Olhar para a Igualdade: 28 de junho de 2018

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"Hoje, uma história vergonhosa de patologização, institucionalização, “conversão” e esterilização começa a se encerrar."

Pronunciamento sobre a atualização da CID-11 pela OMS, feito por GATE, AKAHATA, TGEU, APTN, ILGA, Post-Soviet Trans* Coalition, Iranti.org,  STP International Campaign Stop Trans Pathologization


Da ONU: A OMS aprovou a mais recente revisão da Classificação Internacional de Doenças (CID), a qual fornece uma base para a identificação de tendências em saúde e uma linguagem comum para profissionais de saúde do mundo inteiro. A CID-11 estabelece uma mudança significativa, retirando o “transexualismo” da classificação de Transtornos Mentais e Comportamentais. No seu lugar, foi acrescentado o termo “incongruência de gênero” às “Condições Relacionadas à Saúde Sexual”. A Dra. Lale Say da OMS explicou que a mudança reduzirá o estigma contra as pessoas trans. O Diretor Executivo do UNAIDS, Michel Sidibé, comentou que a alteração aumentará o acesso aos serviços de saúde por pessoas trans.

Na 38ª sessão do Conselho de Direitos Humanos, o Alto Comissário da ONU para os Direitos Humanos, Zeid Ra'ad Al Hussein, que não se candidatará a um segundo mandato, apresentou suas “reflexões finais” sobre os direitos humanos universais. Entre seus comentários, observou que os Estados deverão encontrar um meio para cooperar entre si, afirmando que considerou “deplorável” a recusa explícita de alguns Estados de trabalhar com o Especialista Independente sobre Orientação Sexual e Identidade de Gênero:

“Proteger todos os seres humanos, incluindo a comunidade LGBTI, não está ‘fora’ do marco legal internacional; acabar com a discriminação e a violência contra todas as pessoas, em todos os lugares, é absolutamente central aos nossos princípios e ao nosso trabalho.”

Antecipando seu primeiro discurso ao Conselho de Direitos Humanos, o Especialista Independente, Victor Madrigal-Borloz, disse que iria focar na proibição da “terapia de conversão” e na revogação de leis discriminatórias. O relatório que apresentou ao Conselho enfatizou que fatores interseccionais impactam de formas diferentes as pessoas LGBT e pessoas de gênero inconforme. Também examinou as “causas primárias” da violência, incluindo “o estigma e preconceito profundamente arraigados reforçados por leis discriminatórias” e a ligação entre o discurso de ódio, os crimes de ódio e a mídia:

“Negar este fato é ofensivo à dignidade das pessoas atingidas, e também à consciência global. A oposição à tomada de ação para proteger [pessoas LGBTI] fere a lógica e invalida qualquer justificativa.”

A 94ª reunião plenária da 72ª sessão da Assembleia Geral tratou da implementação da Declaração de Compromisso sobre HIV/AIDS da ONU. O Secretário-Geral, António Guterres, observou que o progresso continua sendo “frágil e desigual”. O Presidente da Assembleia Geral, Miroslav Lajčák da Eslováquia, pediu mais ações e afirmou, “Estamos no caminho certo e devemos ser esperançosos, porém nunca complacentes.” Entre as delegações dos países, o Canadá enfatizou os esforços em prol dos grupos marginalizados, incluindo as pessoas LGBTI. 

O UNAIDS lançou uma nova campanha “Respeito e Dignidade” para promover a criação de comunidades saudáveis e prósperas. A campanha inclui um site interativo na internet com vídeos e um quadro para mensagens nos quais as pessoas são incentivadas a compartilhar o que o tema da campanha significa para elas. 

O programa do PNUD Ser LGBTI na Ásia promoveu um diálogo nacional de dois dias na Tailândia para avaliar avanços recentes e desafios persistentes rumo à inclusão das pessoas LGBTI. O evento contou com a participação de mais de 80 representantes da sociedade civil e de organizações religiosas, órgãos governamentais, agências da ONU, organizações internacionais e da mídia.

O PNUD e a Organização Internacional do Trabalho (OIT) publicaram um novo estudo sobre as pessoas LGBTI e o emprego. O estudo revelou que um número significativo de pessoa na China, nas Filipinas e na Tailândia relatam ser assediadas, sofrer bullying ou ser discriminadas no local de trabalho devido à orientação sexual, identidade/expressão de gênero e características sexuais.

