“Não basta mais tentar promover nossos direitos por meio da educação e do advocacy tradicional. Precisamos também estar na vanguarda da promoção e sustentação das instituições democráticas e das sociedades abertas que nos permitiram avançar.”
~ Wayne Besen, diretor executivo da organização Truth Wins Out
Da ONU: Durante a Reunião de Alto Nível sobre HIV e AIDS em 2016, o secretário geral da ONU chamou a atenção para o impacto negativo na saúde e nos direitos humanos das leis que criminalizam os direitos de saúde reprodutiva, os atos sexuais consentidos, uso de drogas e a exposição ao HIV. O relatório do secretário geral pediu para os estados membros revogarem as leis e políticas punitivas que violem os direitos humanos. No ano passado, o UNAIDS, o ACNUDH e a Comissão Internacional de Juristas (CIJ) convocaram uma série de reuniões com especialistas para discutir a questão. Eles esperam identificar um marco amplo de legislação sobre direitos humanos e legislação penal, bem como um conjunto de princípios-chave para ajudar ativistas, legislaturas, tribunais e outras autoridades a fazerem face ao impacto que a criminalização tem sobre a saúde e a igualdade.
Para iniciar o ano de 2019, a CIJ e o UNAIDS estão chamando o público para participar da criação destes princípios. Para ajudar, foram disponibilizados os relatórios das reuniões realizadas em 2018 com especialistas e estão pedindo que a academia, os legisladores, os ativistas de direitos humanos e todas as pessoas impactadas por estas leis que criminalizam contribuam com sugestões e reflexões. O prazo para apresentação das contribuições é 16 de fevereiro de 2019.
A UNESCO e o Conselho da Europa publicaram um novo relatório sobre violência motivada por orientação sexual, identidade de gênero, expressão de gênero ou características sexuais nas escolas . Eleni Tsetsekou, Chefe da Unidade de Orientação Sexual e Identidade de Gênero do Conselho da Europa, comentou que a “dimensão do problema é muito maior que as estimativas oficiais sugerem” e pediu ação urgente pelas autoridades da educação em toda a Europa.
HIV, saúde e bem-estar: a crise econômica na Venezuela continua a afetar os mais vulneráveis. Durante anos as pessoas HIV positivas têm enfrentado faltas de antirretrovirais que tem obrigado muitas delas a fugirem do país. Agora a Reuters noticiou que alguns médicos estão recomendando um chá feito de folhas de mutamba (guácimo) como um suplemento complementar para aumentar a imunidade.
Na Austrália, pesquisadores analisaram enquetes transversais nacionais com homens gays e bissexuais realizadas entre 2011 e 2017 para avaliar atitudes e a utilização da PrEP. Eles documentaram um aumento rápido na utilização da PrEP e analisaram os dados demográficos dos usuários. O estudo, publicado no AIDS and Behavior, é especialmente significante tendo em vista a implementação bem sucedida da PrEP entre populações específicas na Austrália, que tem sido associada a uma redução em novas infecções por HIV.
Os criadores do HIVSmart!—um aplicativo multilíngue para apoiar gays e outros homens que fazem sexo com homens na realização do autoteste de HIV—publicaram dados do seu estudo no Canadá no Journal of Medical Internet Research. Os desenvolvedores do aplicativo fizeram parceria com a International Association of Providers of AIDS Care (IAPAC) e com a empresa digital de saúde Sympact-X para a implementação do aplicativo em várias cidades identificadas pelo UNAIDS como sendo “Fast-Track” (cidades engajadas com a Aceleração da Resposta ao HIV).
O jornal The Independent examinou como as mídias sociais estão sendo utilizadas na Índia para alcançar homens gays e outros homens que fazem sexo com homens para proporcionar apoio entre pares, educação sobre HIV, e para fazer o vínculo com locais de testagem.
