Olhar para a Igualdade: Novembro de 2020

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Diretamente da ONU: UNAIDS lançou a campanha do Dia Mundial de Combate à AIDS para 2020, intitulada “Solidariedade mundial, responsabilidade compartilhada”. A campanha foi inspirada pela pandemia de COVID-19 e demonstra como a saúde está interligada com outras questões sociais e econômicas. Com o lema de que “ninguém está em segurança até que todas as pessoas estejam em segurança”, a campanha enfatiza que crises de saúde tal como a COVID-19 e o HIV, que exacerbam os desafios enfrentados por grupos marginalizados.

 

O UNAIDS elogiou os “inúmeros exemplos” de ativismo comunitário que têm sido fundamentais para responder às crises de saúde. No entanto, a recuperação “não pode ser da responsabilidade exclusiva das comunidades”. O UNAIDS apelou aos governos e à sociedade civil para se unirem e encontrarem novas formas de resposta para garatir que os cuidados de saúde sejam financiados, os sistemas reforçados, o acesso garantido e os direitos humanos e a igualdade de gênero respeitados. Reconhecido pela primeira vez em 1988, o Dia Mundial de Combate à AIDS é comemorado todos os anos em 1° de dezembro.

 

UN LGBTI Core Group (Grupo Central LGBTI da ONU, na tradução livre para o português), uma rede inter-regional informal de Estados Membros, deu as boas-vindas à Malta e à República da Macedônia do Norte por se unirem ao grupo. Por meio dessa colaboração, trinta e três estados e a União Europeia trabalham juntos para integrar a inclusão LGBTIQ nas Nações Unidas.

 

Victor Madrigal-Borloz, especialista independente da ONU em Orientação Sexual e Identidade de Gênero, realiza uma consulta aberta sobre as prioridades futuras de seu gabinete. A reunião analisará seu plano de trabalho para o intervalo 2021-2023 e considerará as recomendações das partes interessadas. Aberto a Estados, agências da ONU, grupos regionais de direitos humanos, integrantes de organizações da sociedade civil, instituições acadêmicas, entidades corporativas e outras partes interessadas, todas as pessoas podem participar no dia 20 de novembro.

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HIV, Saúde e Bem-estar

Com a proximidade do Dia Mundial de Combate à AIDS, muitos têm falado sobre o futuro do autoteste...

 

A New Zealand AIDS Foundation (Fundação da AIDS da Nova Zelândia, na tradução livre para o português) anunciou que vai instalar “máquinas de venda inteligente” para distribuir kits de autoteste de HIV. O Canadá aprovou o uso do primeiro kit desse tipo no país, com planos de distribuição de 60 mil itens gratuitamente pelo país.

 

O governo da Nigéria planeja priorizar o autoteste a partir de janeiro. No entanto, alguns especialistas temem que essa mudança impeça que gays, bissexuais e pessoas trans sejam vinculadas aos cuidados de saúde. Embora a autotestagem seja mais econômica, os centros de teste tornaram-se “balcões únicos” para pessoas que devem permanecer em segredo, fornecendo-lhes testes, tratamento, apoio social e outros cuidados.

 

Um estudo publicado no Journal of the Association of Nurses in AIDS Care analisou por que homens gays e bissexuais chineses resistiram ao uso de kits de autoteste de HIV, apesar dos esforços no país para torná-los mais acessíveis. Os pesquisadores identificaram várias barreiras compartilhadas pelos entrevistados, incluindo medo de testes falsos, da exposição como gay e não conseguirem encontrar atendimento se descobrissem que eram soropositivos por meio desse método.

 

Um estudo publicado na revista HIV Medicine descobriu que gays e homens que fazem sexo com homens na Ucrânia, após serem apoiados por ONGs, tiveram melhores resultados relacionados ao vírus em relação aos outros. As organizações forneceram preservativos, educação e testagem, promovendo cuidados para pessoas que vivem com HIV.

 

Mais evidências de que os cuidados de saúde mental são essenciais para as pessoas LGBTIQ+ e pessoas que vivem com HIV...

 

Antes da reunião de estratégia anual do Fundo Global de Luta contra a AIDS, Tuberculose e Malária, Ren Minghui, diretor-geral adjunto da OMS para HIV e AIDS, Tuberculose, Malária e Doenças Tropicais Negligenciadas, e Shannon Hader, diretora-executiva adjunta do programa no UNAIDS, divulgaram um novo documento argumentando que a saúde mental deve se tornar uma parte integrante das respostas globais ao HIV e à Tuberculose. Eles pediram uma estratégia explicitamente definida e com os devidos recursos financeiros para atender a saúde mental em todas as fases do tratamento do HIV e tuberculose.

