.
O governo da República de San Marino votou a favor da legalização da União Civil tanto para casais homoafetivos como para casais heterossexuais. A lei proporcionará novos direitos aos casais, incluindo questões de residência, cidadania, atenção à saúde, aposentadoria e benefícios.
A Assembleia Nacional da África do Sul aprovou o Projeto de Lei de Emenda da União Civil atualizando a Lei da União Civil para eliminar uma lacuna que permitia que funcionários do Departamento de Assuntos Internos pudessem se recusar a celebrar casamentos entre pessoas do mesmo sexo. A deputada Deidre Carter apresentou a emenda em janeiro quando ficou sabendo que muitos casais do mesmo sexo não conseguiram realizar o casamento porque não havia funcionários dispostos a casá-los. A Lei legalizou o casamento entre pessoas do mesmo sexo em 2006.
A Tailândia concluiu as audiências públicas e uma pesquisa online sobre o Projeto de Lei de Parceria Vitalícia que propõe parcerias registradas para casais do mesmo sexo. Segundo o Ministério da Justiça, a maioria das respostas foi a favor do projeto de lei, embora alguns ativistas afirmem que faltam itens essenciais no projeto, incluindo direitos de paternidade/maternidade e o direito ao casamento.
Mais sobre a Política e o casamento
Que os tribunais decidam: O Tribunal Superior da Botsuana anunciou que vai julgar em março do ano que vem uma ação que contesta a constitucionalidade de leis que criminalizam as relações entre pessoas do mesmo sexo.
Juízes das Ilhas Bermudas decidiram mais uma vez a favor do casamento igualitário. A Suprema Corte decidiu pelo casamento igualitário pela primeira vez em 2017; no entanto, autoridades do governo tiveram objeções à decisão e até o final daquele ano já criaram a Lei da Parceria Doméstica para proibir casamentos futuros entre pessoas do mesmo sexo, criando a “parceria doméstica” no seu lugar. Em junho deste ano, a Suprema Corte derrubou a Lei e reiterou seu apoio ao casamento entre pessoas do mesmo sexo. O governo recorreu rapidamente e agora o Tribunal de Apelação concordou que a Lei é inconstitucional e decidiu que o casamento entre pessoas do mesmo sexo deve ser permitido.
A Suprema Corte da Costa Rica decidiu que é inconstitucional a proibição do casamento entre pessoas do mesmo sexo no país e determinou que os legisladores legalizassem o casamento igualitário até maio de 2020.
O Tribunal Europeu de Direitos Humanos determinou que a Rússia está violando os direitos humanos com sua política de proibição de manifestações e eventos públicos LGBT. O tribunal analisou 51 solicitações de realização de eventos feitas entre 2009 e 2014 e concluiu que a recusa pelas autoridades de conceder autorização não poderia ser justificada por preocupações quanto à perturbação da ordem pública.
Na Nigéria, um tribunal superior descartou a ação interposta por um grupo que queria ser registrado formalmente com o nome “Iniciativas pela Igualdade e Empoderamento das Lésbicas”. O tribunal determinou que o grupo não estava em conformidade com a legislação que estabelece que nenhuma pessoa jurídica pode ser registrada com um nome que seja “enganoso” ou que seja “indesejável, ofensivo ou de qualquer outra forma contrário à política pública”.
A Suprema Corte do México concedeu a um casal gay o direito de registrar com seus sobrenomes o filho concebido por meio da gestação de substituição. O juiz citou a constituição que garante o direito de todas as pessoas de terem filhos, independente da orientação sexual.
No Canadá, 24 escolas confessionais pediram que um tribunal de três juízos revogue o recém-aprovado Projeto de Lei 24—o qual protege a privacidade dos estudantes. O PL 24 determina que as escolas não podem revelar aos pais a participação de um/a estudante em alianças gay/hétero (gay-straight alliances).
O Instituto de Educação Judicial de Trindade e Tobago lançou um novo protocolo que inclui orientações para garantir que a comunidade LGBTQ possa acessar um sistema judiciário justo e imparcial.
