Olhar para a Igualdade: 16 de julho de 2020

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Carxs amigxs e colegas,

Diretamente da ONU: O UNAIDS anunciou que as metas globais de HIV estabelecidas para 2020 não serão alcançadas; a pandemia de COVID-19 poderia ser a responsável pelo retrocesso de 10 anos – e talvez mais – na resposta à AIDS. Esses achados fazem parte do novo relatório “Agarrar a oportunidade”, no qual debate-se que os países deveriam “reforçar seu comprometimento e agir com maior urgência” ou então perderemos todo o progresso já obtido. A pesquisa destaca que houve progresso desigual pelo mundo, com 62% das novas infecções ocorrendo entre populações-chaves e seus parceiros sexuais. O UNAIDS estima que uma interrupção de seis meses no tratamento de HIV, causada pela pandemia da COVID-19, poderia ocasionar mais de 500 mil mortes adicionais somente na África subsaariana.

 

O especialista independente da ONU para assuntos de orientação sexual e identidade de gênero, Victor Madrigal-Borloz, apresentou seu relatório sobre “terapia de conversão” durante a 44ª sessão do Conselho de Direitos Humanos. Falando com o Conselho, Madrigal-Borloz convocou os países para uma proibição global das chamadas terapias de conversão e destacou que elas têm sido repetidamente associadas com danos mentais e físicos de longo prazo:

“Essas práticas constituem uma significativa violação dos direitos de autonomia sobre o corpo, saúde e livre expressão sobre orientação sexual e identidade de gênero. E, por último, quando conduzidas à força, também representam uma violação no que diz respeito à proibição de tortura e maus-tratos.” 

 

A Organização das Nações Unidas deu início à Reunião de Alto Nível para revisar o progresso rumo à Agenda para o Desenvolvimento Sustentável até 2030, bem como os ODS (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável). Os grupos OutRight, COC Nederland e RFSL divulgaram uma cartilha sobre os ODS com foco em apoiar aqueles que trabalham com questões de impacto pessoal referente a orientação sexual, identidade de gênero e expressão. A cartilha também guia organizações ativistas sobre como participar efetivamente da Reunião de Alto Nível.

 

O escritório da UNESCO do Magrebe (Noroeste da África), o UNFPA Marrocos e o UNAIDS promoveram um webinar público para discutir o papel da mídia na conscientização sobre a importância de programas abrangentes de educação sexual. O fórum incluiu especialistas da ONU, representantes da sociedade civil, membros do Fórum de Jornalistas Jovens do Marrocos, além de líderes do Higher Institute of Information and Communication (Instituto Superior de Informação e Comunicação). Assista ao vídeo em francês!

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HIV, saúde e bem-estar: a 23ª Conferência Internacional sobre AIDS – a AIDS 2020: Virtual –, cujo tema foi resiliência, aconteceu virtualmente com sessões 24 horas por dia, de modo que os participantes puderam compartilhar as últimas descobertas científicas, conquistas em advocacy, além de esforços nacionais e comunitários para chegarmos a uma geração livre de AIDS.  

 

Um estudo poderoso apresentado por Carrie Lyons da Universidade Johns Hopkins mostrou que a criminalização das atividades sexuais entre pessoas do mesmo sexo é associada com a crescente probabilidade de infecção pelo HIV entre gays, bissexuais e outros homens que fazem sexo com homens (HSH). Ao analisar 10 países da África subsaariana, os dados mostraram que as punições mais severas eram associadas a uma maior probabilidade de infecção pelo HIV. Nos países cujas penas são menores que 8 anos de prisão, homens gays e bissexuais eram 2,21 vezes mais propensos a ter HIV na comparação com países que não criminalizam – penalidades superiores a 10 anos de prisão aumentaram a comparação de probabilidade para 4,65 vezes. Pesquisadores concluíram que:

“A descriminalização de práticas sexuais consensuais entre pessoas do mesmo sexo é necessária para otimizar os esforços de prevenção ao HIV e, por fim, enfrentar a epidemia de HIV”.

