Olhar para a Igualdade: 25 de maio de 2020

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Diretamente da ONU: as celebrações mundiais do 16º Dia Internacional Contra a Homofobia, Bifobia e Transfobia (IDAHOT) que ocorre todos os anos, aconteceram de uma forma diferente – sem as paradas e com poucas exposições públicas, mas com muita solidariedade. Com a COVID-19 impactando todas as esferas da vida, o tema deste ano – “Rompendo o silêncio” – reflete como as pessoas LGBTI+ enfrentam ameaças ainda maiores em relação à saúde e à segurança. Victor Madrigal-Borloz, Especialista Independente da ONU em Orientação Sexual e Identidade de Gênero, se uniu à Comissão Interamericana de Direitos Humanos, ao Conselho do Comissariado de Direitos Humanos da Europa e a 95 especialistas em direitos humanos das Nações Unidas em um posicionamento histórico para exigir que governos deem visibilidade a lésbicas, gays, bissexuais, transgêneros e pessoas gênero diverso, além de oferecer proteção a estas pessoas enquanto respondem a esta pandemia.

 

O Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) refletiu sobre o impacto desproporcional que a COVID-19 tem na saúde, segurança e sobrevivência de pessoas LGBTI+ em todo o mundo. Achim Steiner, diretor do PNUD, salienta: 

“Neste dia, vamos levantar nossas vozes e reiterar nossos esforços, a fim de colocar a dignidade humana no coração de tudo que fazemos para construir sociedades mais justas e inclusivas”.

 

O UNAIDS usou a data para perir o fim da prisão arbitrária e discriminatória de pessoas LGBTI+. O Programa Conjunto chamou a atenção para relatos de violência crescente e prisões de pessoas presumidamente LGBTI+ enquanto países iniciam ações de emergência para desacelerar a COVID-19. Confira a página especial comemorativa do UNAIDS para o IDAHOT, com histórias, fotos e outros materiais.

 

A partir de relatos sobre as restrições causadas pela COVID-19, que estariam dificultando às pessoas o acesso ao tratamento de HIV, o UNAIDS pede que governos reconheçam como “essenciais” os serviços de saúde liderados por  comunidades. UNAIDS ainda destaca que as organizações comunitárias contam com uma “experiência profunda e inigualável” no que diz respeito à resposta para crises de saúde e de direitos humanos. O Programa enfatizou que organizações e redes com experiência prática no combate à epidemia de HIV poderiam, com o devido suporte, ter ações implantadas para facilitar o controle da COVID-19:

Organizações lideradas pela comunidade estão oferecendo apoio vital a populações desfavorecidas, marginalizadas e de difícil acesso em todo o mundo”.   

Mais informações

 

HIV, saúde e bem-estar: a revista Science informou que um estudo sobre uma injeção de ação prolongada para prevenir o HIV foi considerada segura e efetiva entre a população de homens gays e bissexuais e entre mulheres trans. O estudo randomizado, que contou com participantes dos Estados Unidos, África do Sul, Argentina, Brasil, Peru, Vietnã e Tailândia, teve que ser concluído antes do previsto devido à pandemia de COVID-19. No entanto, pesquisadores obtiveram informação suficientes para comprovar que a injeção (tomada a cada dois meses) é uma alternativa razoável às pílulas diárias. Dados relativos a esse medicamento entre mulheres cisgênero estão em andamento em sete países africanos. Ao classificar como um avanço, Shannon Hader, vice-diretora executiva do UNAIDS, afirmou:

"Estamos particularmente orgulhosos com o fato de o estudo ter alcançado seus objetivos de recrutar números consideráveis de homens negros mais jovens que têm relações sexuais com homens e também mulheres trans – justamente o público para o qual o acesso à prevenção efetiva do HIV ainda é um grande desafio”

 

O UNAIDS divulgou um guia com políticas para orientar países em relação ao fornecimento de preservativos e lubrificantes durante a pandemia de  COVID-19. Ao destacar que preservativos e lubrificantes são cruciais na prevenção de HIV, ISTs e gravidez não planejada, esse documento oferece etapas concretas que podem ser seguidas para assegurar que esses suprimentos não deixem de ser entregues, especialmente em países de renda média e baixa.

