Olhar para a Igualdade: 05 de fevereiro de 2019

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“Sempre podemos ter opiniões diferentes. Mas não podemos de forma alguma manter o direito de insultar as pessoas ou de incitar o ódio com base na sua orientação sexual. Estes são verdadeiros delitos.”

~ Mathias Reynard, do Conselho Nacional da Suíça


Da ONU: A Alta-Comissária da ONU para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, participou do 48º Fórum Econômico Mundial (FEM) na Suíça.  O FEM reúne figuras públicas, autoridades governamentais e líderes do mundo corporativo, da sociedade civil, da cultura e das artes que "tenham força de vontade e influência para fazer mudanças positivas". Este ano o palco principal destacou o lançamento de uma nova iniciativa global para as empresas acelerarem a inclusão das pessoas LGBTI.  Apoiada pelo ACNUDH, a “Parceria pela Igualdade LGBTI Global” objetiva operacionalizar as Normas de Conduta LGBTI das Nações Unidas para o local de trabalho até 2020.

O PNUD publicou um novo relatório sobre minorias sexuais e de gênero no contexto dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). Os autores fizeram uma revisão de mais de 500 publicações, entrevistaram atores-chave e participaram de eventos e de consultas nacionais. Sua análise identificou muitas metas dos ODS nas quais as minorias sexuais e de gênero ficaram marginalizadas ou desafiadas de outra forma. Observando que “cada uma dessas questões influencia as demais”, o relatório inclui um conjunto de recomendações que devem ser priorizadas por financiadores dos setores público e privado, agências multilaterais e outros influenciadores de políticas para apoiar a inclusão de pessoas LGBTI no desenvolvimento.

Vários grupos dentro da ONU estão em busca de informações sobre experiências de discriminação, violência e outras violações dos direitos humanos sofridas por pessoas e organizações LGBTI. Esses depoimentos ajudarão a aumentar a visibilidade, identificar lacunas em práticas atuais e orientar a criação de novas políticas. O Grupo de Trabalho de Especialistas sobre Afrodescendentes está buscando informações de pessoas LGBTI que tenham interseccionalidade com racismo, xenofobia e intolerância correlata.  O Grupo de Trabalho sobre a Utilização de Mercenários enquanto Meio de Violação dos Direitos Humanos  está buscando informações sobre gênero e orientação sexual dentro de empresas militares e de segurança privadas. E o Relator Especial sobre o Direito Humano à Água e ao Saneamento quer saber como o acesso inadequado à água, ao saneamento e aos banheiros em locais públicos e no local de trabalho impacta as pessoas LGBTI, pessoas sem-teto, pessoas que trabalham na rua, crianças e idosos, mulheres e pessoas com deficiência. 

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HIV, saúde e bem-estar: De Singapura houve notícias de um vazamento massivo de dados do cadastro do governo sobre HIV. Os dados sigilosos de 14,2 mil pessoas com HIV (singapurenses e estrangeiras) foram revelados online. O ministério da saúde admitiu que soube em 2016 que os dados haviam sido acessados por um cidadão dos EUA que morava no país. O ministério afirmou que os dados tiveram proteção adicional a partir de 2016; contudo, outra invasão dos dados do sistema de saúdeocorreu em julho do ano passado. A fundadora do grupo local de direitos LGBT+ "Sayoni", Jean Chong, alertou que o vazamento poderia “relegar mais pessoas à clandestinidade”.

No Quênia, os jornais noticiaram que o governo fez uma emenda à Lei de Registro de Pessoas Físicas para exigir que todas as pessoas forneçam dados biométricos, incluindo o DNA e as coordenadas geográficas (GPS) de sua residência. Os dados serão utilizados para emitir um número exclusivo de identidade para cada cidadão e para monitorar o acesso a serviços governamentais. Em ocasião anterior, a organização Kenya Key Population Consortium conseguiu impedir a coleta desses dados para pesquisas sobre HIV. O relatório elaborado pela organização, “Todo mundo diz não” detalhou os riscos que os vazamentos de dados podem representar para a comunidade. O ativista Denis Nzioka explicou por que o Ministério da Saúde quer utilizar a biometria na vigilância do HIV e o que isto poderia significar para aqueles com alto risco de contrair o vírus.

