"Precisamos ter mentes abertas sobre sexualidade, sexo e saúde sexual. Somente assim podemos empoderar as pessoas jovens e enchê-los de confiança."
-Reina Buijs, do Ministério das Relações Exteriores da Holanda, falando sobre direitos sexuais e educação na #AIDS2018.
Da ONU: O UNAIDS publicou um relatório com dados mundiais abrangentes e atualizados sobre AIDS: “Um longo caminho a percorrer—fechando lacunas, quebrando barreiras, corrigindo injustiças”. O relatório que emite um “alerta duro aos países”, chama a atenção para o aumento da taxa de infecção em 50 países e para o fato de que as populações-chave continuam sendo deixadas para trás. Gays, bissexuais e outros homens que fazem sexo com homens têm risco 28 vezes maior de contrair o HIV do que homens heterossexuais. Tanto mulheres transexuais quanto profissionais do sexo têm risco 13 vezes maior de contrair o HIV que os adultos na faixa dos 15 aos 49 anos de idade.
Outro dado preocupante—os gays, bissexuais e outros homens que fazem sexo com homens representam 57% das novas infecções na Europa e na América do Norte, 41% das novas infecções na América Latina, e 25% das novas infecções na Ásia, no Pacífico e no Caribe. Em uma matéria especial, o UNAIDS explica como triangula dados sobre infecções e tratamento.
O relatório destaca o papel decisivo desempenhado pela discriminação e por leis e políticas discriminatórias, especialmente para pessoas trans, gays e outros homens que fazem sexo com homens. O diretor executivo do UNAIDS, Michel Sidibé, explicou como “leis ruins” atrapalham o acesso aos serviços de HIV e por que “tem que acabar, e acabar agora”:
“As mesmas pessoas que deveriam estar protegendo, apoiando e tratando pessoas vivendo com HIV, muitas vezes as discriminam, negando o acesso a serviços críticos em HIV, o que resulta em mais infecções por HIV e mais óbitos.”
Escrevendo para o PNUD, a gerente de programas Deena Patel salientou esta questão a partir da perspectiva da Nigéria, cujo governo desenvolveu um “Plano de Ação Nacional para a remoção de barreiras jurídicas e de direitos humanos na resposta ao HIV/AIDS”. O plano inclui sensibilização para agentes de segurança e operadores do direito, profissionais de saúde, juízes e políticos.
O UNAIDS e a ViiV Healthcare promoveram um simpósio para discutir estratégias de engajamento a fim de melhorar a resposta ao HIV e alertar quanto ao “efeito de bolhas sociais”, no qual as pessoas estão cercadas apenas por outras que compartilham das mesmas opiniões. Observaram que as “bolhas sociais também podem aumentar o estigma, incentivar atitudes discriminatórias, e disseminar informações erradas ou falsas”. Os grupos anunciaram um concurso que premiará com R$ 10 mil três ganhadores que utilizem narrativas digitais para envolver “grupos específicos difíceis de serem alcançados” em questões relacionadas ao HIV.
O Escritório da UNESCO em Beijing e o Escritório do UNFPA na China apresentaram a edição em chinês das Orientações Técnicas sobre Sexualidade. Shen Haiping, da Comissão Nacional de Saúde da China, afirmou que a educação sexual local ainda está na “fase exploratória”, mas reconheceu sua importância. Nachaa Suren, do Escritório do UNFPA na China, informou que um guia nacional técnico adicional será desenvolvido para levar em consideração especificamente a situação da China.
HIV, saúde e bem-estar: A 22ª Conferência Internacional de Aids (AIDS 2018), com o tema Rompendo Barreiras, Construindo Pontes, foi realizada em Amsterdã com mais de 15 mil participantes que compartilharam os mais recentes resultados científicos, avanços em advocacy e ativismo, progressos nacionais e comunitários e perdas nos esforços para alcançar uma geração livre de AIDS. Entre os muitos tópicos abordados houve um grito de alerta contra a complacência diante da redução do financiamento por parte de governos doadores e na ausência de novos financiamentos significativos. O ativista e blogger Mark King compartilhou diariamente notícias sobre a AIDS 2018 para proporcionar aos seus seguidores a perspectiva do local sobre a participação na conferência.
