Olhar para a Igualdade: Janeiro de 2021

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Carxs amigxs e colegas,

Nos últimos seis anos, o Olhar Para a Igualdade acompanhou e compartilhou mais de 13 mil histórias de todo o mundo. Essas histórias nos mostraram que o caminho para a igualdade é longo e sinuoso. Também demostrou que o progresso é alimentado pelo ativismo ousado e corajoso de lésbicas, gays, bissexuais, transgêneros, pessoas não binárias, comunidade queer, pessoas intersexo e demais pessoas aliadas ao redor do mundo. Quando a primeira edição do Olhar Para a Igualdade foi lançada em 2014, o mundo era bem diferente: 78 países criminalizavam as relações entre pessoas do mesmo gênero, em comparação com 67 hoje. Ser trans ainda fazia parte dos “Transtornos Mentais e Comportamentais” na Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde, e isso só mudaria em 2019. Houve progresso para algumas pessoas, mas foi lento e não apreciado igualmente dentro e entre as comunidades LGBTIQ+.

A maneira como as pessoas se comunicam e as ferramentas utilizadas para acessar informações e compartilhar conhecimento também mudaram muito nos últimos anos. Considerando o contexto atual, a conclusão do projeto de financiamento do Olhar Para a Igualdade e a urgência de inovar para acelerar o progresso nas agendas globais de direitos, saúde e HIV (agenda LGBTIQ+), decidimos pausar a produção desse boletim e refletir sobre como o UNAIDS pode apoiar melhor o compartilhamento de informações e conhecimentos sobre os direitos LGBTIQ+ e questões relacionadas ao HIV. Nos próximos meses, entraremos em contato com diferentes partes interessadas diretamente, incluindo comunidades LGBTIQ+, para entender pontos de vista, buscar ideias e inovações sobre os tipos de contribuições úteis do UNAIDS neste momento.

Também convidamos a compartilhar conosco quaisquer sugestões ou recomendações por e-mail: euzebiodelimac@unaids.org

Tendo isso em mente, desfrute da 112ª edição dessa newsletter!

 

Diretamente da ONU: o UNAIDS divulgou um comunicado alertando que a “difamação” das pessoas LGBT em Uganda pode levar à violência e ao aumento do estigma, mantendo essa parcela afastada dos serviços de testagem, tratamento, prevenção e assistência em relação a serviços de HIV. Antes da eleição deste mês, a Reuters relatou que o país havia se tornado cada vez mais perigoso devido a “repressões brutais” em comícios da oposição que deixaram mais de 50 pessoas mortas. O presidente reeleito Museveni atribuiu os protestos a grupos de direitos LGBT+ e chamou a homossexualidade de “desvio”. A diretora executiva do UNAIDS, Winnie Byanyima, afirmou que “usar linguagem ofensiva descrevendo as pessoas LGBT como um ‘desvio’ é simplesmente errado,” e acrescentou:

“É claro que, para acabar com a epidemia da AIDS em Uganda, é necessário construir uma sociedade mais inclusiva, onde todos tenham direito à saúde. O UNAIDS está pronto para trabalhar com todas as parcerias de modo a acabar com o estigma e a discriminação contra a comunidade LGBT, alcançando o respeito total dos seus direitos humanos universais”.

O relator especial sobre liberdade de reunião e associação pacíficas, Clément Nyaletsossi Voule, fez um apelo para contribuições do seu próximo estudo, que será apresentado ao Conselho de Direitos Humanos. O levantamento abordará a responsabilidade, o acesso à justiça e o papel que os advogados podem desempenhar para facilitar o direito de reunião pacífica. O profissional observa que alguns grupos, incluindo mulheres, pessoas com deficiência, povos indígenas e a comunidade LGBT, enfrentam riscos ainda maiores devido às intersecções de discriminação. Ele pede mais informações sobre as situações específicas e as necessidades desses grupos para garantir o acesso à justiça. Saiba mais aqui.