Sobre a religião: O Global Philanthropy Project (GPP) divulgou um novo relatório “Conservadorismo religioso no palco global: ameaças e desafios para as pessoas LGBTI”. O GPP descreve o relatório como o "maior e mais abrangente estudo feito até agora sobre a maneira como o conservadorismo religioso está operando atualmente ao redor do mundo". O relatório examina as táticas, o discurso e as tendências de financiamento de entidades religiosas conservadoras que impactam nos direitos sexuais e reprodutivos e nos direitos de orientação sexual e identidade de gênero.
Escrevendo para a NBC, Corky Siemaszko investigou o crescimento da ideologia política conservadora entre católicos nos EUA. Observou que a retórica homofóbica extrema utilizada em sites na internet como o “Church Militant” se traduziu em agressão física e abuso contra católicos LGBTQ e seus aliados.
Na Itália, os líderes de um grupo informal de católicos LGBT falaram para a BBC sobre a interação com a comunidade, especialmente com jovens que acham que é impossível ser católico e também ser gay ou transgênero:
“Você pode ser cristão. Você pode amar a Deus e a você mesmo também”
O New Ways Ministry, uma coalizão de fiéis católicos que apoiam a igualdade das pessoas LGBT dentro da Igreja, iniciou uma série de reflexões para as estações litúrgicas do Advento, Natal e Epifania que proporcionam perguntas, orações, cantos e textos bíblicos. A série pode ser acompanhada online.
No Reino Unido, Harriet Sherwood conversou com pessoas judaicas sobre a “escolha impossível” que aquelas que fazem parte da comunidade ortodoxa são obrigadas a fazer entre sua identidade sexual ou de gênero e sua religião.
Medo e ódio: A organização Human Rights Watch (HRW), em colaboração com os grupos LGBT Shams e Damj da Tunísia, publicou os relatos pessoais de homens abusados pela polícia e forçados a se submeter a exames anais. A HRW pediu para o governo abolir leis que criminalizam relações consentidas entre pessoas do mesmo sexo e a respeitar o direito das pessoas à privacidade.
A Associação para a Prevenção da Tortura (APT) publicou um novo guia “Rumo à proteção efetiva das pessoas LGBTI privadas de liberdade” que descreve com detalhes práticas específicas que aumentam o risco de maus tratos e tortura das pessoas LGBTI detidas em penitenciárias, cadeias de delegacias e serviços de imigração.
A Rede Global de Projetos com Profissionais do Sexo e o M-Pact publicaram um informativo com dados e recomendações sobre a intersecção entre a homofobia, a transfobia e o trabalho sexual. O informativo explora como profissionais do sexo LGBT enfrentam situações singulares de discriminação, especialmente em países que criminalizam tanto o trabalho sexual quanto as relações entre pessoas do mesmo sexo.
Nos EUA, a repórter Samantha Allen entrevistou ativistas LGBT em Jacksonville, na Flórida, sobre a tensão entre a comunidade trans negra e a polícia no caso dos assassinatos de três mulheres trans negras em incidentes separados. As ativistas afirmam que a polícia continua sem remorso utilizando o nome que a pessoa trans não reconhece mais e atribuindo o gênero incorreto às vítimas, sendo políticas que atrapalham as investigações.
No Quênia, após vizinhos terem denunciado que uma ONG de HIV/AIDS do bairro estava “recrutando” jovens para “integrar a comunidade gay”, a polícia fez uma batida na ONG e prendeu funcionários, os quais foram libertados mais tarde sem serem indiciados por qualquer delito.
Na África do Sul, em matéria no News24, o analista Gerbrandt van Heerden, do Instituto Sul-Africano de Relações Raciais, argumentou que há evidências históricas que mostram que a homossexualidade e identidades alternativas de gênero eram comuns em todo o continente muito antes da chegada dos colonizadores europeus. Segundo ele, as evidências contradizem a alegação feita por alguns políticos e líderes religiosos de que a homossexualidade tenha sido “importada” do Ocidente.