O aplicativo de relacionamento, Blued, sediado na China, anunciou que vai suspender o cadastramento de novos usuários durante uma semana para realizar uma “auditoria abrangente sobre conteúdo e estabelecimento de normas” para impedir que adolescentes utilizem o aplicativo. O anúncio se deu após uma reportagem na revista Caixin que afirmou que adolescentes estavam utilizando o aplicativo e sugeriu que este estava incentivando-os a ter relações sexuais desprotegidas e que houve adolescentes que contraíram o HIV subsequentemente.
O Conselho de AIDS da Malásia (MAC) divulgou uma nota denunciando um programa do Departamento de Desenvolvimento do Islamismo na Malásia para “reabilitar” as pessoas LGBT. O MAC ajudou a criar o programa em 2011, que, na época, teve o objetivo de ajudar a comunidade a melhorar de vida por meio de oportunidades de emprego. No entanto, participantes do programa testemunharam que agora o programa foca em “convertê-los” ao “caminho certo” por meio de "métodos duvidosos". O MAC enfatizou:
“Guiado por evidências científicas e pelos princípios dos direitos humanos, o MAC denuncia qualquer medida de saúde de intervenção comportamental que careça de credibilidade científica e viole os direitos do indivíduo à saúde, à dignidade, à segurança e à proteção.”
Um novo estudo publicado no AIDS and Behavior mostrou que gays e outros homens que fazem sexo com homens na Nigéria pensam em se suicidar muito mais que os heterossexuais e que muitas vezes estes pensamentos os impedem de testar para o HIV. Entre as recomendações, os autores do estudo enfatizaram a necessidade de ter apoio na área da saúde mental, melhorar os esforços de enfrentamento do estigma, e realizar intervenções contra o HIV entre pares.
Um novo estudo publicado no Lancet Child & Adolescent Health acompanhou mais de 4800 lésbicas, gays e bissexuais na faixa dos 10 aos 21 anos no Reino Unido para avaliar a saúde mental. O estudo mostrou que os jovens LGB tinham uma probabilidade significativamente maior de sofrer de depressão em comparação aos heterossexuais da mesma idade. Aqueles com idade entre 16 e 21 anos tinham a probabilidade de relatar automutilação e vontade de se suicidar quatro vezes maior do que os heterossexuais.
O projeto "Transrespect versus Transphobia Worldwide" (TvT) publicou um novo relatório sobre o impacto negativo do estigma e da discriminação na saúde das pessoas trans e pessoas de gênero diverso e no seu acesso à atenção à saúde em geral no Sul e no Leste Global.
Em artigo publicado no New England Journal of Medicine, um grupo de médicos explicou como pessoas dois espíritos, de gênero fluido, queer e não binárias de modo geral enfrentam a discriminação em serviços de saúde e recebem atenção inadequada à saúde. Segundo os achados, uma em cada cinco pessoas de gênero diverso nos EUA tem a assistência médica negada devido à sua identidade. Os autores oferecem conselhos para as equipes e instituições de saúde melhorarem o atendimento.
Pela primeira vez, a Associação Americana de Psicologia (APA), a maior organização de psicólogos nos EUA, publicou diretrizes para o atendimento a homens e meninos. As diretrizes se baseiam em “mais de 40 anos de pesquisas que mostram que a masculinidade tradicional é psicologicamente prejudicial e que a socialização de meninos para que suprimam as emoções provoca danos que refletem internamente e externamente”. A APA divulgou diretrizes para o atendimento a mulheres e meninas em 2006 e para pessoas LGB em 2011. Em matéria no The Atlantic, Amanda Mull explorou algumas das respostas conflitantes em relação ao novo documento.
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Do mundo da política: A Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE) concluiu sua investigação sobre violações de direitos humanos na Chechênia. Em Novembro, 16 membros da OSCE acionaram o “Mecanismo de Moscou” que permite que os estados membros possam enviar especialistas para investigar ameaças graves aos direitos humanos. Especialistas concluíram que as autoridades realizaram tortura, prisões ilegais, execuções extrajudiciais e outras violações contra pessoas LGBT, defensores/as dos direitos humanos, advogados/as, organizações da sociedade civil e a mídia independente. A Missão Russa junto à OSCE respondeu aos resultados, afirmando que há “dois pesos e duas medidas” e que “o lado russo está convencido de que as preocupações e alegações relativas à situação mencionada estão enviesadas e sem fundamento”. Já a LGBT Network afirma que possui informações confiáveis de que se iniciaram novas repressões contra pessoas suspeitas de serem gays e lésbicas, com relatos de prisão de 40 pessoas e pelo menos dois assassinatos.