Saiba mais sobre a ONU

 

HIV, Saúde e Bem-estar: o UNAIDS lançou uma nova modelagem estatística para medir o impacto negativo de ambientes favoráveis ​​e não favoráveis (incluindo questões relacionadas ao estigma e à discriminação e à criminalização do trabalho sexual, o uso de drogas e relações sexuais entre pessoas do mesmo sexo) no tratamento e prevenção ao HIV. As conclusões mostram que, se as metas de promoção de ambientes sociais favoráveis ​​forem alcançadas, 440.000 mortes relacionadas à AIDS serão evitadas e 2,6 milhões de novas infecções por HIV não acontecerão.

Na Jamaica, o UNAIDS e o UNFPA (Fundo de População das Nações Unidas) firmaram uma parceria com a TransWave Jamaica para lançar a “Estratégia nacional de saúde para pessoas trans e pessoas de gênero não-conforme”. O plano de cinco anos é o primeiro desse tipo em países caribenhos que falam inglês e oferece uma abordagem baseada em direitos para melhorar a saúde e o bem-estar da população trans. Há recomendações para o sistema de saúde e tópicos relacionados às mudanças estruturais e sociais necessárias para melhorar o acesso das pessoas trans aos serviços. A oficial do UNFPA responsável pelo tema HIV/AIDS, Denise Chevannes-Vogel, enfatizou:

“As necessidades vão além da questão do HIV e dos cuidados de saúde. Outros fatores afetam a capacidade das pessoas de estarem seguras, de serem aderentes ou de permanecerem soronegativas. Devemos levar em consideração a pessoa como um todo, não apenas uma parte.”

Um novo estudo no Journal of Acquired Immune Deficiency Syndromes analisou relatos de interrupções sobre serviços de prevenção e tratamento do HIV que afetam gays, bissexuais e outros homens que fazem sexo com homens causadas pela pandemia de COVID-19. Após usar as respostas concedidas por mais de 10 mil homens em 20 países, pesquisadores descobriram que os maiores impactos em todos os países foi na possibilidade de obter a PrEP e no acesso ao teste de HIV. Entre os homens que vivem com HIV, 20% não conseguiram acesso ao/à seu/sua profissional de cuidados de saúde e quase 50% não conseguiram reabastecer os medicamentos remotamente. Os autores pediram estratégias novas e inovadoras para minimizar as interrupções dos serviços durante a pandemia atual e às eventuais pandemias futuras.

Journal of Homosexuality lançou uma edição especial sobre os impactos da pandemia de COVID-19 na saúde e no bem-estar da comunidade LGBTQ+. A edição examina dados empíricos dos EUA, Austrália, Peru, Portugal, Reino Unido, Itália, Brasil, Chile, Suécia, Bielo-Rússia, Bélgica, Egito, França, Alemanha, Indonésia, Cazaquistão, Malásia, México, Rússia, Taiwan, Turquia e Ucrânia. A publicação fornece novas evidências sobre as disparidades que as populações LGBTQ+ enfrentam globalmente em termos de saúde mental, desemprego, habitação e muito mais. Alguns dos estudos examinam subconjuntos de mulheres de minorias sexuais, pessoas trans e não-binárias, mas especialistas observam que mais pesquisas são necessárias para considerar explicitamente raça/etnia, status socioeconômico e outros subgrupos dentro do "guarda-chuva LGBTQ+".

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Mundo da Política: O Congresso do Chile iniciou o debate sobre a descriminalização do aborto nas primeiras 14 semanas de gravidez. O Chile atualmente permite a interrupção da gravidez em casos de estupro, risco de morte da mãe ou inviabilidade fetal. No entanto, ativistas dizem que há muitos problemas, incluindo a possibilidade de profissionais de saúde recorrerem à objeção de consciência e se recusarem a fornecer abortos. A deputada Maite Orsini, chefe da Comissão para Mulheres e Igualdade de Gênero, observou:

“O aborto existe e continuará existindo. Está em nossas mãos parar de perseguir adolescentes e mulheres que não têm recursos para fazê-lo nas clínicas.”

Após a votação histórica recente da Argentina para descriminalizar o aborto, os jornalistas Daniel Politit e Ernesto Londoño avaliaram como ativistas locais estimularam o público a apoiar a legislação. O texto da lei final foi elogiado por sua linguagem inclusiva que legaliza a interrupção voluntária da gravidez para “mulheres e pessoas com outras identidades de gênero que sejam capazes de gestar.”