O Banco Mundial divulgou um novo estudo sobre o impacto da discriminação contra LGBTI no desenvolvimento econômico, com base em pesquisas em campo na Sérvia. O estudo revelou ser três vezes maior a probabilidade de “meninos afeminados” terem matrícula recusada em escolas públicas, e que um em cada cinco casais do mesmo sexo tem a locação de um apartamento negada.  

Mais sobre a ONU
 

HIV, Saúde e Bem-Estar: No mês do Orgulho LGBTI, a campanha U = U (Undetectable = Untransmittable) (Indetectável = Intransmissível, em português) relembra à comunidade que as pessoas HIV positivas com carga viral indetectável não transmitem o HIV. A Fundação de AIDS da Nova Zelândia divulgou um vídeo bem-humorado para ajudar a espalhar a mensagem. E no Reino Unido a seguradora Emerald Life lançou uma nova apólice de seguro de viagem que afirma que as pessoas com HIV não precisam informar que têm este quadro clínico, contanto que estejam aderidas à terapia antirretroviral e tenham carga viral indetectável. 

No Zimbábue, durante o evento “Um Milhão de Homens Circuncidados”, o Ministro da Saúde e da Assistência à Infância, Dr. David Parirenyatwa, anunciou que o governo lançou uma campanha sobre PrEP voltada para as pessoas com alto risco de contrair o HIV.

Um estudo realizado no Quênia e em Uganda revelou que o perfil das pessoas que aderem cedo à PrEP tende a ser de pessoas do sexo masculino, mais maduras e em relacionamentos sorodiscordantes.

Um novo estudo com quase 17 mil homens australianos revelou que o uso do preservativo diminuiu "rapidamente" durante a implementação abrangente da PrEP financiada com recursos públicos. Os pesquisadores observaram que o uso do preservativo diminuiu mesmo entre aqueles que não tomavam a PrEP e sugeriram que é possível que as pessoas tenham a percepção de que haja menos risco quando há alto uso da PrEP dentro da comunidade.

Nos EUA um novo estudo publicado na revista Clinical Infectious Diseases mostrou que muitos profissionais de saúde “perderam oportunidades” de receitar a PrEP para indivíduos em alto risco, especialmente mulheres e homens negros e hispânicos.  Já um relatório publicado na revista AIDS and Behavior revelou que um terço dos homens jovens nos EUA que iniciaram a PrEP interromperam o tratamento dentro de seis meses. As três principais razões apresentadas para desistência foram a falta de acesso a consultas médicas, problemas de seguro saúde, e não se perceber mais como estando em risco. 

Um novo estudo publicado na revista Lancet sugere que a PrEP injetável de ação prolongada poderia reduzir significativamente novas infecções pelo HIV, porque facilitaria a adesão das pessoas ao esquema de uso.

Um novo estudo no Reino Unido mostrou que os homens que escondem a sexualidade têm alto risco de contrair o HIV, em parte porque têm mais probabilidade de escolher parceiros que também não são assumidos e provavelmente não se percebam como estando em risco. Os pesquisadores concluem que campanhas de prevenção precisam ser dirigidas aos homens não assumidos que têm pouca probabilidade de ter contato com os esforços de abordagem e prevenção voltados para gays e homens bissexuais assumidos.

Na Nigéria, apesar das leis que proíbem a oferta de serviços aos homens que fazem sexo com homens,  a pesquisa TRUST (Centro Comunitário de Confiança para Reduzir as Infecções por HIV através do Envolvimento de Redes de Amigos e Parceiros para apoio ao Sexo Seguro) fornece atendimento clínico em HIV a gays, homens bissexuais, outros homens que fazem sexo com homens, e pessoas trans.

Nos EUA, o CDC anunciou que a cidade de Miami, na Flórida, tem a maior taxa per capita de novas infecções por HIV de todas as cidades dos EUA. Os centros de saúde e as campanhas comunitárias estão lutando contra a burocracia para alcançar comunidades de culturas diversas e marcadas por divisões raciais, incluindo gays, imigrantes, pessoas que injetam drogas e pessoas sem-teto.

Um gel lubrificante inovador está sendo testado que preveniria o HIV, o HPV e a herpes simples. O gel já chegou ao estágio dos ensaios clínicos e será testado quanto à segurança retal e vaginal em homens e mulheres transgênero e cisgênero.

