Diretamente da ONU: O UNAIDS promoveu sua 46ª reunião da Junta de Coordenação do Programa (Programme Coordinating Board, PCB), sendo esta sua primeira edição virtual com governos, copatrocinadores e sociedade civil a fim de estabelecer as políticas e prioridades do UNAIDS. Entre as inúmeras questões apresentadas em sua abertura, a diretora-executiva Winnie Byanyima chamou atenção para o aumento do estresse que homens gays e profissionais do sexo têm enfrentado durante a pandemia de COVID-19. Ela chamou atenção de governos para o mau uso dos poderes de “emergência” relacionados à COVID-19, empregados para mirar e prender pessoas LGBTI. Ela ainda refletiu sobre sua “tristeza e frustração” em relação ao que ela chamou de impacto das pandemias concomitantes e dos muitos que morreram de AIDS e COVID-19:
“Não podemos nunca deixar de nos indignarmos com essas vidas perdidas”.
O UNAIDS ainda publicou um novo guia com seis medidas concretas para apoiar mulheres e meninas durante a pandemia de COVID-19. Entre as recomendações, o UNAIDS enfatizou a necessidade para reconhecer a discriminação interseccional que é vivida por mulheres e meninas marginalizadas, incluindo pessoas trans e de gênero-diversas, lésbicas, bissexuais e profissionais do sexo. A discriminação gera “grandes desigualdades e injustiças” que são exacerbadas pela pandemia. Ao reconhecer que as pessoas têm necessidades distintas, o documento afirma:
“Devemos evitar a adoção de respostas uniformes que falham em contextos específicos e garantir os direitos humanos de todos os afetados pela crise e suas respostas”.
Enquanto o mundo continua a lidar com os danos causados pela COVID-19, o UNAIDS conduz uma pesquisa global de organizações e redes comunitárias que trabalham no segmento de HIV. Elas estão buscando informação sobre como determinados grupos têm sido impactados pela COVID-19, como eles têm mudado os serviços para acomodar as restrições à COVID-19 e quaisquer outras novas atividades iniciadas – ou com expectativa de iniciar – para melhor atender às comunidades nesse período. A pesquisa se encontra disponível em árabe, inglês, francês, russo e espanhol.
O especialista independente da ONU para assuntos de orientação sexual e identidade de gênero, Victor Madrigal-Borloz, contou com o apoio de um painel conjunto e diverso do Irã, Argentina, EUA e os Países Baixos para lançar os “diretrizes “ASPIRE”. Esses diretrizes – reconhecimento, suporte, proteção, combate à discriminação indireta, representação e coleta de evidências – são baseadas em consultas realizadas com mais de 500 pessoas LGBTI, ativistas, defensores dos direitos humanos, líderes da sociedade civil, oficiais do governo e acadêmicos. O ASPIRE ajudará os governos na criação de respostas à COVID-19, erradicando violência e discriminação com base em orientação sexual e identidade de gênero.
HIV, saúde e bem-estar: o UNAIDS celebra a vida do ativista de direitos humanos e de questões relativas ao HIV Yves Yomb, de Camarões, que faleceu de câncer neste mês. Yomb foi um dos fundadores do Alternatives-Cameroun, o primeiro grupo no país a gerar conhecimento sobre direitos LGBT e sobre HIV, além de ter sido um porta-voz do Africagay against AIDS, primeira rede LGBT na África francófona. Ao palestrar na Conferência International de AIDS de 2017, ele enfatizou a necessidade de pessoas vivendo com HIV e de populações-chave se engajarem com pesquisa e formulações de políticas:
“Nossa experiência de “leigo” é preciosa para aumentar a relevância dos projetos. E por quê? Porque estamos mais próximos da realidade e da "vida real". Estamos em uma posição melhor para encontrar as palavras certas, fazer perguntas relevantes, identificar pressões materiais, linguísticas, morais, práticas e psicológicas. Se estivermos envolvidos de maneira significativa, não apenas a pesquisa será melhor adaptada à realidade e às necessidades, mas os resultados serão significativos para as próprias populações-chave.”