Enquanto isso, o Congresso Nacional de Honduras caminhou na direção oposta ao votar em uma emenda à Constituição, que proibiria a igualdade no casamento e o aborto. Ambos já são ilegais. No entanto, a nova emenda tornará mais difíceis quaisquer alterações. Indyra Mendoza, coordenadora da Cattrachas Lesbian Network comentou:

“Hoje é um dia extremamente triste para os direitos humanos em Honduras. É chocante estar nas mãos de políticas e políticos perversos.”

Malawi: o Ministério da Saúde publicou novos padrões e diretrizes dos cuidados abrangentes para aborto, a fim de lidar com a alta taxa de mortalidade materna do país. De acordo com o Código Penal, os abortos são permitidos apenas para a “preservação da vida da mãe”—as novas diretrizes incorporam evidências e normas clínicas mais recentes para expandir a compreensão de prestadores sobre quando é permitido interromper uma gravidez. Ainda que seja um passo na direção certa, ativistas pediram ao Parlamento que avançasse com o “Rescisão do Projeto de Emenda da Gravidez”, que expandiria a lei para incluir a legalização em caso de incesto, estupro e manipulação sexual. O projeto de lei, que deve ser debatido em fevereiro, tem o apoio de algumas chefiaslideranças muçulmanas e outras lideranças tradicionais.

O Parlamento Europeu lançou a quarta edição do “Atlas das Políticas de Contracepção”. Criado por meio do Fórum Parlamentar para os Direitos Sexuais e Reprodutivos, o documento interativo rastreia as políticas governamentais que dizem respeito ao acesso a materiais anticoncepcionais, planejamento familiar e dados online. No lançamento, a porta-voz Theresa Reintke explicou porque esta informação é mais crucial do que nunca:

“A pandemia ressaltou as lacunas e as deficiências existentes nos serviços de saúde. Alguns governos estão transferindo recursos dos serviços sexuais e reprodutivos básicos. Outros estão manipulando deliberadamente a situação para aprovar leis que restringem ainda mais esses direitos fundamentais. Todos os países devem garantir e facilitar o acesso à contracepção também durante situações desafiadoras de crise.”

Ainda na Europa: o Parlamento Europeu e o Conselho Europeu concordaram com uma medida, exigindo que qualquer projeto financiado pela União Europeia cumpra a Carta dos Direitos Fundamentais. A iniciativa segue uma decisão da UE no ano passado de se recusar a conceder doações a seis cidades polonesas que promulgaram “Zonas livres de pessoas LGBT”. A Comissária Europeia para a Igualdade, Helena Dalli, prometeu um “acompanhamento rigoroso”, garantindo que todos os projetos cumprissem a Carta para que os fundos beneficiassem igualmente todas as pessoas.

Índia: o Ministério da Justiça Social e Empoderamento reservou ₹500 crore, o equivalente a 77 milhões de dólares, para um plano de cinco anos com foco em apoiar o bem-estar das pessoas trans. O plano inclui bolsas de estudo, apoio educacional, moradia e iniciativas de saúde. Para acessar os serviços, as pessoas trans precisam solicitar uma carteira de identidade por meio de um portal online lançado no ano passado.

Ainda na Índia, o Departamento de Ciência e Tecnologia divulgou uma nova minuta, propondo que 30% dos empregos neste setor sejam reservados para mulheres, além de sugerir benefícios conjugais a profissionais LGBTQ+.

África do Sul: o Departamento de Assuntos Internos divulgou um novo projeto de política para melhorar o reconhecimento de pessoas não-binárias, intersexuais e trans no registro oficial. A medida pretende ser “a mais inclusiva possível”. Entretanto, o jornalista Roberto Igual observa que frequentemente a iniciativa confunde orientação sexual com identidade de gênero e troca erroneamente os termos “trans”, “não-binário” e “intersexo”. O governo aceita observações sobre a política do público em fevereiro.

