Olhar para a Igualdade: 17 de dezembro de 2020

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Diretamente da ONU: Ao comemorar o Dia dos Direitos Humanos, a diretora executiva do UNAIDS, Winnie Byanyima, divulgou uma declaração que destaca as desigualdades exacerbadas pela COVID-19. Ela observou que, durante a pandemia, pessoas vulneráveis, incluindo profissionais do sexo, gays, homens que fazem sexo com homens, pessoas trans e pessoas que usam drogas, muitas vezes, foram alvos de autoridades, expostas à violência e omitidas dos programas de proteção social. Após classificar o direito penal como um “instrumento pesado e contundente”, ela apelou a uma reforma para que as leis funcionem e protejam todas as pessoas.

 

Junto com essa declaração, o UNAIDS lançou o Solidarity Fund (Fundo de Solidariedade, na tradução livre para o português) para apoiar empreendedorismo social e microempresas pertencentes a pessoas que enfrentaram dificuldades especiais durante a pandemia, incluindo pessoas vivendo com HIV, mulheres, profissionais do sexo, pessoas trans, pessoas que usam drogas, gays e homens que fazem sexo com homens. O fundo será testado no Brasil, Gana, Índia, Madagascar e Uganda.

 

Na região da América Latina e do Caribe, o UNAIDS fez uma parceria com Red de Mujeres Trabajadoras Sexuales da América Latina e do Caribe (RedTraSex) para anunciar a expansão de uma Parceria Global que visa eliminar todas as Formas de estigma e discriminação relacionados ao HIV em toda a região.

 

O especialista independente da ONU em Orientação Sexual e Identidade de Gênero, Victor Madrigal-Borloz, se reuniu com mais de 50 especialistas para declarar que há uma ligação direta entre a pandemia da COVID-19, vulnerabilidade socioeconômica e o risco de trabalho forçado e exploração sexual. Os e as especialistas apelaram aos governos para que lidem com as desigualdades que empurram as pessoas para as margens da sociedade, sendo submetidas a escravidão e a exploração. Eles apelaram aos líderes para que  melhorem o  acesso aos serviços essenciais de saúde e saúde sexual, aconselhamento em saúde mental, assistência jurídica, treinamento profissional e apoio à geração de renda sem discriminação.

 

O PNUD,  Pan-Africa ILGA, o Civicus e a Positive Vibes promoveram a primeira série de chats de vídeo a respeito da inclusão LGBTI e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) na África —“O que inclui as comunidades LGBTI?”. Confira!

 

A ONU realizou a 13ª assembleia da Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, durante a qual participantes discutiram o direito ao emprego, as necessidades de pessoas idosas e a promoção de ambientes inclusivos. Um evento paralelo especial foi realizado sobre as experiências de pessoas LGBTI com deficiência, avaliando como a discriminação é agravada pela sexualidade, gênero, etnia, idade, condição econômica e outros fatores. Co-organizada por Missões da Finlândia e Costa Rica, pela ONU Mulheres e por vários grupos de ativistas, a conversa observou o desafio da acessibilidade em espaços queer e o impacto da homofobia e transfobia nos movimentos de deficientes. Assista!

 

O projeto da ONU Free & Equal (Livres e Iguais) uniu forças com Cyndi Lauper e sua organização, True Colors United, para lançar a primeira campanha global para lidar com a privação de alojamento entre as pessoas dentro da população de jovens LGBTIQ +. Confira o vídeo e aprenda mais sobre como você pode apoiar jovens sem-teto e com moradia precária!

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HIV, Saúde e Bem-estar: com mais um Dia Mundial de Combate à AIDS, muitas lideranças aproveitaram a oportunidade para refletir sobre como a COVID-19 atrapalhou a resposta ao HIV e impactou desproporcionalmente as pessoas mais vulneráveis ao interromper o acesso a cuidados de saúde, emprego e outras redes de segurança. As lideranças também elogiaram a criatividade de profissionais de saúde da linha de frente que desenvolveram maneiras inovadoras de alcançar as comunidades para promover acesso a testes, serviços de tratamento e prevenção.