 

Outro estudo apresentado na AIDS2020 por Kumbirai Chatora analizou gays, bissexuais e outros homens que fazem sexo com homens (HSH) no Zimbábue, onde há diversas leis para criminalizar pessoas devido à sexualidade percebida. Com uma série de entrevistas, Chatora averiguou como homens descrevem suas próprias sexualidades e como isso altera suas chances de acessar os serviços de tratamento ao HIV.

 

Diversos estudos apresentados na AIDS2020 avaliaram a ampliação do uso da PrEP para prevenir a infecção pelo HIV. Dentro desses estudos, uma pesquisa do Reino Unido mostrou que a aceitação variou entre homens gays, bissexuais e outros homens que fazem sexo com homens (HSH) dependendo de idade, emprego e moradia segura. Um estudo sobre Quênia, Tanzânia e Lesoto descobriu que muitas pessoas usam e param de usar o PrEP diariamente. Um estudo da França a respeito do uso do PrEP sob demanda (também conhecido como utilização agendada da PrEP ou PrEP 2-1-1, isto é tomar dois comprimidos, de 2 a 24 horas antes de ter uma relação sexual; tomando um único comprimido 24 horas após os dois primeiros, e outro comprimido 24 horas depois) descobriu que as pessoas ficam frequentemente confusas sobre esta forma de tomar a PrEP. Foi recomendada a criação de materiais educativos esclarecedores.

 

Um estudo americano descobriu que propagandas que espalham informações equivocadas sobre o Truvada, o nome do medicamento usado na PrEP (e que teriam convocado o público se unir em um processo contra a fabricante) teriam desencorajado jovens em situação de risco a tomarem o medicamento. Entre os participantes, 49% teriam visto anúncios anti-PrEP no Facebook ou Instagram. Dentre esses, 32% mudaram suas opiniões sobre o medicamento e 19% pararam de tomá-lo.

 

Pesquisadores apresentaram dados adicionais sobre um estudo conduzido na Argentina, Brasil, Peru, África do Sul, Tailândia e Vietnã, entre homens gays e bissexuais e mulheres trans. Descobriu-se que uma injeção de PrEP a cada dois meses seria 66% mais efetiva em comparação com o Truvada em forma de pílula. Uma amostra aleatória de quem tomou a medicação oral mostrou que 25% não ingeriam a pílula de maneira consistente; isso poderia explicar por que a injeção foi muito mais eficaz na prevenção do HIV.

 

O ativista e co-fundador da Treatment Action Campaign (TAC), Zackie Achmat, foi homenageado na AIDS2020 por sua liderança na resposta ao HIV. Ele apontou que muito da resposta à COVID-19 mundialmente foi uma consequência do trabalho feito em resposta ao HIV nas últimas décadas.

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Mundo da oolítica: O presidente do Gabão, Ali Bongo Ondimba, sancionou a descriminalização da atividade sexual entre pessoas do mesmo sexo depois que a maioria da Assembleia Nacional e do Senado votou a favor. Mesmo que a lei que criminaliza atividade sexual entre pessoas do mesmo sexo tenha sido acrescentada ao Código Penal somente em 2019, muitos estão contestando sua revogação. Guy Nzouba-Ndama, líder do partido opositor, lançou uma petição nacional contra a descriminalização.

 

Esse progresso no Gabão causou manifestações nos países próximos. O governo do Mali denunciou relatos de que descriminalizaria atividades sexuais entre pessoas do mesmo sexo, de acordo com o canal France24. Em Camarões, o líder do RDMC (partido opositor) divulgou um posicionamento condenando vigorosamente qualquer aceitação da homossexualidade.

 

No Sudão, a organização Bedayaa divulgou que o Conselho Soberano do país aprovou um conjunto de emendas, incluindo atualizações no Artigo 148 do Código Penal (conhecido como Lei da Sodomia). Embora a legislação permaneça vigente, a emenda remove flagelação e a pena de morte das punições. Os condenados nos termos do artigo 148 podem pegar até sete anos de prisão.