No Reino Unido, a Public Health England (PHE) noticiou que no último ano os casos de gonorreia aumentaram em 22% e os casos de sífilis em 20%—alcançando os maiores níveis dos últimos 30 anos. A PHE observou que a sífilis estava “concentrada sobremaneira” em gays e outros homens que fazem sexo com homens.

O Ministério da Saúde das Ilhas Bermudas emitiu um alerta público de que os casos de gonorreia triplicaram e que os casos de clamídia, herpes e sífilis continuaram a aumentar no último ano. No Canadá, os Serviços de Saúde da Província de Albertaanunciaram um aumento súbito nos casos de sífilis e gonorreia e recomendaram que as pessoas de todas as idades praticassem o sexo seguro.

A revista Economist examinou por que as infecções sexualmente transmissíveis nos EUA, incluindo sífilis, gonorreia e clamídia, aumentaram marcadamente na última década. 

A revista Medical Journal of Australia publicou as primeiras diretrizes do país para o padrão de atendimento e tratamento de crianças e adolescentes trans e diversas de gênero. As diretrizes foram elaboradas por médicos especialistas, com contribuições da comunidade trans e de organizações relevantes de apoio, e foram endossadas pela Associação de Atenção Profissional à Saúde das Pessoas Trans da Austrália e da Nova Zelândia. 

Nos EUA, o CDC lançou o Relatório de Dados Resumidos e Tendências dos Comportamentos de Risco entre Jovens: 2007-2017. Os achados mostram que todos os adolescentes vêm enfrentando pressões crescentes; no entanto, adolescentes lésbicas, gays e bissexuais vêm enfrentando riscos excepcionais em relação à violência e saúde mental prejudicada. No último ano, 47,7% dos LGB pensaram seriamente em se suicidar e 22% dos LGB foram estuprados, em comparação com 5,4% dos seus pares.

Em alusão ao Mês da Juventude da África do Sul, seis grupos LGBTQ responsáveis pela campanha Love Not Hate (Amor sim, Ódio não) divulgaram os resultados do seu relatório nacional sobre a juventude. O relatório adverte que os altos níveis de violência, discriminação e abuso sexual enfrentados por estes jovens podem levar à depressão e à automutilação.

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Do Mundo da política: Na Dinamarca, o primeiro ministro, Lars Løkke Rasmussen, e a ministra das Oportunidades Iguais, Eva Kjer Hansen, lançaram o plano de ação LGBT do país um ano depois de se comprometer a melhorar a situação da comunidade. O plano, com orçamento de 25 milhões de coroas dinamarquesas (US$ 4 milhões), é uma ação colaborativa entre 13 ministérios e possui 42 iniciativas com enfoque em tópicos como saúde mental e física, emprego, educação, discriminação, jovens e idosos, e minorias étnicas.

Nas Filipinas, o município de Mandaluyong baixou um Decreto para “assegurar os direitos de todos os filipinos, especialmente aqueles discriminados por motivo de sua orientação sexual, identidade e expressão de gênero”. O decreto inclui proteções contra abusos e a favor do emprego, da educação e nos serviços públicos. Embora haja outros 25 municípios com medidas locais de proteção contra a discriminação, propostas semelhantes têm enfrentado forte oposição no âmbito nacional.

Na Tunísia, o Comitê das Liberdades Individuais e da Igualdade fez várias recomendações progressistas ao presidente Beji Caid Essebsi, incluindo a descriminalização dos atos sexuais entre pessoas do mesmo sexo, a abolição da pena de morte, e a concessão de mais direitos às mulheres. O relatório destaca especificamente:

“O Estado e a sociedade não têm nada a ver com a vida sexual entre adultos… As orientações sexuais e as escolhas dos indivíduos são essenciais à vida privada.”

A Assembleia Parlamentar do Conselho da Europa adotou um relatório abrangente sobre a "perseguição direcionada" às pessoas LGBTI na República da Chechênia (Federação Russa). Detalha a situação em profundidade, e oferece uma série de recomendações aos estados membros do Conselho da Europa para ajudar a proteger e apoiar as vítimas e suas comunidades.