O novo presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, tomou posse em 1º de janeiro. Segundo a AP, dentro de algumas horas após a posse Bolsonaro deu uma série de ordens visando grupos minoritários incluindo a comunidade LGBTI. A ordem tira questões LGBT do Ministério dos Direitos Humanos do Brasil. O Globo e outros meios de comunicação noticiaram que agora os direitos das pessoas LGBTI caberão à Secretaria Nacional de Proteção Global. Leonardo Pinho, presidente do Conselho Nacional de Direitos Humanos, alertou que se trata de uma “perda de status” para a comunidade em termos da proteção dos direitos humanos.
A recém-empossada Ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves, respondeu à controvérsia dizendo que nenhum direito LGBTI seria violado. Contudo, também observou que: “Neste governo, menina será princesa e menino será príncipe”. E que “Acabou a doutrinação ideológica de crianças e adolescentes no Brasil”.
O parlamento da Alemanha aprovou uma nova lei de reconhecimento jurídico de uma terceira categoria de gênero, “diverso”, nos documentos oficiais. Será necessário um atestado médico para a pessoa ser reconhecida como não sendo nem masculino e nem feminino. Segundo ativistas, a exigência exclui pessoas não binárias, pessoas trans e outras pessoas impossibilitadas de apresentar um atestado. A lei vem em seguida a uma decisão de 2017 da Corte Constitucional em apoio das pessoas intersexo.
Na Índia, o Lok Sabha (câmara baixa do parlamento) aprovou o projeto de lei das Pessoas Transgênero (Proteção de Direitos), o qual seguiu para a apreciação do Rajya Subha (câmara alta). Muitas pessoas trans e organizações trans se opõem ao projeto de lei que desconsidera as sugestões das comunidades trans e intersexo. Entre os muitos problemas, o projeto em sua forma atual torna difícil a autodeterminação do gênero—um direito reconhecido pela Suprema Corte em 2014—além de apresentar uma definição confusa de quem se qualifica como trans, e não contér qualquer ação para melhorar o acesso das pessoas trans à educação, ao emprego e à saúde.
No Nepal, o secretário conjunto do Comitê de Gestão do Estado, Surdarshan Khadka, falou para ativistas que os direitos LGBTI não estão na lista de prioridades do governoapós ter sido perguntado sobre possíveis medidas para a cidadania das minorias sexuais e de gênero.
O presidente do Botsuana, Mokgweetsi Masisi, fez um discurso no qual reconheceu a violência contra pessoas em relacionamentos do mesmo sexo e declarou que devem ter seus direitos protegidos. Em março o Tribunal Superior vai apreciar uma ação sobre a descriminalização de atividades sexuais entre pessoas do mesmo sexo.
Em Trindade e Tobago, o parlamentar Dr. Bhoendradatt Tewarie encorajou os líderes religiosos a “reconhecerem o mundo como ele é”. Ele estava reunido com líderes religiosos quando um dos participantes falou que a comunidade LGBTQI está prejudicando a sociedade e a família. Tewarie respondeu dizendo:
“Não se pode negar a existência de pessoas por não concordar com o seu estilo de vida e a maneira como se comportam. Então a questão é como podemos fortalecer as famílias, porque eu acredito que as famílias são a base das comunidades, que as comunidades são a base da sociedade, e ao fazer isto teremos uma sociedade mais forte.”