A 23ª edição da Conferência International de AIDS (AIDS 2020: Virtual), que ocorre anualmente, divulgou seu novo programa, enquanto diversas pré-conferências e mais de 70 sessões via satélite se iniciam. Promovida virtualmente pela primeira vez, o evento contará com sessões ininterruptamente e ainda estará disponível no formato “sob demanda” para atender ao maior número de participantes. A conferência ainda vai concluir tudo com um evento gratuito com duração de um dia focado em COVID-19. Participe!
Enquanto isso, o HIV2020, organizado por uma aliança de redes com foco em populações-chaves, anunciou que está indo adiante virtualmente com uma série de sessões gratuitas e abertas ao público. As sessões começam em julho e continuam até outubro – confira o calendário e envolva-se.
Novas análises do UNAIDS descobriram que os esforços para combater a COVID-19 em todo o mundo estão impactando a produção e a distribuição de remédios para tratar o HIV, com uma grande possibilidade de aumentar seus custos. O UNAIDS advertiu que rupturas de estoque devem ocorrer nos próximos dois meses em países de baixa e média renda.
Um novo estudo publicado na PLoS One analisou a prevalência do HIV entre mulheres transgêneros, gays, bissexuais e homens que fazem sexo com homens na África do Sul. A pesquisa descobriu uma prevalência muito alta do vírus nesses grupos; 53% dessas pessoas com HIV não tinha carga viral suprimida. Os autores sentiram-se encorajados pelas respostas dos participantes em relação à testagem de HIV, indicando que a sensibilização e mensagens educativas têm sido efetivas – embora ainda haja muito a ser feito.
Um novo estudo no International Journal of Adolescent Medicine and Health descobriu que, na Turquia, jovens LGBTQ estão vivendo “taxas alarmantes” de discriminação na área de saúde, fazendo com que muitos adiem a busca por ajuda.
O astro galês de rugby Gareth Thomas, que no ano passado declarou viver com HIV, lançou a “Tackle HIV” - uma iniciativa educativa em parceria com a ViiV Healthcare e a Terrence Higgins Trust. Ele afirmou:
“Ainda vivemos em uma sociedade e em um mundo nos quais o estigma impede as pessoas de serem francas sobre viver com o HIV. A verdade é que vivo com HIV e tomo um único comprimido todos os dias. Estou em tratamento efetivo e isso significa que não posso transmitir o HIV de nenhuma forma. Vivo minha vida com HIV sem limitações.”
Mais sobre HIV, Saúde e Bem-Estar
Mundo da Política: A BBC informou que a Assembleia Nacional do Gabão (câmara dos deputados) votou pela descriminalização das atividades sexuais entre pessoas de mesmo sexo. A Reuters divulgou que a maioria do Senado também votou pela descriminalização. O assunto, agora, vai para a aprovação do presidente Ali Bongo Ondimba. A lei foi incluída no código penal em 2019, ainda que a população LGBT venha enfrentando estigma e discriminação há muitos anos.
Autoridades de Gâmbia divulgaram um posicionamento negando que o governo tenha quaisquer planos para descriminalizar atividades sexuais entre pessoas do mesmo sexo. O porta-voz Ebrima Sakareh afirmou que os rumores são “propaganda política falsa destinada a marcar mais pontos com facilidade”. A AFP informou que o governo enfrentou pressão nesse assunto por muitas semanas, depois que a Delegação da União Europeia na Gâmbia postou uma mensagem apoiando a população LGBT no Dia Internacional Contra a Homofobia e a Transfobia (IDAHOT).