Na Austrália, a Procuradora-Geral da Austrália Meridional, Vickie Chapman, anunciou que o estado está comprometido com a revogação do argumento de defesa baseado no assim chamado “pânico gay” que permite que uma pessoa heterossexual acusada de homicídio possa pleitear uma pena reduzida se alegar ter sido “provocada” por uma “investida” não violenta por uma pessoa gay (LGBTI). Todos os demais estados da Austrália proíbem esta defesa. Nos EUA, o estado de Rhode Island está avaliando legislação para proibir defesas baseadas nos assim chamados “pânico trans” ou “pânico gay”. Se for aprovada pelo Senado do estado, Rhode Island se juntará aos estados da Califórnia e de Illinois como os únicos a terem a proibição, embora a Ordem dos Advogados da América venha pedindo que todos os estados deslegitimem a prática. Observando que a legislação de trata de “bom senso”, o deputado Kenneth Marshall afirmou:

“Vítima é vítima, e a vida de qualquer vítima não vale menos que a vida de outra pessoa por causa de sua identidade de gênero ou sexualidade.”

O novo primeiro ministro da Espanha, Pedro Sanchez, nomeou seu conjunto de ministérios com representação de 11 mulheres e 2 gays. Sendo compostos majoritariamente por mulheres, está é a maior proporção de  ministérios chefiados por mulheres na história do país. O juiz assumidamente gay, Fernando Grande Marlaska, foi nomeado como Ministro do Interior. Maxim Huerta foi nomeado Ministro da Cultura, mais pediu demissão logo em seguida por questões tributárias.

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A Política e o casamento: O primeiro ministro da República Tcheca, Andrej Babis, anunciou que seu governo está a favor de uma legislação que institua o casamento igualitário. Em resposta, 46 legisladores elaboraram um projeto de lei que confere todos os direitos de casamento aos casais do mesmo sexo, enquanto outros 37 legisladores apresentaram um projeto de lei alternativo propondo uma emenda constitucional para que o casamento seja somente entre homem e mulher. O parlamento precisa votar os dois projetos de lei antes que um deles siga para a sanção do presidente Milos Zeman

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Que os tribunais decidam: O Tribunal de Justiça da União Europeia (UE) decidiu que os estados membros da UE devem reconhecer casamentos realizados em outros estados da UE e conceder vistos de residência correspondentes. A ação foi movida por um romeno que buscava o direito de residência para o marido com quem se casou em Bruxelas, mesmo que a Romênia não reconheça o casamento entre pessoas do mesmo sexo.

A Suprema Corte das Ilhas Bermudas decidiu contra a Lei de Parceria Doméstica instituída pelo governo e declarou inválidas as disposições que revogaram o casamento igualitário. Nesta última decisão, o presidente da Corte, Ian Kawaley, afirmou:

“As pessoas que estão convictas de que o casamento entre pessoas do mesmo sexo não deve ser realizado por motivos religiosos ou culturais têm o direito de ter suas convicções respeitadas e protegidas pela lei. Porém, quando a lei protege as suas convicções, não podem exigir que a mesma lei negue o respeito e a proteção jurídica às pessoas que acreditam no casamento entre pessoas do mesmo sexo por causa de suas convicções opostas.”

A Suprema Corte das Filipinas ouviu argumentos sobre o casamento igualitário apresentados por dois casais que moveram ações porque lhes foi negada a autorização de casamento. Embora o presidente Rodrigo Duterte tenha manifestado posicionamentos diversos sobre a questão, um dos requerentes, Jesus Falcis, disse que a discussão do presidente sobre o tópico proporciona um “ambiente conducente” para se falar a respeito. 

No Peru, a Corte Constitucional está apreciando um recurso de um casal que está processando o Registro Civil Nacional para que reconheça o casamento que celebraram no México. O casal, o conhecido economista peruano Óscar Ugarteche e seu parceiro mexicano, Fidel Aroche, tiveram o casamento reconhecido inicialmente por um tribunal de Lima em 2017; contudo, perderam na segunda instância devido a uma questão técnica.  

A Corte Suprema dos EUA por pouco decidiu a favor de um confeiteiro cristão que se recusou a atender um casal gay. A decisão da Corte afirmou que a Comissão dos Direitos Civis do Colorado havia sido "hostil" em relação à religião do confeiteiro quando decidiu que infringiu a lei estadual que proíbe a discriminação baseada em orientação sexual. A reação à decisão tem sido variada com alguns ativistas LGBT reconfortados pelos comentários de alguns dos juízes em apoio aos direitos LGBT, enquanto outros ficaram frustrados pelo “incentivo perigoso àqueles que querem negar os direitos civis”.