Também no Quênia, Jeffrey Walimbwa, da organização ISHTAR MSM, falou sobre como prestar serviços em HIV a homens gays e outros homens que fazem sexo com homens, e pessoas trans. Walimbwa destacou a importância da simplificação e adaptação desses serviços para superar as muitas barreiras diferentes enfrentadas por esta comunidade.

Em Mianmar, pesquisadores examinaram o que impede homens e mulheres trans que ocultam sua orientação sexual ou identidade de gênero de acessar a testagem e o aconselhamento em HIV. Em artigo publicado no BMC Health, os autores identificaram a sobreposição de muitas barreiras à atenção à saúde. Entre suas sugestões, recomendam o fortalecimento da capacidade de educadores de pares para poder apoiar melhor os homens trans “escondidos” e as mulheres trans “escondidas”, bem como capacitações de sensibilização para os profissionais da rede de serviços de saúde para que os indivíduos possam receber atenção ao HIV e à saúde sexual nas clínicas gerais. 

No Vietnã, o hospital público Binh Dan estabeleceu um espaço reservado para oferecer atenção à saúde de pacientes LGBT incluindo à saúde sexual, atenção na transição e apoio à saúde mental, livres de discriminação. 

Na Malásia, um novo estudo entrevistou um amplo grupo de médicos nos centros de saúde da University Malaya (UM) e na Universiti Teknologi MARA (UiTM) sobre sua disposição em atender pacientes HIV positivos. Publicado no AIDS and Behavior, o estudo mostrou que 53,5% dos médicos indicaram alguma intenção de discriminar. Contudo, os achados também sugeriram que o contato maior com pessoas com HIV pudesse estar associado a atitudes mais favoráveis para com as mesmas.

Na Austrália, o Centre for Sex, Health and Society divulgou um novo relatório investigando como as pessoas LGBTI+ acessam os serviços de atenção e apoio à saúde mental. Os resultados mostraram que 71% das pessoas não acessam qualquer tipo de serviço de apoio quando sofrem uma crise de saúde mental porque têm medo de ser discriminadas. Como explicou um dos entrevistados, mesmo os profissionais de saúde bem-intencionados podem ter um impacto negativo na saúde mental:

"As chances de eu ser atendido por alguém bem-intencionado—porém ignorante—são altas, e mesmo um pequeno deslize, ou mal-entendido por parte dessa pessoa... poderia ser a gota d’água que acabe com minha determinação de não me automutilar."

Nos EUA, Perry Cohen, fundador do Projeto Venture Out, doou $1,5 milhões à Harvard para estabelecer a Iniciativa pela Equidade da Saúde das Minorias Sexuais e de Gênero. Cohen, que é transgênero, foi motivado a doar após não ter conseguido encontrar um médico na vizinhança capacitado para atender às pessoas trans e não-binárias. A Rádio Pública Nacional (NPR) entrevistou estudantes de medicina em diversos locais do país que se sentem despreparados para atender pacientes LGBTQ e que estão pedindo que suas faculdades aprimorem os currículos

Williams Institute e o CDC dos EUA publicaram no LGBT Health dados de um novo relatório que mostraram que todas as pessoas jovens que moram em estados onde a orientação sexual é mencionada especificamente nas leis contra o bullying tinham mais probabilidade de se sentirem seguras na escola e menos probabilidade de terem tentado suicídio que aquelas que moravam em outros estados. Os dados mostraram que mesmo naquelas escolas, jovens das minorias sexuais vivenciam ideação suicida e tentativas de suicídio mais que seus pares heterossexuais. Os pesquisadores concluem que leis inclusivas contra o bullying melhoram a situação de todas as crianças, mas que é preciso fazer ainda mais para apoiar a juventude LGBTQ. 

Na Austrália, o Departamento de Saúde encerrou recentemente sua consulta públicasobre a proposta de proibir os nitritos de alquila—os produtos químicos utilizados para fabricar “poppers”, um inalante bastante usado para tornar a relação sexual menos dolorida. Várias organizações que trabalham com HIV  se opuseram à proibição e o Nitrite Action Group desenvolveu um guia para ajudar gays e bissexuais masculinos a apresentarem suas objeções.