EUA: o presidente Joe Biden tomou posse e assinou imediatamente 17 ordens executivas e proclamações para desfazer políticas anteriores que causaram “grandes danos”, como reportado pelo New York Times e outros jornais. Dentro das 17 ordens, há dois pedidos que impactam diretamente as pessoas LGBTQ+. Um clama por “promoção da equidade para todas as pessoas” em todas as agências do governo federal e faz referência especificamente a essa comunidade. A outra foi definida pela Campanha de Direitos Humanos como “a ordem executiva mais substantiva e abrangente sobre orientação sexual e identidade de gênero já emitida por um presidente dos Estados Unidos”. A segunda ordem solicita proteções específicas na educação, esportes escolares, banheiros, locais de trabalho, saúde e habitação, independentemente da orientação sexual ou identidade de gênero da pessoa.

O presidente Biden também emitiu uma ordem revertendo a proibição de pessoas trans no serviço militar. A medida permite que pessoas trans ingressem nas forças armadas e exige uma revisão de todos as pessoas que foram dispensadas ​​ou tiveram seu realistamento negado devido à sua identidade de gênero. Após dizer que é “a coisa certa a fazer”, ele afirmou:

“A América é mais forte em casa e no mundo todo, quando é inclusiva. O serviço militar não é uma exceção.”

O Chefe de Gabinete da Casa Branca dos EUA enviou um memorando ao Departamento de Saúde e Serviços Humanos (HHS) para congelar imediatamente todas as regras e orientações da agência emitidas sob a administração anterior, de modo que essas sejam revisadas, de acordo com o Inside Health Policy. Isso inclui uma pausa na medida recém-concluída do HHS, permitindo que agências de serviço social, incluindo adoção e outras organizações de bem-estar, recusem pessoas LGBTQ, por causa das objeções religiosas.

Horas depois da emissão dessas ordens federais, algumas pessoas do legislativo do estado americano de Montana avançaram com a legislação para proibir estudantes trans de participarem de esportes escolares. Mesmo que essas leis sejam contrárias à ordem do presidente Biden, a AP relatou que uma legislação semelhante está sendo cogitada em Connecticut, Oklahoma, Carolina do Sul, Tennessee, Kentucky, Dakota do Norte e New Hampshire. Montana também cogita uma medida para evitar que jovens trans recebam cuidados de saúde para a transição de gênero. A proibição do tratamento médico para jovens trans também está sendo avaliada no Alabama, Indiana, Missouri, Mississippi, Carolina do Sul e Texas.

Grécia: o primeiro-ministro Kyriakos Mitsotakis nomeou a primeira pessoa assumidamente gay para trabalhar em seu gabinete. O novo vice-ministro da cultura, Nicholas Yatromanolakis, refletiu que muitas pessoas o desencorajaram de procurar um cargo devido à sua sexualidade e ainda assim ele manteve a iniciativa porque:

“Todas as pessoas LGBT tiveram, em algum momento de suas vidas, que trabalhar em ambientes que não eram totalmente favoráveis ou compreensivos. Você não pode deixar que isso te incomode, porque é a sua vida... e você deve fazer o que acredita ser a coisa certa.”

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Políticas da União: na Estônia, a renúncia do primeiro-ministro Juri Ratas resultou na desistência pelo Parlamento de seguir com um plano polêmico que visava realizar um referendo sobre casamento ainda neste semestre. Segundo a ERR, a renúncia, que veio após um escândalo sobre fundos de ajuda à pandemia, acabou com o atual governo de coalizão e permitiu que membros do Parlamento votassem contra o referendo. Os parlamentares que eram contrários ao referendo apresentaram mais de 9.000 propostas de emendas na tentativa de atrasar sua aprovação. No entanto, sem a coalizão para apoiá-lo, o referendo foi facilmente rejeitado.

Índia: o Supremo Tribunal de Delhi adiou a audiência sobre o casamento entre pessoas do mesmo gênero, concedendo ao governo mais tempo para responder aos argumentos dos peticionários de que esses matrimônios deveriam ser reconhecidos sob a Lei do Casamento Hindu e a Lei do Casamento Especial. A audiência será retomada no final de fevereiro.