 

O presidente polonês Andrzej Duda assinou um projeto de lei a fim de proibir pessoas em uniões homoafetivas de adotarem crianças. O PL está, agora, sendo revisado pelo Sejm (Câmara dos Deputados). Os poloneses escolheram, no fim de semana passado, no segundo turno eleitoral, entre o presidente Duda e o candidato Rafał Trzaskowski, depois de uma campanha onde direitos LGBTs e uma retórica homofóbica se tornaram uma questão central. O presidente Duda venceu por pouco, com 51,21% dos votos. Ativistas disseram que a retórica das lideranças causou um aumento na violência anti-LGBT que se tornou “visível nas ruas”. Marek Szolc, membro do Conselho Municipal de Varsóvia, disse:

“Vivemos em um estado onde o poder nos deu consentimento total à violência. Nenhum de nós pode mais se sentir seguro.”

 

Na Holanda, a Câmara dos Deputados votou pela expansão do artigo 1 da Constituição a fim de incluir proteção contra discriminação baseada na orientação sexual  e deficiências. Atualmente, a Constituição proíbe discriminação relacionada a religião, crença, afiliação política, raça e gênero. A organização LGBTI COC Nederland confirmou com a vice-primeira-ministra Kajsa Ollongren que a proteção constitucional a respeito de “gênero” já protege contra a discriminação por motivos de características, identidade e expressão de gênero. A proposta segue para análise do Senado.

 

Ainda na Holanda, a Ministra da Educação, Cultura e Ciências, Ingrid van Engelshoven, declarou que as carteiras de identidade deixarão de mostrar o gênero do titular. A expectativa é de que a mudança se torne efetiva em 2024 ou 2025, quando outras alterações nas carteiras serão implementadas. Alemanha, Itália e Sérvia já utilizam carteiras de identidade sem indicadores de gênero. Argentina, Austrália, Canadá, Índia, Nepal, Nova Zelândia e alguns estados americanos autorizam que as pessoas selecionem a categoria terceiro de gênero em carteiras de identidades e passaportes.

 

O Parlamento da Itália está considerando uma nova legislação para proibir a discriminação e crimes de ódio contra gays e pessoas trans. A lei atual proíbe crimes de ódio a partir de premissas raciais, étnicas, religiosas ou nacionais. Alguns bispos se opuseram à lei, chamando-a de "desnecessária" e sugerindo que ela colocaria em risco a liberdade de expressão.

 

Nos Estados Unidos, o jornal The New York Times e outros veículos relataram que o Departamento de Habitação e Desenvolvimento Urbano propôs uma mudança na regulamentação de modo a permitir que abrigos neguem às pessoas trans o acesso a instalações unissex financiadas pelo governo. Ao refletir sobre a linguagem abrangente do projeto, Dylan Waguespack, diretor de políticas públicas da True Colors United, disse:

"Há o risco de não apenas as pessoas transexuais serem removidas, mas também as pessoas cisgênero, que podem não estar em conformidade com as normas sociais estabelecidas por um abrigo especifico."

 

Na Indonésia, o Comitê Legislativo da Câmara dos Deputados deixou de considerar um Projeto de Lei sobre erradicação de violência sexual devido a “dificuldades” de organizar a discussão no Parlamento. O partido Prosperous Justice Party (PTK) se opôs ao projeto de lei por argumentar que ele promove “legalização do adultério e orientações sexuais LGBT”, conforme relatado pelo Jakarta Post. O PL pode ser reconsiderado em 2021.

 

Na Índia, o Ministério de Assuntos Internos perguntou às divisões das Forças Policiais Armadas Centrais se elas estão dispostas a adicionar uma categoria para terceiro gênero (transgênero) para as provas do processo seletivo. Atualmente, os cidadãos são obrigados a passar em uma série de provas antes de serem elegíveis para empregos no serviço público – e isso inclui as Forças Armadas. Quatro das cinco divisões disseram que estão abertas à mudança, conforme relatado pelo Times of India. Esta é a primeira grande mudança rumo à inclusão desde que a ‘Lei de Pessoas Trans - Proteção de Direitos’ foi aprovada no início deste ano. Um comandante do CAPF refletiu:

“[A população transgênero] contribuirá para o perfil amplo dessas forças. Além disso, se as forças uniformizadas não lideram pelo exemplo, como podemos esperar que outras seções da sociedade eliminem antigas restrições”.