A Corte Suprema da Polônia decidiu contra um funcionário de uma gráfica que se recusou a imprimir banners para o Fórum Empresarial LGBT. Zbigniew Ziobro, que é o Ministro da Justiça e também o Procurador-Geral, representou o funcionário e acusou a corte de se colocar “do lado” da violência e de servir aos interesses da “ideologia dos ativistas homossexuais”. 

A Corte Suprema do Canadá decidiu que as seções da Ordem dos Advogados da Colúmbia Britânica, de Ontário e da Nova Escócia, tiveram razão ao negar o credenciamento da faculdade de direito proposta pela Trinity Western Universityporque a universidade obriga os estudantes a assinarem um documento no qual prometem que não terão relações sexuais no campus ou fora dele, a não ser que seja dentro do casamento heterossexual. A corte concordou que estava dentro do interesse público que todas as pessoas tenham acesso igual à profissão jurídica, inclusive os estudantes de direito LGBTQ. 

A Corte Constitucional da Hungria  enfrentou questões de gênero em uma decisão publicada recentemente. Ao analisar o caso de uma pessoa iraniana a quem foi concedido asilo devido à perseguição às pessoas trans no Irã, a corte decidiu que é inconstitucional que não haja legislação de reconhecimento do gênero para aquelas que moram permanentemente na Hungria. Confirmou que o reconhecimento do gênero e a respectiva retificação do nome são direitos fundamentais e que não se deve exigir intervenções médicas para que esse direito possa ser reconhecido.

No Reino Unido, um tribunal superior determinou que o governo não precisa emitir passaportes com a opção de gênero neutro, além de masculino e feminino. O Canadá, a Austrália, a Dinamarca, a Alemanha, Malta, a Nova Zelândia, o Paquistão, a Índia, a Irlanda e o Nepal oferecem a opção de gênero neutro no passaporte.

Mais sobre os Tribunais


Sobre a religião: Na África do Sul, o Arcebispo Emérito Desmond Tutu discursou no funeral de seu amigo e ex-Decano da Catedral de São Jorge, o Padre Rowan Smith. Smith, que se assumiu gay publicamente em 1998, foi um ativista contra a apartheid e apoiava campanhas pelo fim do HIV e da violência contra as pessoas LGBT.  O Arcebispo Emérito Njongonkulu Ndungane acrescentou um pedido de aceitação, dizendo:

“Precisamos agir porque estamos machucando um número bastante grande de pessoas que frequentam as igrejas. Porque não se escolhe a sexualidade, se nasce com ela. Portanto, precisamos acolhê-las.”

Na véspera do Sínodo dos Bispos da Igreja Católica sobre os Jovens e o Encontro Mundial das Famílias, o Vaticano divulgou um novo documento que se refere à “juventude LGBT” em vez de “pessoas com tendências homossexuais” pelo que parece ser a primeira vez. Enquanto isso, a agência italiana de notícias ANSA noticiou que o Papa falou para os integrantes do Forum delle Famiglie: "É doloroso falar isso hoje: as pessoas falam de famílias variadas, de vários tipos de família," mas “a família [enquanto] homem e mulher na imagem de Deus é a única." 

Muitos grupos de católicos LGBT têm expressado frustração com as mensagens conflitantes emitidas pelo Vaticano. O grupo irlandês We Are Church (Somos Igreja) lançou um abaixo-assinado pedindo a reforma da "linguagem teológica que é altamente ofensiva para as pessoas LGBTQI". E o grupo New Ways Ministry(Ministério dos Novos Caminhos) instou o Papa a se encontrar com famílias LGBT da mesma forma que se encontrou com sobreviventes do abuso sexual porque, segundo eles, “há muito tempo [as famílias LGBT] vêm sofrendo outra forma de abuso clerical".

A Igreja Episcopal Anglicana do Brasil realizou seu Sínodo Geral no qual votou majoritariamente a favor da realização de casamentos entre pessoas do mesmo sexo na igreja. Embora a Comunhão Anglicana mundial tenha punido a Igreja Episcopal dos EUA quando aprovou o casamento entre pessoas do mesmo sexo, não assinalou que vai aplicar sanções parecidas à Igreja no Brasil. O Secretário-Geral da Comunhão Anglicana, Dr. Josiah Idowu-Fearon, da Nigéria, expressou decepção com o Brasil, mas instou os anglicanos a "encontrar uma maneira de manter a unidade". E, embora o órgão global não apoie o casamento entre pessoas do mesmo sexo, o Secretário-Geral enfatizou que:  

É importante salientar a forte oposição da Comunhão à criminalização das pessoas LGBTIQ+.”