As eleições na Polônia foram forçadas a um segundo turno entre o presidente Andrzej Duda e o prefeito liberal da Varsóvia, Rafał Trzaskowski. O
Intergrupo do Parlamento Europeu sobre os direitos LGBTI divulgou um comunicado condenando o presidente Duda por ataques à comunidade LGBTI durante sua campanha para reeleição. Entre suas promessas eleitorais, Duda assinou a “Carta da Família”, que promete proteger as crianças da “ideologia LGBT” e banir a “ideologia LGBT em instituições públicas”.
A Oko Press divulgou uma nova pesquisa na qual aponta que a maioria dos poloneses não acredita que “LGBT” seja uma “ideologia perigosa”.
Na Romênia, o Senado aprovou um projeto de lei que bane quaisquer discussões em escolas e universidades sobre identidade de gênero. Muitos especialistas e instituições condenaram o projeto de lei que poderia levar à suspensão dos cursos universitários, ao aumento da vulnerabilidade de grupos marginalizados, além de impedir a capacidade de lidar com violência de gênero. A professora Mihaela Miroiu indagou:
“Se eu disser a um garoto que ele pode chorar e ser gentil, isso significa que eu sou proselitista de gênero?”
Nos Estados Unidos, o Washington Post informou que o Departamento de Saúde e Serviços Humanos (Department of Health and Human Services - HHS) finalizou uma determinação para remover proteções baseadas em identidade de gênero, status de transgênero e estereótipos sexuais no sistema de saúde e nos planos de saúde. Em um comunicado de imprensa, a HHS informou que está “retomando a interpretação do governo sobre discriminação sexual, de acordo com o significado direto da palavra sexo como sendo um homem ou uma mulher e ainda em conformidade com o que é determinado pela biologia”. Muitos criticaram a determinação que foi divulgada no 4º aniversário do massacre na boate Pulse (49 pessoas foram assassinadas em um clube gay). Ao avaliar que essa nova regra “criar caos e confusão onde antes houve clareza”, uma coalização de grupos LGBTQ iniciaram um processo desafiando essa medida.
Em Hong Kong, a agência do governo responsável por implementar leis está se preparando para introduzir um documento voluntário contra a discriminação baseada em orientação sexual e identidade de gênero. A carta, ainda em desenvolvimento, seria aberta a empresas, organizações, instituições educacionais e muito mais. A agência explicou que não será obrigatória:
“É preciso encontrar um equilíbrio entre o direito de usufruir das liberdades de religião, consciência ou valor moral e proteção dos direitos LGBT”
No Reino Unido, o The Times informou que o governo vai abandonar seus planos para tornar o reconhecimento de gênero mais fácil por meio de emendas à Gender Recognition Act (uma lei de reconhecimento de gênero), implementando novas regras para restringir o acesso de mulheres trans a alguns lugares públicos. A apuração do The Times descobriu que, simultaneamente, o governo vai incluir uma nova proibição às terapias de “conversão” que “aplacam a população LGBT”. Em 2018, o Reino Unido concluiu uma consulta pública de dois anos sobre reconhecimento de gênero, mas os resultados não foram revelados. A BBC informou que parlamentares de sete partidos políticos emitiram um posicionamento conjunto reforçando apoio para a comunidade trans, prometendo condenar o Governo caso ele falhe em seguir com as emendas:
"Estamos profundamente alarmados com o fato de o governo estar pensando em restringir o acesso à ‘saúde trans’ para jovens ou excluir pessoas dos vestiários e banheiros do gênero com o qual se identificam.”
Políticas da União: Na Polônia, parlamentares do Partido de esquerda (Lewica) submeteram no Sejm (câmara dos deputados) o primeiro projeto de lei sobre equidade de matrimônio e direitos de adoção para pais de mesmo sexo - algo inédito no país. Outras tentativas de criar uma lei de igualdade de casamento foram paralisadas nas comissões parlamentares. É improvável que seja aprovado, já que o partido no comando - o PiS - vem fazendo campanha conta a então chamada “ideologia LGBT” . Muitos municípios continuam operando com “áreas livres de LGBTs”.