Enquanto alguns especialistas em saúde afirmam que o uso de poppers representa um risco mínimo à saúde, não se pode falar o mesmo das substâncias químicas utilizadas em “chemsex” (uso de drogas sintéticas no ato sexual) , como o GHB, a metanfetamina e a mefedrona. No Reino Unido, dois profissionais de saúde sexual publicaram o Chemsex First Aid, um livreto sobre o que fazer em emergências relacionadas ao chemsex, incluindo como reconhecer níveis perigosos de intoxicação, consentimento sexual, e primeiros socorros gerais que podem ser úteis em situações sexuais. Na Tailândia, a APCOM divulgou um livreto chamado Safer Hi-Fun Guidance para reduzir os riscos do chemsex. No Reino Unido, a emissora de TV Channel 4, a Buzzfeed e o Terence Higgins Trust lançaram uma pesquisa anônima para avaliar o uso do GHB por homens gays e bissexuais que vai subsidiar a criação de um novo documentário. Já alguns gays profissionais do sexo dizem que pretendem ajudar as pessoas a redescobrirem e desfrutarem do “sexo sóbrio”.

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Do mundo da política: A Assembleia Nacional de Angola aprovou um novo Código Penal com votação quase unânime que entrará em vigor em 90 dias. Entre as mudanças, a organização Human Rights Watch noticiou que foi retirado do código a disposição sobre “vícios contra a natureza”, que criminalizava as atividades sexuais entre pessoas do mesmo sexo, e que foram incluídas proteções contra a discriminação por orientação sexual. Deverá ser divulgada em breve a versão final do código com a redação aprovada, a qual não está disponível por enquanto.

Na Suíça, o partido político União Democrática Federal (UDF) lançou um referendo contra alterações recentes ao código penal que proibiram a discriminação por orientação sexual e identidade de gênero. O partido alega que a nova lei é um ataque contra a liberdade de expressão visto que penaliza "opiniões legítimas". A UDF precisa coletar 50 mil assinaturas para que o referendo possa tramitar. O parlamentar Mathias Reynard, que apresentou a emenda pela primeira vez há cinco anos, chamou o argumento de “infundado”, afirmando:

“Sempre podemos ter opiniões diferentes. Mas não podemos de forma alguma manter o direito de insultar as pessoas ou de incitar o ódio com base na sua orientação sexual. Estes são verdadeiros delitos.”

No Reino Unido, o Departamento das Igualdades lançou um processo de coleta de informações sobre as experiências enfrentadas por pessoas intersexo e outras pessoas com variações nas características sexuais. O Departamento está pedindo que indivíduos, famílias e profissionais compartilhem suas experiências, inclusive em relação a serviços de saúde, educação, serviços de apoio, e discriminação. A Ministra das Igualdades, Baronesa Williams, acrescentou:

“É preocupante pensar que pessoas no Reino Unido possam ter medo de consultar o médico ou sintam que não possam participar na escola porque não estão recebendo o apoio que precisam ou merecem. Todas as pessoas neste país têm direito à educação, à atenção à saúde e a levar a vida cotidiana sem intrusão ou medo de humilhação.”

Nos EUA, o Departamento de Saúde e Serviços Humanos (HHS) anunciou que está prestes a finalizar a norma sobre a “Proteção dos Direitos Estatutários de Consciência nos Serviços de Saúde”, noticiou a Rewire News. A versão preliminar, que foi publicada há um ano, permite que os profissionais de saúde possam se recusar a fornecer tratamento, fazer encaminhamentos ou auxiliar com procedimentos caso tais atividades violem suas convicções religiosas ou morais já afirmadas. Quando da publicação da versão preliminar, a NBC investigou o impacto que poderia ter no acesso das pessoas LGBTQ à atenção à saúde. A organização Human Rights Watchdivulgou uma carta aberta ao Secretário do HHS explicando como a norma proposta poderia prejudicar o direito das pessoas à saúde e as objeções que muitas mulheres e pessoas LGBTQ têm em relação à norma. A NBC citou o diretor do Escritório de Direitos Civis do HHS, Roger Severino, que explicou por que o governo a criou:

“Leis que protegem os direitos de liberdade e consciência religiosa são apenas palavras vazias no papel, caso não sejam aplicadas.”