República Tcheca: o Tribunal Constitucional determinou que a lei não deveria ser alterada para reconhecer as adoções ocorridas no exterior. O caso envolveu um homem tcheco e seu parceiro que vivem permanentemente nos Estados Unidos com dois filhos adotivos. Os pais buscavam ser reconhecidos legalmente como família quando visitavam parentes na República Tcheca. No entanto, a Justiça declarou que o reconhecimento “contornaria” a lei tcheca que proíbe o casamento entre pessoas do mesmo gênero e a adoção por casais não-casados.

Alemanha: o Tribunal Regional Superior de Celle acompanhou a argumentação de duas mulheres casadas que buscavam ser reconhecidas como mães de sua filha. Embora o casamento entre pessoas do mesmo sexo seja legal desde 2017, casais homossexuais devem adotar seus próprios filhos como “enteados” para obter o reconhecimento como segundo progenitor. Casais heterossexuais recebem automaticamente a paternidade/maternidade, mesmo que uma criança seja concebida por meio de tecnologia de reprodução assistida. O Ministério da Justiça Federal disse que uma reforma abrangente das leis de parentalidade está em andamento. Mais de 70 mil casais do mesmo gênero oficializaram suas uniões desde que a igualdade matrimonial foi legalizada.

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Justiça: Na Venezuela, o Quarto Tribunal de Controle de Zulia condenou à prisão cinco membros da "Azul Positivo", uma organização humanitária que presta assistência às pessoas que vivem com HIV e outros grupos vulneráveis, sob a acusação de uso fraudulento de dinheiro e atividades criminosas. Eles entraram com um recurso alegando que “trabalho humanitário não é crime”. Mais de 100 grupos da sociedade civil venezuelana divulgaram um comunicado conjunto pedindo sua libertação e solicitando à comunidade internacional “que condene os contínuos ataques contra organizações humanitárias”. O Escritório das Nações Unidas para os Direitos Humanos expressou “profunda preocupação” e observou:

“Pedimos às autoridades que parem de alvejar as pessoas que executam trabalhos legítimos, seja no setor humanitário, de direitos humanos ou na mídia. Uma sociedade civil livre, diversa e ativa é crucial para qualquer democracia e deveria ser protegida, não estigmatizada ou perseguida.”

 

Tribunal Africano de Direitos Humanos e dos Povos emitiu o parecer consultivo com a afirmação que as leis nacionais que criminalizam a vadiagem são excessivamente amplas, permitem o abuso e violam as cartas dos direitos humanos africanos. O Tribunal observou que essas leis “punem as pessoas mais pobres e não privilegiadas, incluindo, mas não se limitando as pessoas em situação de rua, deficientes, com gênero não-conformante, profissionais do sexo, vendedores/as ambulantes e pessoas que de outra forma usam os espaços públicos para ganhar a vida.”

Tribunal Europeu dos Direitos Humanos decidiu que a Croácia não tomou as medidas adequadas na sequência de um ataque violento a uma lésbica em 2010. O Tribunal concluiu que, ao considerar o ataque apenas como um “delito menor”, ​​a nação “demonstrou que o Estado não estava comprometido de acordo com a Convenção Europeia dos Direitos Humanos, de modo a garantir que a violência homofóbica não seja tolerada de forma alguma. Na verdade, tal resposta fomentou um sentimento de impunidade para atos de crimes de ódio violentos.”

O Tribunal Europeu dos Direitos Humanos também se pronunciou sobre um caso envolvendo dois homens trans contra a Romênia, que não possui um quadro jurídico claro para obter o reconhecimento de gênero. Sem essa estrutura, as autoridades se recusaram a reconhecer legalmente esses homens, a menos que fossem submetidos a uma cirurgia genital. O Tribunal observou que os homens se encontravam em um “dilema impossível: ou eles se submeteriam à cirurgia, contrariamente a toda a lógica – renunciando ao pleno exercício de seu direito ao respeito por sua integridade física – ou teriam que abrir mão do reconhecimento de sua identidade de gênero.” Concluiu-se que os funcionários romenos violaram o seu direito à vida privada.