 

Um novo estudo publicado na JAMA Network avaliou a prevalência e saúde mental de jovens trans e pessoas com gênero não-binário na China. Como em estudos de outras regiões, essa parcela apresentou níveis significativamente mais altos de depressão, automutilação e ideias suicidas na comparação com seus pares cisgêneros. O que é único neste estudo é que os pesquisadores tiveram informações detalhadas sobre o sexo atribuído no nascimento e a identidade de gênero de jovens, permitindo uma análise mais próxima de diferentes subgrupos minoritários de gênero. Em resposta ao estudo chinês, especialistas se pronunciaram sobre porque essa informação é crítica, ainda que frequentemente ausente de pesquisas em saúde mental.

 

Journal of Sex Research publicou um artigo que analisa a saúde mental por meio das lentes específicas de jovens em fase de questionamento, insegurança ou mesmo explorando sua identidade sexual. Os pesquisadores descobriram taxas altas de tendências suicidas entre essas pessoas, em comparação com outros e outras jovens LGBTQ, quando essa parcela também se identificou como pessoa trans, não-binária ou de gênero não-binário.

 

Muitos estudos em várias regiões descobriram que jovens não-heterossexuais têm taxas significativamente mais altas de pensamentos ou comportamentos suicidas em comparação com seus pares heterossexuais. Um artigo no The Journal of Crisis Intervention and Suicide Prevention explorou se “a tendência suicida se tornou uma expressão reconhecida e até esperada da angústia da juventude LGBT; e que essa tendência está escrita no 'roteiro' do que significa ser uma minoria sexual.” Em pesquisas, foram avaliados jovens em idade universitária na Itália quanto à aceitação e à empatia em relação a pensamentos suicidas e a pessoas que tentaram se matar. O estudo descobriu que jovens LGBT aceitavam mais esse comportamento e tinham mais empatia com as pessoas nesse perfil, na comparação com seus pares. O estudo sugere que novas estratégias de prevenção do suicídio são necessárias para a juventude LGBT.

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Mundo da Política: a Comissão Europeia lançou sua primeira estratégia sobre igualdade LGBTIQ. A medida quinquenal afirma que “há uma tendência preocupante em algumas partes da UE de incidentes anti-LGBTIQ com mais frequência.”, ainda observa que “é imperativo que os Estados-Membros reajam rapidamente para inverter esses novos acontecimentos.” Ao refletir que “a discriminação é muitas vezes multidimensional”, a comissão apela a uma abordagem interseccional para criar mudanças sustentáveis ​​e respeitosas na sociedade.

 

Angola, Noruega, Macedônia do Norte e Itália avançaram com legislação contra a discriminação e o discurso de ódio...

 

A Assembleia Nacional de Angola aprovou revisões ao Código Penal que incluem uma expansão das regras de não-discriminação para proteger a orientação sexual, conforme publicado no Diario da República. Inicialmente analisado em 2019, muitas pessoas aplaudiram relatos de que o código descriminalizará as relações sexuais entre pessoas do mesmo gênero ao remover a frase “vícios contra a natureza” – geralmente usada para atingir pessoas presumidos de serem gays. O ministro da Justiça e Direitos Humanos, Francisco Queiroz, elogiou o ajuste, que entrará em vigor em fevereiro de 2021, observando que com isso: “Angola deixa de usar as leis herdadas e a administração colonial e passa a usar um Código Penal inspirado na sua realidade política, jurídica e social.”

 

O parlamento da Noruega aprovou um Projeto de Lei para ampliar a legislação referente ao discurso de ódio, passando a incluir orientação sexual, identidade de gênero e expressão de gênero como categorias protegidas. Desde 1981, há leis relacionadas ao discurso de ódio que protegem gays e lésbicas.

 

O Câmara dos Deputados da Itália aprovou a lei Zan para proibir a discriminação baseada em orientação sexual, identidade de gênero e deficiência. O Senado analisará o projeto no início de 2021.