 

Um novo estudo da The Lancet avalia que na China, a testagem para clamídia e gonorreia pode ganhar mais adesão entre homens gays e bissexuais com programas inovadores de pagamento. O programa mais bem-sucedido concede um teste grátis aos homens e ainda lhes oferece a chance de “ajudar os outros”, por meio da doação de dinheiro para ser usado em testagem gratuita com outra pessoa.

 

Publicado na PLoS One, um novo estudo sobre a Papua Nova Guiné avaliou métodos sobre como levar cuidados de saúde sexual para populações de difícil acesso. Com entrevistas aprofundadas com profissionais do sexo, homens gays e outros homens que fazem sexo com homens e mulheres trans, o estudo concluiu que o incentivo às recomendações feitas por pares e o fornecimento de testes com resultados no mesmo dia, de forma confidencial e sem estigma, são fatores essenciais para obter engajamento desses grupos.

 

No Uzbequistão, prestadores de serviços de HIV conversaram com a Open Democracy sobre o uso de redes sociais e aplicativos de relacionamentos para conectar homens gays e bissexuais ao aconselhamento para HIV. Profissionais afirmam que homens gays têm medo de fazer o teste de HIV ou de ter acesso a esses serviços, com receio de leis que criminalizam relações sexuais entre homens.  

 

A Ordem dos Psicólogos da Albânia – organização que regula a atividade no país, proibiu seus membros por praticarem a, assim chamada, terapia de conversão. Enquanto comemora a decisão, o grupo local de direitos PINK Embassy destacou que as atitudes sociais dirigidas à comunidade LGBTI+ continuam negativas em um sentido geral e que uma maioria de pais e professores afirmam que não apoiariam crianças LGBTI+.

 

Enquanto isso, no Reino Unido, um compromisso para “erradicar” a terapia de conversão se encontra parado há  aproximadamente dois anos. A ministra de Igualdade, Kemi Badenoch, afirmou que o governo ainda não sabe como proceder já que se trata de “uma questão muito complexa”, como foi reportado pelo Independent.

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Mundo da Política: A intergovernamental Coalizão para Direitos Iguais (ERC) divulgou um posicionamento solicitando aos governos que todas as ações para o combate à COVID-19 levem em consideração as necessidades e vulnerabilidades da comunidade LGBTI+. A ERC declarou que medidas governamentais devem ser legítimas, proporcionais e de natureza temporária.  

 

O Parlamento da Hungria aprovou o Artigo 33, alterando a Lei do Registro Civil a fim de evitar que pessoas alterem seus gêneros em seus documentos de identidade. O primeiro-ministro Viktor Orbán apresentou o Artigo 33 em abril após ter recebido poderes emergenciais por causa da COVID-19. Muitas pessoas se manifestaram, condenando essa medida, incluindo grupos de direitos humanos húngaroso especialista da ONU, Victor Madrigal-Borloz e o UNAIDS.


A diretora de Advocacy da ILGA/Europa, Katrin Hugendubel, ressaltou que a Corte Europeia de Direitos Humanos estabeleceu claramente o direito ao reconhecimento de gênero. Ela afirmou: 

“Quem atua em prol dos direitos humanos internacionais deve agir com firmeza e rapidez para desacelerar esse retrocesso extremo em uma área já estabelecida da lei de direitos humanos”.