Pesquisadores divulgaram os resultados do PARTNER 2, o maior estudo já realizado para avaliar o risco da transmissão do HIV entre parceiros sexuais quando um deles é HIV positivo e em tratamento antirretroviral (TARV) e o outro é HIV negativo. Durante oito anos o PARTNER 2 acompanhou mais de mil casais de homens em 14 países da Europa e observou que não houve nenhum caso em que a relação sexual sem preservativo levou à transmissão do HIV quando o parceiro estava com a carga viral indetectável. Compartilhando os resultados na AIDS 2018, alguns questionaram as limitações em potencial do estudo. No entanto, observando que o estudo reforça a Campanha I=I (Indetectável = Intransmissível), Matthew Hodson, Diretor Executivo para HIV no Reino Unido do grupo NAM, afirmou:
“Este é o momento em que a ciência prevalece sobre o estigma. Este é o momento em que os fatos devem vencer o medo. Saber que quando estamos indetectáveis não passamos o vírus para nossos parceiros sexuais têm o poder de incentivar as pessoas a fazer o teste de HIV e continuar em tratamento.”
Sir Elton John e o Príncipe Harry do Reino Unido anunciaram uma nova parceria global chamada MenStar Coalition, um empreendimento de $1,2 bilhões de dólares com enfoque na “quebra do ciclo” da transmissão masculina do HIV. A Children’s Investment Fund Foundation anunciou que vai doar $6 milhões ao Fundo da MenStarCoalition para o desenvolvimento e a intensificação de novas estratégias para alcançar os jovens mais vulneráveis.
Uma nova pesquisa apresentada na AIDS 2018 mostrou que cepas mutantes do HIV em circulação no Canadá estão deixando as pessoas doentes mais rapidamente. Os pesquisadores investigaram cepas do HIV na província de Saskatchewan onde quase 80% das pessoas HIV positivas são de povos indígenas. Observaram que mais de 98% dos sequenciamentos do HIV coletados na província tinham pelo menos uma mutação que levava à resistência medicamentosa.
A mais recente edição da revista Journal of the International AIDS Society apresentou uma série de estudos sobre a otimização de programas de HIV para populações-chave—gays e outros homens que fazem sexo com homens, pessoas trans, profissionais do sexo, pessoas que usam drogas injetáveis e pessoas privadas de liberdade. Alguns dos estudos examinam estimativas do tamanho e avaliação das populações-chave, enquanto outros avaliam os programas de HIV e as inovaçõesvoltadas para estes grupos. Vários estudos avaliam novos esforços para incentivar o autoteste, especialmente entre gays e outros homens que fazem sexo com homens no Vietnã, Nigéria, Tailândia, e Brasil.
Pesquisadores em Amsterdã anunciaram que o projeto para disponibilizar a PrEP para gays e bissexuais masculinos (AmPrEP) encontrou taxas “sem precedentes” de hepatite C entre homens HIV negativos. A análise genética das infecções mostrou que os homens HIV negativos provavelmente estariam contraindo a hepatite C em relações sexuais desprotegidas com homens HIV positivos.
Nos EUA, um estudo publicado na revista Clinical Infectious Diseases mostrou que quase um terço dos homens HIV positivos não obteve reagente positivo para sífilis no último ano e que apenas 40% testaram nos últimos 6 meses. Com o aumento das taxas de sífilis nos EUA, está sendo proposto que os serviços de saúde incluam a triagem como parte das consultas de rotina.
Mais sobre HIV, saúde e bem-estar
Do mundo da política: A Câmara dos Deputados de Luxemburgo aprovou uma lei de reconhecimento de gênero que permite que as pessoas possam mudar oficialmente o registro do nome e do gênero sem intervenção médica. A lei também se aplicará a menores de idade mediante consentimento dos pais e a residentes estrangeiros que moram há pelo menos um ano no país. O governo também endossou um Plano de Ação Nacional para a Promoção dos Direitos LGBTI. O plano tem como foco disponibilizar tratamento inclusivo e equitativo na educação, no emprego e na atenção à saúde. Apoia proteções para famílias e contra a discriminação e violência, com atenção especial para as necessidades das pessoas trans e intersexo.