 

Pela segunda vez, o Parlamento da Macedônia do Norte aprovou uma Lei Antidiscriminação para proibir a discriminação com base em raça, origem, orientação sexual, identidade de gênero, religião ou crenças políticas. Aprovado originalmente em 2019, o Tribunal Constitucional revogou a lei em maio de 2020 por um detalhe técnico. Após as eleições de agosto, os social-democratas trouxeram-na de volta para uma nova votação, desta vez, bem-sucedida. Ativistas estão exigindo que o governo tenha uma ação rápida e a coloquem em prática de maneira adequada.

 

Enquanto isso, Hungria e Polônia estão revisando a legislação que pode revogar direitos...

 

A Hungria está considerando várias emendas constitucionais que, segundo alguns a crítica vêm dizendo, fortalecerão o poder do governo nacionalista conservador. Entre as alterações propostas está um plano para proibir as crianças de serem adotadas por casais do mesmo sexo e exigir que elas sejam educadas de acordo com “os valores da cultura cristã húngara”. O casamento entre pessoas do mesmo gênero não é legal no país, no entanto, adoções já foram concedidas anteriormente a pessoas não casadas formalmente. Outra emenda afirma que crianças têm direito “à sua identidade de acordo com seu sexo de nascimento” e à educação “baseada na cultura cristã”. A Hatter Society condenou as emendas propostas como uma “cruzada” contra as pessoas LGBTI.

 

Na Polônia, um Projeto de Lei cívico foi submetido ao parlamento (o Sejm) que proibiria a agenda Pride e outras manifestações pela igualdade social de pessoas LGBT+, incluindo reuniões sobre equidade de casamento, adoção e reconhecimento de gênero. A Constituição polonesa permite que grupos cívicos apresentem PL caso coletem pelo menos 100 mil assinaturas da população. Supostamente, mais de 200 mil assinaram o projeto de lei “Stop LGBT”.

 

A Albânia e Argentina têm progredido relativamente aos direitos de pessoas intersexo...

 

O Ministério da Saúde da Albânia aprovou um novo protocolo para evitar a “cirurgia automática de atribuição de gênero” em crianças intersexo. O novo protocolo prevê um painel multidisciplinar liderado por um profissional de saúde para aconselhar os pais quando uma criança com desenvolvimento da genitália atípica nascer. Ativistas se decepcionaram com o fracasso do governo ao não emitir uma proibição total de todas as intervenções não-vitais em bebês.

 

Na Argentina, a Câmara dos Deputados está considerando o Projeto de Lei intitulado “Proteção Abrangente das Características Sexuais” para oferecer apoio para pessoas intersexo em relação à modificação corporal não-consensual. A lei diz que qualquer procedimento para uma criança que não seja necessário em termos médicos deve ser adiado até que ela atinja a idade ou maturidade para consentir. Além disso, o PL afirma que todas as pessoas têm o direito de receber informações apuradas sobre seus próprios corpos e estabelece medidas protetivas para o reconhecimento de gênero.

 

Eleições continuam trazendo novas oportunidades...

 

Na Austrália, o estado de Victoria elegeu mais candidaturas abertamente LGBTQI para o conselho local do que nunca.

 

Recentemente reeleita, a primeira-ministra da Nova Zelândia, Jacinda Ardern, escolheu Grant Robertson como vice-primeiro-ministro—a primeira pessoa assumidamente gay a ocupar o cargo.

 

Com mais votos do que em qualquer eleição anterior, os Estados Unidos elegeram Joe Biden e Kamala Harris para presidente e vice-presidente, respectivamente. Mais de 220 pessoas abertamente LGBTQ também foram eleitas para o cargo, incluindo Mondaire Jones e Ritchie Torres, primeiros negros abertamente gays eleitos para o Congresso; e Sarah McBride, a primeira pessoa abertamente trans eleita para o Senado.

 

Apesar da vitória de Biden, o governo provavelmente continuará dividido. Isso poderia impedir a nova administração de avançar com a Lei da Igualdade e outras legislações progressiva. No entanto, ativistas observaram que o presidente eleito, Biden, será capaz de fazer muitas coisas com o poder executivo, incluindo reverter a proibição militar para pessoas trans, adicionar linguagem não discriminatória da orientação sexual e da identidade de gênero de volta aos programas administrados pelo Departamento de Saúde e Serviços Humanos, e reinstituir medidas para permitir que estudantes trans usem os banheiros de sua escolha e participem de esportes que correspondam à sua respectiva identidade de gênero.