 

O governo indiano lançou o “Projeto – Pessoas Transgêneros (Proteção dos Direitos) – Regras 2020”. Esse estatuto visa esclarecer um projeto de lei controverso aprovado em janeiro, ao qual muitas pessoas trans se opuseram vigorosamente. Embora o governo tenha oferecido um período para consulta de 12 dias a respeito do estatuto, essa medida foi tomada durante o período de lockdown nacional, por causa da COVID-19 impedindo que membros da comunidade pudessem participar. Especialistas que avaliaram essas regras concluíram que elas continuam confundindo pessoas intersexo e trans ao criar pré-requisitos médicos e cirúrgicos confusos para o reconhecimento, além de oferecer apenas promessas vagas em relação à não-discriminação. 

 

Reuters informou que legisladores no território americano de Porto Rico aprovaram uma série de emendas no Código Civil sem audiências públicas. Embora os representantes digam que tais emendas retiram linguagem que ferem os direitos LGBTI+, especialistas jurídicos afirmam que as mudanças são ambíguas, contraditórias e irão causar um retrocesso em relação aos direitos. Alphonso David, presidente do HRC (Human Rights Campaign – Campanha dos Direitos Humanos), condenou as “tentativas furtivas” de “remoção dos direitos”: 

“O sigilo em torno dos códigos e do processo legislativo é realmente preocupante nesse contexto da pandemia global de COVID-19, que prejudicou de forma significativa a habilidade de cidadãos de participarem e fazerem com que suas vozes sejam ouvidas”.

 

Na América Latina, alguns países recuaram em relação a algumas restrições sobre COVID-19 baseadas em gênero, após terem sido amplamente condenadas por ativistas pelo fato de colocarem em risco pessoas trans e de gênero não-conformante. Tais restrições, que só permitem que homens e mulheres saiam de casa em dias alternados, também geram uma sobrecarga para mulheres em comunidades, onde elas fazem a maior parte do trabalho doméstico.

 

No Peru, o governo respondeu às manifestações ao substituir as restrições baseadas em gênero por regras ainda mais severas, permitindo que apenas uma pessoa de cada lar possa sair por vez. Em Bogotá (Colômbia), a restrições baseadas em gênero elevaram a violência protagonizada pelo público e pela polícia contra as pessoas trans. Após um mês, a prefeita Claudia Lopez disse que as restrições foram “bem-sucedidas” e encerrou a exigência para autorizar que todos os gêneros retornassem ao trabalho assim que permitido. (O presidente Iván Duque estendeu o "isolamento inteligente" por todo o país, ao menos, até 31 de maio, de modo que seja possível um retorno gradual da vida pública e dos negócios.)

 

Em vigor desde 1º de abril, as restrições baseadas em gênero do Panamá seguem ativas, mesmo com vários registros de discriminação. No entanto, o ministro de segurança pública disse que instruiu a polícia a “evitar qualquer tipo de discriminação contra a população LGBTI+”, quando em resposta à COVID-19. 

 

Juliana Martínez (Sentido Foundation) questionou o motivo de restrições baseadas em gênero terem sido implementadas somente na América Latina:  

“Parece normal para nós já que o binarismo de gênero foi naturalizado. No entanto, quando olhamos para o que está acontecendo no contexto global e nos deparamos com as medidas bem-sucedidas de outros países, em nenhum desses casos algo semelhante foi implementado”.

 

Durante uma cerimônia de hasteamento da bandeira no Brasil, o presidente Jair Bolsonaro prometeu enviar ao Congresso um projeto de lei que se opõe à “ideologia de gênero”, para anular uma decisão recente do Supremo Tribunal Federal (STF). No começo do mês, a Justiça determinou ser inconstitucional proibir educação acerca de tópicos da “ideologia de gênero”, incluindo orientação sexual, identidade de gênero, papéis de gênero e direitos reprodutivos.