Neste verão, a Dinamarca e o Reino Unido também lançaram “planos de ação LGBT” que fazem promessas amplas para áreas-chave do governo em apoio à vida das pessoas LGBT. Em março a Dinamarca e Luxemburgo se juntaram ao Reino Unido para se tornar integrantes da Coalizão pelos Direitos Iguais.
No Paquistão, a comunidade de pessoas trans enfrentou retrocessos durante as eleições gerais. Embora pessoas trans tivessem sido contratadas pela Comissão Eleitoral para supervisionar os locais de votação e garantir que as mulheres e pessoas com deficiência recebessem tratamento justo, não foi permitido que as observadoras trans entrassem. Em vários locais de votação, não foi permitido que as pessoas trans votassem por divergência do gênero que constava na carteira de identidade. Um recorde de 13 candidatas trans deram entrada com os documentos necessários para se candidatar nas eleições, das quais cinco conseguiram concorrer na votação final. Em maio a Assembleia Nacional do Paquistão aprovou a Lei de Proteção dos Direitos das Pessoas Trans prometendo direitos básicos, incluindo o direito de votar.
No Japão, a deputada do Partido Democrático Liberal (LDP), Mio Sugita, viralizou nas redes sociais por conta de um artigo de revista no qual fez comentários depreciativos sobre pessoas LGBT. Um dos primeiros políticos assumidamente gays do Japão, Taiga Ishikawa, condenou os comentários, afirmando:
“A homossexualidade não é a definição de infelicidade. São os comentários discriminatórios como os feitos por Sugita que nos deixam infelizes.”
O jornal Japan Times noticiou que milhares de manifestantes se reuniram em frente à sede do LDP exigindo a renúncia de Sugita.
Na Malásia, o Ministro de Assuntos Islâmicos, Dr. Mujahid Yusof Rawa, informou ao Dewan Rakyat (a casa do povo) que o governo “não acolhe pessoas LGBT” e que as pessoas devem seguir as leis que proíbem o “estilo de vida” LGBT. No entanto, pediu para as pessoas não discriminarem os outros no local de trabalho, porque segundo ele isto as obrigaria a se prostituírem. No mês passado, muitas pessoas expressaram indignação nas redes sociais quando um jovem gay que trabalhava no Ministério da Juventude e dos Esportes sofreu bullying cibernético, o que o levou a pedir demissãodo cargo.
Nos EUA, o Departamento de Justiça promoveu sua primeira Reunião de Cúpula sobre Liberdade Religiosa na qual o Procurador Geral, Jeff Sessions, anunciou a criação de uma “força tarefa” para implementar a “liberdade religiosa”. Durante seu discurso, elogiou o confeiteiro do Colorado que se recusou a atender um casal gay. Afirmou que um “movimento perigoso” está “corroendo nossa grande tradição de liberdade religiosa” e falou que as eleições passadas e futuras foram e serão uma “oportunidade rara para impedir essas tendências”. Ativistas LGBT alertaram rapidamente sobre as implicações, como enfatizou Louise Melling da American Civil Liberties Union:
“A liberdade religiosa protege o nosso direito de ter nossas convicções, e não dá o direito de discriminar ou prejudicar os outros. Novamente o Departamento de Justiça sob o mando de Jeff Sessions está virando de cabeça para baixo este entendimento de liberdade religiosa.”
Também nos EUA, o Congresso avançou com uma emenda que permite que as organizações de apoio ao bem-estar infantil discriminem com base em convicções religiosas ou morais, apesar de receberem financiamento federal. O bem-estar infantil inclui, mas não está restrito a, agências de apadrinhamento e adoção, terapia, programas de auxílio a pais, e serviços residenciais. A emenda poderia impactar as famílias LGBTQ, pais e mães divorciados/as e solteiros/as, e casais cujos/a parceiros/as têm convicções religiosas diferentes. Senadores do Partido Democrata enviaram uma carta exigindo que a emenda seja arquivada. Proposições semelhantes de proteção da discriminação em casos de apadrinhamento e adoção já foram sancionadas em 10 estados.