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Políticas da União: Na Índia, o Supremo Tribunal de Delhi reuniu várias petições argumentando que a Lei do Casamento Hindu deveria permitir a união de quaisquer  pessoas hindus, independentemente do gênero. Enquanto isso, a Suprema Corte de Kerala ainda está considerando petições argumentando que o matrimônio entre pessoas do mesmo gênero deve ser legal sob a Lei de Casamento Estrangeiro e a Lei de Casamento Especial—legislação secular que se aplica a casamentos fora da fé hindu. Em um texto para o Leaflat, Dormaan Dalal avaliou as diferentes disposições legais da Lei de Casamento Especial que podem ser interpretadas para apoiar a igualdade no casamento.

 

Estônia: os três partidos que integram o governo de coalizão anunciaram que um referendo sobre o casamento avançará na próxima primavera com a pergunta: “O casamento na Estônia deveria permanecer como uma união entre um homem e uma mulher?” O Partido Popular Conservador da Estônia (EKRE), da extrema direita, queria revogar a Lei de Parceria Registrada de 2015 – a medida permite que qualquer casal se registre legalmente. No entanto, eles concordaram em integrar o governo de coalizão com a promessa desse referendo. Em uma matéria para a EuroNews, Linas Jegelevicius buscou entender como a questão está dividindo o país e salientou o temor de muitos de que o novo governo possa “reverter outras liberdades duramente conquistadas”.

 

Ucrânia: Ativistas prepararam um Projeto de Lei para legalizar uniões civis registradas. O coordenador de política e legislação de uma coalizão de ONGs de direitos humanos, Sviatoslav Sheremet, explicou que espera poder contar com as declarações do Papa Francisco em apoio às uniões civis. O objetivo dele é convencer stakeholders s de que o estabelecimento da estrutura legal para casais fora da igreja beneficiará toda a população ucraniana, inclusive os casais do mesmo sexo.

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Que as Cortes Decidam: 
A Suprema Corte dos EUA apreciou o caso “Fulton versus a cidade de Filadélfia” — o objetivo é verificar se as agências que recebem financiamento do governo para fornecer serviços sociais deveriam seguir as leis de não-discriminação. No caso atual, os Serviços Sociais Católicos argumentou que, por ser uma agência religiosa, casais do mesmo gênero não deveriam ser considerados como pais potenciais para filhos adotivos. A cidade argumentou que o grupo é livre para expressar suas crenças religiosas, mas não para ditar os termos de um contrato municipal.

 

No mês passado, o Tribunal Constitucional da Polônia emitiu uma decisão proibindo o aborto por anomalias fetais—segundo ativistas, essa medida efetivamente faz com que quase todos os abortos sejam proibidos, considerando as restrições já em vigor. A decisão ocasionou a várias semanas de protestos (a maior série já vista pelo país) —assista a este vídeo do The Guardian acompanhando os ativistas. Enquanto isso, a decisão deveria ter sido publicada e promulgada até 2 de novembro; no entanto, o governo perdeu o prazo. Mesmo que um porta-voz do governo tenha prometido que a decisão “será vinculativa e ninguém pretende se recusar a publicá-la”, especialistas dizem que isso violaria a Constituição.

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Sobre Religião: A Igreja da Inglaterra publicou “Living in Love and Faith” (Vivendo com amor em fé, na tradução livre para o português)—um conjunto de recursos para abordar “questões difíceis” em torno de gênero, sexualidade e casamento. A coleção inclui um livro de 480 páginas, filmes, podcasts e uma biblioteca online, possibilitando que as pessoas “ouçam e aprendam” umas com as outras. A Igreja afirma que esses recursos vão “inspirar as pessoas a pensar mais profundamente sobre o que significa ser humano e viver no amor e na fé uns com os outros”. O prefácio do livro reconhece os “enormes danos e feridas” causados ​​às pessoas LGBTI + em nome da igreja.

 

Jayne Ozanne, uma líder evangélica britânica cujo trabalho com organizações religiosas visa eliminar a discriminação argumentou que, apesar de seu alcance, a série “Living in Love and Faith” não é o bastante. Ela afirma que reconhecer os danos às pessoas LGBT+ sem tomar medidas para lidar com esse prejuízo é um “fracasso”.