 

O UNAIDS divulgou um novo relatório, o “Vencendo as pandemias com as pessoas no centro da resposta”, no qual pedia aos países para adotarem objetivos de HIV mais ousados, porém viáveis ​​para acabar com a AIDS como uma ameaça à saúde pública até 2030. A diretora executiva Winnie Byanyima refletiu:

“O fracasso coletivo em investir em respostas  abrangentes contra o HIV, baseadas em direitos e centradas nas pessoas, tem um preço terrível. Implementar apenas os programas politicamente mais palatáveis ​​não mudará a maré contra a COVID-19 ou acabará com a AIDS. Para colocar a resposta global de volta nos trilhos, será necessário colocar as pessoas em primeiro lugar e combater as desigualdades nas quais as epidemias proliferam”.

 

O Society for AIDS in Africa (SAA) anunciou que a Conferência Internacional de 2021 sobre AIDS e ISTs na África (ICASA) não será mais realizada em Kampala, Uganda, em dezembro, porque a SAA não poderia garantir "paz, segurança e um ambiente propício para todas as pessoas". Ativistas solicitaram recentemente que a SAA reconsiderasse Uganda como anfitrião após dois dias de tumultos no país que deixaram pelo menos 49 mortos.

 

Décadas após o surgimento da pandemia de HIV e AIDS, as pessoas que vivem com HIV estão vivendo mais, criando uma necessidade de cuidados mais focados conforme envelhecem...

Um novo estudo holandês publicado no JAIDS descobriu que as pessoas que vivem com HIV correm um risco maior de desenvolver fragilidade em comparação com seus pares. Um artigo da Geriatrics, ao avaliar uma clínica sediada no Reino Unido, descobriu que—trabalhando juntos — especialistas em geriatria e HIV foram capazes de melhorar a qualidade de vida em uma série de medidas. E um estudo dos cuidados de AIDS nos Estados Unidos observou como a solidão impacta a morbidade e mortalidade em pessoas idosas que vivem com HIV. Os autores descobriram que a depressão e o estigma relacionados a HIV estavam fortemente ligados ao nível de solidão de uma pessoa.

 

Enquanto isso, um grupo da Universidade de Toronto está examinando gays e HSH de meia idade e idosos que testaram positivo e negativo para HIV. A instituição visa avaliar os recursos, as forças e outros fatores de proteção que os permitiram permanecer resilientes diante décadas de exposição à epidemia de HIV.

 

Um novo artigo no American Journal of Hospice & Palliative Medicine examinou a relação que algumas pessoas LGBTQ mais velhas têm com a espiritualidade e como essa questão poderia ser positiva para os hospícios e cuidados paliativos mais inclusivos.

 

Para concluir, um artigo no Journal of Aging Studies revisou várias publicações recentes sobre pessoas LGBT+ mais velhas. Com a pesquisa, foram identificados seis problemas principais que levaram à comunicação imprecisa, com graves implicações para políticas, práticas e pesquisas futuras. O mais importante, os autores descobriram que os artigos rotineiramente tiravam conclusões para toda a “comunidade LGBT+”, mesmo quando as pessoas participantes do estudo eram predominantemente de um subgrupo. O grupo de pesquisadores ofereceu algumas soluções para resolver esses problemas para criar dados robustos e confiáveis ​​que podem ser úteis para a formulação de políticas e profissionais que prestam cuidados de pessoas LGBT+ mais idosas.

 

Destaques sobre saúde da mulher...

Suíça: os grupos de apoio VoGay, Les Klamydia's e Lilith apresentaram os resultados de uma pesquisa sobre a saúde de lésbicas e mulheres que fazem sexo com mulheres (incluindo pessoas trans, intersexo e não-binárias que se identificam como mulheres). Eles anunciaram que havia várias “descobertas alarmantes”, incluindo que mais da metade teve pensamentos suicidas, mais de dois terços sofreram violência sexual e quase um terço não tem uma/um ginecologista ou outro/a profissional para a saúde sexual.

 

Eurocentralasian Lesbian+ Community (EL*C) lançou uma pesquisa para determinar como lésbicas e grupos da população lésbica em toda a Europa e Ásia Central foram impactados pela COVID-19. O estudo está disponível em inglês, italiano, russo, turco, francês, espanhol, alemão e sérvio. Confira e divulgue as notícias!

 

É hora de dar uma olhada no triplo impacto de raça, sexualidade e gênero nas experiências de pessoas LGBTQ negras com a COVID-19 ao redor do mundo...