Nos EUA, novos legisladores tomaram posse em todo o país. O Victory Fund noticiou que um recorde de 244 candidatos LGBTQ se elegeram este ano, incluindo 147 em cargos estaduais e 10 no Congresso. O Los Angeles Blade entrevistou alguns dos muitos novo e antigos profissionais LGBTQ que apoiam os legisladores. Há muitos aliados novos, incluindo a deputada Jennifer Wexton que estendeu a bandeira do orgulho trans ao lado da bandeira do estado da Virgínia em frente ao seu gabinete em Capitol Hill—possivelmente pela primeira vez na história. A Câmara dos Deputados (House of Representatives) aprovou um pacote de normas que incluiu a proibição da discriminação motivada por orientação sexual e identidade de gênero. E em seu discurso de tomada de posse enquanto presidente da câmara, Nancy Pelosi destacou a aprovação da Lei da Igualdade, que está parada há muito tempo, como uma de suas primeiras prioridades para o Congresso.
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A política e o casamento: No Japão, um grupo de 10 casais do mesmo sexo anunciou que vai entrar com ações contra o governo nos tribunais distritais do país por negar-lhes o casamento igualitário. Nos últimos anos, alguns municípios emitiram certidões de parceria que não associam garantidos nem garantem direitos, incluindo Osaka, Chiba e Fukuoka. O Partido Democrático Constitucional (CDP) anunciou sua intenção de apresentar ao National Diet (o parlamento) propostas de emendas ao Código Civil para proporcionar direitos aos casais do mesmo sexo.
O Tribunal Superior de Hong Kong aceitou duas ações diferentes que buscam o casamento igualitário. O juiz Anderson Chow Ka-ming disse que as ações somente serão apreciadas depois de terminado o julgamento da ação impetrada em agosto do ano passado por uma mulher requerendo o reconhecimento de parceria civil com sua parceira, visto que ele prevê que as ações terão alguns elementos em comum.
A Corte Constitucional da Lituânia decidiu que a recusa pelo governo de conceder vistos de permanência a esposos e esposas de cidadãos gays e lésbicas é discriminatória. A ação foi movida por um homem e seu marido bielorrusso que se casaram na Dinamarca em 2015. O casal desejava voltar à Lituânia, mas o serviço de imigração se recusou a conceder um visto de permanência ao esposo. O casamento e a parceria civil entre pessoas do mesmo sexo não são permitidos no país. Em junho do ano passado o Tribunal de Justiça Europeu em Luxemburgo determinou que os países da União Europeia têm que permitir a livre residência a esposos e esposas do mesmo sexo, mesmo se não legalizaram o casamento igualitário.
O Conselho de Ministros da Tailândia aprovou o Projeto de Lei da Parceria Vitalícia, que dará aos casais do mesmo sexo direitos parecidos com os dos casais heterossexuais se for aprovado pela Assembleia Legislativa Nacional. Um assessor do primeiro ministro informou que a versão atual do projeto inclui o direito de adoção de filhos por casais do mesmo sexo. Contudo, alguns ativistas ficaram frustrados pelas diferenças entre o projeto e os direitos tradicionais de casamento. O projeto não permite que os casais LGB possam ser beneficiários do plano de saúde ou de benefícios previdenciários do outro, e nem ter as mesmas deduções de imposto de renda que os casais heterossexuais.
A Assembleia Nacional de Cuba anunciou que o Artigo 68 que redefinia o casamento como sendo entre “duas pessoas” foi retirado do projeto da nova constituição. Agora a nova constituição não fará qualquer menção do casamento. Em matéria para a Reuters, Sarah Marsh observou que determinadas igrejas evangélicas ameaçaram impedir a votação da nova constituição caso o artigo 68 fosse incluído. O blogueiro Francisco Rodriguez chamou a mudança de “manobra” e fez um chamado para continuar com o ativismo.
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Que os tribunais decidam: Nos EUA o jornal Washington Post noticiou que o Tribunal Regional de Apelação do Distrito de Colúmbia (DC) decidiu a favor da proibição das pessoas trans nas forças armadas. O tribunal determinou que a medida não é uma “proibição total” porque as pessoas trans podem integrar as forças armadas desde que se apresentem como tendo o sexo atribuído ao nascer—isto é, desde que não assumam abertamente a identidade de gênero. Apesar da decisão, nada mudará por enquanto porque outros três tribunais decidiram contra a proibição. A CNN informou que o governo pediu para a Suprema Corte avaliar a questão.