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Medo e Repúdio: 

Antes do Dia da Memória Trans, celebrado em 20 de novembro, o projeto de pesquisa “Monitoramento dos Assassinatos de Pessoas Trans” divulgou dados sobre essa população e as mortes nos últimos 12 meses. O estudo observa que diversos falecimentos em todo o mundo não são relatadas ou têm o gênero errado. Além disso, constata que 82% de todos os crimes relatados ocorreram na América Central e do Sul, com a maioria no Brasil, México e nos Estados Unidos. Segundo a Human Rights Campaign (Campanha de Direitos Humanos, na tradução livre para o português), houve pelo menos 34 mortes violentas de pessoas trans e de gênero não-conformante nos Estados Unidos desde janeiro—mais do que em qualquer outro ano. Observando do que a quantidade de vítimas aumentou, até durante a pandemia, Tori Cooper, da HRC, salienta:

“Devemos todos e todas nos perguntar o que estamos fazendo para pôr fim a esta violência.”

 

O International Institute on Race, Equality and Human Rights (Instituto Internacional de Raça, Igualdade e Direitos Humanos, na tradução livre para o português) publicou um novo relatório aprofundado—“Que cor tem a invisibilidade? A situação dos direitos humanos da população negra LGBTI no Brasil”. O relatório “adota a raça não apenas como um objeto de estudo, mas sim como uma lente que permite observar certas dinâmicas hierárquicas que afetam negativamente a população negra.” Segundo o levantamento, há poucos dados específicos sobre negros LGBTI brasileiros, baseando-se em fontes da sociedade civil, pesquisas acadêmicas, agências governamentais e reuniões com comunidades e grupos ativistas.

 

Turquia: A polícia de Istambul invadiu as casas de 18 mulheres trans e as deteve sob duas alegações: medidas de combate ao coronavírus e por ser local supostamente para prostituição. Elas foram liberadas na manhã seguinte. A organização LGBTI+ local SpoD condenou as autoridades por agirem arbitrariamente no meio da noite. O advogado da SPoD comentou:

 “Essa batida durante o período da pandemia e a longa espera na delegacia são contra os direitos humanos. Você realmente precisa deter pessoas que nem são suspeitas, que você está apenas indagando sobre um assunto, no meio da noite de suas casas? Uma invasão noturna, em vez de uma visita diurna, significa a criminalização das mulheres trans e de suas residências”.

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Ventos da Mudança: 

a ativista polonesa Monika Tichy, presidente do conselho da Lambda Szczecin, demonstrou sua opinião sobre a importância da solidariedade entre os movimentos que lutam por direitos das mulheres e da população LGBT+, classificados por ela como “intimamente interligados”:

“A violência contra as mulheres, incluindo a violência legislativa, e o ódio aos gays são uma manifestação da mesma masculinidade tóxica e machista que envenena nossa civilização e a leva evolutivamente de volta ao nível da selva, onde todo homem quer ser o alfa, com as presas e as garras e, em vez da razão e da consciência, decidam quem está certo.”

 

Turquia: a Kaos GL Association e a Women for Women’s Human Rights Association estão trabalhando em uma colaboração para incentivar as feministas e ativistas LGBTI+ para trabalharem de forma conjunta e se oporem aos ataques de conservadores de direita na região. A oficina mais recente reuniu jornalistas e ativistas para examinar como as representações negativas de pessoas LGBTI+ na mídia aumentaram significativamente após um sermão de Diyanet (o departamento de Assuntos Religiosos do estado).  O discurso teve como alvo a comunidade LGBTI+, pessoas que vivem com HIV e mulheres que tiveram casos extraconjugais. Confira o relatório deles.

 

Botswana: um ativista e membro da African Queer Youth Initiative, concedeu uma entrevista ao podcast “QueerSounds” sobre o que significa ser um organizador do movimento popular.

 

And Youth Voices Count, uma rede regional de defesa de jovens LGBTQI na região Ásia-Pacífico, anunciou os novos destinatários do “Ignite! Empowerment Grants” (bolsas de empoderamento) para jovens liderados e lideradas por grupos LGBTQI na Índia, Nepal, Malásia, Cingapura e Papua Nova Guiné.

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Educação: O Journal of Adolescent Health publicou um novo ensaio sistemático da literatura de três décadas de pesquisa sobre educação sexual abrangente nas escolas dos Estados Unidos. Pesquisadores e pesquisadoras identificaram como a educação de qualidade melhora uma variedade de resultados de saúde fora do contexto da gravidez e de infecções sexualmente transmissíveis. Pesquisadores e pesquisadoras destacaram ainda a importância de iniciar um processo educacional com as pessoas mais jovens:

“Da mesma forma como acontece com todas as outras áreas do currículo, construir uma base inicial e estruturar a aprendizagem com conteúdo e ensino adequados ao desenvolvimento são fundamentais para o desenvolvimento de longo prazo de conhecimentos, atitudes e habilidades que apoiem ​​uma sexualidade saudável.”