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As políticas da União: A Rússia completou uma votação nacional de sete dias para aprovar mudanças na Constituição. A maioria das pessoas disse “sim” e a principal mudança permite ao Presidente Vladimir Putin permanecer no poder até 2036. A votação incluiu 206 emendas visando “consolidar os valores russos”, incluindo uma emenda que definiria casamento como algo exclusivo entre um homem e uma mulher. Em entrevista ao jornal The New York Times, o sociólogo da Escola de Ciências  Sociais e Econômicas do Moscou, Greg Yudin, afirmou que de um ponto de vista jurídico “todo esse exercício é insano”. Entretanto, ele ressalta:

“É um teatro, mas é um teatro muito importante e bem executado.”

 

O Parlamento de Montenegro votou pela adoção de uma lei que reconhece parcerias registradas entre casais do mesmo sexo. Isso foi chamado de um “grande passo na direção certa” pelo Primeiro-Ministro Dusko Markovic, que acolheu a mudança e disse:

Não há espaço e não deveria haver espaço para a discriminação com base na orientação sexual, em Montenegro.”  

 

Na África do Sul, o National Council of Provinces – NCOP (Conselho Nacional das Províncias) aprovou uma emenda da Lei de União Civil proibindo agentes de matrimônio e magistrados de recusarem-se a conduzir casamentos entre pessoas do mesmo sexo.

 

Na Tailândia, o conselho de ministros aprovou um projeto de lei para o reconhecimento de uniões entre pessoas do mesmo sexo, concedendo aos casais o direito de possuir uma propriedade, passar heranças e adotar crianças. O PL será discutido, na sequência, pela Câmara dos Deputados e pelo Senado. Pauline Ngarmpring, uma pessoa trans que concorreu ao cargo de primeira-ministra, pontuou que esse projeto não é baseado em igualdade, mas é melhor do que nada.”

 

No Nepal, a Comissão Nacional de Direitos Humanos divulgou um novo relatório recomendando que uniões entre pessoas do mesmo sexo sejam legalizadas. Foi notado que já se passaram 5 anos desde que um comitê especialista recomendou a equidade de matrimônio, e 13 anos desde que a Suprema Corte determinou que minorias sexuais e de gênero deveriam ter direitos iguais.

 

No Japão, alguns dos 13 casais que deram início a processos no ano passado contra o governo, em luta pelo direito de casarem-se, conversaram com o Japan Times sobre o perigo que a COVID-19 trouxe aos casais LGBT. Sem reconhecimento legal de suas respectivas uniões, emergências de saúde podem ser particularmente perigosas.

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Que as Cortes decidam: A Suprema Corte Americana determinou que as leis federais a respeito de discriminação no emprego não protegem professores que trabalham em escolas comandadas por organizações religiosas, de acordo com o Washington Post e outros veículos. O caso envolveu dois professores de ensino fundamental cujos contratos não foram renovados – uma delas afirma ter sido discriminada por ter recebido um diagnóstico de câncer de mama, enquanto outro queixou-se sobre preconceito etário. Na decisão da maioria, a Justiça Alito determinou que os tribunais devem ficar de fora das disputas trabalhistas envolvendo aqueles que "mantêm certas posições importantes nas igrejas e outras instituições religiosas".

 

De acordo com o The Wall Street Journal e outros veículos da imprensa, a Suprema Corte Americana determinou que o Departamento de Saúde e de Serviços Humanos (HHS) poderia isentar empregadores e universidades do Affordable Care Act  (Ato sobre Saúde Acessível) em relação à cobertura do controle de natalidade nos planos de saúde fornecidos pelos empregadores. Antes, apenas organizações religiosas poderiam solicitar essa isenção. Em 2017, o presidente emitiu uma determinação visando expandir essa isenção a fim de incluir quaisquer empregadores com objeções religiosas ou morais no âmbito do controle de natalidade. Inúmeros grupos se organizaram para demandar cobertura contraceptiva, algo que culminou na decisão da Suprema Corte.