A Assembleia Nacional da Armênia elegeu os presidentes das 11 comissões permanentes, incluindo a seleção de Naira Zohrabyan como presidente da Comissão de Direitos Humanos e Assuntos Públicos. Antes da votação, Zohrabyan prometeu para a Assembleia que daria atenção aos direitos das minorias sexuais e que se elas procurarem atendimento, suas preocupações serão discutidas da mesma forma que as preocupações de qualquer outra pessoa.

Comissária do Conselho Europeu para os Direitos Humanos, Dunja Mijatović, publicou o relatório de sua visita à Armênia. No relatório, ela recomenda que o país adote uma lei abrangente contra a discriminação com referência específica à orientação sexual e identidade de gênero. 

Na Polônia, Robert Biedron, ex-prefeito gay assumido de Slupsk, lançou um novo partido político que quer reforçar a  separação entre a igreja e o estado, efetivar a remuneração igual para as mulheres, reconhecer as parcerias entre pessoas do mesmo sexo, reduzir a poluição do ar, além de outros ideais progressistas. Anunciando o partido, "Wiosna" (Primavera), a uma multidão de milhares de pessoas, Biedron afirmou:

O valor mais importante que temos é o de comunidade. Não queremos mais que os poloneses estejam em guerra contra si mesmos. Queremos o respeito mútuo e o diálogo.”

O único deputado federal gay assumido do Brasil, Jean Wyllys, informou ao jornal Folha de S. Paulo que foi para um local não revelado fora do país por estar recebendo cada vez mais ameaças de morte e por causa do clima de retórica acalorada e violência contra a comunidade LGBT. O vereador David Miranda, que também é gay assumido, ocupará o lugar de Wyllys no Congresso.

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A política e o casamento: Na República Tcheca, o parlamento começou a apreciar uma emenda ao Código Civil para permitir que parceiros/as do mesmo sexo possam se casar. Atualmente, os casais somente podem requerer a parceria civil, a qual não proporciona os mesmos direitos e as mesmas proteções que o casamento. Também está sendo discutido um projeto de lei contrário que definirá o casamento como sendo exclusivamente entre um homem e uma mulher. O ativista Radek Konečný comentou:

“A República Tcheca tem uma oportunidade ímpar para se tornar o primeiro país pós-comunista a legalizar o casamento entre pessoas do mesmo sexo e se colocar entre a parte moderna do mundo.”

No Chile, um casal de dois gays entrou com ação no Tribunal de Apelações contra o Serviço de Registro Civil por negar-lhes o direito de se casar. A advogada Mónica Arias apontou para a decisão recente da Suprema Corte de que todo habitante do país tem o direito de se casar e, assim, vão argumentar que o casamento deveria ser permitido a todas as pessoas independente da orientação sexual.

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Que os tribunais decidam:
 No Egito, um tribunal condenou o apresentador de TV Mohamed al-Ghaity por desacato à religião e incitação à devassidão pela entrevista que fez com um gay no ano passado. Embora al-Gheiti tenha se manifestado contra a homossexualidade, foi condenado a um ano de prisão por “incentivar a prática” de ser gay. A decisão poderá ser suspendida se pagar a fiança de mil libras egípcias. 

Nos EUA, o jornal New York Times noticiou que em uma decisão de 5 a 4, a Suprema Corte derrubou duas de três liminares que impediam que entrasse em vigor a proibição de pessoas trans nas forças armadas enquanto os tribunais avaliam se a proibição é legal. Várias ações contra a proibição estão tramitando nos tribunais distritais e juízes anteriores ficaram divididos quanto à autorização da proibição. O terceiro tribunal distrital ainda não decidiu sobre a última liminar.

Na Macedônia, um homem trans levou seu país ao Tribunal Europeu dos Direitos Humanos porque, apesar de tentar durante muitos anos, não conseguiu mudar na justiça o registro do seu gênero sem fazer a cirurgia de redesignação sexual—também conhecida como esterilização. O Tribunal decidiu a favor do homem trans. Afirmou que pelo fato da Macedônia não possuir um processo para o reconhecimento legal pleno do gênero de uma pessoa que seja "rápido, transparente e acessível", infringiu o Artigo 8º da Convenção Europeia dos  Direitos Humanos que garante o direito do respeito à vida privada e à vida familiar.