Ventos de mudança: Na África do Sul, Jessie Duarte, secretária geral do partido político Congresso Nacional Africano, comparou as desigualdades enfrentadas pelas pessoas LGBTIQ ao apartheid. Duarte instou líderes a irem além da legislação e a fazerem face a noções homofóbicas e transfóbicas muito arraigadas. Enquanto isso, um grupo abriu uma série de “Espaços Seguros” na cidade de Durban em apoio à comunidade LGBT+. O projeto será ampliado para toda a província de KwaZulu-Natal no ano que vem.
Em Uganda, o repórter Jacob Kushner examinou como as pessoas LGBT que moram em áreas rurais encontraram maneiras de viver assumidamente dentro de suas comunidades apesar das leis severas que as criminalizam:
“Ao se adaptarem a tradições e normas sociais, em vez de reprová-las, algumas pessoas africanas LGBT rurais estão alcançando um grau de tolerância que há poucos anos parecia impensável.”
Na Croácia, a repórter Anja Vladisavljevic refletiu sobre a mudança de prioridades entre ativistas LGBT nos cinco anos desde a aprovação de um referendo constitucional que proibiu o casamento entre pessoas do mesmo sexo. Vladisavljevic observou que enquanto as pessoas por trás do referendo celebraram o aniversário de sua aprovação, há ativistas trabalhando para conseguir o direito de apadrinhamento por casais do mesmo sexo.
A Iniciativa Africa Queer Youth (Juventude Queer) compartilhou as histórias do assumir-se contadas com as próprias palavras de jovens de Maurício, Quêniae Nigéria. Em Hong Kong, a educadora em sexualidade e assistente social, Bau Chung Sze-wan, deu dicas para jovens sobre o assumir-se para pais tradicionais na sociedade chinesa. Ela fez um apelo para os pais terem abertura com os filhos para que estes tenham força para enfrentar o estigma e as críticas dos outros.
Na Quênia o ativista Denis Nzioka conversou com o jornal local The Star sobre os significados por trás da sigla LGBTQ. O jornal South China Morning Post publicou apoio para a comunidade LGBT, pedindo que as pessoas entendam que a “homossexualidade é mais do que sexo”.
Nos EUA, a modelo de gênero-fluido, Rain Dove—que utiliza os pronomes they/them (é o pronome usado no singular em inglês para identificar de forma não-binária pessoas de gênero diverso)—fez um post online sobre a experiência de ter sido agredidx com um spray de pimenta no banheiro de um colégio após participar de uma reunião. Depois, a mulher que atacou Dove x procurou nas mídias sociais para enviar mensagens ameaçadoras, mas quando Dove conseguiu envolver a mulher em uma conversa, esta pediu desculpas pelo ataque. Dove compartilhou a conversa, afirmando que embora a raiva seja “parte necessária do ativismo” que “também precisamos de pessoas dispostas a sentar e conversar com [pessoas] que [são] nossos opressores, as pessoas que estão nos atacando”.
Em marcha: No México, o Centro Comunitário LGBT de San Diego e a organização RAICES noticiaram que mais de 120 pessoas LGBTQ em busca de asilo chegaram à fronteira com os EUA. O grupo tem enfrentado discriminação de outros viajantes na caravana de migrantes da América Central e continua sendo agredido por residentes da cidade fronteiriça de Tijuana. O pesquisador Stefan Vogler explicou como as pessoas LGBTQ à busca de asilo são forçadas a “comprovar” sua sexualidade ou identidade de gênero aos juízes nos serviços de imigração.
Nos EUA, o jornal New York Times noticiou que foi liberada para o conhecimento do público a autópsia de uma mulher trans HIV+ que possivelmente tenha sido espancada e morreu enquanto estava detida pelo Serviço de Imigração e Controle Aduaneiro (Immigration and Customs Enforcement - ICE). O relatório informa que Roxsana Rodriguez ficou doente, não recebeu tratamento médico por vários dias e houve evidências de ter sofrido contusão muscular. O Centro Jurídico Transgênero entrou com processo alegando morte culposa em nome dela.