O Global Black Gay Men Connect (GBGMC) divulgou resultados de uma pesquisa com pessoas LGBTQ negras da Nigéria, Ruanda, África do Sul, Suazilândia, Suíça, Uganda, Tanzânia, Zâmbia, Zimbábue, Reino Unido, Estados Unidos, Argentina, Barbados, Gana, Quênia e Libéria. A organização descobriu que a pandemia criou um “exacerbação iminente de discriminação”, incluindo um impacto econômico devastador, acesso reduzido aos cuidados de saúde, aumento da violência e uma “brutalidade sancionada pelo governo”.

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Mundo da Política: No Dia dos Direitos Humanos, o parlamento do Butão votou pela remoção de seções do código penal usadas para criminalizar a atividade sexual entre pessoas do mesmo gênero. O rei do país precisará aprovar a alteração para que ela entre em vigor.

 

Argentina: A Câmara dos Deputados aprovou um projeto de lei para legalizar o aborto de gestações de até 14 semanas. A lei agora segue para aprovação do Senado. Do lado de fora do prédio do congresso, milhares de pessoas celebraram—muitas dormiram nas ruas durante a noite esperando a notícia. A deputada Silvia Lospennato afirmou:

“Hoje vamos devolver às mulheres o direito de decidir sobre os próprios corpos. Ninguém mais vai decidir por nós.”

 

Os países consideram leis de não-discriminação e de como interpretar direitos humanos, medidas de proteção contra a discriminação e liberdades religiosas...

Filipinas: o Comitê do Senado para Mulheres, Crianças, Relações Familiares e Igualdade de Gênero aprovou o Projeto de Lei da Igualdade, (SOGIE) que proíbe a discriminação contra pessoas com base em seu gênero real ou percebido e orientação sexual. O PL agora segue para o plenário. Essa iniciativa foi apresentada pela primeira vez ao Congresso do país há vinte anos, mas foi paralisada todos os anos em que foi avaliada. Durante a recente audiência, muitas pessoas ficaram alarmadas com os equívocos e comentários “flagrantemente perigosos” feitos por quem se opunha. Embora tenha ganhado apoio político e de celebridades, o presidente do Senado, Vicente Sotto, prometeu bloqueá-lo.

 

Estados Unidos: o Department of Labor Office of Federal Contracts (Escritório de Contratos Federais do Departamento de Trabalho, na tradução livre para o português) emitiu uma nova regra, permitindo a grupos com fins lucrativos que estejam contratados pelo governo federal a requerer isenção religiosa das políticas de não-discriminação. Antes, apenas organizações religiosas sem fins lucrativos estavam isentas. A diretora-jurídica de Legislação e Política da Lambda, Jennifer Pizer, observou que a regra cria “isenções essencialmente ilimitadas”, sendo “difícil exagerar o dano” feito às pessoas LGBTQ, mulheres, minorias religiosas e outros.

 

O jornal The Guardian divulgou que o Reino Unido lançou uma revisão da Lei dos Direitos Humanos. O objetivo é avaliar como a legislação, que incorpora direitos estabelecidos pela Convenção Europeia dos Direitos Humanos, é interpretada nos tribunais. O Stonewall explicou que a medida “sustenta” a igualdade LGBT no país; a Anistia Internacional advertiu que acabar com a lei seria um “salto gigante para trás” e “a maior redução de direitos na história do Reino Unido”:

“As pessoas demoraram muito para conquistar esses direitos e não devemos permitir que lideranças políticas os retirem numa penada.”

 

 

Os direitos trans avançam na Índia, enquanto o Paquistão vê aumento da violência...

Índia: o Ministro da Justiça Social e Empoderamento anunciou um novo site para facilitar a obtenção da Certidão Trans e da carteira de identidade com o gênero apropriado. O Ministério também estabelecerá abrigos para a população trans em todos os estados, com hospedagem e treinamento vocacional.

 

Um grupo de 28 pessoas do Parlamento Europeu enviou uma carta aberta ao governo do Paquistão solicitando que investigassem os recentes ataques a ativistas pelos direitos de pessoas trans no país. A ativista internacionalmente reconhecida Nayyab Ali sofreu ferimentos graves quando foi agredida e roubada em sua casa em novembro. Observando que o ataque “foi claramente uma represália por seu trabalho de direitos humanos”, integrantes do Parlamento disseram estar “profundamente incomodados” pelo fato de as autoridades não terem responsabilizado os infratores por este e outros ataques “horríveis” a pessoas trans.