Polônia: o Tribunal Distrital de Rzeszów decidiu que o ativista Bart Staszewski não está infringindo a lei ao afixar cartazes que avisam as pessoas de que elas estão entrando em uma “Zona Livre de Pessoas LGBT”. Staszewski colocou placas em todo o país para marcar os municípios que adotaram resoluções discriminatórias e a sinalização de áreas “livres da ideologia LGBT”. O vilarejo de Niebylec tentou proibir as placas, dizendo que eles prejudicavam a reputação e o turismo. No entanto, o Tribunal decidiu que os oficiais não conseguiram provar que tal sinalização deturpava os fatos. Além disso, se a vila ganha uma fama negativa, é uma “consequência da adoção da resolução” complementando:

“Na opinião do tribunal, os municípios não podem, `após o fato’, sentir vergonha das resoluções que adotaram no passado e, então, avaliar a lucratividade geral da adoção.”

Mais sobre Justiça

 

Sobre Religião: o Papa fez emendas na lei católica para permitir que as mulheres servissem como auxiliares e leitoras (elas continuam proibidas de ocuparem as posições dos padres ou dos diáconos). Especialistas observam que isso não é “nada novo”, sendo apenas o reconhecimento formal dos papéis que muitas delas realizam por décadas. No entanto, essa mudança impede que bispos conservadores proíbam a participação de mulheres em suas igrejas. Em um texto para o New Ways Ministry, Robert Shine argumenta que isso demonstra como as transições formais só acontecem depois das alterações na prática e que os católicos/as LGBTQ devem continuar a pressionar pela aceitação.

O chefe da Conferência dos Bispos Católicos Alemães, Bispo Georg Bätzing, afirmou à mídia que a Igreja deve mudar seus ensinamentos para reconhecer que o sexo homossexual não deve ser considerado um pecado e que as bênçãos da Igreja devem ser dadas a casais do mesmo gênero e a quem tiver realizado divórcio. Ele acrescentou:
“Eu me descreveria como conservador porque amo esta igreja e gosto de devotar minha vida e minhas forças a ela. Mas eu quero que isso mude.”

A Igreja Metodista da Noruega emitiu um pedido formal de desculpas às pessoas LGBT+ pelas “atitudes e ações de condenação que infligiram insultos, danos e sofrimento”. A igreja refletiu:
“Isso é contrário ao evangelho da graça e do amor incondicional de Deus. Todo ser humano é criado à imagem de Deus e amado por Deus.”

Em um texto para o DW, Maricel Drazer traçou o perfil da “Iglesia de la Comunidad Metropolitana”, uma igreja cubana da comunhão internacional das Igrejas Metropolitanas da Comunidade, que está aberta “acima de tudo àqueles que foram excluídos/as ou mesmo prejudicados/as por outras igrejas”. Como explicou o líder Yivi Cruz:

“Somos uma igreja radicalmente inclusiva. Não excluímos ninguém — nem por causa de seu gênero, nem por causa da cor de sua pele, e nem por causa de sua religião.”

Índia: Rafiul Alom Rahman falou sobre o “Projeto Queer Muslim”, uma comunidade online e offline que ele criou, na qual muçulmanos queer podem trocar ideias dentro de um espaço da fé. Sua última série de workshops criou “Queer Muslim Futures” - um livro que compila os poemas e histórias que imaginam “uma realidade alternativa, mundos paralelos e o tipo de futuro que queremos habitar”.

Mais sobre Religião



Medo e Repúdio: a African Queer Youth Initiative divulgou um novo relatório sobre o impacto da COVID-19 na juventude queer que vive no continente. O estudo, com base em uma pesquisa com jovens em 12 países, descobriu que a falta de moradia, a falta de acesso à educação e a perda de renda foram alguns dos principais desafios. Apenas 9% tiveram acesso ao apoio limitado do governo durante os lockdowns. As ONGs, igrejas e pessoas tomaram a iniciativa e preencheram a lacuna para uma parte desses jovens—30% dos entrevistados receberam apoio desses grupos.

Uganda: a ONG Sexual Minorities divulgou um novo estudo que analisou a violência e a discriminação enfrentada por pessoas LGBTIQ+ no país antes, durante e depois da pandemia de COVID-19. A pesquisa descobriu que o “ambiente social”—incluindo vida doméstica, família, redes de apoio e amigos—foi o maior fator para determinar a segurança de um indivíduo durante este período. Outros fatores incluíram a criminalização da sexualidade, o ambiente econômico e a retórica política. 