A Suprema Corte do Japão decidiu por unanimidade contra um homem trans que alegou que a lei de reconhecimento do gênero do país é inconstitucional porque requer que seja esterilizado para poder mudar oficialmente o gênero e viola seu direito à autodeterminação. Embora tenham mantido a lei, dois dos ministros observaram que “é inegável que dúvidas estão surgindo” e recomendaram que a lei fosse revisada com frequência.

Tribunal Superior de Hong Kong manteve a política do governo que requer a realização completa da cirurgia de redesignação sexual antes da pessoa poder mudar legalmente o gênero. A ação foi movida por três homens trans que vêm vivendo como homens, retiraram os seios e estão em terapia hormonal, mas que não podem atualizar o gênero nos documentos de identificação devido à legislação atual.

Em Singapura, o ativista Bryan Choong entrou com ação na Suprema Corte argumentando que a lei que criminaliza o sexo entre homens é “inconsoante” com a constituição e “portanto sem efeito”. Em setembro do ano passado, o músico Johnson Ong Ming também impetrou uma ação contra a Seção 377A do Código Penal argumentando que é “absurda e arbitrária”. Ambas as ações estão pendentes.

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Sobre a religião: Na Índia, o Juna Akhara—um dos 13 Akharas oficiais (organizações de pessoas hindus santas e de disciplinas espirituais)— decidiu compartilhar ensinamentos espirituais e incorporar oficialmente o "Kinnar Akhara"—uma seita de transgêneros, hijras e pessoas do terceiro gênero. Ao integrar o Juna Akhara, o Kinnarpoderá participar de todas as futuras peregrinações hindus de massa (chamadas de Kumbh Mela). Pela primeira vez, foi permitido que o Kinnar participasse do “banho sagrado” no Sangam (o encontro dos rios Ganga e Yamuna). A Reuters entrevistou o líder do Kinnar Akhara, o ativista pelos direitos e celebridade Laxmi Narayan Tripathi. Em entrevista com repórteres locais, Laxmi disse:

“O estabelecimento do Kinnar Akhara se mostrou ser o caminho para reconquistar a antiga glória dos Hijras na Índia.

No Reino Unido, 100 sacerdotes anglicanos publicaram uma carta aberta condenando os bispos da diocese de Oxford por incentivarem o clero a apoiar e aceitar paroquianos LGBT. Em outubro do ano passado os bispos de Oxford, Dorchester, Reading e Buckingham divulgaram uma carta intitulada “Vistam-se com o amor”(Colossenses 3.14) que apresentou cinco princípios que levam à afirmação do lugar de cristãos LGBTI+ na fé e na igreja. Contudo, alguns sacerdotes rejeitam as ideias apresentadas por eles e acreditam que não representam sua interpretação do Novo Testamento, especialmente no que diz respeito à identidade de gênero, casais do mesmo sexo e pessoas LGBT não celibatárias. Conforme afirmam 

“Defender a intimidade sexual entre pessoas do mesmo sexo é ou uma expressão do amor de Deus ou cria um obstáculo para as pessoas entrarem no reino de Deus. Não pode ser as duas coisas.”

Em 2017 a Igreja Anglicana criou um grupo de trabalho para avaliar a posição da Igreja sobre sexualidade, presidido pelo Bispo de Newcastle. O objetivo do grupo de trabalho é desenvolver orientações intituladas “Vivendo em Amor e Fé” que serão apresentadas ao Sínodo Geral em 2020.

Durante a visita do Papa ao Panamá, manifestantes realizaram um beijaço na frente da igreja Del Carmen com placas dizendo “Nós existimos” e “Homofobia é pecado”. Um dos manifestantes falou para a AFP:

"Nosso apelo ao [Papa Francisco] é que está acontecendo aqui algo que é muito diferente do que ele prega.”