 

Holanda, Alemanha e Austrália fazem reparações das leis antigas que prejudicavam as pessoas devido ao seu gênero ou sexualidade...

Em nome do governo da Holanda, o Ministro da Proteção Legal, Sander Dekker, apresentou um pedido formal de desculpas por uma legislação que exigia das pessoas procedimentos de esterilização irreversíveis para se adequar à identidade de gênero reconhecida. Além disso, qualquer um que tenha passado por esses procedimentos pode reivindicar uma indenização de € 5.000. A lei esteve em vigor entre 1985 e 2014.

 

Alemanha: o ministro da defesa, Annegret Kramp-Karrenbauer, emitiu um pedido oficial de desculpas por “discriminação sistemática”, incluindo dispensas desonrosas e exames médicos forçados contra gays e lésbicas que serviram nas forças armadas entre 1955 e 2000. O governo aprovou uma legislação que alterará os registros militares de pessoas veteranas “marcadas” ​​e fornecerá uma soma simbólica de € 3.000 para as pesssoas que foram demitidas, preteridas para promoção ou condenadas em tribunal militar por sexo gay consensual. A Alemanha já havia se desculpado e compensado homens gays e bissexuais perseguidos ​​pelas leis da era nazista, quando a homossexualidade era criminalizada. Enquanto isso—por mais de um ano—, ativistas trans têm pressionado por um pedido de desculpas e compensação pela lei alemã (derrubada pelos tribunais em 2011) que exigia a esterilização para reconhecimento de gênero.

 

Austrália: o estado da Tasmânia está considerando recomendações que ofereçam compensação automática para pessoas cujos antecedentes (boletins de ocorrência) foram removidos, de acordo com o previsto pelo Expungement of Historical Offenses Act  (Lei da Eliminação dos Crimes Históricos, na tradução livre para o português) de 2017. Essas ocorrências incluem crimes relacionados a sexo gay consensual e crossdressing. A compensação foi uma das várias recomendações feitas por uma recente revisão autônoma da lei. A revisão também concluiu que a lei deve ser expandida para incluir outras acusações e condenações relacionadas à alegada orientação sexual e identidade de gênero.

 

Um novo livro, “The Case for Gay Reparations” (O caso de medidas de reparação para gays, em tradução livre para o português), do Professor Omar G. Encarnacion, está disponível para encomenda. A obra examina duas décadas de medidas compensatórias—políticas destinadas a compensar uma história de discriminação, estigmatização e violência com base na orientação sexual e identidade de gênero. Confira o artigo de opinião da New York Times sobre o assunto.

 

Hungria, Turquia e Rússia e o uso do poder do Estado para censurar e restringir o conteúdo temático LGBT...

Depois de um escândalo recente responsável pela renúncia do membro do Parlamento Europeu da Hungria, József Szájer, ativistas e outros membros do Parlamento Europeu estão se manifestando contra o que chamam de “hipocrisia” nas políticas do país europeu em relação à comunidade LGBT+. A Reuters divulgou que o Parlamento da Hungria aprovou uma nova emenda à constituição que redefine a “família”—proibindo efetivamente as adoções por casais homoafetivos. A emenda também exige que as crianças sejam criadas de acordo com a “identidade constitucional e cultura cristã”. Enquanto isso, pelo menos quatro prefeituras proibiram recentemente os livros infantis e outros tipos de “Propaganda LGBT”, levando István Boldog, membro do Parlamento da Hungria, a prometer que apresentará uma emenda constitucional para proibir esse tipo de comunicação em todo o país.

 

O Ministério do Comércio da Turquia anunciou que todos os produtos, incluindo aqueles vendidos em sites de comércio eletrônico com uma frase LGBT e temas do arco-íris, devem ser marcados com um aviso de “indicação etária para 18 anos ou mais”. 