Tailândia: pessoas trans se reuniram para discutir como a pandemia os/as afetou, e como o governo deixou de fornecer-lhes acesso a recursos. Agências locais, incluindo a Sisters Foundation, Empower Foundation, SWING Thailand, a Rainbow Sky Association of Thailand e outras, trabalharam para apoiar os meios de subsistência e as necessidades básicas, como alimentos, água e tratamento hormonal. Nachale Boonyapisomparn, cofundadora da Thai Transgender Alliance, explicou que atitudes tendenciosas em relação à comunidade LGBTI impedem o apoio necessário para sobreviver:

“Embora o mau comportamento de pessoas que deveriam saber melhor não seja nada novo em nossa sociedade, eu sinto que a pandemia de COVID-19 piorou a situação, pois todas as pessoas se sentem legitimadas em deslocar sua frustração reprimida durante a pandemia para quem são alvos fáceis.” 

Em publicações para a Postimees, jornalistas adolescentes Daria Boger e Artem Belkov escreveram sobre os desafios que jovens LGBTQ enfrentam na Estônia e na Rússia, onde devem esconder suas identidades.

Japão: um novo estudo com quase 11 mil pessoas LGBT descobriu que 38% haviam sido vítimas de assédio sexual ou agressão. Mais de 50% das mulheres trans, lésbicas e homens trans relataram agressão ou assédio. O autor da pesquisa, Professor Yasuharu Hidaka, acrescentou que as vítimas LGBT muitas vezes não recebem o apoio adequado da polícia ou de centros de aconselhamento.

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Ventos da Mudança: o Projeto de Filantropia Global divulgou um novo relatório “Onde estão os recursos globais relacionados à pandemia de COVID-19 direcionados para comunidades LGBTI?”, que relata como as organizações governamentais e não governamentais em todo o mundo distribuíram fundos. O estudo observa que mais de 80% das organizações mudaram o foco dos programas existentes para projetos para fornecer abrigo, meios de subsistência e outros apoios de emergência. O levantamento constatou que os grupos LGBTI foram amplamente excluídos dos recursos humanitários no que diz respeito à pandemia, apesar de as pessoas LGBTI serem identificadas pela ONU como uma população “em risco”. Na análise, nenhum dos mecanismos de recursos do Plano de Resposta Humanitária Global da ONU descreveu explicitamente o financiamento para apoiar as comunidades LGBTI.

México: mulheres trans do abrigo “Casa de las Muñecas Tiresias” passaram vários meses preparando refeições gratuitas para vizinhos, vizinhas e pessoas em situação de rua que foram lesadas pela pandemia. Elas compartilharam suas histórias e esperanças para o futuro com a ONU México.

Em uma publicação para a Xtra, a jornalista Chaya Milchtein conversou com pessoas LGBTQ que estão liderando organizações nos EUA e usando seus recursos para ajudar a alimentar pessoas da comunidade que enfrentam insegurança alimentar. As líderes Desiree Joy Frias, Hali Diecidu e Jessica L’Whor compartilharam seus conselhos sobre como você pode iniciar uma despensa local ou apoiar pessoas que precisam de alimentos sem causar vergonha entre ao população vulnerável.

Senegal: apoiadores do abrigo “The Free Collective” para vítimas de homofobia visitaram presidiários gays na prisão de Sebikhotane para oferecer orientações e pacotes de cuidados. Após observar que muitos desses presos foram condenados ao ostracismo pela família, o Coletivo está buscando assistência financeira e técnica para cuidar deles, incluindo verbas para ajudá-los a encontrar moradia após serem libertados. Para obter mais informações e dar apoio ao grupo, entrar em contato: senegalcollectiffree@gmail.com.

Bélgica: a ativista e assistente social Ellis Aukema conversou com o Zizo sobre a discriminação que  profissionais LGBTQ da Europa enfrentam no trabalho e as medidas que as pessoas aliadas podem tomar para criar um ambiente mais inclusivo.