A Igreja Mórmon (Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias) anunciou que vai começar a coletar informações sobre “pais do mesmo sexo e casais do mesmo sexo” para seu banco de dados genealógico “FamilySearch”. 

Mais Sobre a Religião


 

Medo e ódio: O site nigeriano NoStringsNG noticiou que a polícia fez uma batida em um hotel clube no estado do Delta. Testemunhas informaram que os policiais bateram e assediaram mais de 100 homens e mulheres no clube e prenderam muitos sob acusação de homossexualidade.

Do Egito, a jornalista Allison Washington refletiu sobre os perigos que suas colegas trans enfrentam com polícia no Egito, no Jordão, no Reino Unido e nos EUA.

No Marrocos, o professor Moha Ennaji escreveu sobre como os marroquinos LGBTI navegam com cautela nas suas vidas pessoais e profissionais para evitar o perigo da violência tanto do público em geral quanto da polícia. 

Escrevendo sobre o Brasil, a jornalista e candidata ao doutorado, Jaimee Swift, tratou do “misogynoir”, um termo descrevendo a misoginia racista contra negras, e sobre a onipresença do “transmisogynoir”, descrevendo a opressão e a violência sobre as mulheres trans negras. Embora o Brasil tenha as maiores taxas registradas no mundo de homicídios relacionados às pessoas trans, Swift também destacou o ativismo entre mulheres trans negras brasileiras que faz delas “importantes agentes sociopolíticas de mudanças radicais e resistência na Diáspora Negra”.

Escrevendo da Tailândia, Rina Chandran explorou a questão de homens adolescentes e jovens, entre 14 e 24 anos de idade, que estão presos no mundo do tráfico e da escravidão sexuais. Alezandra Russell, fundadora da organização sem fins lucrativos Urban Light, argumentou que os meninos são frequentemente negligenciados:

“Por que isso não choca e enfurece as pessoas tanto quanto no caso das meninas? Eles não são menos vulneráveis ou menos abusados que as meninas levadas pela exploração sexual. Ainda assim esse tema é muito mais ocultado, então há muito menos compaixão e muito menos recursos voltados para os meninos.”

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Ventos de mudança: Refletindo sobre o mês do Orgulho, o The New York Times explorou as tendências recentes das questões LGBTQ ao redor do mundo incluindo os esforços voltados para a descriminalização das relações entre pessoas do mesmo sexo em Botsuana, na Índia, no Quênia e em Trindade e Tobago, as campanhas violentas lideradas pela polícia no Azerbaijão, em Uganda e na Indonésia, e como a legislação local tem impacto sobre a aceitação nos EUA. 

Nos EUA, a Buzzfeed News e a Whitman Insight Strategies realizaram uma pesquisa abrangente com quase 900 pessoas que se identificam como LGBTQ sobre suas crenças, prioridades e identidades. Apesar de enfrentarem formas parecidas de discriminação, a pesquisa mostrou que dependendo do lugar nos EUA, as pessoas LGBTQ têm experiências “nitidamente diferentes”. Também identificou a emenda da legislação sobre armas de fogo como a principal prioridade dos respondentes, seguido de serviços de saúde, direitos LGBTQ e emprego. 

A ativista tailandesa Thanita Wongprasert conversou com a jornalista e ativista da área da deficiência, Nalutporn Krairiksh, sobre como os movimentos coincidem e como o reconhecimento das experiências de estigma, exclusão e discriminação em comum pode empoderar ambas as comunidades. 

Nos EUA, o jornalista Jon Shadel examinou como os ativistas LGBTQ+ têm encabeçado um movimento de luta contra a violência com armas de fogo. Valerie Jean-Charles, porta-voz da organização Everytown for Gun Safety, lhe disse:

“Quando falamos da liberação queer, da liberação trans ou da liberação negra, a prevenção da violência com armas de fogo tem que fazer parte dessa equação porque há pessoas mundo afora que pensam que nós não merecemos viver.”