O Papa se reuniu com a primeira dama do Panamá, Lorena Castillo de Varela, e com o diretor executivo do UNAIDS, Michel Sidibé, em visita à Casa Hogar El Buen Samaritano (fundação Casa Lar o Bom Samaritano) para pessoas vivendo com HIV. O Papa falou contra a discriminação e Sidibé elogiou o trabalho da fundação, dizendo:

“As organizações religiosas como a Buen Samaritano têm uma capacidade maravilhosa de entrar na vida das pessoas mais difíceis de serem alcançadas e de romper as barreiras do estigma e da discriminação. As comunidades religiosas que se manifestam sobre o HIV podem nos levar mais próximos do fim da epidemia da AIDS.”

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Medo e ódio: A Rede Russa LGBT divulgou uma nota sobre seus esforços contínuos de retirar pessoas LGBT  alvo de uma nova onda de violência policial. O grupo pediu formalmente que o Comitê de Inquérito Federal da Rússia examinasse as novas prisões e mortes. Enquanto isso, foi divulgado online um vídeo que mostra a figura pública chechena Ali Baskhanov ameaçando machucar o diretor executivo da Rede, Igor Kochetkov, se ele “não parar e não deixar a República Chechena em paz”. O Observatory for the Protection of Human Rights Defenders (Observatório pela Proteção dos/das Defensores/as dos Direitos Humanos), uma parceria entre a Federação Internacional de Direitos Humanos (FIDH) e a Organização Mundial contra a Tortura, condenou as ameaças de morte, pediu uma investigação e fez um apelo para apoio.

Na Indonésia, o prefeito de Padang (capital da região Oeste da Ilha de Sumatra) informou a mídia local que ele estava utilizando o Exército Indonésio para fazer arrastões para prender pessoas LGBT. O site de notícias Tirto também citou o prefeito falando que fazem exorcismos para acabar com os espíritos que transformam as pessoas em gays.

Também na Indonésia, integrantes da Frente de Defensores do Islã (FPI), residentes locais e a polícia invadiram a sede da Organização Indonésia para Mudanças Sociais (OPSI) onde o grupo realiza sensibilização e prevenção ao HIV. O grupo de notícias Republika informou que os residentes estavam preocupados com “atividades estranhas” e suspeitavam que acontecessem “atividades LGBT” na sede. Depois de uma investigação feita pela Agência de Unidade Nacional e Política (Kesbangpol), a OPSI foi inocentada e as autoridades confirmaram que a organização tem o apoio do Ministério do Direito e dos Direitos Humanos.

Centros de apoio LGBTQ foram atacados na Espanha e na Itália. A sede do Gay Center em Roma teve prejuízo de cerca de €10 mil com a degradação. O Centro LGBTI Barcelona foi vandalizado apenas uma semana após a inauguração. Milhares de pessoas compareceram no local para demonstrar solidariedade e protestar contra o fascismo.

Em matéria para a Reuters, Nita Bhalla noticiou que 40 dos 200 refugiados LGBT realocados pela ONU para uma casa segura superlotada tiveram que ser hospitalizados depois de passarem mal. 

Nos EUA, Jussie Smollet, uma celebridade negra e gay assumido, bem conhecido por fazer o papel de um homem gay no show de sucesso Empire, foi atacado por dois homens mascarados que gritavam insultos racistas e homofóbicos. Smollet é ativista nas áreas de HIV, LGBT, racismo e educação e recentemente se prontificou a ajudar a levantar recursos para o Bennett College, uma faculdade tradicionalmente frequentada por mulheres negras. O ataque levou alguns dos fãs de Smollet a fazer doações à causa

O Projeto Anti-Violência explicou que muitas pessoas LGBTQ vivem em “interseções múltiplas de opressão”, observando que em 2017 70% das vítimas de homicídios LGBTQ nos EUA eram pessoas de cor. Enquanto muitas celebridades, políticos e fãs vêm prestando apoio, a família de Smollet divulgou uma nota pedindo para que também se reconheça que há violência contra pessoas que não são celebridades:

“Queremos que as pessoas entendam que estes crimes de ódio direcionados estão acontecendo com nossas irmãs, nossos irmãos e nossos colegas de gênero inconforme, muitos dos quais residem na interseção de identidades múltiplas todos os meses, todas as semanas e até todos os dias em todo nosso país. Muitas vezes acabando em fatalidade, são atos desumanos de terrorismo doméstico e devem ser tratados como tal.”