 

A Corte Europeia de Direitos Humanos determinou que a Bulgária violou a Convenção Europeia de Direitos Humanos ao recusar que pessoas trans alterem legalmente seus nomes e gêneros no registro civil.

 

Chegaram relatórios da China de que a Justiça de Pequim classificou como errada a decisão de um empregador de demitir uma colaboradora que tirou dois meses de férias para fazer uma cirurgia de redesignação sexual. A Justiça determinou que a trabalhadora seja reinserida, tendo o direito a usar o banheiro feminino. Notícias a respeito de tal decisão geraram debates nas redes sociais chinesas com muitas pessoas oferecendo apoio. Apenas alguns casos de discriminação no ambiente de trabalho envolvendo pessoas trans foram julgados nos tribunais da China. Na decisão, a Justiça destacou que:

“A sociedade moderna está se tornando cada vez mais diversa. Estamos sempre nos deparando com novidades ao nosso redor, de modo que aprendemos gradualmente a aceitá-las, a menos que ameacem os demais, o coletivo ou o interesse comum social ou nacional”.

 

A Comissão Internacional de Juristas – uma ONG formada por juízes, advogados e acadêmicos – promoveu uma série de entrevistas virtuais com 13 defensoras dos direitos humanos de Botsuana, África do Sul, Indonésia, Malásia, Tailândia, Colômbia, Paquistão, Myanmar, Índia e Malauí. Entre os temas discutidos, foram analisados a discriminação em sistemas legais locais, o impacto da criminalização no discurso público e o impacto da COVID-19 nas comunidades. Veja os vídeos.

Mais sobre Justiça

 

 

Falano de religião: A Arcus Foundation publicou um novo estudo que avalia o trabalho desempenhado por organizações de cunho religioso em apoio aos avanços dos direitos sobre orientação sexual e identidade de gênero no Caribe. Pesquisadores falaram com líderes religiosos, especialistas, ativistas LGBTQI, entre outros, em Barbados, Belize, Guiana, Jamaica, Suriname, Trinidad & Tobago e a Organização dos Estados do Caribe Oriental. 

 

Ao escrever para o National Catholic Reporter, Frei Daniel Horan, que faz parte da União Teológica Católica, debateu sobre a origem do termo “ideologia de gênero” no contexto católico. Ele esclarece como isso foi usado para descreditar os direitos LGBTQ, causando "danos graves às pessoas que já eram vulneráveis em uma sociedade injusta"

Mais sobre Religião

 

Medo e repúdio: Enquanto o coronavírus continua a avançar em muitos países, pessoas LGBT e profissionais do sexo estão entre as comunidades mais vulneráveis. No Brasil, um novo estudo descobriu que mais de 20% das pessoas LGBT+ perderam seus empregos devido à COVID-19. Mais de metade da população trans e 40% das pessoas LGBT+ disseram que não vão sobreviver sem apoio financeiro. Na Jamaica, Kate Chappell relatou sobre a população LGBT+ que “caiu no esquecimento” durante a pandemia.

 

Em Fiji, a Survival Advocacy Network Fiji —uma rede de apoio aos profissionais do sexo — descreveu as dificuldades que profissionais do sexo têm tido em satisfazer suas necessidades básicas. O grupo, com o apoio do UNAIDS, está promovendo o empreendedorismo de geração de renda que visa ajudar esses professionais, frequentemente excluídos das redes de segurança comunitária.

 

Em Bangladesh, Kazi Nafia Rahman divulgou como a população dentro do leque transgênero (hijras, homens e mulheres trans, koti ou travestis, pessoas de gênero não-conformante e não-binárias), que não é reconhecida pelo governo como o “terceiro gênero”, é excluída de programas de apoio. A ativista de direitos “Queer Boxes” pontuou:

“Estamos falando de uma minoria dentro de comunidades de minorias, que permanece às margens da sociedade”.