 

Em uma decisão de última hora, a eleição presidencial da Polônia foi adiada devido à pandemia. Por mais de um ano, o partido no poder Direito e Justiça (PiS) encorajou um discurso anti-LGBTO+, fazendo campanha contra direitos LGBTI+ e se opondo à educação sobre sexualidade. O ex-ministro da defesa Antoni Macierewicz aplaudiu os líderes por concordarem com a suspensão da votação. Macierewicz afirmou que a “assim chamada ideologia LGBTI+” e o aborto são as maiores ameaças ao país depois da pandemia e do colapso econômico.

Saiba mais sobre o Mundo da Política

 

Políticas da União: Em Taiwan (China), as pessoas comemoram um ano de aniversário da legalização do casamento entre pessoas de mesmo sexo. Taiwan é o primeiro local na Ásia a legalizar a equidade de matrimônio. No entanto, há restrições. Os cidadãos não podem se casar com estrangeiros oriundos de países que não reconhecem o casamento gay. Casais só podem adotar filhos(as) biológicos(as) de um dos cônjuges. A Taiwan Alliance to Promote Civil Partnership Rights (TAPCPR) lançou uma campanha para demandar do governo direitos igualitários para casamentos entre pessoas do mesmo sexo

 

Na China, o Legislativo está finalizando mudanças no projeto de Código Civil do país. No início do ano, o Congresso chinês divulgou à imprensa que o casamento gay, a capacidade de anular matrimônios e as dívidas conjuntas dos cônjuges eram os tópicos mais populares comentados pelo público durante o perído de consultas que durou um mês. No entanto, um agente da Comissão de Assuntos Legislativos anunciou que não haverá mudanças na já existente lei de matrimônio “entre um homem e uma mulher”. Os defensores prometeram continuar a campanha pela igualdade matrimonial.

 

A Assembleia Legislativa da Costa Rica votou pela rejeição de uma iniciativa que visava adiar a legalização da igualdade matrimonial para o fim da fase mais grave da COVID-19. Em 2018, a Justiça determinou que o casamento entre pessoas do mesmo sexo deveria ser legal e deu aos legisladores um prazo de dois anos para a criação de uma lei específica, cujo prazo final seria 26 de maio. Ainda neste mês, um grupo de legisladores tentou prorrogar o prazo, argumentando que a pandemia e outras questões atrapalharam oficiais na revisão dessa questão. A imprensa local reportou que o debate esquentou incluindo um confronto físico no Congresso. O congressista Enrique Sanchez, assumidamente gay, definiu esse debate como “sem sentido”

Já basta que continuemos a protelar as grandes soluções que esse país se propõe, enquanto debatemos questões que já estão estabelecidas constitucionalmente e convencionalmente. É inaceitável que continuemos a discutir tópicos cujas intenções são as de prejudicar os direitos de uma população historicamente discriminada”

 

As advogadas indianas Menaka Guruswamy e Arundhati Katju, que lideraram a luta para descriminalizar as relações homoafetivas no país, lançaram o “Marriage Project” (Projeto Casamento) para legalizar o matrimônio entre pessoas do mesmo sexo. Elas afirmam que se trata de uma iniciativa legal e social, abordando os muitos direitos concedidos às pessoas já casados. 

Mais sobre Políticas da União

 

Que a Justiça decida: Em Uganda, o Tribunal de Magistrados de Nsangi liberou 19 jovens que foram presos durante uma ‘batida’ em um abrigo LGBTI+ para pessoas sem teto. Os jovens foram detidos e ficaram sem acesso a advogados por cerca de dois meses. Embora as autoridades os tenham acusado de violação às restrições por COVID-19, defensores afirmam que isso foi apenas uma desculpa para atingir possíveis cidadãos LGBTI+. O advogado no comando desse caso, Dr. Adrian Jjuuko, salientou que, apesar das acusações terem sido retiradas, eles ficaram na prisão por 50 dias: “em termos de justiça, esses são alguns dos pontos que devemos investigar enquanto advogados. Se estão retirando as acusações, tais alegações nem deveriam ter sido impostas”.   