Em Israel, o Knesset aprovou uma nova lei sobre gestação de substituição que concede apoio do estado para este tipo de gestação para casais heterossexuais e mulheres solteiras, mas exclui os direitos de homens solteiros e casais gays. Pessoas LGBT e aliadas se manifestaram por meio de uma “greve” nacional", incluindo uma passeata com estimativa de 100 mil pessoas em Tel Aviv. Líderes LGBT apresentaram uma lista de reivindicações para acabar com a discriminação, incluindo a prevenção da violência, o pleno reconhecimento de famílias LGBT, igualdade de gestação de substituição e na atenção à saúde, programas apropriados de bem-estar social, assim como programas educacionais para aumentar a aceitação da comunidade. O protesto LGBT ocorreu em um momento de tumulto cultural em Israel. Em especial, o parlamento aprovou uma nova lei do “estado-nação” cujos críticos chamam de um ato de segregação que discrimina abertamente as pessoas que não são judaicas.
Na França, os casais são obrigados a comparecerem diante de um “conselho familiar” para avaliar se estão aptos a adotar e muitos casais LGBT se sentem excluídos do sistema. A chefe do serviço de adoção na região Seine-Maritime da Normandia, Pascale Lemare, provocou controvérsia ao sugerir que os casais LGBT somente deveriam adotar crianças que “ninguém quer”. A Associação dos Pais e Mães do Mesmo Sexo (ADFH) não demorou em formalizar uma denúncia.
Na Itália, o prefeito da cidade de Turim permitiu que três casais do mesmo sexo registrassem oficialmente seus filhos, concebidos por meio de Fertilização in Vitro (FIV). Contudo, o Ministro da Família da Itália, Lorenzo Fontana, condenou os casais que têm filhos através da gestação de substituição e se recusou a reconhecer tais famílias, afirmando que as famílias LGBT “não existem” na lei. Já na Suécia, o líder do maior partido de direita—Sweden Democrats—causou controvérsia entre seus apoiadores ao afirmar que em breve o partido irá alterar seu programa em favor da adoção por casais do mesmo sexo.
Apesar das manchetes, o Pew Research Center revelou que a maioria das pessoas na Europa Ocidental e de diversos partidos políticos é a favor da adoção de filhos por casais de gays e lésbicas.
Mais sobre o Mundo da política
A política e o casamento: A Assembleia Nacional de Cuba aprovou uma proposta de reforma constitucional que inclui uma nova definição do casamento enquanto a união de duas pessoas independente do gênero. As alterações serão submetidas a um referendo popular ainda este ano.
A Suíça avançou com a possibilidade da aprovação do casamento igualitário. O Comitê Nacional de Assuntos Jurídicos votou a favor da criação da legislação que permite o casamento entre pessoas do mesmo sexo. A legislação não incluirá o direito de adoção por pessoas LGBT, a reprodução assistida, ou o direito à pensão de uma pessoa do mesmo sexo. O Comitê informou que é possível que estas questões necessitem de um referendo para prosseguir.
O Ministério da Justiça da Tailândia anunciou que a redação do Anteprojeto de Lei de Parceria Civil que permite o registro de casais do mesmo sexo como cônjuges será concluída em setembro. Se for aprovado pelo conselho de ministros, o projeto será analisado pela Assembleia Legislativa Nacional.
A Corte Constitucional da Romênia seguiu a decisão do Tribunal Europeu de Justiça (TEJ) e determinou que o país deve conceder o direito de residência aos/às esposos/as do mesmo sexo dos/das cidadãos/ãs da União Europeia. A Romênia não reconhece o casamento entre pessoas do mesmo sexo, mas o TEJ determinou que todos os estados da União Europeia devem conceder o direito igualitário de residência a qualquer casal que formalizou sua união na União Europeia.
Depois da decisão do Tribunal de Apelação de Hong Kong a favor da emissão de visto familiar para duas lésbicas legalmente casadas, Angus Leung anunciou que vai recorrer ao Tribunal Superior sobre uma decisão que determinou que seu marido não tem direito aos mesmos benefícios matrimoniais que um casal heterossexual. Embora o casal tenha ganho na primeira instância, o tribunal de segunda instância derrubou a decisão, afirmando que o governo tem um "objetivo legítimo” em proteger o casamento tradicional e que a concessão de benefícios matrimoniais criaria precedentes para outros benefícios.
Nas Ilhas Cayman, foi admitida para análise por um tribunal uma ação que alega que negar a duas mulheres a autorização de casamento é uma violação de seus direitos humanos.