Na Índia, o Tribunal Superior de Déli decidiu que uma mulher adulta pode viver com quem ele quiser, a não ser que de alguma forma seja ilegal. A ação envolveu duas lésbicas, uma das quais alegou ter sido detida contra a vontade pela família quando esta descobriu que vivia com outra mulher. Visto que a Suprema Corte revogou a leique criminalizava a homossexualidade, as duas mulheres não estão agindo ilegalmente.
Em Israel, o Superior Tribunal de Justiça determinou que o governo não pode se recusar a incluir ambos os nomes dos pais ou das mães adotivas na certidão de nascimento do filho ou da filha pelo simples fato de os pais ou as mães serem gays ou lésbicas. Os juízes observaram que registrar toda a unidade familiar é do melhor interesse da criança. Outras duas ações parecidas ainda estão pendentes, incluindo um casal de lésbicas na qual uma das mães gerou o filho, e o caso de um homem trans que quer alterar o registro na certidão de nascimento do filho, de “mãe” para “pai”.
O Tribunal Superior de Singapura decidiu que um homem gay pode adotar o filho concebido por meio de gestação de substituição nos EUA. Seu advogado, Koh Tien Hua, observou que esta é a primeira ação nos tribunais a tratar da gestação de substituição ou da adoção por gays ou lésbicas. Ao seu parceiro não foi concedido qualquer direito em relação à criança. O presidente do Tribunal escreveu que a decisão se tratava “do melhor interesse da criança”, incluindo a possibilidade de a criança poder ter residência no país. Atualmente a homossexualidade é criminalizada em Singapura e não é permitido o casamento entre pessoas do mesmo sexo.
A gestação de substituição é proibida na França, e até agora os tribunais se recusaram a fazer a transcrição de certidões de nascimento de crianças nascidas no exterior para que constem os nomes dos pais não biológicos. Isto é, apenas o pai que forneceu o esperma ou a mãe que forneceu o óvulo são reconhecidos na França, independente do que esteja registrado na certidão de nascimento estrangeira. Embora em sua campanha Emmanuel Macron tenha prometido alterar a lei para que tais crianças fossem reconhecidas, a Ministra da Justiça, Nicole Belloutbet, divulgou uma nota afirmando que o ministério apoia a opinião do Superior Tribunal de Justiça (Court of Cassation) que reconheceu os pais biológicos, mas não os pais “de intenção”. O Tribunal pediu que o Tribunal Europeu dos Direitos Humanos forneça um parecer consultivo sobre a gestação por substituição.
O grupo LGBTQ turco, KAOS GL, moveu uma ação contra o jornal local Yeni Akit por utilizar frases em suas matérias que o grupo alega ser discurso de ódio.
O The New York Times noticiou que pela primeira vez na Colômbia um tribunal decidiu que o assassinato de uma mulher trans é um crime de ódio baseado em gênero. O assassino foi condenado a 20 anos de prisão por “feminicídio qualificado”. O grupo pelos direitos LGBT, Colômbia Diversa, elogiou o tribunal por reconhecer Anyela Ramos Claros como mulher.
Sobre a religião: Na Holanda, 250 líderes cristãos assinaram uma versão em holandês da Declaração de Nashville, um manifesto anti-LGBTI escrito em inglês e lançado em 2017 por teólogos e pastores evangélicos e outros líderes. Em sua reação à notícia, o Reverendo René de Reuver, secretário geral da Igreja Protestante Holandesa (PKN) chamou a declaração de Nashville de “pastoralmente irresponsável”. Gert-Jan Segers, líder de um dos grupos dentro do partido político União Cristã também contestou a declaração, dizendo:
“A principal mensagem de Jesus para este mundo não é uma lista do que se pode ou não pode fazer, mas um convite cordial que deixa claro que todas as pessoas são bem-vindas perante Ele.”
A cantora de ópera Francis van Broekhuizen formalizou uma denúncia contra um dos principais signatários. O Procurador Geral está analisando se a Declaração é ilegal, ferindo o Artigo 1º da constituição que proíbe a discriminação.