O jornalista irlandês Brian O’Flynn conversou com cinco ativistas queer de renome sobre os pontos em comum entre questões LGBT e questões feministas e como a luta pelo casamento igualitário fomentou um impulso para acabar com a proibição do aborto na Irlanda. A autora Una Mullally observou que as pessoas queer estão acostumadas com “nossos corpos [serem] campos de batalhas políticas” e comentou sobre o número de gays fazendo campanha pelo direito ao aborto: 

“É curioso porque evidentemente o aborto atinge desproporcionalmente mais as mulheres heterossexuais, mas é mais do que isso; se trata de ter a permissão de ser livre na sua sociedade.” 

O editor e jornalista visual dos EUA, Jamal Jordan, destacou a importância das questões de raça e representatividade na comunidade LGBTQ. Em seu artigo no jornal New York Times, ele teve como objetivo “dar um presente para o meu eu mais jovem: a representação do amor queer que nunca vi. O amor queer em cores.”

Na Guiné-Bissau, o fotojornalista Ricci Shryock, que atua a partir da África Ocidental, conversou com pessoas LGBTQ que estão se inspirando mutuamente para viverem assumidas, apesar de leis nos países vizinhos que criminalizam as relações entre pessoas do mesmo sexo.

A ILGA-Europa divulgou um novo documento de posicionamento sobre os direitos de profissionais do sexo LGBTI. O documento reivindica políticas para melhorar a inclusão social para garantir que as pessoas LGBTI tenham opções econômicas de sobrevivência, descriminalização do trabalho sexual consentido não coagido, e mais inclusão das vozes dos/das profissionais do sexo LGBTI em todos os aspectos do movimento LGBTI.  


Mais sobre Ventos de mudança


Em marcha: A autora Masha Gessen conversou com refugiados LGBT iranianos parados no limbo na Turquia que ousaram fazer um protesto para pedir ajuda, apesar de políticas locais que proíbem protestos. Impossibilitados de voltar para seus países de origem onde ser LGBT resulta em criminalização e violência, os refugiados afirmam que as operações da ONU e de outras iniciativas de reassentamento lhes dizem que devido às mudanças políticas globais: “Não existe um país para vocês”. 

Organizações de refugiados no Quênia e em Uganda uniram esforços para lançar a Coalizão de Refugiados da África Oriental (RefCEA), um grupo comunitário liderado por refugiados atuando em prol de refugiados LGBTI na África Oriental. Confira o vídeo da RefCEA com o chamado para tornar o dia 27 de junho o “Dia Internacional dos Refugiados LGBTI”.

No Quênia, cerca de 600 pessoas participaram do primeiro evento do Orgulho já realizado no Campo de Refugiados de Kakuma. Os organizadores esperavam que o evento promovesse a unidade e ajudasse outras pessoas no campo a entender que “não fazemos mal para ninguém, somos seres humanos assim como todos eles”. Embora o evento fosse bem sucedido, há quem tema represálias depois que mensagens com ameaças de violência foram “afixadas no campo inteiro”. 

Na Ucrânia, cerca de 5 mil pessoas participaram da Marcha do Orgulho de Kiev. Embora marchas anteriores tenham terminado em violência, este ano a polícia protegeu os participantes de mais de 150 manifestantes de “extrema direita” que tentaram bloquear o percurso. Pelo menos 56 deles foram detidos e mais outros foram presos em um segundo tumulto. 

Nos EUA, o festival do Orgulho de Los Angeles foi fechado por helicópteros da polícia e policiais da tropa de choque quando, segunda as autoridades, o evento atingiu a capacidade máxima com uma multidão de quase 100 mil pessoas. Muitos mandaram mensagens no Twitter para expressar seu medo tanto da polícia quanto da multidão, e os organizadores pediram desculpas por vender ingressos em excesso.

Em Timor-Leste, Sophie Raynor escreveu sobre a coragem por trás dos duros esforços para realizar o primeiro evento do Orgulho LGBTQ do país em 2017. 

A Polônia atingiu o recorde este ano com a realização de 12 marchas do Orgulho, inclusive em vários “redutos conservadores”. Ao longo dos anos monumentos anteriores em comemoração ao Orgulho foram vandalizados e incendiados, mas este ano foi desvendado em Varsóvia um monumento do arco-íris feito de luzes e água como um “símbolo inquebrável do amor, da paz, dos direitos LGBT e da igualdade”


Mais sobre Em marcha  

 

Ambiente educacional: Uma emissora de rádio no Malaui lançou o “Umoyo Wabwino” (“Vida Melhor”), um programa ao vivo para os jovens discutirem abertamente sobre sexualidade e HIV. Jovens LGBTQ+ da África do Sul discutem as questões que acham que estão sendo negligenciadas pela sociedade, incluindo identidade de gênero, discriminação dentro da comunidade LGBTQ, educação em sexualidade, e família. E no Reino Unido membros de um dos únicos dois clubes da juventude LGBT em todo o Norte do País de Gales falaram sobre a importância da comunidade, especialmente em áreas rurais. 