 

A Suprema Corte dos Estados Unidos continuou a julgar casos virtualmente, incluindo dois processos que têm um potencial impacto na saúde sexual e nos direitos LGBTI+. Em um deles, a organização com foco em AIDS, Alliance for Open Society International, questiona uma regulamentação do Governo por exigir que grupos apenas recebam financiamento se forem opostos ao trabalho sexual. No outro, professores estão processando escolas católicas devido à discriminação no trabalho. Enquanto isso, uma decisão é aguardada neste mês sobre a possibilidade de pessoas serem demitidas em função de orientação sexual, identidade ou expressão de gênero. Aimee Stephens, a mulher trans que se tornou pioneira ao levantar esse assunto – o primeiro caso de direitos civis de uma pessoa trans – na Suprema Corte, faleceu no dia 12 de maio, antes de ouvir o resultado deste processo.

 

No Brasil, o Supremo Tribunal Federal (STF) votou para eliminar orientações que exigiam abstinência de 12 meses para que homens gays e bissexuais pudessem doar sangue. A maioria afirmou que tais determinações eram “baseadas em preconceito e discriminação”. O governo brasileiro deve tratar homens gays e bissexuais da mesma forma que os heterossexuais quando o assunto for doação de sangue.

 

Mais sobre Justiça

 

Medo e aversão: Diversos estudos da Europa e Ásia Central pintam um cenário preocupante para os direitos da comunidade LGBTI+ pela região. Intitulado “Trans Rights Europe & Central Asia Index” (Índice dos direitos trans na Europa e na Ásia Central), esse trabalho do Trangerder Europe avaliou 54 países de acordo com 30 indicadores, incluindo reconhecimento de gênero, não-discriminação, saúde e esterilização forçada. Entre todas essas variáveis, o índice apresentou um crescimento bem limitado no que diz respeito à proteção baseada na identidade de gênero.

 

“LGBTI+ in the region of Central Asia: Repressions, Discrimination, Exclusion” (LGBTI+ na região da Ásia Central: repressões, discriminação, exclusão), que foi elaborado por uma coalizão de grupos regionais de direitos humanos, revelou que as pessoas não se sentem seguras em lugar algum em países como Cazaquistão, Quirguistão, Tajiquistão, Turcomenistão e Uzbequistão. Cidadãos LGBTI+ têm medo de chantagem, extorsão e violência. O relatório documenta que pessoas foram torturadas enquanto estavam detidas. Há também um destaque para a pressão adicional que mulheres e minorias sexuais enfrentam devido a estereótipos patriarcais. 

 

O estudo “A long way to go for LGBTI equality” (Um longo caminho para trilhar em relação à igualdade LGBTI), assinado pela Agência dos Direitos Fundamentais da União Europeia (FRA), é baseado em respostas de 140 mil pessoas da UE, norte da Macedônia e Sérvia. O relatório descobriu que houve “pouco progresso em geral” em sete anos. A FRA convocou a UE a investir particularmente na criação de escolas seguras, ampliando proteções não-discriminatórias, e com foco em crimes de ódio.  

 

A ILGA-Europa divulgou o estudo anual Rainbow Europe Map and Index que avalia por meio de ranking os países europeus de acordo com leis e políticas para pessoas LGBTI+. A entidade afirma que, segundo os dados, trata-se de um momento decisivo para igualdade e que muitos países retrocedem, pois as redes de proteção “desaparecem”. Nenhuma mudança positiva foi notada em 49% das nações. Evelyne Paradis, diretora-executiva da ILGA-Europe, advertiu: 

“A história mostra que aqueles já vulneráveis antes de uma crise apenas se tornam mais vulneráveis depois dela. Logo, temos todos os motivos para nos preocuparmos com o fato de que a complacência política, a repressão crescente e as complicações socioeconômicas criarão uma tempestade perfeita para muitas pessoas LGBTI+ na Europa nos próximos anos”

 