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Ventos de mudança: Na China, o Centro LGBT de Beijing comemorou seus 10 anos de existência. A organização sem fins lucrativos promove eventos culturais, disponibiliza testagem para HIV, aconselhamento sobre saúde mental, apoio jurídico, e educação em sexualidade.

Na Jamaica, o Forum for Lesbians, All-Sexual and Gays (J-FLAG) estimou que o incêndio ocorrido em sua sede em dezembro causou prejuízos de US$50 mil a US$60 mil. O J-FLAG, que acabava de comemorar seus 20 anos de existência, lançou uma campanha para arrecadar dinheiro para a reconstrução da sede.

No condado de Lancashire no Reino Unido, o corpo de bombeiros abriu um edital convidando mulheres, pessoas LGBT e pessoas de minorias étnicas a se candidatarem para serem bombeiros/as. Um porta-voz observou: "Os incêndios não discriminam, nós também não.”

O ativista, autor e sociólogo canadense, professor Gary Kinsman, descreveu a ligação histórica entre os povos indígenas e a comunidade LGBT. Kinsman fez paralelos entre o policiamento e a opressão contra ambos os grupos. Alertou contra um crescente desinteresse para com as pessoas marginalizadas:

“É muito importante que as pessoas LGBT brancas e colonizadoras se manifestem e apoiem os povos indígenas contra este tipo de racismo.”

Nos EUA, Laurel Morales explorou por que jovens LGBTQ do Povo Navajo estão tendo mais aceitação dos avôs e de outros anciões do que dos próprios pais. O ativista Navajo pelos direitos LGBT, Alray Nelson, explicou como o colonialismo distanciou os valores comunitários da aceitação, observando que no passado:

“Nas famílias Navajo tradicionais, o/a adolescente LGBTQ sendo criado no seio delas era um fato que as famílias celebravam. Diziam que éramos sagrados."

Em matéria para o jornal Guardian, Steven Grattan explorou como as organizações fazem para avaliar e medir atitudes nas cidades para com a comunidade LGBT.Algumas examinam a legislação contra a discriminação, o direito de se casar e o reconhecimento do gênero; outras incluem a aplicação da lei e o acesso a serviços públicos; outras ainda focam na população LGBT, vida noturna e segurança. Mesmo assim, Grattan reflete, “a experiência vivida por integrantes da comunidade LGBT pode revelar uma história dramaticamente diferente”.

A Jamaica sediou a 37ª edição do evento anual Caribbean Travel Marketplace, o maior evento de marketing da região do caribe. Durante uma coletiva de imprensa, o Diretor de Turismo da Jamaica, Donovan White, foi pressionado por jornalistas para explicar como o governo estava diminuindo "a percepção e reputação" de que o país é homofóbico. Embora a Jamaica continue criminalizando a atividade sexual entre pessoas do mesmo sexo, White insistiu que todos os visitantes são bem-vindos.

O grupo Equality Australia divulgou dados de uma nova pesquisa de opinião pública que mostrou que 72% dos eleitores australianos acreditam que os estudantes e professores LGBTQ em escolas confessionais devem ter proteção legal contra expulsão ou demissão.

Nos EUA, o CDC divulgou um novo relatório sobre adolescentes transgênero e suas experiências com base em dados do Estudo de Comportamentos de Risco na Juventude – 2017, realizado em 19 locais no país. Avaliando as respostas de 131.901 estudantes, o relatório mostra que em média 1 em cada 50 se identifica como transgênero. Os/as estudantes trans tinham muito mais probabilidade de relatar experiências de violência e bullying que seus pares cisgênero. Além disso, também tinham mais probabilidade de ter pensado ou tentado suicídio. Caitlin Clark, da Gay, Lesbian and Straight Education Network (GLSEN) observou que dados de vigilância como estes são essenciais para fundamentar mudanças em políticas públicas.