Em Trinidad e Tobago, o Senado votou contra a expansão do projeto de lei sobre violência doméstica (2020) que visava proteger casais de mesmo sexo. A Senadora Hazel Thompson-Ahye elogiou os colegas por tratarem do assunto “violência doméstica”, mas lamentou que casais de mesmo sexo não seriam incluídos:
“Não defendo que façamos [casamento entre pessoas do mesmo sexo], mas é muito importante que tenhamos proteção para eles”.
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Que a Justiça decida: A Suprema Corte dos Estados Unidos emitiu uma decisão histórica para que a Lei de Direitos Civis, conhecida por proibir discriminação sexual baseada em “sexo” (e de outras categorias) no ambiente de trabalho, inclua proteções para pessoas baseadas em orientação sexual e identidade de gênero. A decisão majoritária, assinada pelo juiz conservador Neil Gorsuch ressalta:
“É impossível discriminar uma pessoa por ser homossexual ou transgênero sem discriminar essa pessoa com base no sexo.”
Na sua opinião, o juiz Samuel Alito Jr. alertou que a decisão teria efeitos de amplo alcance para além da empregabilidade, incluindo esportes, alojamento universitário, emprego religioso, assistência médica e liberdade de expressão, conforme noticiado pelo New York Times. Ele observou que a Justiça "não poderá evitar essas questões por muito tempo". Os ativistas esperam que isso ajude com os desafios contra as políticas do governo, incluindo a nova regra que removeu proteções para pessoas LGBTQ em centros de saúde, conforme relatado pelo NPR.
Embora seja um passo importante em termos de igualdade, a Lei dos Direitos Civis exclui empreendimentos com menos de 15 funcionários desta exigência, conforme noticiado pelo Washington Post e outros. No ano passado, a Câmara dos Deputados aprovou a Lei de Igualdade que preencheria a lacuna; contudo, o projeto de lei se arrastou no Senado, conforme noticiado pela San Francisco Chronicle.
Em Uganda, a divisão civil do Tribunal Superior decidiu a favor dos 19 jovens LGBT que foram presos no abrigo para pessoas sem teto e detidos por 49 dias. Inicialmente, os jovens foram detidos por causa da lei que criminaliza a atividade sexual homoafetiva e, finalmente, foram acusados por violação às restrições relativas à COVID-19. O acesso a uma representação legal foi negado a eles durante um longo período. O juiz Micheal Elubu determinou que esta negação violou os direitos da defesa e concedeu 5 milhões de xelins ugandenses (USD 1.340) a cada jovem.
Na Rússia, o Tribunal de Primeira Instância de São Petersburgo manteve a decisão histórica de que uma mulher trans não deveria ter sido demitida após a readequação de gênero. O empregador alegou que ela foi demitida porque seu emprego era um entre 450 posições de 35 setores que o governo proíbe para mulheres por serem consideradas perigosas ou árduas. O grupo LGBT Vyhod comentou que a decisão sugere que “cada mulher tem o direito de escolher uma profissão.”
O Supremo Tribunal das Ilhas Maurício anunciou que vai julgar a contestação da lei que criminaliza atividade sexual homoafetiva apresentada por quatro jovens.
O Tribunal Superior de Eswatini anunciou que o julgamento dos argumentos em relação ao reconhecimento legal do grupo Eswatini Sexual and Gender Minorities - ESGM (Minorias Sexuais e de Gênero, em tradução livre) foi adiado. O Registro de Sociedades do Governo recusou a aceitar o pedido do ESGM porque a atividade sexual homoafetiva é considerada crime no país. O ESGM defende que o Registro viola os direitos dos seus membros de se associarem e se expressarem livremente. O fundador do ESGM, Melusi Simelane, comentou:
“A lei é igual para todas as pessoas. Ela deveria tratar todo mundo de maneira justa. Nossas leis também não criminalizam o direito de fazer campanha, para proteger os direitos das pessoas LGBTI. Somos livres para nos pronunciarmos, associarmo-nos e passarmos tempo com alguém que queremos.”