Em Uganda, a Affirming Ministries em Uganda (T-FAM) lançou sua primeira igreja para realizar cultos para a comunidade LGBTQ em um lugar seguro sem medo de preconceito ou segregação. Um dos participantes refletiu:
“É um milagre, vou poder orar e louvar a Deus junto com pessoas que são como eu.”
A Igreja Anglicana divulgou uma nova orientação pastoral que incentiva o clero a convidar as pessoas trans para a denominação. Em 2017, o Sínodo Geral Anglicano votou pela criação de um serviço religioso especial de boas-vindas às pessoas trans e outro para marcar sua transição de gênero. No entanto, o jornal The Guardian noticiou que tradicionalistas impediram estas iniciativas e que a nova orientação não dispõe sobre estes novos serviços religiosos.
Em matéria no Open Democracy, Tetiana Kozak escreveu sobre o fórum Novomediapara cristãos que trabalham nos meios de comunicação na Ucrânia patrocinado pela emissora dos EUA Christian Broadcasting Network (CBN). Kozak percebeu ligações entre os organizadores do evento e a retórica e políticas contra pessoas LGBT no país.
Em matéria no Out Sports, Emma Nye examinou a “Declaração de Fé” que os membros e líderes da Fellowship of Christian Athletes – FCA (Fraternidade de Atletas Cristãos) são obrigados a assinar. A FCA tem representação e técnicos em 62 países e já realizou eventos para centenas de milhares de alunos-atletas. Em sua matéria, Nye chama a atenção para o uso de linguagem anti-LGBTQ na Declaração de Fé e sugere que atletas e técnicos repensem a participação.
Em matéria na revista Commonweal, o Dr. Craig Ford analisou os debates sobre questões LGBTQ na Igreja Católica este ano. Olhando adiante, Ford argumentou que a Igreja precisa “alinhar a teologia sobre gênero e identidade sexual com a realidade—isto é, deixá-la alinhada com o que sabemos sobre a encarnação humana e a vivência sexual”.
Medo e ódio: Na Jamaica, a sede da organização de defesa de direitos J-FLAG foi destruída por um incêndio de origem desconhecida. A J-FLAG agradeceu aos bombeiros e à polícia por sua rápida resposta.
Em Camarões, o escritório da Associação Camaronesa pela Defesa de Pessoas Vulneráveis (Acodevo) e também sede provisória de educadores de pares HIV positivos foi atacado por um grupo de homens. Testemunhas oculares disseram que os homens machucaram um integrante da Acodevo e gritaram injúrias. Em seguida o proprietário da sede da Acodevo afirmou que não vai renovar o contrato de locação.
Em Porto Rico, o cantor e astro das mídias sociais, Kevin Fret, foi vítima de tiros múltiplos e foi morto enquanto andava de moto. Fret, um dos poucos artistas latinos do estilo trap assumidamente gays, era conhecido por seu estilo e sua expressão inconforme de gênero. A polícia informou que foi o 22º assassinato em 10 dias.
Na Malásia, viralizou um videoclipe que mostrou dois gays assumidos sendo agredidos violentamente por um grupo de pessoas. Foi apenas um de vários incidentes violentos recentes contra a comunidade LGBTQ local. Em resposta a uma série de assassinatos de mulheres trans, dezessete organizações representando mulheres, jovens, refugiados, pessoas LGBTQ, entre outros, uniram esforços para divulgar uma nota pedindo que a polícia aja rapidamente e realize uma “investigação rigorosa, imparcial e objetiva”.
Escrevendo no Globe and Mail, John Ibbitson examinou como o crescimento do populismo de extrema direita tem incentivado um ambiente “nós contra eles” que “demoniza” as minorias raciais, religiosas e sexuais. Jessica Stern, da OutRight Action International, explicou que quando as pessoas ouvem “pessoas em posições de poder criminalizando, demonizando, desumanizando a população LGBTIQ, começam a acreditar que não somos 100% humanos. E então é claro que ocorre um aumento da violência contra as comunidades.”