Diversas organizações divulgaram relatórios com casos individuais de discriminação e violência. Natural do México, a entidade “Letra S” apresentou números em um projeto de monitoramento de crimes de ódio em território nacional. O estudo mostrou que 2019 foi o ano mais violento para pessoas LGBTI+ nos últimos cinco anos. Assassinatos dessa população aumentaram 27% na comparação com 2018, destacando que as mulheres trans representam mais da metade de todas as mortes. Ao menos nove vítimas eram ativistas LGBTI+ e seis eram figuras públicas conhecidas por trabalho social. A senadora Patricia Mercado elogiou a organização por seu trabalho e destacou que crimes de ódio em geral são “invisíveis”.

 

Na Polônia, a associação “Never Again” (Nunca Mais) divulgou um relatório em que documenta discursos racistas, homofóbicos e xenofóbicos, além de teorias da conspiração e violência no país desde a emergência da COVID-19. O estudo analisou incidentes na internet, rádio e televisão, incluindo depoimentos de oficiais do Governo, líderes de escolas e clero que acusaram injustamente pessoas de terem espalhado o vírus. 

 

Em um novo relatório da Tunísia, o Minority Rights Group International demonstrou como a discriminação e a violência com base em raça, orientação sexual e identidade de gênero violam os direitos civis de uma pessoa. Ao analisar o contexto de 309 reclamações de discriminação, o estudo mostra que as leis utilizadas para perseguir e criminalizar pessoas LGBTI+ contradizem a Constituição da Tunísia e a legislação internacional. O relatório conta ainda com recomendações políticas para proteger os direitos assegurados pela Constituição.

 

Na Coreia do Sul, um surto de COVID-19 associado à região de bares e casas noturnas de Itaewon incitou manifestações contra pessoas LGBTI+. Enquanto isso, o Korea Times divulgou que um efeito cascata fez com que lojas de marcas de luxo demitissem um “considerável número de funcionários” por suspeita de serem gays. Para conter as tensões, oficiais começaram a oferecer testes anônimos para encorajar pessoas que têm receio de exposição social. O primeiro-ministro Chung Sye-kyun enfatizou que discriminar pessoas por serem quem elas são é inaceitável. Ele disse que, se uma pessoa evita tal teste por medo das críticas, “a sociedade precisa arcar com todas as consequências”. O ator Hong Seok-chun – a primeira celebridade abertamente gay da Coreia do Sul – incentivou as pessoas para que aproveitem esse teste anônimo

“Agora é a hora de ter coragem... Melhor do que ninguém, eu entendo as preocupação que surgem ao se assumir. Mas neste momento, o mais importante é a saúde e a segurança de nossas famílias e da sociedade”.

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Ventos de Mudança: A entidade Human Dignity Trust publicou uma série de estudos de caso avaliando como seis governos no mundo foram bem-sucedidos ao reformar ou remover leis discriminatórias sobre delitos sexuais, inclusive aquelas utilizadas para criminalizar pessoas LGBTI+. Os estudos sobre Palau, Belize, Chipre do Norte, Mocambique, Seychelles e Nauru demonstram as lições aprendidas e esclarecem que: “as reformas legislativas amplas guiadas por direitos humanos podem ser complexas e, por vezes, controversas, mas são possíveis com a combinação certa de fatores”.  

 

A Human Rights Watch lançou um recurso digital inovador chamado “If Not Now, When? Queer and Trans People Reclaim their Power in Lebanon’s Revolution” (“Se não for agora, quando será? Pessoas queer e trans clamam por poder na revolução do Líbano”). Criado por Rasha Younes e com vídeos de Amanda Baily, o projeto mostra histórias de pessoas LGBTI+ antes, durante e depois da revolta. Ao participarem de protestos, pessoas LGBTI+ passaram a ter uma nova visibilidade na comunidade, que nem sempre foi muito apoiadora. No entanto, uma pessoa salientou:

A revolução deve ser aquela que defende os direitos dos oprimidos e a população LGBTI+ está incluída aqui. É por isso que nossas vozes precisam ser ouvidas agora e não depois. Não devemos esperar de forma alguma”.