Sobre Religião: No painel recente sobre os desafios enfrentados pelas pessoas LGBT nas comunidades em desenvolvimento, ativistas falaram sobre o papel significante que as igrejas desempenharam no apoio às pessoas na Jamaica e Guiana. O diretor-executivo da Equality for All Jamaica Foundation, Jaevion Nelson, explicou que, apesar de existirem líderes de igrejas que expressam sentimentos anti-LGBT, outros líderes enfatizam que pessoas LGBT deveriam receber proteção e respeito. Joel Simpson, fundador da Society Against Sexual Orientation Discrimination, da Guiana, afirma que a diversidade religiosa da Guiana ajudou a disseminar a aceitação das pessoas LGBT.
Nos Países Baixos, o Ministério da Saúde divulgou os primeiros resultados de seu estudo sobre a assim chamada “terapia de conversão” no país. Os pesquisadores conversaram com as organizações religiosas LGBTI que falam em nome de representantes da juventude cristã e muçulmana, pastores, entre outros especialistas, e descobriram que pelo menos 15 grupos ofereçam esses serviços. O grupo de apoio LGBT “COC Nederland” comentou:
“Que esse tipo de charlatanismo ainda acontece nos Países Baixos já está irrefutavelmente estabelecido. Também é claro o grau de gravidade das consequências para as pessoas que são as vítimas. Agora, cabe aos políticos proibir esse tipo de prática imediatamente.”
Dos Estados Unidos, a NBC relatou que “Hope for Wholeness”, uma das maiores organizações religiosas que ofereçam “a terapia de conversão” em 15 estados, vai encerrar as suas atividades porque não conseguiu encontrar o novo diretor- executivo. Num memorando, o grupo prometeu redirecionar os recursos arrecadados aos outros grupos da terapia de conversão.
A nova pesquisa do Instituto Williams, com base em dados das 1.500 minorias sexuais cisgênero nos Estados Unidos, constatou que as pessoas que realizaram a terapia de conversão em relação a sua orientação sexual tiveram quase duas vezes mais chances de pensar sobre ou mesmo tentar suicídio na comparação com seus pares. Dos entrevistados, 81% realizaram a terapia de conversão com um líder religioso e 31% pelo sistema de saúde. Outro estudo sobre as minorias de gênero e suas experiências com a terapia de conversão está em curso.
Medo e repúdio: Chegaram relatos do Canadá de que a ativista egípcia LGBT Sarah Hegazi se suicidou. Hegazi se tornou conhecida internacionalmente quando foi fotografada segurando a bandeira do arco-íris durante um show de rock no Cairo. O incidente deu início a uma série de batidas policiais e Hegazi, juntamente com muitas outras pessoas, foi presa e submetida a tortura. Após a prisão de três meses, ela foi libertada e procurou asilo no Canadá. Sua morte ilustra o trauma das detenções arbitrárias e a tortura de indivíduos, inclusive quando libertados. Em um artigo poderoso, o autor Tareq Baconi refletiu sobre por que sua foto ameaçou as autoridades e porque tantas pessoas no mundo sentem a perda com a sua morte:
“Sua história era própria, mas toca todas as almas que são perseguidas por causa da sexualidade, política, fé ou raça, que seja em exílio nas terras estranhas ou conhecidas, por causa das guerras silenciosas ou explosivas.”
Após a morte da Hegazy, 22 organizações de direitos humanos do Oriente Médio e Norte da África apelaram ao Facebook para combater o discurso de ódio contra pessoas LGBTQI+. Em uma carta aberta, eles explicam que Hegazy foi o alvo de discurso de ódio as partir do momento em que sua foto se tornou viral. Eles argumentam que o Facebook não está implementando as políticas efetivas contra discurso de ódio.