 

Rússia: o Vice-Presidente da Duma Estatal, Pyotr Tolstoy, anunciou que havia pedido ao Ministério de Assuntos Internos para “lidar” com o grupo de apoio “Deti-404” (“Crianças não encontradas”) e sua criadora Elena Klimova. Klimova foi considerada culpada de violar a lei do país que proíbe a “propaganda gay” duas vezes e seu site está bloqueado no país. No entanto, de acordo com Tolstoy, muitos pais reclamaram que seus filhos ainda conseguem acessar o grupo que dá apoio a jovens LGBT por meio do Facebook e da rede social russa VKontakte. Enquanto isso, o Tribunal Distrital de Yekaterinburg multou um jovem de 20 anos em 50.000 rublos por violar a proibição com uma página amigável LGBT nessa mesma mídia social. O grupo local de apoio LGBT “Coming Out” está atualmente conduzindo uma pesquisa com jovens sobre como a lei da “propaganda gay” impactou esse grupo. Os resultados farão parte de um novo relatório para o Comitê das Nações Unidas sobre os Direitos da Criança.

 

Recentemente, ativistas russos comemoraram vitória quando a Comissão de Atividade Legislativa rejeitou um pacote de propostas de alterações ao Código da Família que incluía emendas para proibir as pessoas trans de se casar, adotar filhos ou “alterar” o gênero.

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Políticas da União: O Parlamento da Estônia -- o Riigikogu - está debatendo se deve realizar um referendo nacional sobre a igualdade do casamento com a seguinte pergunta: “O casamento continuará sendo uma união entre um homem e uma mulher na Estônia?”. Uma segunda audiência sobre o referendo será realizada em janeiro. Kaja Kallas, líder do partido de oposição, classificou o referendo como inútil, ridículo e cruel:

“Por que precisamos dividir nossas famílias? Para que isso é bom? A quem isso beneficia? O que é melhor se dissermos a algumas pessoas que sua família não está certa? Vamos, por favor, cancelar este referendo.”

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Que as Cortes Decidam: 
a criminalização da atividade sexual entre pessoas do mesmo gênero está em debate na Jamaica e em Cingapura...

 

Jamaica: a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) publicou um relatório declarando que seções da Lei de Ofensas contra a Pessoa da Jamaica (que criminaliza a atividade sexual entre pessoas do mesmo gênero e “atos de indecência grosseira”), violam os direitos individuais protegidos pela Convenção Americana sobre Direitos Humanos. Em depoimento à CIDH, Sarah Bosha, assessora jurídica do AIDS-Free World, disse que a lei “legitima e permite atitudes homofóbicas por parte de profissionais de saúde” e “impulsiona as pessoas LGBT a clandestinidade e a se afastarem dos serviços essenciais de teste e tratamento referentes ao HIV”.

 

Em Cingapura, o ativista e médico Tan Seng Kee apresentou um novo recurso contra a Seção 377A do Código Penal—lei que criminaliza a atividade consensual entre pessoas do mesmo gênero. Segundo o Dr. Tan, a posição do Procurador-Geral de que a lei não é cumprida significa que ela está obsoleta e, portanto, deve ser abolida. No ano passado, a Suprema Corte rejeitou três contestações separadas contra 377A.

 

O Reino Unido e o Canadá estão avaliando em que idade jovens têm o poder de tomar suas próprias decisões sobre sua saúde no que se refere à sua identidade de gênero...

Reino Unido: o Tribunal Superior emitiu uma decisão para impedir que pessoas com menos de 16 anos recebessem prescrição de inibidores de puberdade sem a aprovação direta de um tribunal. “Inibidores de puberdade” são medicamentos que interrompem temporariamente o desenvolvimento da puberdade e das características sexuais secundárias, bloqueando o crescimento do hormônio. A Clínica Mayo explica que esses medicamentos podem ser prescritos para jovens trans para suprimir temporariamente a puberdade, reduzir a disforia de gênero e eliminar a necessidade de cirurgias futuras.

 

Embora a decisão esteja em fase de recurso, jovens do Reino Unido que fazem tratamento pelo Sistema Nacional de Saúde (NHS) receberam a informação que não poderão mais obter medicamentos pela entidade. A Teen Vogue falou com Alex Vellins, de 18 anos, sobre o impacto da decisão. O grupo de apoio Stonewall disse que a medida estabelece um “precedente perigoso não apenas para os direitos de jovens trans, mas para todas as pessoas”. A ONG Mermaids chamou de “potencialmente catastrófico”:

 “Não se pode negar o impacto que isso pode ter, não só na população de jovens trans que necessitam de bloqueadores hormonais. Pode potencialmente abrir as portas para outras questões sobre a autonomia corporal e quem tem o direito de governar seu próprio corpo”.