Mais sobre Ventos de mudança

 

Ambiente escolar: O projeto TransYouth da Universidade de Washington é um estudo de grande escala com duração de mais de 20 anos sobre gênero e expressão de gênero entre crianças dos EUA e do Canadá entre 3 e 12 anos de idade. A responsável pelo projeto, Dra. Kristina Olson, divulgou análise robusta dos primeiros dois anos de dados sobre um subgrupo de crianças de gênero inconforme. Olson e sua equipe observaram que as crianças que realizam a transição de gênero têm forte senso da identidade antes de fazer a transição. Olson explica a importância deste achado – contradiz a preocupação de algumas pessoas de que tratar uma criança como sendo de determinado gênero faz com que se torne trans. Russell Toomey da Universidade de Arizona comentou:

“Este estudo fornece fundamentação adicional para a orientação de que médicos e outros profissionais devem afirmar – e não questionar – o gênero expressado pela criança, especialmente no caso delas que têm identificação mais forte com o próprio gênero.”

No estado de Montana nos EUA, alguns estudantes do ensino médio de um colégio público descobriram que sites pró-LGBTQ na internet, incluindo os da Human RightsWatch e da GLAAD, foram censurados e tiveram o acesso bloqueado no colégio. O diretor de tecnologia do colégio informou o corpo docente que “filtros mais rigorosos da internet” iriam “melhorar a segurança da rede e ajudar a proteger os estudantes e os profissionais”. Noticiada primeiro por CounterPunch, a filtragem tem impacto em todo um leque de questões.

Mais sobre Ambiente escolar  

 

Esportes e cultura: A jornalista Trish Bendix ofereceu uma pesquisa aprofundada da “mídia LGBT” do passado e do presente em seguida ao fechamento de muitos grupos de destaque de notícias específicas sobre LGBT na língua inglesa. Ela faz perguntas difíceis sobre a necessidade da continuidade dessas publicações e sua capacidade de sobreviver. 

Autoridade de Radiodifusão da Zâmbia suspendeu o reality show "Lusaka Hustle", produzido por uma rede de TV do país. O Ministro de Assuntos Religiosos acusou o show de ter um personagem com “tendências homossexuais”. Representantes da Autoridade de Radiodifusão disseram que receberam "vários comentários do público" de que o show promovia um estilo de vida contrário aos valores da Zâmbia.

O astro do YouTube, Hbomberguy, arrecadou dinheiro para a organização de jovens trans, Mermaids do Reino Unido jogando o videogame "Donkey Kong 64" durante 57 horas, o qual ele transmitiu na Twitch—uma plataforma onde os espectadores podem interagir com os criadores dos vídeos. Amparado pelo apoio de um grande número de celebridades, incluindo o criador de videogames John Romero, o autor Neil Gaiman, Cher, a ativista Chelsea Manning e a deputada dos EUA Alexandria Ocasio-Cortez, ele arrecadou mais de US$340 mil. Ele foi motivado a levantar fundos após ter lido ataques à Mermaids nos meios de comunicação do Reino Unido UK e afirmou:

“Como pessoa vivendo na Grã Bretanha, considero que a discussão na mídia acerca desta questão no meu país, especialmente nos tablóides, está terrivelmente desinformada.”

Na China, o artista visual Wu Qiong foi inspirado por seu amigo Lin He, um policial gay, a protestar contra a terapia de conversão. Wu criou “outdoors rolantes” nas laterais de três caminhões com a mensagem:

“Tratar uma ‘doença’ que não existe... A classificação chinesa de distúrbios mentais ainda inclui o ‘distúrbio de orientação sexual’... Há 19 anos, por quê?”

Os caminhões vão visitar hospitais e clínicas onde se sabe que a prática ocorre, segundo organizações LGBT.

O ativista taiwanês Jay Lin foi selecionado pela Newsweek como um de 15 inovadores que “desenvolveram soluções criativas aos problemas que nosso mundo enfrenta”.Jay Lin é diretor do Festival Internacional de Filmes Queer de Taiwan e sua plataforma de streaming LGBT parecida com o Netflix, GagaOOLala, anunciou recentemente que vai lançar conteúdos para Hong Kong, Japão,  Filipinas e Vietnã.

No Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto (27 de janeiro), foram muitos que prestaram homenagem a todas as vítimas, incluindo as pessoas LGBT perseguidas pelos nazistas. Confira esta história vivida por Dorian Alexander e Levi Hastings de comemoração à vida real de Gad Beck, um judeu gay que trabalhou  heroicamente para salvar pessoas em Berlim.

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