O repórter Alex Cooper analisou a questão de pessoas LGBTQ em busca de asilo procurando refúgio na Europa onde, segundo ativistas, as decisões sobre o asilo muitas vezes se baseiam em atitudes discriminatórias ou ignorantes. Entre os desafios está a falta de normas padronizadas para toda a Europa. Enquanto isso, a Reuters noticiou que apenas 22% das pessoas que buscam asilo por motivo de sua orientação sexual receberam asilo no Reino Unido.
Comércio e tecnologia: No Brasil, a rede holandesa de lojas C&A anunciou uma campanha para contratação de 5 mil novos funcionários temporários em todo o Brasil, com enfoque na contratação de pessoas trans e refugiados. Na Austrália, o grupo Pride in Diversity (Orgulho na Diversidade) pilotou programas regionais para apoiar iniciativas de inclusão no local de trabalho por empresas regionais de todos os portes.
Nos EUA, a Liga contra a Difamação consedeu a Tim Cook o primeiro prêmio “Coragem contra o Ódio”. Ao receber o prêmio, Cook incentivou as empresas de tecnologia a terem uma posição clara sobre questões morais e a se posicionarem contra o discurso de ódio:
“Na Apple, não temos medo de falar que nossos valores norteiam nossas decisões sobre curadoria.”
O Twitter passou a utilizar uma nova versão de seus Termos de Serviço que proíbe a atribuição do gênero incorreto e o uso do nome original de registro civil das usuárias trans—algo que as ativistas trans vêm pedindo há muitos anos. O Facebook anunciou uma nova política sobre conteúdos que inclui a proibição de conteúdos que sugerem solicitação de sexo. O Facebook incluiu nestes conteúdos “posições sexuais”, “gíria sexual”, e discussões sobre “preferência sexual/preferência de parceiro/a sexual”. Enquanto isso o site Tumblr anunciou uma nova proibição de conteúdos adultos incluindo fotos, vídeos e gifs. O site tem sido popular entre a comunidade LGBTQ por proporcionar um “escape” dos padrões “sexistas, homofóbicos e racistas” de outras mídias sociais. Artistas temem que a proibição impacte a comunidade de forma desproporcional.
Mais sobre Comércio e tecnologia
Esportes e cultura: Na China, a “Lady Tianyi”, autora de ficção LGBT erótica, foi condenada a 10 anos de prisão por "produzir e vender pornografia". Tianyi chamou a atenção da polícia depois que uma de seus romances se tornou uma sensação viral no ano passado.
Durante a celebração do Orgulho em Hong Kong, ativistas fizeram manifestações em frente a bibliotecas para combater a retirada do acesso público de livros infantis com a temática LGBTQ. O Departamento de Serviços de Lazer e Cultura de Hong Kong confirmou que os livros foram retirados e colocados em "acervos de acesso restrito" já há alguns meses.
Nos EUA, algumas bibliotecas estão enfrentando fortes reações contrárias por terem programações que incluem temas LGBT. O repórter Mitchell Kuga examinou como eventos para crianças como a "Hora de Histórias de Drag Queens" se tornaram centrais no debate sobre quem deveria ser autorizado a utilizar a biblioteca.
A Academy of Motion Pictures (Filmes) elegeu o humorista Kevin Hart a ser o apresentador da próxima premiação do Oscar; no entanto, depois do anúncio as pessoas começaram a circular os tuítes homofóbicos que Hart vem postando no decorrer dos anos. Em vídeo, Hart revelou que a Academia pediu para ele se desculpar, mas Hart afirmou que preferiria não ser o apresentador do evento a pedir desculpas por coisas que aconteceram no passado. Na sequência, Hart pediu desculpas, mas não será o apresentador do evento.
O novo documentário francês "Cassandro, o Exótico!" conta a história de Saúl Armendáriz, um lutador mexicano nascido nos EUA que ficou famoso por suas performances "exóticas" de luta livre vestido de drag. O novo documentário "Man Made" (Feito pelo Homem) explora o mundo de fisiculturistas trans. A crítica Rachel Lipstein escreve: "O filme mostra como exibir a própria força, após anos de dor incorporado em privado, pode libertador—e até mesmo eufórico." Confira o trailer.