Mais sobre a política e o casamento
Que os tribunais decidam: Um tribunal de apelação no Líbano manteve uma decisão que absolveu nove pessoas acusadas de “ofensa grave” e homossexualidade. O advogado Karim Nammour afirmou que a decisão do tribunal de apelação significa que as "relações homossexuais não configuram crime , contanto que ocorram entre dois adultos e na vida privada".
A Corte Suprema da Índia concluiu as sustentações orais sobre a constitucionalidade da Seção 377 que criminaliza relações sexuais entre pessoas do mesmo sexo. Enquanto o país aguarda a decisão, muitas pessoas têm falado publicamente sobre o medo e a discriminação que enfrentaram ao crescer, viver e trabalhar sob o estigmada criminalização. A organização Vidhi Centre for Legal Policy lançou “A lei não é heterossexual: um guia para pessoas queer sobre acesso aos direitos” para ajudar as pessoas a compreenderem as mudanças na legislação.
Na Bielorrússia o Tribunal Distrital Central de Minsk condenou Viktoria Biran por infração do “procedimento para a organização e realização de eventos de massa” porque ela tirou fotos na frente de prédios governamentais segurando um papel com as palavras “VOCÊS são falsos”. Biran afirmou que protestava contra um artigo postado no site do Ministério do Interior afirmando que as comunidades LGBTI “são simplesmente falsas”.
Nos EUA, o sargento Nick Harrison, um soldado HIV positivo da Guarda Nacional, entrou com ação contra o governo por causa de uma política que “efetivamente torna impossível para as pessoas vivendo com HIV servirem” nas forças armadas. A política, divulgada em fevereiro, orienta o Pentágono a retirar pessoal militar “inútil” para servir fora dos EUA durante 12 meses consecutivos. Atualmente, as pessoas que recebem diagnóstico de HIV após terem se alistado podem permanecer nas forças armadas mas são proibidas de atuar no exterior.
Sobre a religião: Em abril a Suprema Corte de Trindade e Tobago decidiu que a criminalização das relações sexuais entre adultos do mesmo gênero é inconstitucional. A decisão encorajou líderes religiosos católicos, hindus, muçulmanos e evangélicos a promoverem uma coletiva de imprensa para pedir que o governo faça uma emenda à Lei do Matrimônio para especificar que o casamento se faz somente entre um “homem biológico e uma mulher biológica”. Além disso, pediram para o governo não atualizar a Lei de Oportunidades Iguais para incluir proteções para pessoas LGBT. Isto não impediu que a comunidade realizasse a primeira Parada do Orgulho.
Em Barbados, líderes religiosos realizaram uma coletiva de imprensa na véspera da Marcha do Orgulho Gay para se opor à “agenda” gay que, segundo eles, inclui a “imposição” de um estilo de vida homossexual, esforços para “desconstruir” o casamento e o núcleo familiar, bem como “uma tentativa de transformar em um direito humano a preferência sexual individual de um grupo muito pequeno”. Apesar da retórica negativa, Barbados realizou sua primeira grande Marcha do Orgulho.
Em Israel, mais de 200 dos principais rabinos assinaram uma carta apoiando o rabino chefe de Jerusalém que se manifestou contra os direitos de pais gays à gravidez de substituição. A carta afirmou que as empresas e os políticos que vêm apoiando a comunidade LGBTI foram sujeitos à “lavagem cerebral voltada para a destruição do conceito de família e para transformar devassos em heróis”.
Na Malásia, cerca de 2 mil pessoas participaram da passeata “Unindo-se em prol do Reavivamento Muçulmano” em Kuala Lumpur para protestar contra a “erosão” dos interesses da maioria muçulmana no país. Durante a passeata, o portal de notícias Malaysian Insights entrevistou muitos manifestantes que condenavam o Ministro dos Assuntos Religiosos, Mujahid Yusof Rawa, por afirmar que a comunidade LGBT tem os mesmos direitos que os demais cidadãos.
Pelo menos dois grupos católicos que apoiam as pessoas LGBT afirmam que foram “ignorados” e excluídos do Encontro Mundial das Famílias a ser realizado em breve com o Papa Francisco. Na Irlanda, o Arcebispo Diarmuid Martin prometeu que um Congresso das Pastorais a ser realizado em breve irá “discutir questões” relativas às alegações de que os casais do mesmo sexo também foram excluídos do evento.