Nos EUA, a organização GLAAD lançou a Amp Your Voice (Amplifique sua voz), uma campanha para incentivar os jovens LGBTQ a se cadastrarem para votar, se pronunciarem e agirem em relação às questões mais importantes para eles.  

Mais escolas japonesas estão adotando uniformes de gênero neutro em um esforço específico para apoiar os estudantes LGBT. As mudanças têm o apoio do Ministério da Educação que, em 2015, incentivou as escolas a apoiarem os estudantes das minorias de gênero e suas preocupações com vestimenta, uso do banheiro, e atividades.  Na Austrália, a Comissária da Austrália Meridional para Oportunidades Iguais, Dra. Niki Vincent, condenou as escolas particulares pelos uniformes específicos para cada gênero que “perpetuam estereótipos nocivos”. 

No Reino Unido a advogada Molly Mulready discutiu sobre sua luta para deixar o filho se expressar abertamente na escola—vestimenta, pronomes, e tudo mais—apesar de seus receios de que sofreria bullying e enfrentaria as dificuldades enfrentadas pelas pessoas trans no mundo inteiro:

“Se você poderia evitar tudo aquilo e ser feliz fazendo de conta que é menina quando sabe que é menino – por que você não faria? “Mãe, se eu pudesse, eu provavelmente faria, mas não posso porque isso não sou eu. Eis a questão  – não é uma escolha, é uma verdade. E pode ser maravilhosa.” 


Mais sobre Ambiente educacional  


Esportes e cultura: A Copa do Mundo vem sendo realizado com poucos relatos de incidentes atingindo a comunidade LGBTQ, apesar da legislação russa contra propaganda gay. No primeiro dia da copa, o ativista do Reino Unido, Peter Tatchell, foi preso por protestar sobre violações de direitos humanos na Chechênia. Segundo relatos, um casal gay francês ficou internado após ter sido atacado. E a FIFA multou o México em $10 mil porque os torcedores mexicanos gritaram um insulto homofóbico no seu primeiro jogo. A organização Coming Out” (Assumindo-se) está mantendo uma linha telefônica de apoio durante a Copa na tentativa de proteger residentes e turistas LGBTQ. A linha de apoio atende pessoas que tiveram serviços recusados, foram presas ou ameaçadas e as põe em contato com uma equipe de advogados e psicólogos que falam russo e inglês.

Na Índia, um novo aplicativo para smartphones chamado The Delta Connect ajuda as pessoas a encontrarem espaços e negócios inclusivos para pessoas LGBT.

No Reino Unido, a banda de rock The 1975 ajudou a arrecadar £50 mil para construir um novo centro comunitário LGBTQ+ em Londres. O novo documentário “Believer”, da HBO, conta sobre os esforços do cantor de rock Dan Reynolds para incentivar os mórmons a aceitarem a comunidade LGBTQ  e a protegerem os jovens LGBTQ contra o suicídio e a depressão.

Nos EUA, o novo drama televisivo, “Pose”, está fazendo história como o primeiro programa com o maior elenco de atores/as trans com papel de personagens permanentes na série. O programa mostra a vida de integrantes da “house/ball scene” (cena de casas/bailes) enquanto a AIDS se desencadeava nos anos 1980 na cidade de Nova York, e em breve estará disponível na Europa. 

Por último, confira o trailer do novo programa especial da humorista australiana lésbica assumida, Hannah Gadsby, que tem sido chamado um “divisor de águas” para a comédia. Em seu stand-up, ela conta com humor e paixão a própria história a respeito do gênero, identidade sexual e trauma violento. Gadsby afirma que não consegue mais se usar do humor autodepreciativo porque quando se vive às margens “não é humildade, é humilhação”:

“Eu simplesmente não vou fazer mais isso, nem a meu respeito, nem a respeito de qualquer pessoa que se identifique comigo.”


Mais sobre Esportes e cultura

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