 

De acordo com um novo estudo da openDemocracy, a organização cristã americana Family Watch International (FWI) tem “treinado” políticos, políticas, líderanças religiosas e cívicas em toda a África para se oporem à educação sexual abrangente durante programas anuais de “treinamento” há pelo menos uma década. Por meio do site “Stop CSE” (Pare com a educação sexual abrangente, em tradução livre para o português), o grupo tem como alvo 10 países africanos e providencia ferramentas para combater a educação que, segundo eles, promoveria “aborto, promiscuidade e educação sobre direitos LGBT”. A desinformação difundida por grupos como a FWI estava tão cheia de erros na África do Sul que o Departamento de Educação divulgou uma ficha de currículo para desmascarar as alegações. OpenDemocracy conversou com a diretora executiva do UNAIDS, Winnie Byanyima, que é de Uganda, sobre como CSE de qualidade empodera os jovens:

“A CSE é parte integrante do direito à educação e à saúde. Não é opcional. Não é negociável”.

 

No mês passado, a China alterou sua legislação, exigindo que as escolas forneçam uma educação sexual apropriada conforme a idade para todas as crianças. No entanto, em um texto para o South China Morning Post, Viola Zhou relatou que o governo não emitiu nenhum plano para implementar um currículo nacional e que a lei apenas menciona a prevenção ao abuso sexual. Especialistas locais em educação dizem que valores muito arraigados e a falta de conhecimento entre professores e professoras podem fazer com que a criação de um currículo abrangente e inclusivo seja um desafio.

 

Durante a última eleição nos Estados Unidos, quase 60% do eleitorado no estado de Washington aprovou um mandato abrangente de educação sexual, exigindo que as escolas forneçam informações adequadas à idade com base nos padrões do estado. Washington é o primeiro estado a colocar a educação sexual em votação. Nos EUA, os currículos que incluem informações sobre abstinência, HIV e consentimento variam de estado para estado. Além disso, um estudo do Instituto Guttmacher descobriu que seis estados determinam que as relações não-heterossexuais sejam debatidas apenas de forma negativa.

 

Em uma publicação para a Reuters, Anjelica Jarrett examinou como as universidades japonesas estão liderando o caminho na inclusão de pessoas trans. Em Bangladesh, a Fundação Ahmad Firdaus Bari Choudhury abriu a primeira escola islâmica do país para estudantes trans e do terceiro sexo. Enquanto isso, Shinta Ratri, que fundou o primeiro internato islâmico da Indonésia para mulheres trans há mais de 10 anos, opinou como a pandemia impactou a instituição.

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Esportes e Cultura: Na Nigéria, o Equality Hub lançou um novo serviço de streaming, a rede “EhTV”, para exibir conteúdo LGBTQ premium feito no país.

 

A vencedora do programa de TV Drag Race Thailand, Aunchalee Pokinwuttipob, conversou com Chalinee Thirasupa sobre protestos em curso no país e como tais manifestações oferecem uma oportunidade para as pessoas LGBT lutarem por maiores liberdades.

 

Em um texto para o The Guardian, Isabelle Kliger observou como drags são líderes em movimentos ativistas há muito tempo. Ela falou com artistas sobre como a televisão trouxe uma nova visibilidade e expandiu suas oportunidades para expressar suas opiniões.

 

Confira o trailer da nova série documental “Estamos aqui”, que acompanha uma equipe de artistas drag, incluindo Bob the Drag Queen, Eureka O'Hara e Shangela Laquifa Wadle enquanto viajam para cidades rurais dos EUA para conversar com pessoas residentes e fazer shows com pessoas locais. Como a crítica Mary Elizabeth Williams descreve, por baixo da superfície brilhante e cintilante do programa, existe um avanço quando as comunidades respeitam sua própria população e quando a família de escolha de uma pessoa a ama mesmo nos momentos mais difíceis:

“Afinal, se cada comunidade marginalizada esperasse até que tudo estivesse arrumado e seguro e tudo bom para comemorar, não teríamos festas. E mesmo que nem todas as pessoas queiram vir, a mágica ainda acontece quando todas as pessoas são bem-vindas”.

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