 

Canadá: a Suprema Corte da British Columbia ordenou uma liminar temporária impedindo a mastectomia para confirmação de gênero de um adolescente de 17 anos. A mãe disse ao tribunal que o procedimento era “desnecessário” e culpou um programa do Ministério da Educação por empurrar seu filho para uma clínica de mudança de gênero. Ela também está buscando uma ordem judicial para acabar com o uso de bloqueadores da puberdade por ele. A ativista dos direitos trans Morgane Oger explicou à Reuters que a Lei das Crianças do Canadá permite que jovens com menos de 19 anos de idade possam fazer tratamento médico sem envolvimento dos pais. Basta que o/a profissional de saúde tenha certeza de que o tratamento é o melhor para a criança e que essa entenda os detalhes do tratamento, incluindo riscos e benefícios.

 

EUA: proteções para jovens LGBT e para pais homoafetivos...

EUA: um tribunal federal decidiu que a proibição para o oferecimento da “terapia de conversão” a jovens viola os direitos de liberdade de expressão de terapeutas. No país, 20 estados e alguns municípios baniram a “terapia de conversão”. A presidente da American Psychological Association, Sandra L. Shullman, chamou a decisão de “equivocada” e observou que “pode muito bem resultar em danos aos pacientes, especialmente às pessoas menores, que muitas vezes são submetidos a este tipo de terapia contra a vontade”.

 

EUA: a Suprema Corte se recusou a ouvir um caso cujo intuito era permitir que o estado de Indiana se recusasse a reconhecer pais do mesmo sexo na certidão de nascimento de seus filhos. Os tribunais de instância inferior decidiram a favor de 8 casais de lésbicas que, após terem concebido por meio de doadores de esperma, buscavam ter as duas mães listadas nas certidões de nascimento dos filhos e filhas. Em circunstâncias semelhantes, o estado reconhece os maridos como pais nos mesmos documentos, mesmo que a filha ou o filho tenha sido gerado/a por meio de inseminação artificial.

 

Estudantes turcos ainda não têm sua vez na Justiça...

Turquia: um tribunal criminal de Ancara adiou a audiência final contra 18 estudantes e um professor que foram presos em 2019 durante uma marcha pacífica do Orgulho LGBT. A Associação Ünikuir criticou a demora e acusou o tribunal de tentar “destruir a solidariedade internacional”. Muitos grupos de direitos humanos se manifestaram em apoio às pessoas participantes e pediram uma investigação independente e imparcial sobre a força excessiva que a polícia usou contra as pessoas presas.

Mais sobre Justiça



Sobre Religião: o arcebispo Desmond Tutu se juntou a quase 400 importantes lideranças religiosas de 35 países que representam 10 religiões a fim de assinar uma declaração histórica, pedindo o fim da criminalização de pessoas LGBT+ e uma proibição global das chamadas terapias de conversão, conforme divulgado pelo jornal The Guardian e por outros veículos. A declaração dá início ao lançamento da “Comissão Interreligiosa Global sobre Vidas LGBT+” que providenciará uma “voz forte e oficial” da comunidade religiosa que gostaria de afirmar e celebrar a dignidade de todas as pessoas, independentemente de sexualidade, expressão ou identidade de gênero.

 

Lideranças religiosas e ativistas de todo o mundo se reuniram virtualmente para a “Condenação Íntima 2: Continuando com um diálogo sobre descriminalização”, uma conferência para discutir o papel que a Igreja tem desempenhado na manutenção de leis que perseguem a “intimidade” entre pessoas do mesmo gênero. O evento de três dias focou principalmente nas experiências daquelas nações no Sul Global e incluiu tópicos como a “hipocrisia” do cristianismo anti-gay, a relação entre as leis que criminalizam as pessoas LGBT e que buscam controlar as mulheres, espiritualidade LGBTQ,  ativismo e mais. Vídeos da conferência disponíveis aqui.