Em uma matéria para o Wall Street Journal, Francesca Fontana analisa como o boom para empregos virtuais e remotos beneficiou profissionais trans. Para quem tem sorte de ter empregos com opções remotas, profissionais trans dizem que conseguiram fazer a transição de forma privada e assumir a identidade sem que colegas os/as julgassem. A designer gráfica Kiri Stewart explicou:

“Trabalhar em casa permite que você se livre da luta constante de tentar atender a esses padrões e se concentrar em quem você é.”

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Negócios e Tecnologia: em um texto para a Slate, Afsaneh Rigot expôs uma nova estratégia “preocupante” que as autoridades egípcias estão usando para atingir as pessoas LGBTQ. Os promotores têm reunido cada vez mais evidências digitais de aplicativos de namoro e dos dispositivos das pessoas ao longo dos anos. Rigot relata que agora eles estão levando esses casos a julgamento nos tribunais econômicos do Egito (El Mahkmat El Eqtsadyah). Como ele explica, os tribunais têm jurisdição especial sobre “crimes morais online” e podem emitir sentenças mais longas e multas maiores para os condenados.

Ma Baoli, fundador do Blued—o maior aplicativo de namoro para gays da Ásia —falou sobre como equilibrou o crescimento do serviço na China, mesmo com as autoridades aumentando as restrições ao conteúdo LGBTQ. 

Ao manter sua decisão de parar de hospedar o aplicativo Parler em seus servidores, a Amazon Inc. apresentou a um tribunal distrital dos EUA quase 70 páginas de exemplos de discurso de ódio homofóbico e racista e postagens incitando estupro, tortura e o assassinato de oficiais públicos e cidadãos e cidadãs privadas. O app pro-conservador foi usado por milhares de pessoas para documentar seu ataque ao Capitólio dos EUA em 6 de janeiro.

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Esportes e Cultura: a ONG Internacional Freemuse, um grupo que defende a expressão e a diversidade cultural, publicou um novo relatório sobre a liberdade de expressão das pessoas LGBTI. O estudo analisou como a discriminação baseada na identidade contra artistas LGBTI e obras de arte com essa mesma temática se manifesta em todo o mundo – isso foi exposto por meio de 149 atos de “violações artísticas”. Artistas e ativistas de direitos humanos também foram entrevistados e entrevistadas para compreender como vários acontecimentos legislativos e políticos têm impacto sobre a arte local.

Estados Unidos: uma nova campanha e exposição de arte foi inaugurada em Nova York, batizada como “Not Another Second” (Nenhum segundo a mais, na tradução livre para o português). Comemorando pessoas idosas LGBTQ de uma ampla variedade de origens, a iniciativa usa tecnologia de realidade aumentada para compartilhar “as histórias motivadas pela emoção” e experiências de vida de quando ser uma pessoa LGBTQ era crime.

Confira o trailer de “It’s a Sin” (É um pecado, na tradução livre para o português), a nova série do aclamado criador Russel T Davies que explora a vida de jovens gays durante os anos 1980, quando a crise da AIDS atingiu Londres. A produção aclamada pela crítica teve um impacto considerável para pessoas que viveram naquele período. A crítica ​​Lucy Mangan descreve os paralelos com a atual pandemia de COVID-19:

“Podemos ter um pouco mais empatia com o medo, com a incerteza e com as respostas racionais e irracionais ante o surgimento de uma nova doença. Também podemos nos identificar com alegrias infinitas e irracionais, chegando à  paralisação dolorosa, lutando consigo por impulsos ocasionados pela racionalidade ou pela irracionalidade – e talvez em episódios futuros, pela luta contra as respostas do governo que sejam inadequadas e incompetentes perante uma crise crescente.”

O cineasta paquistanês Iqran Rasheed lançou seu premiado curta-metragem sobre a vida gay no sul da Ásia. “Aadit” (Hábito, na tradução livre para o português) traz um “relato pessoal sobre reprimir seus desejos mais íntimos, bem como as consequências potencialmente devastadoras para quem os expressam.” Assista o filme completo agora.

Por último, o amor entre pinguins do mesmo sexo está em alta: o Sea Life Aquarium da Austrália lançou uma competição para nomear o segundo filhote incubado pelo casal do mesmo sexo Sphen e Magic! As pessoas que vencerem poderão visitar o habitat dos pinguins ou participar de uma “ligação especial via Zoom com a famosa família.”

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