Medo e ódio: Na Conferência AIDS2018, Mauro Cabral Grinspan, diretor executivo da GATE, uma organização mundial de advocacy para pessoas trans, descreveu a situação desesperadora das organizações, especificamente de pessoas trans, no mundo inteiro. Segundo os dados da GATE, há uma lacuna significativa no financiamento para grupos trans—mais da metade funciona com menos de 10 mil dólares por ano e muitos atuam sem qualquer recurso orçamentário—apesar de ter que lidar com o ônus desproporcional do HIV.
A organização Media Matters divulgou um novo relatório aprofundado descrevendo os posicionamentos e as ações contra LGBTQ, bem como a retórica extrema da AllianceDefending Freedom (Aliança em Defesa da Liberdade), um grupo jurídico que se orgulha de seu papel em 54 decisões da Suprema Corte dos EUA e que teve receitas de mais de $50 milhões em 2016.
Nos EUA, desde janeiro pelo menos 15 pessoas trans foram assassinadas, sendo a maioria mulheres trans não brancas. Quatro das vítimas (mais outra mulher que sobreviveu ao ataque que sofreu) eram mulheres trans negras residentes na Flórida e teme-se que um assassino em série esteja rondando a comunidade naquele estado. Ativistas alertam que o não reconhecimento da identidade de gênero das vítimas por parte da polícia e da mídia provavelmente está ocultando o verdadeiro número de vítimas trans no país.
Na Índia, Mohini Mahant, a primeira mulher trans do país a ser selecionada para ser jurista em um tribunal, falou sobre a falta de emprego para hijras e pessoas trans. Mahant, que tem mestrado em políticas públicas e serviço social, afirma que apesar das promessas das autoridades de proporcionar oportunidades de emprego digno para pessoas trans, ninguém quer contratá-las. Autoridades em Bihar, Índia, contrataram pessoas trans como seguranças em casas de proteção a meninas e mulheres para protegê-las do assédio sexual.
No Reino Unido, um superintendente da polícia em Newcastle alertou que houve um aumento de crimes de ódio na cidade e que os criminosos se sentem “empoderados” para cometer violência homofóbica. Enquanto isso, a Pesquisa Nacional LGBT do Reino Unido mostrou que mesmo coisas aparentemente simples, como ter medo de andar de mãos dadas em público, têm impacto negativo na maioria das pessoas LGBT no país.
Nas Filipinas, a Prefeitura da Cidade de Quezon anunciou que vai apoiar a criação de balcões de proteção em delegacias específicos para responder à tendência crescente de crimes de ódio contra a população LGBT. No ano passado, a Câmara dos Deputados das Filipinas aprovou o projeto de lei 2952 para o estabelecimento de balcões de atendimento LGBT em todo o país.
Em marcha: A participação no segundo evento do Orgulho em Timor-Leste triplicou, com 1500 pessoas integrando o movimento emergente. A cidade de Norwich, no Reino Unido, celebrou o 10º evento anual do Orgulho com quase 10 mil pessoas—comparado com 3 mil no primeiro ano. E na Escócia, Nicola Sturgeon se tornou a única primeira ministra em exercício no Reino Unido a encabeçar um evento do Orgulho até o momento. Os organizadores ficaram surpresos com a participação estimada em 12 mil pessoas e faltaram lugares para várias centenas de pessoas.
Em Singapura, uma coalizão de grupos pelos direitos LGBTI postou uma carta aberta ao primeiro ministro Lee Hsien Loong, que se baseia nas demandas específicas feitas durante o festival Pink Dot. Agora, na sua 10ª edição anual, o evento atraiu milhares de participantes e o apoio de 113 patrocinadores locais.
A revista Seventeen perguntou para adolescentes nos EUA sobre suas experiências na primeira parada do Orgulho da qual participaram.
Já na Alemanhã, a área da juventude do partido de extrema direita, Alternativa para Alemanha (AFD), reclamou que foi impedida de participar da parada do Orgulho em Berlim. O líder jovem do Partido, David Ekert, acusou os organizadores de intolerância e compartilhou um posicionamento que teriam enviado dizendo que “pessoas e organizações que tentam criar um clima de medo e exclusão, como o AFD... não são bem-vindas”. Os organizadores também informaram que Ekert perdeu o prazo para se inscrever.