 

A organização iraquiana LGBT IraQueer divulgou um novo estudo sobre a relação entre a retórica anti-LGBT+ e a mídia. Com uma plataforma estabelecida por organizações de pesquisa acadêmica e direitos humanos, a entidade analisou oito anos de cobertura da mídia sobre a temática LGBT+ em 60 meios de comunicação locais. Ele descobriu que houve uma "cobertura tendenciosa clara" que "promove sistematicamente discursos de ódio e violência". O levantamento propõe cinco passos que os jornalistas podem adotar para aprimorar a cobertura.

 

Enquanto isso, 22 organizações do Oriente Médio e do Norte da África e grupos internacionais de direitos humanos publicaram recentemente uma carta aberta pedindo que mais seja feito para combater o discurso de ódio contra gays e pessoas trans nas mídias sociais.

 

A Trans Smart Trust - uma organização “intersex” e de direitos trans do Zimbábue, em colaboração com o grupo de direitos sueco RFSL, publicou um novo relatório sobre a discriminação e criminalização de pessoas trans naquele país. Com a utilização de pesquisas e entrevistas, foi averiguado que mais de 72% foram estigmatizados e mais de 62% sofreram um crime de ódio por membros da sociedade devido ao seu gênero. Apesar das experiências negativas no trabalho, na escola, nos serviços de saúde e em casa, algumas pessoas continuam tendo esperança em mudanças.

Mais sobre medo e repúdio

 

Ventos da mudança: A European Union Agency for Fundamental Rights (FRA) divulgou um novo relatório sobre os avanços e insuficiências em relação à proteção de direitos humanos na União Europeia. O estudo averigua como a Carta de Direitos Fundamentais da UE tem sido utilizada para obter progresso em diferentes países, além de oferecer propostas de ações. Avalia ainda mudanças feitas com foco no avanço da igualdade LGBTI, notando progresso especialmente em países como Bélgica, Bulgária, Finlândia, Grécia, Irlanda, Lituânia, Malta, Holanda, Portugal, Espanha e Suécia. No entanto, reconheceu-se uma reação contrária ao progresso em Chipre, Polônia, Letônia e Romênia.

 

A ILGA-World lançou um novo Kit de combate às chamadas “terapias de conversão”  que resume a legislação e as ações de políticas públicas adotadas por diversas nações para refrear essas “terapias”. O material ainda identifica como algumas instituições nacionais de direitos humanos, a mídia e associações profissionais atuaram como aliados para pôr um fim a essas práticas.

 

No Reino Unido, uma nova pesquisa conduzida pelo YouGov, a pedido do PinkNews, descobriu que 50% das pessoas no país concordam que as pessoas trans deveriam conseguir se autoidentificar em relação aos respectivos gêneros contra apenas 27% que se opuseram (23% não opinaram). Embora esses números apresentem uma queda em relação ao ano passado (quando 56% concordaram), Vic Parsons, do PinkNews estava encorajado pelos resultados:

“Dados os níveis terríveis de retórica contra a população trans na mídia, é um alívio ver que a maioria do público nos apoia para que continuemos a nos identificar como quem somos”.

 

O Sunday Times do Reino Unido divulgou recentemente que o governo está abandonando os planos que tornariam o reconhecimento de gênero mais fácil apesar de uma consulta de dois anos sobre este assunto. Muitos expressaram desânimo sobre esse relatório e, agora, 15 empresas de mídia, como Disney, Warner Media, Sky e NBC, publicaram uma carta aberta ao primeiro-ministro Boris Johnson exigindo que o governo “honre” o compromisso de implementar os achados da consulta, e apoiar a comunidade trans.  

 

A empresa global de pesquisa PSB Research divulgou o “African Youth Survey 2020”, com base nas respostas de 4.200 pessoas, com faixa etária entre 18 e 24 anos, de inúmeros países como Congo-Brazzaville, Etiópia, Gabão, Gana, Quênia, Nigéria, Mali, Malauí, Ruanda, Senegal, África do Sul, Togo, Zâmbia e Zimbábue. O levantamento constatou que uma grande maioria (83%) acha que seu país deveria fazer mais para proteger as minorias étnicas e ajudar refugiados (72%). Também concluiu que 75% concordaram com a afirmação: “meu país pertence a todos que vivem nele.” No entanto, apenas 28% em todos os países acreditavam que seu governo deveria fazer mais para proteger os direitos das pessoas LGBTQ. Os jovens sul-africanos e ganenses discordaram significativamente dos outros pesquisados - 64% dos sul-africanos e 56% dos ganenses querem mais ações sendo realizadas pelos direitos LGBT.