 

No Iraque, o Rudaw noticiou que a União Europeia, o escritório regional do Banco Mundial para Oriente Médio e Norte da África, e as embaixadas britânica e canadense no Iraque ergueram bandeiras de arco-íris em Bagdá para enfatizar os direitos de pessoas LGBTI+ no Dia Internacional Contra a Homofobia, a Bifobia e a Transfobia (IDAHOT). Alguns oficiais iraquianos condenaram as ações, chamando-as de culturalmente insensíveis, e aguardam um pedido de desculpas. Diversas pessoas LGBTI+ falaram sobre as reações e sobre o que as bandeiras significaram para elxs. Um homem gay destacou:

Um aspecto do debate acerca do tema LGBTI+ que me incomoda é o fato de que muitos alegam ser um aspecto externo à sociedade iraquiana, sendo algo importado. Nós não viemos de outro lugar. Somos iraquianos, de vilarejos e cidades deste país, e servimos à sociedade.

 

Devido à COVID-19, o Canadá adiou  uma competição internacional de design para criar um memorial em comemoração ao expurgo de milhares de pessoas LGBTI+ de empregos no Governo e nas Forças Armadas entre 1950 e 1993. O local para o memorial foi selecionado em janeiro e a Nacional Capital Comission aprovou fundos na ordem de 8 milhões de dólares canadenses (cerca de 32 milhões de reais).

 

Na Índia, o banco multinacional Standard Charter Bank estendeu seus benefícios médicos e de realocação doméstica para parceiros e parceiras de trabalhadores LGBTI+ no país.

 

Confira esse curta animado assinado pela Commonwealth Forum of National Human Rights Institutions. “Beyond Tolerance” (Além da tolerância), narrado pelo especialista da ONU, Victor Madrigal-Borloz, olha para um futuro no qual pessoas LGBTI+ são aceitas e incluídas mundialmente.

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Esportes e Cultura: O ator e cantor americano Alex Newell falou ao Xtra sobre encontrar papéis na Broadway e na TV sendo um um homem gay negro e gênero não-conformante. (Confira seu último single!) Embora colocar muito de sua história pessoal no trabalho o torne mais vulnerável, ele reflete:

Quando falamos de algo que pessoas julgam muito diferente, temos que o humanizá-lo e torná-lo normal, além de mostrar as coisas reais pelas quais eles passam – pelas quais nós passamos – às quais as pessoas nem sempre tem acesso”.

 

A cantora indie Becca Mancari falou ao site Them sobre seu novo álbum que narra como foi crescer como uma pessoa queer em uma comunidade fundamentalista, depois que seus pais a rejeitaram. O single “First time” foi gravado com músicos LGBTI+ dos arredores de Nashville.

 

O cantor Willie Tay, de Singapura, falou ao South China Morning Post sobre como ter se assumido lhe custou sua carreira depois que seus empresários deletaram suas contas nas redes sociais e encerraram seu contrato com a gravadora. Tay, hoje radicado nos Estados Unidos, explicou como leis que criminalizam gays o assombraram como artista. (Confira sua canção “Empty”).

 

Yahto Kraft, um adolescente queer sul-africano, falou com o Mamba Online sobre assuntos como sua fama na versão The Voice de seu país, sair do armário e sobre a defesa da positividade do corpo. (Ouça seu novo single pop “Ugly”). Kraft tem uma mensagem para jovens queer com dificuldade de se adaptar:

“Não se importe com o que os outros estão dizendo sobre você. Você é incrível. Você é mais do que uma estrela; você é uma supernova! Não deixe ninguém enfraquecer o quão brilhante pode ser. Você é você mesmo. Isso é mais do que suficiente”.

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