 

EUA: os teólogos católicos Michael Lawler e Todd Salzman publicaram um ensaio apelando à Igreja a ir ao encontro de pessoas trans e intersexo, com o objetivo de afirmar e respeitar essa população, e “parar de intimidar ou discriminar essa população”. O ensaio analisa documentos recentes da Igreja, incluindo “Homem e Mulher, Ele os Criou” do Vaticano – de acordo com eles, interpreta-se mal a vivência de pessoas trans e intersexo. Pedindo mais aceitação, ambos refletem:

“As pessoas trans e intersexo não menos do que qualquer outra pessoa, são criadas à imagem e semelhança misteriosa do Deus misterioso. Se criados por Deus iguais a todas as outras criaturas humanas, perguntamos: por que são uma ameaça e perdidas na Igreja Católica?”

 

Paquistão: legislativo apresentou uma resolução exigindo que pessoas trans tenham permissão para realizar o Hajj e a Umrah—duas peregrinações islâmicas a Meca, na Arábia Saudita. Como explicou a ativista Zanaya Chaudhry, o governo do Paquistão marca os passaportes de pessoas trans com um "x" na coluna de gênero. No entanto, o governo saudita não reconhece esse marcador. Ela salientou:

“Precisamos de uma solução para este problema ser discutido, para que a população trans muçulmana do país tenha o mesmo acesso à casa de Deus que qualquer outra pessoa de fé.”

 

A Rede Global Inter-Religiosa (GIN-SSOGIE) lançou o “Fearless Allies toolkit” (Kit de Ferramentas de Alianças Corajosas, na tradução livre para o português)– o conjunto de estratégias para promover diálogo entre lideranças religiosas e pessoas LGBT+, desenvolvido a partir de uma série de entrevistas com lideranças católicas, hindus, metodistas, africanas tradicionais e islâmicas.

Mais sobre Religião

 

 

Medo e Repúdio: Human Rights Watch divulgou um novo estudo, intitulado “They’re Chasing Us Away from Sport” (Estão nos perseguindo nos esportes, na tradução livre para o português), documentando as violações dos direitos humanos às quais atletas são submetidos/as por órgãos que regulam a participação em esportes femininos por meio de “testes de sexo”. O relatório expõe 80 anos desses testes que policiaram mulheres (especialmente as de etnia e raça minoritárias) em todo o mundo e levaram ao ridículo, assédio, falência econômica, além de exames genitais invasivos e não consensuais.

 

Austrália: a Monash University divulgou dois estudos que examinam a discriminação enfrentada por jovens atletas. Um estudo com esportistas lésbicas, gays e bissexuais nos Estados Unidos, Canadá, Austrália, Nova Zelândia, Irlanda e Reino Unido descobriu que 82% dos atletas masculinos e 77% das atletas escondem sua sexualidade de colegas de equipe. As pessoas que se revelaram eram significativamente mais propensas a serem alvo de bullying ou calúnias. A outra pesquisa examinou como adolescentes do sexo masculino no rugby e no hóquei no gelo usam uma linguagem homofóbica. Quase 70% relataram que seus companheiros usam calúnias LGBTfóbicas e mais de 53% relataram usar calúnias dessa natureza. O levantamento observou que os atletas com atitudes positivas e negativas em relação a gays eram igualmente propensos a usar calúnias. O ex-jogador de futebol americano David Kopay, um dos primeiros atletas profissionais se assumir publicamente, refletiu sobre a decepção que muitas pessoas sentem com esses resultados:

“Sacrifiquei-me muito para tentar mudar esse problema. Sei que a maioria das pessoas não quer dizer nada quando usa essas palavras horríveis, mas você não tem ideia do que as pessoas estão pensando."

 

Chile: o Movimento de Integração e Libertação Homossexual (Movilh) alertou para uma nova “onda” de violência contra mulheres trans e gays. A entidade denunciou ainda as autoridades por não apoiarem as vítimas.

 

EUA: a atriz e ativista Laverne Cox revelou que ela e um amigo foram fisicamente atacados por um homem gritando calúnias transfóbicas. Ao afirmar que “isso não é chocante para mim" porque ela foi assediada e intimidada durante toda a sua vida, Laverne observou que ser uma celebridade não a protegeu da violência contra pessoas trans. No entanto, ela compartilhou sua história porque:

“Acho importante me lembrar e lembrar a vocês que, quando essas coisas acontecem, não é sua culpa. Não é sua culpa que existam pessoas que não gostem de você no mundo”.