 

O grupo sul-africano de advocacy Access Chapter 2 lançou uma nova campanha para compartilhar histórias de pessoas que passaram por terapias de conversão, estupro corretivo e demais “práticas e crenças desatualizadas”  que causam danos à população LGBTQIA+. A campanha “Inxeba Lam” (“Minha ferida”) ainda contará com conferências e oficinas, além de influenciar partes interessadas que podem promover mudanças.

 

Na Turquia, mais de 750 advogados comentaram sobre um aumento no discurso de ódio com foco na comunidade LGBT+, com uma carta conjunta, declarando que “direitos LGBTIQ+ são direitos humanos”:

“Nenhum de nós é livre até sermos todos iguais. Todos os tipos de discriminação deveriam ser proibidos, de onde quer que venham, sejam eles originários da ciência, religião, vizinhos - dentro de casa, na rua, escola, estado, instituições ou sociedade.”

 

Na Austrália, Shibu Thomas comentou sobre a Roberta Perkins Law Project — uma organização dedicada a oferecer serviços legais para pessoas trans e gênero diverso. O projeto, que recebeu esse nome por causa da trans e ativista dos direitos das profissionais do sexo Roberta Perkins, é comandado por advogados trans que são sensíveis às necessidades dessa população.

 

Confira um painel promovido pelo grupo de novidades tecnológicas Cointelegraph, contando com Erik Lamontage, economista sênior do UNAIDS, e outros sete especialistas que debatem sobre como novas tecnologias podem ter um impacto sobre a comunidade LGBTQ+. Os participantes estavam animados com as oportunidades que tecnologias, como crypto e blockchain, podem trazer à comunidade ao mesmo tempo em que alertaram sobre os riscos. Assista agora.

 Saiba mais

 

Esportes e cultura: a HBO lançou o documentário “Welcome to Chechnya” do cineasta nomeado ao Oscar, David France. A obra, que estreou em Sundance no início do ano, comoveu audiências, com sua visão assombrosa sobre os expurgos anti-gays da Chechênia e os esforços da comunidade LGBT russa e do Centro Comunitário de Moscou para Iniciativas LGBTI+, visando salvar pessoas. A organização canadense Rainbow Railroad vai organizar uma exibição gratuita online, seguida por um debate com o cineasta hoje -  inscreva-se aqui.

 

Dê uma olhada nessa lista para ver o trabalho de artistas negros e indígenas queer da Austrália que estão fora do armário e cheios de orgulho, abraçando quem são de fato com poesia, literatura, música, comédia, cinema e ativismo.

 

Em texto para a Vogue, a ativista trans, escritora e cineasta “Tourmaline” — saiba mais sobre seu trabalho  — falou sobre o conceito de “sonhar com liberdade”, desenvolvido pelo professor Robin D.G, Kelly, como uma forma de encorajar as pessoas a visualizarem o que estão “lutando por”, ao invés de darem o foco no “lutar contra”:

“Sonhos de liberdade nascem quando enfrentamos condições adversas, não com desespero, mas com o profundo conhecimento de que essas condições mudarão - um mundo cheio de suavidade, beleza e cuidado não é apenas possível, mas inevitável.”

 

Confira esse vídeo da BBC Reel, “What sex can teach us about the past” (O que o sexo pode nos ensinar sobre o passado). As historiadoras Kate Lister e Fern Riddel debatem com o apresentador Matthew Sweet sobre como algumas percepções históricas sobre sexo nos ajudam a entender questões gays, trans e sobre a temática queer. De acordo com Riddel: 

“Uma das coisas que realmente me motivaram é a compreensão de que o fanatismo moderno é o problema. Essas histórias existem há séculos. Podemos usar uma palavra moderna, mas elas vêm fazendo parte da nossa cultura sexual e as pessoas vivem essas vidas desde que a sexualidade humana começou.”

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