Escrevendo para o Advocate, Wayne Besen, diretor executivo da organização TruthWins Out, também refletiu sobre a popularidade de líderes autoritários”. Argumenta que os métodos tradicionais de advocacy são “insuficientes para fazer frente aos desafios e às demandas da realidade política Orwelliana atual”:
“Não basta mais tentar promover nossos direitos por meio da educação e do advocacy tradicional. Precisamos também estar na vanguarda da promoção e sustentação das instituições democráticas e das sociedades abertas que nos permitiram avançar.”
Já no Reino Unido, vários jornalistas questionaram uma tendência de linguagem anti-trans nos principais meios de comunicação. O Pink News elencou algumas das manchetes recentes dos jornais The Times, Telegraph, Guardian, Metro, Sun (entre outros) contendo linguagem contrária às pessoas trans—chamando-as de “extremistas” e “intimidadoras” e perpetuando a ideia que os direitos trans são conquistados em detrimento dos direitos das mulheres e das crianças. Alguns desses jornais também publicaram artigos em apoio das pessoas trans, e um grupo de publicações de alto nível para mulheres lésbicas, bissexuais e queer divulgou uma nota contendo uma "mensagem intransigente de apoio” à comunidade trans. No entanto, há quem tema que o estrago já tenha sido feito. Uma matéria publicada no The Times chamou o Mermaids, um grupo de apoio para jovens trans, de “ONG agressiva” que promove a “mudança de sexo de crianças”. Logo em seguida, o fundo que gerencia as contribuições do Reino Unido a causas beneficentes divulgou um release para a imprensa informando que estava reconsiderando o financiamento de £500.000,00 ao Mermaids devido a um “leque de correspondência” recebido do público.
Ventos de mudança: Patrick Strudwick entrevistou um grupo das principais estudiosas feministas que acreditam que o feminismo deveria incluir os direitos das pessoas trans. Na matéria abrangente, examinaram a tendência de sentimentos transfóbicos, especialmente no Reino Unido, e as ideias contraditórias abraçadas pelas feministas contrárias à questão trans. Em um exemplo, a professora Akwugo Emejulu, da Universidade de Warwick, descreveu:
“Um dos embasamentos do feminismo é a ideia da autonomia corporal, que as pessoas de fora não podem falar para você o que pode e não pode fazer com o corpo. Assim, não é claro para mim porque aquele princípio não se estende às pessoas trans.”
No Japão, o grupo publicitário Dentsu Inc. realizou uma pesquisa com 60 mil pessoas e mostrou que 72% acharam que as proteções para a comunidade LGBT deveriam ser mais fortes e 80% queriam entender melhor a comunidade. 8.9% dos respondentes da pesquisa se identificaram como sendo LGBT.
Na China, Sue-Lin Wong e o fotógrafo Jason Lee documentaram casais de gays e de lésbicas utilizando tecnologias reprodutivas para poder ter filhos e gerar suas próprias famílias.
James Kirchiack detalhou as origens da terapia de conversão nos EUA e também os esforços para que se deixe de tratar como doença a atração sexual por pessoas do mesmo sexo. Kirchiack voltou até a década de 1950 e às obras escritas do astrônomo Frank Kameny, que certa vez declarou:
“Sim, estamos doentes (em inglês a palavra “sick” pode significar doente ou farto dependendo do contexto)—estamos fartos de vocês nos manipularem e explorarem.”
Escrevendo para o Bustle, Mika Doyle explorou como empregadores e funcionários podem apoiar colegas trans no local de trabalho, tomando consciência da linguagem que utilizam, se recusando a tolerar a transfobia eventual e proporcionando ambientes inclusivos de trabalho.