Ambiente escolar: No Reino Unido, um novo estudo mostrou que 30% dos jovens LGBT evitam matérias e carreiras na área de exatas (ciências, tecnologia, engenharia e matemática) porque temem ser discriminados. A Instituição de Engenharia e Tecnologia lançou a campanha #SmashStereotypesToBits (na tradução livre #DetonandoOsEstereótipos) numa tentativa de combater os estereótipos de gênero associados às carreiras.
Na Índia, o estado de Kerala anunciou um novo programa para ajudar pessoas trans a se tornarem estudantes em instituições de ensino superior.
Nos EUA, apenas 85 de 4,7 mil faculdades e universidades afirmam apoiar a terapia de reposição hormonal (TRH) e a cirurgia de readequação sexual por meio de seus planos de saúde para estudantes. Agora estudantes trans estão se manifestando sobre o impacto que a negação de serviços de saúde apropriados tem sobre um período da vida que já é estressante. Enquanto isso, um estudo com 500 estudantes trans e não binários acadêmicos e de pós-graduação avaliou suas prioridades no campus. O estudo revelou que banheiros e alojamentos de gênero neutro, políticas antidiscriminatórias inclusivas, e o uso correto de pronomes e nomes foram algumas das prioridades para ajudar os estudantes a se sentirem seguros.
Na África do Sul, a Universidade de Witwatersrand anunciou que será permitido aos estudantes escolherem o marcador de gênero (ex. Sr., Sra.), incluindo uma opção neutra, a ser utilizada em toda correspondência oficial. A universidade espera que a mudança ajude os estudantes a se sentirem confiantes e atendidos.
Em Singapura, Rachel Yeo, diretora de pesquisa e advocacy da Rede Interuniversidade LGBT, foi excluída de um evento TEDx de prestígio realizado no StJoseph's Institution apenas um dia antes da abertura. A Instituição afirmou que as “normas” do Ministério da Educação e o papel de Yeo enquanto ativista a impediam de palestrar. O grupo estudantil Community for Advocacy and Political Education (CAPE) respondeu que existe uma “percepção equivocada” que os ativistas são “encrenqueiros”, mas que:
“Pelo contrário, os ativistas têm ajudado a sociedade a refletir sobre tantas questões importantes e canalizado as vozes das pessoas marginalizadas.”
Esportes e cultura: Surgiram relatos de que o Qatar, país selecionado para sediar a Copa do Mundo de 2022, vem censurando a Edição Internacional do New York Times para cortar a cobertura sobre direitos LGBT. A organização Human Rights Watchalertou que a censura seria uma violação do acordo entre o Qatar e a FIFA.
A Associação Internacional de Federações de Atletismo (IAAF) baixou novas normas que, segundo ativistas, discriminam mulheres atletas com variações intersexo. As novas normas proíbem as mulheres com níveis de testosterona acima da média de participar em eventos de corrida, a não ser que se submetam a exames invasivos.
Por meio de uma série de matérias aprofundadas, o Buzzfeed News está explorando "Como fazemos sexo hoje em dia?". A série aborda bissexualidade, gênero, consentimento, sobrevivência a agressões, fetiches e mais.
A cineasta russa Ksenia Ratushnaya começou a filmar Outlaw (Fora-da-lei), uma história “poeticamente surreal” sobre uma estudante secundarista transgênero. A lei russa contra propaganda LGBT proíbe filmes que retratam positivamente as pessoas LGBT—a distribuição dos quais pode resultar em multas pesadas.
A revista Hollywood Reporter realizou uma mesa redonda com 21 atores e autores trans sobre as oportunidades e os desafios de trabalhar na indústria do cinema e da televisão. O evento foi marcado pela notícia—e reação negativa subsequente—que Scarlett Johansson foi selecionada para representar Dante Tex Gill, um homem trans que gerenciava casas de massagem nos anos 1970 e 1980.
O cineasta Matt Tyrnauer falou sobre seu novo documentáio Scotty and the Secret History of Hollywood que explora a vida de Scotty Bowers, um homem que afirma ter arranjado centenas de encontros sexuais com pessoas do mesmo sexo para astros do cinema nos anos 1940.