Na Argentina, um homem foi preso pelo assassinato do ativista LGBT Roberto Monje em sua residência. A polícia não estabeleceu o motivo, mas o grupo “Frente Vanesa Zabala” (nome em referência à pessoa trans assassinada em 2013) exigiu esclarecimento e afirmou que seu assassinato “deixa clara a permanência de crimes de ódio”.
No Reino Unido, três homens da comunidade LGBT perderam as suas vidas na agressão com arma branca no parque onde a polícia investiga um incidente terrorista. Paul Britt, diretor do grupo Reading Pride comentou:
“Como é tão perto de casa, todo mundo está se sentindo ansioso. A comunidade está sentindo dor, choque e tristeza … Há uma sensação de incompreensão.”
Em Gana, o jornalista Kwasi Gyamfi Asiedu investigou os esforços de homens gays e bissexuais de lutar contra chantagem e extorsão. A “Lista de chantagem contra gays de Gana”, iniciada pela ativista Alex Kofi Donkor, reúne os nomes de homens que usam os aplicativos de relacionamentos para enganar homens gays e bissexuais para encontros (momentos em que eles são roubados, espancados e chantageados). Com a utilização mídia social, Donkor e outras pessoas tentam alertar a comunidade:
“Muitas vezes, não conseguimos alcançar justiça pelos crimes cometidos, então a melhor coisa que podemos fazer é nos proteger.”
Ventos da Mudança: A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) publicou o novo relatório que analisa como as leis e políticas nos países-membros impactam a inclusão LGBTI. O relatório mostra que, entre outras vantagens, a inclusão legal de LGBTI está associada com a aceitação social das minorias sexuais e de gênero, melhor representação das mulheres na política, o setor econômico e o aumento no PIB real per capita.
O Pew Research Center (centro de pesquisa) divulgou novos dados a respeito de atitudes globais sobre homossexualidade a partir das respostas de mais de 38.000 pessoas em 34 países. O centro descobriu que apesar da clara divisão por país, região e desenvolvimento econômico, a maior parte dos países vivenciou aumentos substanciais na aceitação pública em comparação com 2013. O centro descobriu que, na maioria dos países, as gerações mais novas, mulheres e as pessoas com mais escolaridade manifestaram uma aceitação maior da homossexualidade.
A ILGA lançou seu mapa sobre a legislação que impacta as pessoas ao redor do mundo por causa da sua orientação sexual. O mapa está disponível em 20 idiomas — confira!
O grupo de direitos humanos intersexo OII Europe lançou uma ferramenta que mapeia novos avanços nas proteções e na conscientização intersexo na Alemanha, Luxemburgo, Suíça, Malta, Finlândia, Países Baixos e União Europeia.
O UNAIDS destacou o trabalho da Anna Morena, fundadora da Anna Foundation Uganda — um grupo liderado por jovens que promove a saúde sexual e reprodutiva, direitos, prevenção ao HIV, sensibilização e captação dos recursos para pessoas trans em Uganda. Anna, uma pessoa trans, criou a fundação para ajudar na mudança da percepção pública das mulheres trans após o assassinato da amiga —assista à entrevista! Ela esclareceu:
“Pessoas acham que mulheres trans só prestam para trabalho sexual. Estou aqui para mostrar que vocês estão errados. Não tenho educação, mas tenho conhecimento e meu conhecimento é meu poder. É meu poder feminino.”
O novo livro “The Pink Line: The World’s Queer Frontiers” do autor da África do Sul, Mark Gevisser, examina como a globalização ajudou a disseminação de ideias sobre direitos LGBTQ+, igualdade sexual e transição de gênero. Confira um trecho que investiga como essa disseminação criou as oportunidades para pessoas LGBTQ+ e provocou uma revolta que demoniza as minorias sexuais e de gênero, e as expressões de gênero aceitas antigamente em contextos locais. Como ele descreve, o discurso sobre direitos LGBTQ+ era “vibrante e, muitas vezes, violento”:
“Havia um pânico moral em que as pessoas homossexuais ou de gênero diverso se tornaram bode expiatório ou monstros, ou até mesmo as desculpas para aplicação da lei e da ordem, ou forças do mal contra os quais a nação foi estabelecida. Na maioria dos casos, essas campanhas pretenderam proteger os “valores tradicionais” ou a “ordem natural” das depredações da sociedade moderna ou das pessoas comuns da elite global ou cosmopolita.”