Em marcha: No Quênia em dezembro, refugiados LGBTQI foram atacados em frente ao escritório da ONU enquanto tentavam entregar um abaixo-assinado ao ACNUR. Há vários anos, os refugiados, a maioria dos quais é ugandense, vêm fazendo protestossobre a forma como são tratados no Quênia, onde também é crime ser gay. Em junho do ano passado, cerca de 600 pessoas participaram do primeiro evento do Orgulho do Campo de Refugiados em Kakuma para aumentar a sensibilização quanto à sua situação. Contudo, seus esforços resultaram em ameaças de morte afixadas abertamente em várias partes do campo. Desde então a ONU relocou cerca de 200 dos mais de 750 refugiados LGBTQI cadastrados no Quênia. No entanto, a Reuters noticiou que a nova casa segura foi descrita como sendo superlotada e insegura.
A Fundação Thomson Reuters publicou um relato pessoal de Geoffrey Kasenene, um refugiado que mora no campo de Kakuma.
A Coalizão de Refugiados da África Oriental formou uma parceria com a All Out para proporcionar a empreendedores refugiados LGBTQI orientação e apoio financeiropara abrir pequenos negócios. Até agora já apoiaram quatro pessoas para que tenham um meio de subsistência sustentável e seguro.
No Reino Unido, o grupo Lesbians and Gays Support the Migrants - LGSMigrants(Lésbicas e Gays Apoiam os Migrantes) trocaram centenas de anúncios publicitários no metrô de Londres por placas pedindo para o público tomar medidas em caso de ver migrantes sendo retirados à força do país. A campanha “Viu, Denuncie, Acabe com isso” incentiva os passageiros em voos comerciais a se levantarem e se recusarem a se sentar caso vejam uma deportação acontecendo.
Em matéria para a Reuters, Oscar Lopez entrevistou pessoas LGBT+ em busca de asilo na Argentina e no Brasil sobre os desafios que enfrentam na América do Sul.
Esportes e cultura: A Apple, a Microsoft e a Amazon retiraram de suas lojas um aplicativo que tacha de vício nefasto a atração por pessoas do mesmo sexo e oferece uma terapia de conversão autoaplicada para “curar” as pessoas da doença “pecaminosa”. No início de janeiro, o aplicativo ainda estava disponível no GooglePlay.
A BBC anunciou que contratou o jornalista Ben Hunte para ser seu primeiro "correspondente LGBT" com foco na análise de matérias LGBT. E em dezembro, Patrick Strudwick, Editor LGBT do Buzzfeed, recebeu o Prêmio do Jornalismo Britânico na categoria de "Jornalismo Especializado" por seu artigo sobre a terapia de conversão. Ao receber o prêmio, Strudwick refletiu:
“Eu nunca pensei que eu poderia ser jornalista, porque quando eu era adolescente eu lia os jornais e diziam que pessoas como eu são bichas, que representamos um perigo para as crianças e que merecemos morrer de AIDS. Assim, poder ter um emprego que me permite expor o que o falso moralismo e o ódio fazem para nossa comunidade é algo extraordinário.”
O Balé de Paris anunciou que vai substituir Sergei Polunin como principal bailarino no "Lago dos Cisnes" porque fez comentários homofóbicos nas mídias sociais.
Em matéria no them, Jon Shadel ofereceu uma lista dos dez melhores livros queer de 2018, entre peças de ficção, não ficção, ensaios e poemas. Sabina Khan conversou com a NBC sobre seu altamente elogiado primeiro romance The Love & Lies of Rukhsana Ali (O amor e as mentiras de Rukhsana Ali) sobre uma mulher muçulmana enviada para o Bangladesh para ficar longe das influências ocidentais.
A Netflix anunciou que vai relocar para o estado da Carolina do Sul a produção da série de TV "OBX" sobre uma comunidade litorânea nas famosas ilhas de Outer Banks no estado da Carolina do Norte. A produção, que tem orçamento de $60 milhões, vai sair da Carolina do Norte devido à lei estadual anti-LGBTQ, a House Bill 2. Embora trechos da lei tenham sido revogados, ainda contém disposições problemáticas.
Na França, cerca de 70 celebridades se uniram para gravar a canção “De l'Amour” (Do Amor) para protestar contra o ressurgimento de ataques homofóbicos no país. As vendas da música serão revertidas para apoiar a organização Urgence Homophobie e seu trabalho com refugiados LGBTQI+. Confira o vídeo da música.