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Ventos da Mudança: a ILGA global lançou a atualização de 2020 para seu relatório sobre homofobia permitida pelo Estado, analisando a legislação que afeta as pessoas em todo o mundo devido à sua orientação sexual. Conclui-se que, embora tenha havido progresso em muitos lugares, durante a pandemia de COVID-19, muitos governos “intensificaram seus esforços para oprimir” as comunidades LGBTQ. Julia Ehrt, diretora-mundial de Programas da ILGA, ponderou:

“Em meio a tais situações preocupantes, proteções legais explícitas contra a violência e a discriminação se tornaram—mais do que nunca—primordiais para proteger nossos direitos humanos e nossa dignidade, para prevenir danos e para curar das violações que sofremos”.

 

A Outright International anunciou que já distribuiu quase USD 1 milhão em pequenas doações para pessoas LGBTIQ por meio de seu fundo de ajuda da pandemia. Confira o relatório sobre os beneficiários do fundo!

 

Na Malásia, um grupo de ONGs lançou uma campanha para arrecadar dinheiro para pessoas LGBTQ que se encontram sem um lar. Com uma meta de 30.000 MYR (o equivalente a USD 7.400), o grupo planeja construir um abrigo no Vale Klang e providenciar apoio psicossocial às pessoas residentes.

 

Rainbow Railroad, uma organização sem fins lucrativos que ajuda pessoas LGBTQI em todo o mundo a escapar de ambientes perigosos, lançou "60 em 60"—uma campanha para arrecadar CA$ 600.000 (o equivalente a USD 470.000) para mover 60 pessoas para um local seguro antes do final do ano. O grupo, que recebe milhares de pedidos de ajuda anualmente, diz que cada resgate custa cerca de CA$ 10.000 CA para ajudar uma pessoa a se reinstalar em um novo país.

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Esportes e Cultura: há vários novos filmes fantásticos para você conferir em dezembro...

 

O Festival Internacional de Cinema Queer de Chennai estreou “Sab Rab De Bande”—o primeiro documentário indiano sobre ser queer e sikh. O diretor Sukhdeep Singh passou quatro anos fazendo a obra que apresenta sikhs queer de toda a Índia.

 

Confira a nova série de documentários “Them” (“Elxs”, na tradução livre para o português) que busca educar pessoas cisgênero sobre as vidas de pessoas trans e não-binárias. A série foi filmada nos bastidores do novo videoclipe da cantora pop irlandesa-italiana Flavia, apresentando um elenco de pessoas trans, não-binárias e com gênero não-conformante. A transmissão é gratuita na rede LGBTQ Revry!

 

A instituição de caridade britânica Kaleidoscope Trust organizou um painel e uma exibição do novo filme “KINGS”, de Melanie Grant, sobre a “King Conference and Show” de 2019—um evento que celebra a masculinidade trans, apresentando mulheres LBQ do Caribe e de outras localidades. Moderada pelo premiado diretor Campbell X, a discussão reuniu pessoas de Trinidad e Tobago, Belize, Eswatini, Venezuela, Reino Unido e mais. Assista a discussão e confira o filme.

 

Recém-exibido no Festival de Cinema de Toronto, o curta-metragem nigeriano Ìfé, dirigido por Uyaiedu Ikpe-Etim e produzido por Pamela Adie e The Equality Hub, foi lançado na EHTv Network. Confira! O crítico Otosirieze Obi-Young descreve:

“O Ìfé é uma experiência lésbica e, independentemente de sexo e gênero, uma história simples de namoro moderno. O filme não está interessado em “fazer uma observação” porque reconhece que as vidas de pessoas LGBTQ não são vividas para destacar pontos para convicção heterossexual”.

 

A França anunciou que sua inscrição oficial de melhor longa-metragem estrangeiro no Oscar será “Two of Us”—a história de um romance secreto de décadas. O crítico Mark Keizer o classificou como “uma história de amor lésbica inteiramente única e vital”. Confira o trailer!

 

O novo documentário “Queer Japan”, de Graham Kolbeins, celebra a diversidade da comunidade LGBTQ+ do país. Com mais de 100 entrevistas conduzidas em cinco anos e em várias localidades japonesas, Kolbeins “descasca aquele organizado verniz japonês para revelar um vibrante ecossistema social que luta pela igualdade”. O filme está disponível—assista ao trailer!

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