Mais sobre os Ventos da Mudança
Em Marcha: Nos Estados Unidos, mais que 15.000 pessoas marcharam em Nova Iorque para chamar atenção sobre a violência contra mulheres trans negras. Pelo menos 17 pessoas trans ou de gênero não-conformante foram violentamente assassinadas este ano – oito no último mês de acordo com a Human Rights Campaign.
Os organizadores da festa anual de Singapura chamada Pink Dot — uma manifestação que tem reunido dezenas de milhares de pessoas para celebrar o “Orgulho” desde seu lançamento em 2009 — anunciaram que vão realizar o evento online apesar da petição assinada por 30.000 pessoas pedindo ao governo que restrinja a live da Pink Dot, alegando que o conteúdo é “imoral”.
A Comunidade Global Shapers — uma rede desenvolvida no Fórum Econômico Mundial e incluindo mais que 7.000 jovens de todo o mundo — lançou o primeiro “#ShapePRIDE Summit”, a ser realizado anualmente, para envolver líderes jovens em uma “iniciativa para desmontar sistemas arcaicos da opressão e exigir a validação das pessoas LGBTQIA+ em toda parte”. Dentre os temas abordados, houve reuniões sobre raça e sobre os movimentos Vidas Negras Importam e de cunho LGBTQIA+.
A Organização Internacional de Migração (OIM) anunciou que vai recomeçar o reassentamento para refugiados, considerando que as restrições relativas à COVID-19 paralisaram o deslocamento em março. Para Martin Okello, um homem gay do Uganda que, atualmente, reside no Quênia, a mensagem é muito bem-vinda. Okella conversou com a AP sobre a violência enfrentada no Quênia e sobre ter conseguido apoio e abrigo do grupo chamado “House of Nature.”
Rainbow Railroad, um grupo de advocacy e apoio a refugiados LGBTQI, publicou um relatório que traz um retrato do impacto da COVID-19 nas pessoas LGBTQI obrigadas a se deslocarem, incluindo as pessoas LGBTQI deslocadas internamente, solicitantes de asilo e refugiados. O relatório faz quatro recomendações políticas urgentes para apoiar essas populações de risco.
Esportes e cultura: a plataforma de streaming "Aflamuna" do Líbano está operando um programa gratuito “Love and Identity in Arab Cinema” que apresenta seis filmes de artistas árabes queer. O programa é organizado por Cinema Al Fouad, o “Festival de Filme Queer Mawjoudin”, e a plataforma de gênero e sexualidade “Jeem”.
Confira o trailer do novo documentário de Netflix chamado “Revelação” sobre a relação de Hollywood com as pessoas trans. O filme utiliza os arquivos cinematográficos e entrevistas com artistas trans, escritores e historiadores para guiar o espectador pelas conexões entre a representação midiática das pessoas trans e a epidemia de violência contra essas pessoas. A crítica televisiva Melanie McFarland refletiu sobre a “boa disposição” demonstrada pelos homens e mulheres trans “apesar de todas as indignidades impostas”:
“No momento, a América convencional está disposta a aprender e a celebrar as diferenças dentro da sua cultura. No entanto, ao fazê-lo, deve-se reconhecer que é muito cansativo sabendo que, o tempo todo, a mera existência nos espaços públicos é um ato político.”
Confira o trailer do premiado documentário de drama, chamado “Admitted” — divulgado no YouTube após dois anos no circuito de festivais. O filme segue Mx Dhananjay Chauhan e seu trajeto como a primeira estudante trans na Universidade Panjab na Índia.